⁃ Ah, por favor! -Mercedes, a consciência irritante de Pepe, reclamou. - Até quando vai me manter presa aqui? Você sabe que me deixar dentro de um lampião não é nada original, não sabe?
Michelle riu. Ao contrário do que todos pensavam, ela não ficava em sua forma de pantera toda hora. Isso só a enfraquecia, e ela não queria isso. Estava sentada em uma cadeira em frente à fadinha. Rindo maleficamente, vendo a fada se machucar com seus insultos. Mercedes estava ali fazia poucos dias, mas conseguia ficar cada vez mais fraca. Michelle bebeu um gole de vinho e riu mais.
⁃ Não se preocupe. Não ficará aqui por muito mais tempo. -Ela afirmou. - Só estou esperando... O momento certo.
⁃ E quando isso vai acontecer? -Perguntou, empurrando a pequena parede de vidro, tentando fazê-la quebrar. Estava fraca demais para usar seus poderes.
A pantera lambeu os lábios, vermelhos. Como se não comesse há um mês. Sorriu, mostrando suas presas, feias e assustadoras. Deixou a taça de vinho em cima da mesa, ao seu lado, e se inclinou. Encarando Mercedes de uma forma nada boa.
⁃ Digamos que... Quando todos aqueles heróis idiotas não tiverem mais seus poderes.
Mercedes gargalhou.
⁃ O Guardião jamais permitirá isso!
⁃ O Guardião, Fadinha Gótica, está totalmente fraco e impotente e vulnerável. Ele é inútil.
⁃ Impotente? - A consciência irritante de Pepe deu um sorriso irônico. - Ele é o Guardião! A maior autoridade do Livro dos Sonhos e o mais poderoso.
⁃ Agora não mais. -Michelle garantiu.
⁃ O quê?
A pantera voltou a se encostar na cadeira e cruzou as pernas. Antes de dizer uma frase bem teimosa, um de seus informantes/escravos enfeitiçados, bateu na porta pedindo permissão para entrar. Ela permitiu.
⁃ Seja breve.
⁃ Jorge Blanco foi localizado perto do lago de uma das filhas de Tayla.
Michelle rosnou. Ela e Tayla nunca tiveram uma comunicação boa. E todos os filhos de Tayla, eram grandes heróis. O que deixava Michelle com muito ódio. O informante pigarreou.
⁃ Ele... Está se recuperando do feitiço cada vez mais, senhora. Suas memórias estão voltando.
⁃ Pode ir direto ao ponto? -Reclamou. Mercedes ficou inquieta dentro do lampião. - Fique quieta, sua bola de luz inútil!
Todo o brilho que Mercedes transmitia, sumiu. A coisa estava bem pior agora. Ela estava morrendo. O informante suspirou.
⁃ Um de seus informantes o seguiu. Jorge Blanco foi visto com seu antigo companheiro de caverna.
⁃ Quem? - Ela perguntou.
⁃ Damien Lauretta. Ele afirmou que Jorge Blanco pode ser manipulado novamente.
Michelle sorriu, orgulhosa.
⁃ Isso é ótimo. Pelo menos eu tenho um aliado que preste! -Ela olhou para o informante. - Mande Damien enfeitiçá-lo novamente. Dessa vez, com um feitiço permanente. -Ela pegou um bracelete em cima da mesa e entregou ao informante. - Dê isso a ele, Damien saberá como usá-lo.
⁃ Mais alguma coisa, senhora?
Ela pegou a taça de vinho e bebeu outro gole.
⁃ Ah, sim. Vamos precisar da auxiliar, é claro. Mande Damien manipular nossa jóia preciosa para que... Ele faça com que Stoessel se junte a nós.
⁃ É claro, senhora. Com licença.
Michelle gargalhou, olhando para o estado da fada. Mercedes mal conseguia se manter de pé.
⁃ Você não será útil daqui um tempo, Fada-Líder. O momento certo está chegando. E você... Bem, você já era.
