História O Livro dos Sonhos - Pepe é a versão magrela do Superman

Martina entrou primeiro na Biblioteca dos Escritores, para pegar a ficha que Pepe deveria preencher. Os dois se sentaram nas últimas cadeiras vazias que tinham. Ele olhou ao redor e concluiu: é, definitivamente, a biblioteca parecia... Uma biblioteca. Era decepcionante. Pelo menos depois de entrar em uma loja de roupas camuflada e ser perseguido por... Alguma coisa que ele ainda não sabia o que era. Pepe contou tudo o que havia acontecido na outra biblioteca, enquanto Martina não estava: que a maioria das pessoas dali eram monstros e/ou informantes de Michelle, a pantera malvada. Que quase foi morto de novo. Que seu machucado no ombro esquerdo estava bem pior, agora que a coisa do mal tinha inflamado muito mais o corte. E que estava sentindo fome. Martina ouvia tudo em silêncio, porém sua expressão foi piorando cada vez mais. E ela foi se fazendo perguntas cada vez que ele dizia alguma coisa sobre o ocorrido. Precisava de respostas, embora não soubesse exatamente como perguntar. Se remexeu na cadeira e voltou o olhar para o papel.

⁃ Como... Você sabe que são todos informantes e monstros?
⁃ Eu vi a aparência verdadeira deles.

A garota olhou em volta, confusa. Só era possível ver a aparência verdadeira de um monstro quando esse estivesse totalmente indefeso. O que provavelmente não era o caso. Ela se encostou na cadeira.

⁃ Você precisa preencher a ficha.
⁃ Okay. -Pepe pegou a caneta (decepcionante também: a caneta nem ao menos falava) e começou a preencher.

Agora que o conhecia melhor do que antes, no colégio, para ela Pepe não parecia ser a mesma pessoa que ela tinha imaginado. Ele era justamente o contrário. O garoto parecia menos fresco e mimado do que parecia. Pepe agora aparentava ser... Um garoto normal. E não o futuro dono de umas das maiores empresas do país. E apenas em alguns dias de convívio, Martina pôde perceber que ele era um cara decidido, irônico e totalmente idiota. Provavelmente o herói mais difícil de treinar que ela veria... Provavelmente a pior experiência que ela tivesse em seu trabalho.

Um silêncio perturbador permaneceu ali, até a auxiliar quebrá-lo, ainda se perguntando sobre o ocorrido. Tomou coragem e indagou:

⁃ Pepe... Como você se livrou da informante?

Ele, que já estava começando a preencher a ficha, sorriu. E ainda concentrado no papel respondeu, simples.

⁃ Ah! Eu acho que acabei de descobrir meu superpoder!

Ela riu.

⁃ Descobriu?
⁃ Sim! Eu tenho super-força! Eu apertei o braço da coisa e mandei ela me soltar! Ela começou a sentir dor e me largou. -O garoto riu, convencido. - Acho que sou a versão magrela do Superman aqui. 
⁃ Essa foi a coisa mais ridícula que você disse desde que entrou no livro.
⁃ Mas e se for verdade? 
⁃ Ainda sim, vai ser a coisa mais idiota que eu já ouvi.

Pepe se inclinou e apoiou os braços sobre a mesa.

⁃ E os SEUS poderes? Quais são? Ser chata até fazer alguém se matar?

Ela sorriu.

⁃ Eu posso ter todos os poderes que eu quiser.
⁃ Tá, e eu sou MESMO a versão magrela do Superman. Qual é, conta outra. 
⁃ Não, é verdade. -Garantiu. - Sou Conselheira do Guardião. Por isso, eu tenho direito de escolher qual poder eu quero ter. Quando eu quiser.
⁃ Então, você pode começar a jogar ácido em todo mundo aqui, se quisesse?
⁃ Um poder meio do mal, mas sim, eu poderia.

O garoto largou a caneta e a fitou revoltado.

⁃ Você consegue ser a personagem mais sem graça do livro.

Ela gargalhou.

⁃ Obrigada. E preencha logo essa ficha. Não temos o dia todo.
⁃ Ah é, temos que matar gigantes. Me esqueci de que o que vim fazer aqui é extremamente chato.

