História O Livro dos Sonhos - O fim da Senhora Cabeça de Batata

De todos os momentos ruins para Martina lembrar de que Jorge já a havia beijado, e tinha sido o cara que ela gostava, aquele ganhou o primeiro lugar. Agora, ela estava no passado. E aquelas cenas com Jorge a cercavam onde quer que ela fosse.

Quando ela o conheceu, Jorge estava um pouco ocupado ajudando outro herói das garras de um monstro à solta. Um jeito muito inteligente de dizer: "Ei, olhem para mim! Sou extremamente poderoso!". O monstro saiu chorando feito uma criancinha. Ele tinha salvo um herói. Tinha auxiliado um herói. Jorge estava exercendo a função dela. É, isso não a deixou nem um pouco feliz. Quando Martina foi tirar satisfações com aquele cara convencido, e deu a maior bronca que alguém poderia dar, não imaginava que a resposta dele seria "Alguém já disse que você é muito linda?". Em seguida, ele mostrou suas covinhas e seu sorriso incrível. E fez puff, indo na direção oposta dela.

Quando ela descobriu que Jorge Blanco seria um dos Heróis da Geração... Diego, Jorge, Martina e Valeria em uma sala. Todos se odiando com o olhar, cada um tentando demonstrar que era o mais poderoso dali. A conversa não passava de: "Eu salvei quinze pessoas de uma árvore revoltada.", "Ah, é mesmo? Tirei trinta e cinco pessoas de uma caverna escondida!". Jorge não parava de olhar para ela. Até o Guardião dar a bomba:

⁃ Ei, vocês três irão trabalhar juntos! Não é demais?
⁃ Ah, sim. -Jorge falou. - Isso é ótimo.

Para a surpresa ou azar de Martina, ele não estava sendo irônico. - Jorge não a deixou mais em paz, sempre com aqueles sorrisinhos encantadores, e olhar penetrante. E uma teimosia extremamente irritante e/ou fofa. Jorge sempre conseguiu tirar a atenção dela do trabalho, para ele.

Aí veio a paranoia de "Ah, meu Deus! Tenho uma irmã!" e tudo começou a dar errado. Ele começou a ficar totalmente o contrário do que era. Sem sorrisinhos, sem covinhas, sem olhares. Era um Jorge Blanco idiota, que a fazia se sentir mal por querer entender o motivo de toda a raiva que ele estava demonstrando. As coisas começaram a ficar cada vez piores. Até ele chegar ao ponto de fazer uma loucura, e planejar deter Michelle sozinho. Apenas ele e a pantera louca do mal. Jamais Martina concordaria com aquilo, e foi o que aconteceu. Mas Jorge Blanco ficou com ainda mais raiva. A briga... A pior briga de todas. Com gritos e rancores, e muitas verdades. Martina sem querer deixou escapar um: "EU NÃO VOU PERDER VOCÊ, JORGE BLANCO!". E então, ele pareceu acordar e entender todo o motivo da raiva e mágoa dela por estar desistindo de tudo. Jorge a beijou, um beijo de despedida. Para mostrar que ele nunca a esqueceria. Da mesma forma, ele não desistiu de tentar lutar contra Michelle. E o resultado disso tudo foi um feitiço de manipulação total, muitos atos de maldade, uma quase morte do Guardião e ilusões para a garota que ele nem se lembrava que amava. Ele não era mais ele. Ele não estava mais nele. Não tinha consciência do que fazia, a raiva tornou-se o sentimento principal de Jorge. Até Pepe desenhar aquela varinha quebrada. Jorge acordou, e quando viu que ele mesmo tinha destruído o Livro dos Sonhos, era tarde demais. Ninguém confiava mais nele. E agora, ele estava ali. No passado, bem atrás de Martina, "lembrando" que ele a tinha beijado. Não era o melhor momento para uma conversa. Porém, provavelmente teriam apenas aquele momento para colocar as coisas em ordem.

⁃ Eu adoraria me lembrar desse momento. -Murmurou. - Infelizmente, fui idiota o suficiente para deixar que uma pantera negra trocasse minhas memórias.

Martina não se moveu, nem aos menos fez uma careta. Continuou como estava. Inexpressiva. Olhando para o momento em que Michelle apareceu, logo após ela correr assustada e com raiva dele, depois do beijo. Agora, a pantera estava lançando o feitiço nele. Martina apertou os punhos e estreitou os olhos.

