História O Manto Escarlate - Como se aproximar de um dragão

Fiquei ali de boca aberta, paralisado pela surpresa, como em pleno século XXI, dentro do celeiro da minha casa, havia um dragão ferido parado na minha frente? Isso é absolutamente impossível, mas ali estava a prova incontestável, UM DRAGÃO PARADO NA MINHA FRENTE, era somente essa imagem que se passava pela minha cabeça, pisquei meus olhos tentando assimilar o fato, e ele continuava ali, me belisquei pensando estar sonhando, pois aquilo só poderia ser um sonho mesmo, mas ele continuava ali, parado em um canto me observando. Tentei chegar perto dele novamente me aproximando calmamente, dei um passo e ele não se moveu, dei mais um passo e ele continuou no mesmo lugar, comecei a me sentir confiante e com passos firmes e decididos andei mais rápido em sua direção, mas quando estava a menos de três metros de distância, ele arreganhou os dentes e cuspiu mais uma bola de fogo em minha direção.

- Seu lagarto maluco! Só estou tentando te ajudar! – Disse irritado e apavorado ao mesmo tempo, pois aquela bola de fogo caiu a poucos centímetros dos meus pés.

Com o susto, caí com tudo no chão, todos os objetos que tinha em mãos foram jogados para o alto e se espalharam ao meu redor, o dragão me lançou um olhar desconfiado e assustado, e continuou a me encarar da distância que ele considerava segura. Dei um longo e arrastado suspiro, como eu iria me aproximar de um lagarto superdesenvolvido capaz de me incinerar se tiver vontade, para tentar cuidar de seus machucados? Continuei parado olhando para ele, e ele me encarando de volta soltando um rosnado baixo, um aviso de que se eu chegasse mais perto eu me tornaria churrasco de adolescente, até que pensei em algo, me levantei e sai dali correndo como um raio, fui até a garagem onde meu pai tem um freezer repleto de carne, peguei um pedaço relativamente grande, e voltei correndo para o celeiro, assim que cruzei a porta percebi que o dragão me encarava, como se quisesse saber o porquê de ter saído dali.

- Aqui, pegue isto, é para você.

Mostrei o pedaço de carne para ele, a criatura o observou por um tempo até que do nada se levantou e veio na minha direção, comecei a ficar nervoso, e se ao invés de um pedaço de carne semicongelada ele preferisse carne fresca, como a minha por exemplo? A cada passo que ele dava, mesmo mancando muito por causa da perna machucada, meu nervosismo só aumentava, inconscientemente fui me afastando dele, até que não tinha mais para onde ir e me vi encurralado por ele contra a parede, comecei a suar frio, logo o dragão estava parado bem na minha frente e começou a farejar o pedaço de carne, fiquei aliviado, mas em menos de um minuto sua atenção se voltou para mim e ele começou a me farejar também, logo fechei os olhos imaginando o pior. Se passou alguns segundos e ouvi um barulho de algo sendo mastigado, abri meus olhos devagar e observei se todos os meus membros estavam no lugar, constatei satisfeito que estavam, suspirei definitivamente aliviado, pois ele resolveu que a carne de gado era mais interessante no momento do que a minha, então voltei minha atenção para o dragão.

Ele devorava ferozmente aquele pedaço de carne, fiquei feliz por ele não ter me escolhido como o prato da noite, vi que ele estava distraído e fui me aproximando calmamente, quando estava a menos de dez centímetros dele, toquei em suas costas, ele não se importou e continuou mastigando sua carne, suspirei novamente e baixei minha mão na direção do ferimento, mas assim que toquei o local, ele se virou de forma brusca começando a rugir.

- Fica calmo aí, seu lagarto gigante! Não quero te fazer mal, só quero cuidar das suas feridas! – Falei completamente apavorado, mas ele continuou a rugir.

-  desculpa ter te chamando de lagarto gigante, mas não me coma, não me coma, não me coma, …. – Fiquei repetindo baixinho, quase chorando, mas ele continuou a se aproximar do meu rosto e a rugir, comecei a pensar que morreria ali, me tornando o jantar de um monstro mítico.

Mas do nada, ele parou de rugir e caiu no chão bem na minha frente. Fiquei ali parado, ofegante e estático não conseguia me mover nem um milímetro que fosse com medo de que fosse um truque dele para me dar uma falsa esperança de que pudesse sair dali com vida, mas de repente um som me chama a atenção, parecia o barulho de um gato ronronando, olhei bem para o dragão e percebi que o som vinha dele, notei então que ele estava dormindo. Deve ter ficado finalmente exausto, depois de ter comido a carne.

- Fala sério...não me apavora deste jeito...

Aproveitei que estava dormindo e comecei a limpar seus ferimentos, quando observei melhor a ferida percebi que era mais funda do que pensei a princípio, e  quando toquei para começar a enfaixar ele grunhiu em seu sono, achei que fosse acordar, mas logo em seguida veio o silencio, mas observei melhor o ferimento e notei um leve brilho prateado, parece que a bala ainda estava dentro da ferida, percebi  que teria que colocar minha mão ali dentro para retirar a bala, olhei bem pra ele novamente  e vi que dormia feito uma pedra.

- É agora ou nunca.

Enfiei minha mão em sua ferida e tentei tirar rapidamente a bala dali, assim que toquei o metal puxei para fora, o dragão se mexeu inquieto e prendi a respiração por um segundo, mas ele não acordou e pude relaxar novamente. Limpei novamente a ferida e rasguei um pedaço bem grande do lençol que peguei no meu quarto e enrolei a ferida, apertei bem e em seguida passei umas duas voltas de fita isolante para prender bem a bandagem improvisada.

- Pronto, acho que agora você vai ficar melhor. – Disse fazendo um leve carinho nas costas do dragão, percebi que as escamas ali eram duras, fui baixando minha mão até chegar na sua barriga e constatei que ali as escamas eram mais macias, fiz carinho ali por um tempo também.

- Agora você não parece tão feroz não é mesmo? – Pensei enquanto observava ele dormir.

- Vou sair logo daqui antes que ele acorde... – Disse em voz alta.

Fui me levantar, mas de repente, ele se virou durante seu sono, e se aconchegou em minha volta, tentei levantar as não consegui, por medo dele acordar e resolver que eu era seu inimigo novamente e fazer um lanchinho da meia noite, dei um longo e demorado suspiro.

- E agora como vou sair daqui? – Pensei preocupado.

Pelo visto eu não ia sair dali tão cedo.