1. Spirit Fanfics >
  2. O Mago - Uma História Escrita com Sangue >
  3. Seguindo a Estrada

História O Mago - Uma História Escrita com Sangue - Seguindo a Estrada


Escrita por: O_Estranho__

Capítulo 2 - Seguindo a Estrada


As correntes de vento gelado vinham do leste, enquanto o Mago estava seguindo a estrada, lhe causando um arrepio na espinha. A temperatura estava baixa demais para vestir apenas a sua túnica cinzenta, portanto, também cobria-se com um manto. A cidade para onde se dirigia estava muito longe, então conviveria com o frio por bastante tempo.

      Mas esse era o menor dos males. Demoraria bastante tempo até ter um teto sobre sua cabeça, e o céu estava nublado demais aquela manhã. Ele já podia sentir o cheiro de chuva vindo. Suas costas doíam, consequências de dias de cavalgada. Já seu estômago roncava, implorando por alimento. Mas a única coisa que poderia comer era seu cavalo, algo que nunca consideraria.

Ele tinha um forte carinho por aquele alazão de pelagem escura, acompanhava-o há muitos anos. Havia dado até um nome para ele, Allastair, um nome que significava demais para o homem. Por mais que evitasse se apegar a alguém, já que a dor de uma perda era bem conhecida pelo mesmo, deixou isso de lado e passou a considerar Allastair seu único companheiro nesse mundo.

 E ainda tinham os perigos que os cercavam. Animais famintos sempre se interessavam por ele e Allastair, se tornando um empecilho. E bandidos sempre faziam questão de tentar tomar os pertences que carregava nos alforjes de seu cavalo para si, mesmo que não teriam tanto valor para pessoas comuns.

Mas o pior de tudo não eram humanos mal intencionados ou animais que os viam como presas, o pior de tudo era um outro tipo de coisa, algo que causava uma sensação ruim no seu estômago só de estar por perto. O Mago sabia muito bem como lidar com esse tipo de coisa, até mais do que qualquer um, mas, mesmo assim, ele sempre dormia com um olho aberto.  Precaução nunca era demais, ainda mais quando ele também atraia esse tipo de coisa.

Enquanto continuava seguindo a estrada, teve a impressão de ter avistado algo se movimentando no meio dela, uma criança, aparentemente. Subitamente puxou as rédeas de Allastair, fazendo-o parar.

 — Espere, Allastair  — ele falou para seu companheiro, desmontando do cavalo — Acredito que há algo aqui perto. Devo investigar.

 O animal sabia que havia uma razão para ele ter parado, portanto, permaneceu imóvel. Durante todos esses anos, acabara desenvolvendo a capacidade de pressentir esse tipo de coisa, assim como seu mestre.

O Mago não encontrara pegadas ou qualquer marca de que algo realmente havia passado por ali. Mas bastava fechar os olhos e ele podia sentir aquela aura. Não estava muito longe, era como se o cercasse. Sentiu todos pelos de seu corpo se arrepiarem, de seus pés até as longas madeixas grisalhas que compunham seu cabelo, e o pânico lhe dominar. Allastair relinchou, sentindo o pavor de seu mestre e então ele abriu os olhos, afastando-se dos pensamentos ruins.

As nuvens a cada instante se tornavam mais escuras, e apesar que ainda fosse de manhã, praticamente não havia céu, já que as nuvens o escondiam totalmente.   Um presságio de tempestade. Não era uma boa ideia permanecerem em um temporal, de fato, mas a cidade para onde iriam estava longe demais. Não havia alternativa a não ser continuar seguindo a estrada.

Aquele sentimento negativo ainda o perseguia. A escuridão que o envolvia fazia tudo piorar, mas Allastair era a única coisa que o mantinha são.  Podia parecer uma bobagem, mas o vínculo que aqueles dois tinham era muito intenso.

Assim que a neblina se dissipou ele pôde avistar uma casa. Um casarão que não era cuidado há bastante tempo, visto às vinhas e teias de aranha que a cercava.  Isso era um mau sinal.  Se ela estava abandonada, algum motivo pra isso tinha que ter. Óbvio que poderia apenas ter havido uma infestação de ratos ou outro tipo de pragas. O problema era que aquilo que lhe causava aquele súbito mal-estar também podia ser chamado de praga.

Allastair permaneceu embaixo do beiral. Os primeiros pingos de chuva já haviam escorrido pela sua face e enquanto o tempo passava só se tornavam mais frequentes. Não era como se o Mago fosse ficar doente, ele não era como qualquer pessoa, mas Allastair não tinha a sorte de ter uma imunidade fora do comum, até era bem resistente, mas não imortal.