Pepe jogou outra pedrinha no lago. Estava descontando toda a sua raiva nisso. Ele fora expulso do grupo de heróis por uma mera auxiliar. E justo quando ela estava quase começando a suportá-lo. Uma batata. Uma batata frita tinha feito todo aquele estrago. Mas o que Pepe não tinha pensado quando chamou a irmã de Jorge de ladra, é que Martina surtaria daquele jeito. E nem que ela o expulsaria. Agora ele estava em um lago, sozinho. Sem ter para onde ir, mas orgulhoso demais para pedir desculpas.
Pepe se sentou na grama. Cruzou os braços, com raiva e confuso. Ele queria que as coisas tivessem sido de outra forma. Porém, de qualquer jeito, teria pensar no que fazer. A parte ruim é que ele era péssimo na coisa de pensar.
Ouviu passos atrás dele, e logo olhou para trás. Não tinha ninguém. Seu coração voltou a bater normalmente. Em seguida, quando voltou a olhar para o lago, um cara estava ao seu lado. Pepe gritou de susto, colocando a mão no peito.
⁃ Quem é você? -Perguntou.
O cara sorriu, e observou o lago. Pepe sentiu algo estranho nele, como se devesse tomar cuidado. Como um alerta.
⁃ Esse lago é incrível. -O estranho disse. Pepe deu uma risada irônica.
⁃ É, eu sou um ótimo desenhista. - Se gabou.
⁃ Desenhista?
⁃ Longa história.
Pepe fixou seu olhar nas árvores. Estava esperando para ver quando elas se tornariam árvores-monstros, porém não estava acontecendo. Lamentável. Suspirando, o garoto voltou a observar o cara estranho. Parecia um adolescente normal, nada de mais, nada assustador. Por que o Herói da Geração estava tendo sensações ruins?
Tentando ignorar aquilo, Pepe voltou a pensar no que faria a partir dali, já que não poderia voltar à turminha de heróis que fazia parte. E a única coisa que ele tinha certeza agora, era que não seria um vilão em hipótese alguma.
⁃ Eu... -Ele gaguejou. - Tenho que ir.
Se levantando, e antes de sair correndo do lago, o cara tocou em seu ombro. O apertando, um pouco forte demais. Pepe olhou para ele, confuso e com medo.
⁃ Ei, espere. -O estranho o chamou. - Você disse que era desenhista. Tem algo a ver com o Guardião? Soube que ele está em perigo e gostaria de ajudar.
⁃ Ahn... -O garoto riu. - Eu meio que sou a versão magrela do Superman.
⁃ Superman?
⁃ É, eu sou um herói... Quer dizer, eu era um herói... Antes de minha auxiliar me expulsar. Agora não sei de mais nada.
⁃ Auxiliar? -Perguntou.
Pepe umedeceu os lábios nervoso.
⁃ Sim. Martina Stoessel, a Conselheira do Guardião e tal... Bom, é uma história bem longa, tenho mesmo que ir.
O adolescente levantou as sobrancelhas, parecendo entender a situação. Ficou pensativo como se tivesse acabado de fazer uma descoberta científica. Logo o cara sorriu.
⁃ Você não tem para onde ir, tem? Se quiser, minha casa tem um quarto sobrando.
⁃ B-bom, eu não quero atr...
⁃ Não vai atrapalhar em nada. -Ele garantiu. Mas Pepe não acreditou muito. Pepe não confiava nele. - Sou um personagem secundário, não faço muita coisa aqui. Mas quero mesmo ajudar o Guardião. Ele está sem os poderes e...
⁃ Sem os poderes? -Barroso arregalou os olhos de tão surpreso.
⁃ S-sim. Soube que um antigo amigo daquela nova inimiga, como ela se chama mesmo? É...
⁃ Michelle.