Ele olhou para o papel quase preenchido e voltou a escrever:

FICHA PARA VISITANTES

Nome: Pepe Barroso Silva
Sexo: feminino( ) masculino(X)
Idade: 17 anos 
Auxiliar: Martina Stoessel. Conselheira do guardião e blá-blá-blá.
Função no livro: Ser lindo e maravilhoso.
Posição do livro: O QUÊ?
Apresenta algum tipo de poder? Sou a versão magrela do Superman.
Como conheceu o Livro dos Sonhos: Pela minha consciência irritante.
Tem algum parentesco com algum personagem: Sim, se eu tiver um irmão gêmeo do mal aqui. 
Tipo de personagem: Sou um humanoide muito gato.

Ele terminou de escrever e entregou a Martina. Ela leu, olhou para ele, e rasgou o papel. O que o fez sentir-se um tanto ofendido.

⁃ VOCÊ ESTÁ BRINCANDO COMIGO, NÃO ESTÁ? -Gritou. - Que parte do leve isso a sério você não entende? 
⁃ Mas estou levando isso aqui a sério! 
⁃ "Sou um humanoide muito gato"? Você acha que isso é brincadeira?

Pepe desmanchou o sorriso.

⁃ Você não tem um pouco de senso de humor?
⁃ Senso de humor? Esse é o meu TRABALHO! -Ela suspirou e se levantou. - Quer saber, acho que você não quer ser um herói aqui.

Ela foi em direção à saída, mas Pepe segurou sua mão.

⁃ Ei, eu só estava brincando. Me desculpe, eu não sabia que deixaria você assim. 
⁃ Quando você quiser realmente fazer isso, me chame. Mas enquanto ficar fazendo essas brincadeiras idiotas, eu não vou ser sua auxiliar. Sua idiotice não vai salvar o destino dos personagens.

Ela saiu da biblioteca, fazendo com que ele se sentisse completamente culpado. Ele voltou para a mesa e respirou fundo. Passou a mão pelos cabelos. Levar algo a sério era um pouco difícil para Pepe. O que ele poderia fazer? Era meio automático esse jeito irônico dele.

O garoto pediu outra ficha e começou a preenchê-la devidamente:

FICHA PARA VISITANTES

Nome: Pepe Barroso Silva
Sexo: feminino( ) masculino(X)
Idade: 17 anos 
Auxiliar: Martina Stoessel.
Função no livro: Herói da geração 
Posição do livro: Protagonista 
Apresenta algum tipo de poder? Não
Como conheceu o Livro dos Sonhos: Mercedes Lambre, filha do irmão do Guardião.
Tem algum parentesco com algum personagem: Não 
Tipo de personagem: Humano-mortal

O próximo passo era encontrar Martina. Mas, onde ela estaria agora? Suspirando, ele foi até o balcão em que estavam os funcionários da biblioteca. Estavam arquivando documentos. Todos usavam camisas da mesma cor, com o logotipo da biblioteca, o número 06 ao lado. Um dos funcionários olhou para Pepe e sorriu.

⁃ Em que posso ajudá-lo? -Perguntou.
⁃ Ah... Eu gostaria de um crachá para visitantes. Embora não saiba para que isso serve... -Murmurou.

O funcionário pegou a ficha e começou a lê-la.

⁃ Ora, ora, parece que acabei de conhecer o herói da geração! Muito prazer, senhor Barroso.
⁃ Obrigado, eu acho. É um prazer também. -Respondeu sorrindo.

O cara foi até algumas gavetas perto da escrivaninha e pegou um dos crachás. O entregou a ele. Era dourado e tinha escritos em um preto brilhoso. Pepe percebeu uma estrela no canto do crachá.

⁃ Esse aí é de honra. Para nossos heróis. Boa sorte com sua missão, Humano-mortal. -O funcionário disse, gentilmente.
⁃ Valeu, cara!

Pepe saiu do aposento, pendurando o crachá de honra no pescoço. Talvez a coisa de ser herói não fosse algo tão ruim assim...

O funcionário deu um sorriso malvado, e pressionou os fones de ouvido em sua orelha.

⁃ Mich... Chefe, acabei de pegar a ficha de nosso herói. Talvez encontremos alguma fraqueza nele... -Ele riu, enquanto ouvia o outro lado da linha. - Já cuidei isso. O rastreador está em seu crachá. Vai ser bem fácil saber o que ele esconde.

A chefe respondeu o comentário, o elogiando pelo trabalho bem feito. Deu novas ordens.

⁃ Infiltrar...? Ah, ótimo! -Sorriu. - Stoessel terá uma surpresinha em breve.