O Mago bateu na porta de madeira maciça que parecia estar caindo aos pedaços, mas ninguém respondeu. Decidiu abri-la por si mesmo. Não precisou de muito esforço, a porta já estava enfraquecida devido aos anos. Estava deveras escuro, portanto pegou em seu cinto uma tocha e a acendeu usando o atrito de rochas, que também carregava.

Iluminado pela tocha, pode enxergar alguns passos adiante. A casa parecia enorme ao se ver de dentro, estava suja demais e os móveis pareciam já ser velhos, mas era uma casa bastante luxuosa. Não parecia ser de algum plebeu comum.

Conforme caminhava pela casa o chão rangia. Aquele mal estar o dominava ainda mais. Ele tremia. Não importava se ele era O Mago, o quão poderoso e imponente ele era, o quão adorado, nada disso fazia sequer diferença quando sua vida estava em jogo.

Ele tinha medo da morte? Não exatamente. Tinha medo de ser poupado. O Mago sabia o quão sádico podia ser o mal desse mundo.

— Anton?

Dissera uma voz feminina familiar.

Aquele era seu nome: Anton Amorth. Não fora conhecido como “Mago” durante sua vida inteira. Uma sensação nostálgica dominou-o por completo e ele praticamente ignorou todo o pavor que sentia,  antes,   ele saiu correndo com a tocha em mãos à procura de 0nde aquela voz vinha.

Deparou-se com uma porta de madeira, era atrás de lá que estava quem quer que houvesse proferido seu nome. Diferente do resto das portas daquele lugar, aquela era de uma madeira bem trabalhada e não estava caindo aos pedaços. O Mago a abriu lentamente, e se deparou com uma bela mulher de cabelos ruivos, sentada em um colchão de palha e admirando o sol através de uma janela que ficava ao seu lado.

— Bom dia, Anton – dissera ela, sorrindo.

Ele sentiu uma felicidade imensa, algo impossível de ser descrito em palavras, ao vê-la, que chegou a derrubar a tocha que segurava. Correu em direção a ela como se fosse a única coisa que importava no momento.  Abraçou-a com toda a vontade que podia ter dentro de si, enquanto ela afagava os cabelos grisalhos de Anton.

Naquele instante ele relaxou, baixando a guarda. Esqueceu completamente da sensação que o tomara minutos atrás. Não era como se ele fosse o homem conhecido pelo seu poder e perspicaz, era como se fosse uma simples criança novamente, deitada no colo de sua mãe.

— Eu já ia acordar você. É hora do almoço, vamos lá – ela pegou em sua mão, e o guiou até a sala de jantar. Anton não lembrava que a mão de sua mãe era tão pequena assim enquanto a envolvia com a sua.

A casa não estava mais suja e agora estava iluminada pela luz do sol. Sentaram-se ambos sobre uma mesa de madeira entalhada. À sua frente estavam servidos pedaços de carne de porco e muitos tipos de vegetais disposto sob a mesa. Também havia algo que era batata misturada com uma raiz que crescia na horta. Sua mãe o serviu, fazendo questão de colocar muitos tipos de verdura em seu prato.

— Onde está o papai e meu irmão? – perguntou ele, enquanto fincava com os talheres um pedaço de carne. Sua mãe permaneceu em silêncio por alguns instantes, e então o respondeu:

— Eles virão logo, meu filho... — após isso a mulher permaneceu em silêncio.

Anton não conseguia parar de sorrir. Era como um sonho; Estava junto de sua mãe novamente.

Continuaram a almoçar até então um homem entrar na sala. O homem também era ruivo e tinha uma longa barba, assim como a de Anton. Ao seu lado havia um rapaz de aproximadamente uns quinze anos, também ruivo e assim como todos os quatros, de olhos profundamente castanhos.

— Venham conosco, se não morrerão os dois — dissera o homem, puxando a mulher pelo braço.

— Pare, Albert! – ela gritara, tentando se livrar das mãos do marido – eu já disse que não farei isso, muito menos deixarei meus filhos irem com você.

— Você não sabe do que está falando, aqui já não é mais seguro, Alannis. Essa é nossa única alternativa — o pai de Anton gritava contra sua mãe, que envolvia seu filho com os braços para protege-lo.

Mais uma vez era como se Anton presenciasse toda aquela cena novamente, impotente, como se ainda continuasse sendo uma mera criança. O mesmo sentimento de angústia que sentira anos atrás o envolveu, e ele começara a chorar assim como acontecera anos atrás.