⁃ Isso! Um antigo amigo dela, ou algo assim... O cara roubou os poderes do Guardião.
Pepe cruzou os braços, e estreitou os olhos. A raiva começou a fazer parte dele.
⁃ Por um acaso... Esse "cara" tenha algum poder especial, tipo...
⁃ Eu não sei. -Ele se adiantou. - Mas soube que ele não é mais um vilão.
Pepe riu com o nariz. Poderia não confiar nele, mas tinha certeza de que o estranho estava falando sobre Jorge Blanco.
Lodovica não gostava quando falavam de Michelle perto dela. Isso a irritava. Seus pais haviam sido mortos por ela, e seu destino seria o mesmo. De acordo com o Livro dos Sonhos, Lodovica morreria em combate lutando contra Michelle, em lealdade à sua mãe-pantera, Tayla. Mesmo que fosse a Heroína da Geração, ela não tinha o direito de escrever o próprio destino, como Pepe. O destino de Lodovica já estava feito e nada poderia mudar isso. Mesmo que não se assustasse com a coisa de morrer como uma heroína fracassada, ela nunca teve medo disso. E faria de tudo para que o Livro dos Sonhos fosse justo com todos os outros personagens, mesmo que com ela não. E Jorge não entendia isso. Ou preferia não entender.
⁃ Qual é, Lodo. -Ele disse. - Você sabe que não vou permitir que você...
⁃ Jorge, por favor, não começa.
Os olhos dele se encheram de lágrimas. Ele a amava e a tratava como irmã mais nova. Mas ela nunca fez o mesmo. Lodovica o tratava como o idiota que ele realmente era.
A morena passou a mão pelos cabelos negros e deu um suspiro forte.
⁃ Onde está sua varinha?
⁃ Eu a quebrei. -Jorge respondeu. - Não sou um vilão. Não mais.
⁃ É, você também disse isso quando conheci você. E você estava meio ocupado destruindo a rosa que concede poderes temporários à mortais.
⁃ Olhe, eu não sei o que Diego disse a você, mas seja o que for, eu consegui sair daquele coma mágico que Michelle me fez passar. Estamos trabalhando juntos agora, você precisa confiar em mim.
⁃ Eu não consigo confiar em você, é esse o problema.
Antes de Jorge responder, Martina foi até eles. Parecia bem nervosa a ponto de matar alguém.
⁃ Heróis idiotas -Ela murmurou. - Sempre se achando melhores do que...
Jorge riu.
⁃ Aconteceu alguma coisa?
Ela revirou os olhos.
⁃ Eu cansei de ter paciência com heróis bobos e que não levam nada a sério.
⁃ Você está falando do Pepe?
⁃ Eu não fui muito com a cara dele. -Lodovica interveio.
Jorge desmanchou o sorriso completamente. Conhecia Martina há um bom tempo. Sabia que ela tinha surtado de alguma forma ou de outra.
⁃ Martina. -Jorge estreitou os olhos. - O que aconteceu?
Ela abriu a boca para falar, e então o Mago Implacável apareceu. Ele chegou tão rápido que mal o viram. (O legal de controlar o tempo, é que você não precisa correr. É só fazer com que tudo ao seu redor fique lento, para que você possa parecer rápido). Ruggero foi em direção de Martina e se controlou para não gritar.
⁃ VOCÊ O EXPULSOU? -Ele falou, elevando um pouco o tom da voz. - O expulsou?! Martina, o que você tem na cabeça para fazer isso?!
Ela engoliu em seco. Logo, Jorge a odiou com o olhar. Ainda mais que Pepe, quando Lodovica roubou sua batata.
⁃ O quê? -Ele perguntou, incrédulo. Martina colocou a mão na cintura e começou a argumentar:
⁃ Pepe não é o tipo de herói que o Livro dos Sonhos reconhece.
⁃ E daí? -Ruggero gritou. - A linhagem dele é de vilões maiores, é óbvio que o processo de adaptação dele vá ser demorado. Você não tinha o direito de expulsá-lo.