⁃ Sorte a sua. Não é um momento de que eu goste de lembrar. 
⁃ Eu sinto muito. Por tudo.

Finalmente, ela olhou para ele. Uma expressão de culpa atingiam seus olhos verdes e intensos.

⁃ É -concordou ela-, eu também sinto. E sinto ainda mais por não acreditar mais em você.

Jorge desviou seus olhos para o chão. Sentindo-se ainda pior.

⁃ Martina, olhe...
⁃ Não, esqueça. -Ela falou, sua voz totalmente decidida. - Se você acha que eu vou esquecer tudo o que me fez passar, se acha que tudo entre nós vai ser um mar de rosas, você é muito ingênuo. 
⁃ Mas...
⁃ Você vai ser apenas o herói, e eu vou ser apenas sua auxiliar. 
⁃ Achei que todos merecessem uma segunda chance.

Ela deu uma risada irônica. Olhou para as árvores, onde havia outra cena dela com Jorge, quando ele ainda tentava ser mais que só "um herói" para ela, antes de tudo acontecer. Seus olhos ameaçaram derramar algumas lágrimas.

⁃ Eu já dei muitas chances a você, acredite. Não serei boba mais uma vez.

Ela deixou o local. Jorge, sozinho, olhando para aquela cena que tanto a magoava, mas que ele não conseguia de jeito nenhum se lembrar. Maldita pantera louca do mal.

Enquanto isso, Pepe estava tentando manipular seu poder. Fazer alguma coisa acontecer além de fazer lobos darem o puff clássico. Ruggero também não era um bom professor, era impaciente. Dentre tudo isso, Pepe só ria. - A raiva por não conhecer Harrison Wells tinha passado.

⁃ Cara, eu não sei fazer nada! -Ele gargalhou. Tentando se concentrar em fazer a coisa dar certo. Mas era em vão. - Foi mal, Mago Implacável. Não consigo! 
⁃ Se concentre mais. 
⁃ Eu sou quase um semideus, se concentrar é uma coisa meio difícil. Principalmente quando se é personagem de um livro mágico! É incrível que não tenha TDAH.

Ruggero pareceu não entender. Pepe levantou as mãos, como se tivesse dito uma coisa muito óbvia.

⁃ Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade. Qual é, você não sabe nada de referências.

O Mago Implacável revirou os olhos.

⁃ Vamos, você precisa aprender a usar seu poder.
⁃ Eu não posso aprender quando estiver em perigo? Estou morrendo de fome! O máximo que comi nesses últimos dias foram os biscoitos que a namorada de Diego fez para ele.
⁃ Você comeu a sobremesa do Guardião? -Martina perguntou, intrometendo-se na conversa.
⁃ Chamo isso de desespero. -Pepe sorriu. - E só para esclarecer: não sou o Flash, mas tenho fome como se eu fosse um speedster!

Martina deu um sorriso irônico e assustado.

⁃ Você assusta às vezes, Pepe. 
⁃ Me deixe mais um minuto sem comer, que eu viro o Hulk. Aí sim você vai se assustar. Você não pode pegar os poderes da minha consciência irritante emprestado e fazer comida mágica? Tipo aquela fada da Disney que... 
⁃ Você precisa aprender a falar mais devagar. É sério. - Ruggero riu.

Pepe começou a fazer drama, e fingir estar fraco.

⁃ Meus poderes imaginários de speedster me dizem que vou desmaiar de fome daqui a pouco. 
⁃ Ugh, vamos alimentar essa criança logo! -Martina reclamou. - Precisamos voltar para o presente. Já estamos há tempo demais aqui. E tenho quase certeza de que não vamos querer mudar todo o passado e nos arrependermos depois. Ainda bem que não tenho pais mortos.

Os olhos de Pepe começaram a brilhar, sem querer.

⁃ O qu...?
⁃ Você não é o único que sabe fazer referências aqui, Cisco Espanhol.

Assim, ela pulou no livro cinza, voltando para o presente. Dentro do Livro dos Sonhos.

Pepe ficou boquiaberto.

⁃ Ela acabou de me zoar com uma referência.

Ruggero revirou os olhos, de novo.

⁃ É melhor você pular de volta para o presente. Antes que você deixe vestígios de vômito de arco-íris aqui.

Pepe nunca comeu uma porção de batatas fritas com tanto gosto. Naquele momento, nada mais no mundo importava. Era só ele, e um pedaço frito da Senhora Cabeça de Batata. Mas a concentração durou pouco quando o Mago Implacável o obrigou a se concentrar em suas palavras.

