Mercedes se remexia, tentando se soltar. Porém, lutar contra uma pessoa de um metro e sessenta a mais do que você, era algo um pouco difícil.
⁃ Me largue, seu repugnante! -A fada insistia em tentar fazer com que Pepe a soltasse.
⁃ Ãh, ãh! Não seja teimosa, Mercedes.
Ela mordeu os dedos de Pepe. Era como sentir absolutamente nada. Ele riu.
⁃ Se eu me transformar em humanoide de novo, você vai ver! -Disse em um tom mais irritante de sua voz.
⁃ Eu já entendi qual é a sua. Se eu te insultar, você se enfraquece. E eu acho que a Duen...
⁃ NÃO! -Sua vozinha fina berrou. - Por favor!
⁃ Então me diga o que está acontecendo!
⁃ Eu não posso!
⁃ Por quê?
Mercedes se transformou na versão humana dela. Agora, Pepe a estava segurando pela sua cintura. Ela não parecia feliz com aquilo.
⁃ Dá para me soltar? -Ele a largou. Ela deu um sorriso cínico. - Obrigada.
⁃ O que raios está acontecendo? Eu estou ficando louco!
Pepe começou a rodar pelo quarto, tagarelando.
⁃ É normal encontrar coisas tão... Irreais? Nada disso parece fazer sentido. E não estou dizendo para insultá-la.
Mercedes, com sua varinha, fez surgir uma lixa de unha e começou a manicure mágica. Mesmo em sua versão malvada, ela não gostava de esmalte preto. Era algo muito gótico para ela.
⁃ É mais real do que você imagina. E é bem menos Disney do que você pensa.
⁃ Então por quê...? Como...? Justo comigo? Eu...
⁃ Você é importante, Barroso. -Ela garantiu.- É apenas por esse motivo que o livro apareceu para você. Isso não quer dizer que você o deveria ter aberto. Foi um grande erro de sua parte. E acredite ou não, isso foi mesmo muito ruim, embora eu não saiba exatamente o que está acontecendo.
Ele parou de andar e se sentou ao lado da fada. De perto, ela era bem mais linda e delicada do que realmente era. Seus olhos brilhavam como o brinco de diamantes. Mesmo que Pepe não quisesse admitir, ele sabia: Mercedes era realmente bonita. Ela sorriu e comentou naturalmente:
⁃ Eu estou fraca... Você precisa prender os monstros na mansão. É a única chance de você provar seu valor e recuperar sua reputação de pr... Martina pode te ajudar. Ela foi criada para isso.
⁃ Monstros? Que reputação? Martina?
⁃ Olhe -Ela parou de lixar as unhas e olhou para ele. - Sei que você tem muitas perguntas. Mas enquanto você não entrar na mansão, você não pode saber de muita coisa.
⁃ Por quê?
⁃ Fale com Martina. Ela pode te explicar.
⁃ Por quê?! -Ele gritou. Pepe costumava se irritar facilmente. Porém, a essa altura, qualquer um já teria surtado.
⁃ Não posso dizer, estou seguindo ordens.
⁃ TODOS VOCÊS DIZEM ISSO!
⁃ Eu sei, Barroso. Nós fizemos a promessa de não contar segredos confidenciais às pessoas que não entrem ou não entraram na mansão.
⁃ Que mansão, caramba?
⁃ É confidencial.
Ele segurou outro grito na garganta. Queria muito insultá-la, com nomes nada legais ou gentis. Levou suas mãos até a nuca e respirou bem fundo.
⁃ Você não pode dizer mais nada? Que tipo de informante é você?
⁃ O tipo de informante que foi obrigada a ser uma. -Ela voltou a lixar as unhas, deixando um silêncio por muito tempo no quarto. Pepe ficava encarando-a, com um olhar mortal, enquanto ela sorria naturalmente. - Posso ir embora agora?
⁃ Você é uma fada.
⁃ É, eu sei. Mas já cansei de ficar aqui.
⁃ E a Martina? É uma fada também? Ela deve ser bem mais útil que você.
