História O Livro dos Sonhos - Pepe entrou na Listra Negra do Papai Noel, isso é ruim?

Aquela aula foi mais longa do que qualquer aula que Pepe já tivesse tido. As coisas começaram a ficar piores. Pepe não conseguia mais se concentrar em nada. Tudo o que ele fosse fazer, começava a meio que falar com ele. As palavras da lousa se invertiam dizendo: "Você não deveria ter aberto o livro, Barroso. As consequências virão..." Isso era literalmente assustador. Pepe não fazia ideia do que estava acontecendo ou porque ele de repente começou a ver gigantes e fadas. E vídeos nos rostos de garotas estranhas. Nada daquilo parecia real, mas ao mesmo tempo era tão real que chegava a amedrontar.

Depois do sinal tocar, anunciando o fim da aula, Pepe tinha que fazer outra parte daquele trabalho. Mas estava realmente com medo de ver um provável Livro dos Pesadelos e Centauros aparecerem dando coices em seu rosto. Por outro lado, essa era a única solução para ele não reprovar na aula da Srta. Danvers (Sinceramente, passar mais outro ano com aquela professora seria algo muito desconfortável). A única solução que ele pensou foi em pegar o livro da matéria e ir para casa. Assim não precisaria ir todo dia até à biblioteca e não precisaria ver o livro da Disney, em sua forma sombria, naquela prateleira.

Chegando em casa, Pepe subiu para o seu quarto e se jogou na cama. Foi um dia cansativo. Ele precisava de descanso. Deixou os materiais no chão e se deitou.

E, cinco minutos depois, Pepe declarou que aquele seria o sono mais tranquilo que teria. Ou o único sono tranquilo que teria dali em diante. Ele acordou com uma luz absurdamente clara em seu rosto.

⁃ Cara, o que é isso? -Apertou os olhos, tentando se acostumar com a claridade.
⁃ Você me deve desculpas, Barroso. 
⁃ O quê...? -Ele se levantou desviando o olhar da luz, ainda sonolento.
⁃ Você me deve desculpas. -Alguém repetiu.
⁃ Acho que você tem que diminuir essa claridade, antes. Seja lá quem você for.

O alguém bufou e a luz diminui bruscamente. O que fez o quarto ficar escuro de repente. Ele finalmente conseguiu ver quem era. A garota-fada, loira. A garota da voz irritantemente fina. Mercedes.

⁃ Como você entrou aqui? -Ele disse quase gritando.
⁃ Papai me mandou vir. E dizer que você foi um idiota por estar me matando.
⁃ Te matando? Eu nunca...
⁃ Você nunca pode insultar uma fada. Elas morrem depois. Qual é, você nunca assistiu Peter Pan?

Pepe gargalhou, foi uma daquelas risadas que quase não saem sons e você fica se contorcendo para expressar que achou a piada muito engraçada.

⁃ Ah, me desculpe, Duende de Asas. -Ele levantou as mãos, em forma de rendição. Rindo de suas orelhas pontudas. - O Papai Noel vai ficar muito bravo esse ano comigo! Insultei uma pobre fada!, isso é lamentável. Devo estar na lista negra!

Ela pareceu ainda pior do que já estava. Olheiras apareceram abaixo de seus olhos, e machucados por todo seu braço.

⁃ PARE DE FAZER ISSO!
⁃ Isso o quê? Eu não fiz nada! -Ele deu um sorrisinho. - Vai fazer o quê, Fadinha? Sua varinha mágica vai me transformar em pedra? Ah, não. Pedra é uma coisa muito gótica para um ser como você! Glitter, talvez? Ou uma flor! É, uma flor seria bem melhor do que uma pedra... Mas, sabe...