⁃ Precisamos ir para a realidade.

Pepe engasgou com as batatas.

⁃ Por quê? Eu não quero ter que fazer outra parte daquele trabalho chato. 
⁃ Porque precisamos falar com o Sr. Wilson. 
⁃ Você o conhece? -Martina perguntou.

Ruggero levantou uma das sobrancelhas, convencido.

⁃ Ele é só o PAI da Fada-Líder do Livro dos Sonhos. É claro que conheço!
⁃ Fada-Líder? -Pepe riu. - É cada nome estranho. Quem foi o idiota que deu esses nomes?
⁃ O Guardião.

Pepe se calou depois disso. Mordeu outro pedaço da batata e bebeu um gole do refrigerante.

⁃ O que vamos fazer com a coisa dos poderes de Pepe? -Jorge perguntou. - Se ele não sabe controlá-los, estamos em perigo ainda mais.
⁃ Ele vai aprender. -Ruggero concluiu. 
⁃ Você viu isso no futuro?
⁃ Não, é que se ele não aprender, não haverá futuro para ele. -Avisou. Curto e grosso.

O Herói da Geração se afundou na cadeira. Todos continuaram a comer e conversar. No meio do lanche, a pulseira de Jorge começou a tocar. (Celulares eram meio que uma tecnologia exclusiva para a realidade. E totalmente sem graça perto de pulseiras mágicas que fazem ligações por hologramas). Foi para o lado de fora da lanchonete, e tirou a pulseira do pulso, com muita raiva. Por que raios ele ainda tinha aquilo? Era uma pulseira de comunicação holográfica com Michelle. Sendo um dos Heróis da Geração, isso era meio que um insulto ao Guardião. Jorge pisou na pulseira e a quebrou. Não queria mesmo ter comunicação com ninguém que se relacionasse à Pantera Negra.

Bem, esse não foi o caso. Atrás dele, estava um de seus companheiros de caverna. Damien Lauretta.

⁃ Pelo que vejo, você ainda não superou a coisa do feitiço, Blanco.

Jorge virou-se para ele, odiando-o com o olhar.

⁃ O que faz aqui? 
⁃ Ei, relaxa. -Respondeu colocando as mãos no bolso da calça. - Eu só vim tomar um café. E ter uma conversinha com meu antigo companheiro de caverna. 
⁃ Você não vai entrar naquela lanchonete.

Damien fez uma carinha triste, fingindo estar ofendido. Logo deu uma gargalhada alta.

⁃ Realmente você sempre foi o mais difícil de lidar. Quase toda a vez quebrava o feitiço, lembrando de sua auxiliar idiota. Você sempre foi leal a ela e ao Guardião. Sempre era eu quem reforçava a magia que sua antiga líder fez. -Ele olhou para Martina, em uma das mesas da lanchonete. - Sabe, Jorge Blanco, todas as vezes que o feitiço era quebrado, sempre foi por seu amor ridículo por Martina. E olhe como vocês estão agora! É lamentável!

Jorge rosnou. Queria fazê-lo derreter.

⁃ Ah, é! Também tem a coisa do novo herói. Mas... Sabe o que é o mais irônico nisso tudo? -Damien Lauretta se inclinou para perto de Jorge e sussurrou. - Ele é igualzinho a você. -Deu uma risada maligna. 
⁃ Vá embora. 
⁃ Só estou dizendo a verdade. O mesmo jeito de irritá-la. O mesmo jeito de fazê-la rir. A única diferença é que... Ela realmente o vê como um herói.

Jorge se irritou com a provocação. Involuntariamente, pequenas chamas saíram de suas mãos e ele o atacou. Mas isso não intimidou o antigo companheiro. Gargalhando, Damien se transportou para atrás de Jorge, o que o deixou totalmente confuso.

⁃ Não tente ignorar isso, Blanco. O vilão nunca fica com a mocinha. E tenho certeza de que você não é, e nunca será, o herói. 
⁃ Saia daqui. 
⁃ Você estaria bem melhor conosco. Lembra-se da forma que era tratado? Você, Jorge Blanco, era a jóia preciosa de nossa líder.
⁃ EU NÃO TRABALHO MAIS PARA ELA! 
⁃ Ha, ha! Não se preocupe com isso. Em pouco tempo, você vai voltar a ser a nossa marionete. E isso não vai demorar. Pode acreditar.

Ele fez puff, em uma risada maléfica. Jorge socou a árvore em sua frente.