As olheiras voltaram, o sorriso vitorioso dela, sumiu. E pior do que qualquer machucado que ela poderia ter levado surgiu: ela quebrou uma das unhas. Seu olhar foi mortal, a garota-fada o estava xingando muito na mente.
⁃ Humanoide repugnante... -Rosnou.
⁃ Eu vou agradecer pelo elogio, embora não saiba o que significa. Agora, me diga: como eu entro em contato com Martina?
⁃ Ela é deste século, sabia? Internet, celular, WhatsApp, sei lá. Se vira.
⁃ E o telefone dela? Dãh!
⁃ Ah... -Ela estreitou os olhos. - Quer o telefone dela para quê?
⁃ Para falar com ela.
Ela, desconfiada, não fez nada por um momento. Mas, em seguida, tirou do bolso de sua jaqueta um Smartphone. Era tão rosa e tinha tanto glitter que quase cegava. Isso fez com que Pepe se perguntasse se o carro dela poderia ser talvez um unicórnio cor-de-rosa. Entretanto, quando ele entrou em contato com a varinha, ficou azul marinho como o brinco, quase preto. Ela abriu os contatos e começou a procurar.
⁃ Ah, nossa! Eu pensava que tinha perdido o telefone daquele elfo gato! -Mercedes suspirou. - Agora vou poder relembrar a melhor noite da minha vida.
Pepe riu. Olhando para ela de lado, era até engraçado. Suas orelhas eram muito, muito pontudas mesmo. Ele se impressionou porque isso não o assustou.
⁃ Martina 1, Martina 2, Martina 3... Como ela consegue quebrar tantos celulares? Martin... Aqui: Martina Atual. Deve ser esse.
A fada olhou para Pepe e o esperou pegar o telefone dele. Assim que o número foi passado, ele ligou para Martina. Ela não parecia estar num dia bom.
⁃ Barroso? Como você conseg...
⁃ Mercedes me passou o seu número.
⁃ Eu vou matá-la! Passe o celular para ela.
⁃ Mas..
⁃ Vai logo!
Ele obedeceu.
⁃ Olá, auxiliar! -A fadinha riu, ouvindo a resposta da outra linha. - Eu sei, eu sei. Ah, coitado! Ele só quer informações. Sim. A não ser que você... Tudo bem. Tá, sua chata! Ai credo! Mas, e se ele for.. Nossa, tudo bem. -Ela devolveu o celular. - Para você.
Pepe o pegou, desconfiado.
⁃ Me diga logo o que você quer, Barroso. -Martina disse.
⁃ Eu tenho nome! -Ele se defendeu.
⁃ E eu não tenho o dia todo. Ande!
⁃ Tudo bem, ãh... O que é essa mansão?
Ela não respondeu. Apenas ficou quieta. Ele imaginou-a socando alguma coisa do outro lado da linha.
⁃ Ah... Você... Ainda está aí?
⁃ Passe para Mercedes. -Ordenou.
E assim ele o fez. Depois de uma discussão, no qual Pepe não havia entendido nada, Martina gritou: FAÇA LOGO ISSO! e a garota loira encolheu os ombros. Pegou sua varinha e tocou no telefone. Em questão de segundos, Martina estava no quarto também. Ela se "teletransportou" literalmente. Ele ficou boquiaberto.
⁃ Se eu soubesse que sua varinha mágica pudesse fazer isso, eu nunca teria zoado.
⁃ Não temos tempo a perder, Humanoide. -A fada disse.
Martina ajeitou suas roupas e suspirou.
⁃ Pepe, acabei de receber ordens do Dominguez. Você precisa entrar na mansão, temos que ir para a biblioteca. Eu te explico no caminho.
⁃ Fazer o que na biblioteca?
⁃ Pegar o livro. -Ela o puxou para fora do quarto.
⁃ O Livro dos Sonhos?
⁃ Sim.
⁃ Por quê?
⁃ Porque nós vamos entrar dentro dele.
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