— Venha conosco, Anton – dissera o rapaz — Esse é o único jeito de nos mantermos vivos – o rapaz esticou a mão para o irmão, que ainda continuava abraçado pela mãe.

Seu pai então deu uma bofetada no rosto de
Alannis, e gritou para ela:

— Ele também é meu filho, e eu não vou deixar o fato de você ser minha esposa impedi-lo de sobreviver — Anton assistia àquela cena horrorizado, enquanto dessa vez era o irmão quem o envolvia com os braços, levando-o embora.

— Não! — ele gritou, enquanto seu irmão e seu pai o levavam embora — Não podemos deixar a mamãe lá — ele gritava aos prantos, desesperado — Não, não! — debatia-se contra o peito do irmão, enquanto sua mãe caída tentava levantar-se para ir até ele —Não, Allastair! Por favor, não! — mas ele continuava sendo levado embora, forçado a abandonar sua mãe — Allastair, Allastair, Allastair...

O Mago continuou a repetir até despertar do transe com o relinchar do cavalo que havia vindo em sua direção após ouvir seu nome. O assoalho quebrara, graças aos trotes do cavalo desesperado em salvar seu mestre. O cavalo deu uma cabeçada contra a criatura, que sorria, vendo o sofrimento do homem, enquanto permanecia sentada segurando a cabeça de Anton, que ainda estava caído no chão devido à alucinação que tivera.

Aquela coisa voou para trás. Era como se fosse uma pessoa deformada, com aparência cadavérica e envolta com uma aura que lhe causava arrepios. Algo que existia apenas para trazer a dor para os outros.  Esse tipo de coisa recebera muitos nomes com o passar do tempo, “Demônios”, “Monstruosidade”, “Aberrações”, e nenhum deles estava errado, mas o meio mais correto de defini-lo era como simplesmente “O mal que há no mundo”. Era isso que estava à sua frente, gargalhando após ver o quanto o Mago sofrera graças às alucinações que ele havia causado.

Antou levantou-se, dessa vez não havia pânico dentro de si, apenas ódio. Aquela coisa havia simplesmente aproveitado da maior fraqueza do grandioso Mago; seu passado, e merecia pagar por esse imprudente ato.

Anton levantou-se e pegou uma faca de seu cinto. Caminhou, ficando frente a frente c0m aquele maldito ser. A criatura continuava sorrindo, estava deveras feliz. As do tipinho dele se alimentavam da dor que fazia os outros sentirem, por meio de sonhos e lembranças. Então o Mago colocou seu braço sob o monstro e fez um corte nele, fazendo seu sangue cair sobre ele.

Você não devia ter brincado comigo — o Mago agarrou o crânio da criatura com sua outra mão, que se debatia tentando se livrar do homem — Já lhe adianto: Não serei eu quem mais terá sofrido nessa manhã chuvosa— era como se a aura de Anton havia subitamente se tornado algo mais escuro até que a que o próprio monstro transmitia, uma energia totalmente negativa e assustadora. Aquilo era a trevas que o Mago carregava dentro de si, resultados de seu horrível passado e da vida que tinha. Uma vida que em muitos dias era fadado a cavalgar procurando por pessoas que precisavam dele. Sua única família era seu cavalo, e ele em muitos dias nem comida tinha.

Era claro que tudo isso se recompensava quando podia ir dormir com a sensação de que havia salvado a vida de alguém, mas isso não o ajudava a dormir sem medo.

 O medo... Isso já não surtia tanto efeito nele, era como se fosse um dos sentimentos básicos que o acompanhavam em sua jornada. Não há nada mais primitivo do que ter medo. Todas as pessoas sentiam, ele sentia, Allastair sentia... Até a própria criatura naquele momento tremia, temendo o cruel destino nas mãos do Mago que a esperava.

Estar com medo significava estar vivo.

— Desapareça desse mundo, sua desgraça — ordenou o Mago, com toda ira que se podia existir nesse mundo, e o monstro foi envolvido por aquela escuridão.  As gargalhadas foram substituídas por gritos de sofrimento e em um instante já não existia mais criatura, nem mal-estar, nem medo.

Tudo que existia era dever a ser cumprido. 



Gostou da Fanfic? Compartilhe!

Gostou? Deixe seu Comentário!

Muitos usuários deixam de postar por falta de comentários, estimule o trabalho deles, deixando um comentário.

Para comentar e incentivar o autor, Cadastre-se ou Acesse sua Conta.


Carregando...