A paciência de Mercedes foi ao limite. Debaixo da manga do vestido glamouroso dela, ela pegou sua varinha. Sim, ela tinha uma varinha mágica. Porém não do tipo contos de fadas, com estrelinhas na ponta, saindo brilhinhos a cada movimento. Não. Estava mais para uma vareta de ferro com desenhos estranhos, que talvez pudessem ter algum significado, do tamanho de uma adaga. Em questão de milissegundos, seu vestuário todinho mudou. Agora, ela estava combinando com a varinha, com uma jaqueta e calças de couro, com ar de vilã. Seus cabelos estavam presos em um rabo de cavalo, com mechas pretas em degradê, entrando em contraste com seu cabelo loiro, quase branco de tão claro. As pontas, antes totalmente lisas, agora estavam onduladas. E sua maquiagem estava escura, dando cor ao rosto pálido e delicado. Seus brincos de diamantes, antes rosa e vermelho, agora eram azul marinho quase preto, parecendo brincos da moda. Ainda tinham o mesmo brilho. Ela tinha um sorriso tão malvado que chegava a intimidar. Mercedes queria que Pepe se transformasse em pedra. E faria isso se não estivesse tão fraca. A única coisa que ela pensou em fazer, foi fazê-lo perder a voz. E assim o fez. Pepe não conseguia mais pronunciar nada, sua voz não saía de jeito nenhum. Da mesma forma, ele conseguia se comunicar por linguagem de sinais. Era inevitável ver sua raiva ou desespero. Aqueles gestos grosseiros eram muito fáceis de interpretar.

⁃ É, eu sei. Você deve estar surpreso de mais com isso. Quem disse que eu não posso ter o meu lado malvado de vez em quando? Ha, ha.- Ela fixou o olhar em sua varinha. Como se dissesse: "É isso aí!, boa garota!" - ...Esses humanoides, sempre subestimando seres superiores... Só te digo uma coisa, Barroso: nunca subestime o poder de ninguém, entendeu? Eu tenho poder o suficiente para libertar todos os monstros daquele livro. Você não vai querer ver a Terceira Guerra Mundial, acredite em mim.

Pepe cruzou os braços e fez a expressão mais revoltada que conseguisse fazer. Como uma criancinha que fica de castigo por desobedecer os pais. Ele somente movimentou os lábios dizendo bem claramente o que queria pausadamente: "Minha. Voz. De. Volta".

Mercedes riu.

⁃ Ah, sim. Você terá sua voz de volta, Pepe. É claro que sim! -Ela fez uma voz ameaçadora, em seguida: - Mas primeiro terá de me pedir desculpas.

Ele começou a ficar inquieto. E movimentou as mãos de uma forma tão clara, que chegou a ser engraçado: "Vá se ferrar".

⁃ Nossa, Humanoide! Isso foi mal educado! -Ela riu, e logo enfraqueceu mais. Uma cicatriz enorme apareceu em seu rosto, um corte em sua bochecha, ainda sangrando. Os olhos dela ardiam de raiva. - Você é um idiota! Sabe que me insultar me machuca e ainda continua! -O brilho de seus brincos de diamantes desapareceram, parecendo falsos agora.

Ainda mais fraca, porém com mais raiva, ela pegou sua varinha e o fez congelar. Em menos de cinco segundos, Pepe já estava parado sem mover nada. Mercedes com certeza ganharia da Elsa do Frozen, em algum campeonato de congelamento nacional. Ela se aproximou de Pepe e segurou seu rosto com força. Mesmo congelado, ele ainda podia ouvir em alto e bom som.

⁃ Escute aqui, garoto: eu não sou uma simples fada. Você não faz ideia do que eu faço naquela mansão. O que você está fazendo é uma insolência: está me matando. Acredite ou não, sou eu o motivo do equilíbrio dentro do Livro dos Sonhos. Se eu morrer, as coisas vão ficar em total desequilíbrio e bem feias para o seu lado. Então é melhor você se tocar. Ou será você quem vai parar lá dentro, Humanoide. -Ela devolveu seus movimentos e sua voz, mas ainda o segurando indagou: - Você me entendeu?

Pepe deu um suspiro profundo, como se não estivesse respirando antes. Olhou-a nos olhos, assustado, e respondeu:

⁃ Entendi. Me desculpe.

Foram desculpas sinceras. As olheiras sumiram, os machucados foram curados. O brilho do diamante voltou. Mercedes estava saudável de novo. Logo, ela se transformou em sua forma real. Um ser pequeno de asas. A bolinha de de luz. A consciência de Pepe. Uma Fadinha com calças de couro e rabo de cavalo, suas asas estavam mais escuras e nada delicadas. Porém, antes de sair pela janela, Pepe segurou suas asas. Como se estivesse capturando um inseto.

⁃ Ei, ei, ei!, já vai? Está cedo, Duende de Asas! -Ele sorriu. - Antes, você vai me explicar o que está acontecendo.