⁃ É claro que eu tinha. -Ela retrucou. - Isso está no livro de regras da Associação de...
⁃ Ninguém se importa com esses livros de regras idiota! -Jorge a interrompeu. Olhou para o céu, cinza e cheio de nuvens, e a puxou para um canto longe de todos. - Me fale o real motivo para ter expulsado Pepe.
⁃ Jorge...
⁃ Me responda.
⁃ Acredito que Pepe não se adapte nunca aos termos dos heróis maiores. Essa é a verdade.
Jorge riu.
⁃ Você, de repente, começou a desacreditar que ele vá salvar o Livro dos Sonhos, é isso?
⁃ Exatamente. Qual o problema?
⁃ Ah, conta outra! -O Harry Potter Falso deu de ombros, teimoso.
Ele olhou nos olhos dela. Ela não estava contando algo, podia sentir isso.
⁃ Tem certeza de que é esse o motivo para tê-lo expulsado?
⁃ Por que mais seria?
A expressão de Jorge começou a mudar lentamente. Ele parecia chateado com algo.
⁃ Seu destino de auxiliar.
Martina se irritou completamente com aquela menção idiota. Não. Não poderia ser verdade.
⁃ Jorge Blanco, pelas Rosas Negras, não mencione isso de novo!
⁃ Você não confia mais em mim, então...
⁃ Isso não tem nada a ver com Pepe, é sério! Acredite, essa coisa de destino é totalmente... Equivocada na situação atual em que o livro se encontra.
⁃ Ah, é mesmo? Até para minha irmã?
Martina tocou em seu braço.
⁃ Jorge, o meu destino nunca mudou, nem nunca vai mudar. Eu juro. Mesmo que eu esteja com raiva de você, você é o meu herói.
Jorge sentiu uma arrepio quando ela sorriu. Ele retribuiu o sorriso. De repente, lembranças dela vieram em sua cabeça:
⁃ Você é um idiota! -Ela gritou. - Não viu o que você fez? Você quase estragou tudo!
⁃ Ah, me desculpe se eu estava ocupado salvando a sua vida.
⁃ Eu não precisava ser salva! Tinha tudo sobre controle.
⁃ É mesmo? De longe não parecia que você estava com o controle das coisas.
⁃ Mas eu estava! -Ela gritou.
Jorge adorava irritá-la. Martina ficava vermelha feito um tomate, queria matá-lo, mas no fundo Jorge sabia que não era verdade. Ele riu e ela o socou.
⁃ Não tem graça! Você poderia ter morrido naquela arena!
⁃ Ficou preocupada?
Ela juntou as sobrancelhas. Ele sempre a surpreendia.
⁃ Se da próxima vez você morrer tentando me salvar eu vou te odiar para sempre, ainda mais do que odeio, Jorge Blanco. Eu não fui treinada para ague...
Ele sorriu e beijou sua bochecha. Foi um bom truque para fazê-la ficar quieta. Martina arregalou os olhos, e não conseguiu dizer mais nada. Ficou ainda mais vermelha.
⁃ Vou esperar seu pedido de agradecimento, Stoessel.
Ela deu um sorriso bobo sem querer.
⁃ Você é o meu herói.
Jorge sentiu uma grande dor de cabeça depois daquela lembrança. Ele começou a perder sua força e caiu no chão de joelhos, era uma dor incontrolável. Mesmo gritando de dor, ela não passava. Martina tentou ajudá-lo, mas ele a obrigou a se afastar. Ela não podia vê-lo assim. Não podia estar ali naquele momento.
"Espero que se divirta com suas memórias com ela, Precioso. Em breve, ela não poderá mais te chamar de herói."
Jorge sabia exatamente o que estava acontecendo. Alguém estava tentando manipulá-lo outra vez. Ele sabia exatamente que esse alguém era Michelle.
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