História O Manto Escarlate - Como esconder um dragão...?

Esse moleque está cada vez mais viciado nesses jogos, daqui a pouco nem vai dormir mais, vai virar um zumbi! E a Ellena só o defende... Bom, o que importa é que acordou, agora tenho que começar o serviço logo, para terminar o quanto antes, pode não parecer, mas também detesto ter de trabalhar em domingos, mas se tem serviço não tenho outra escolha.

Continuei caminhando em direção ao celeiro, pensando em qualquer coisa, quando percebo a porta entreaberta, estranhei, tinha certeza de que a tinha fechado ontem à tarde, observei melhor e percebi pegadas de animal no chão e alguns arranhões na porta. Quando parei em frente a porta, vi que os arranhões eram bem mais profundos do que aparentavam, fiquei intrigado, pareciam ser de um animal bem grande, cheguei a cogitar que algum urso teria aparecido por ali, mas logo descartei a ideia, faziam anos que não apareciam ursos nesta região, devem ser de algum outro animal.

- Droga, algum cachorro ou raposa entrou aqui novamente! - Disse irritado, agora vou ter que arrumar a porta, respirei fundo para me acalmar e escutei um grunhido, estranhei o som, não parecia ser dos cavalos, entrei mesmo assim, logo que entrei estaquei na porta, não esperava que o animal ainda estava ali dentro.

Estava dormindo calmamente, finalmente achei um lugar seguro, mas agora a claridade começou a bater no meu olho e me irritei com isto, comecei a me esticar, mas logo parei com o movimento, senti uma dor lancinante subindo pela perna, grunhi de dor, como um ferimento pequeno podia doer tanto? Ouvi alguém abrindo a porta, fiquei animado com isto, acho que o humano que cuidou de mim ontem à noite voltou para ver como estou, me virei rapidamente para recebe – lo, pois queria me desculpar por telo quase devorado na noite anterior, mas não era o humano da noite passada, este era diferente, e me olhava com raiva e surpreso, fiz o que qualquer ser em minha situação faria, rosnei pra ele.

Fui correndo o mais rápido que pude atrás do meu pai, em hipótese alguma ele deveria ver o que está no celeiro, como eu iria explicar que tinha um dragão lá dentro? E que eu ainda ajudei o animal, se o dragão não tinha me matado, com certeza meu pai me mataria e mataria o dragão logo em seguida, e isso eu não podia deixar acontecer! Cheguei derrapando em frente a porta, mas já era tarde demais, meu pai estava parado encarando o dragão, este por sua vez encarava meu pai e rosnava para ele, comecei a suar frio, como iria explicar isto para ele?

- Pai...existe um motivo para isso... – Disse ofegante, por causa da corrida.

- Por que tem um cachorro gigante aqui? – Disse ele um tanto surpreso, e levemente irritado.

- O que? – Perguntei confuso.

- Não se faça de tonto garoto... Tem um São Bernardo gigante parado na nossa frente...

Olhei para frente novamente, tudo que eu via era um dragão com escamas vermelhas brilhantes, longos chifres negros, enormes garras também negras e olhos de um preto tão profundo que pareciam ver através da sua alma, e meu pai dizia estar vendo um São Bernardo, um cachorro..., mas o que diabos estava acontecendo ali? Enquanto eu o observava, ele virou os olhos na minha direção e começou a caminhar vagarosamente até mim, por causa de sua pata machucada.

Estava tão distraído que nem percebi meu pai falando comigo novamente, desviei meus olhos do dragão e olhei com cara de paisagem para o meu pai, ele não podia desconfiar de que eu tinha alguma relação com ele.

- Sério...como ele apareceu aqui...e..você está cuidando dele? – Disse meu pai, desconfiado. Ele não gosta muito de cães.

- Não, estou tão surpreso quanto você pai!

- Então por que ele está parado ao seu lado lambendo sua mão? -  quando ele disse isso me lançou um olhar gélido. Estremeci.

Olhei em volta rapidamente procurando o dragão e me surpreendi, estava tão distraído conversando com meu pai que não percebi o animal ao meu lado, e mais surpreso ainda por ele estar lambendo minha mão direita, nem parece aquele lagarto raivoso da noite passada, que estava louco por um pedaço meu para a janta.

- E outra coisa, ele está com a perna enfaixada, e tem restos de tecido e fita isolante espalhados por ai...por que não diz logo a verdade Thomas? Você está cuidando deste animal né? – Disse ele, irritado.

Sério, meu pai é muito observador, e detesta mentiras, bastou uma olhada pelo celeiro que ele viu toda a “prova do crime”, e eu sou muito idiota por não ter recolhido os restos da atadura que fiz para o dragão. Olhei mais uma vez e suspirei desistindo, era melhor eu contar logo a verdade, antes que meu pai ficasse realmente irritado.

- Ok... Pai, lembra que ontem à noite eu disse que pensei ter ouvido um animal? -  Comecei.

- Lembro, e também me lembro de ter dito a você para deixar isto pra lá...

- Pois é, não consegui... O senhor sabe que gosto muito de animais, e fiquei preocupado que o animal pudesse estar ferido... – Continuei, mas meu pai me interrompeu.

- Você sabe que não gosto de cães! Quanto mais um deste tamanho! Se você tivesse deixado pra lá, agora não teríamos este enorme cachorro dentro do meu celeiro! – Disse ele extremamente irritado e cuspindo as palavras na minha cara. Me irritei com isso, como meu pai pode ser tão insensível? Tá certo que o animal que ele via não é o mesmo que eu vejo, mas mesmo assim é um ser vivo, que não merece ser deixado agonizando para morrer, comecei a gritar com ele.

- COMO VOCÊ PODE DIZER UMA COISA DESTAS PAI? ELE ESTAVA FERIDO, SANGRANDO MUITO E PODIA MORRER, TIVE QUE AJUDA LO...

- MAS MESMO ASSIM... O QUE VOU FAZER AGORA COM UM ANIMAL DESTE TAMANHO? E PARECE QUE ELE GOSTOU DE VOCÊ AINDA POR CIMA! – Continuou ele com muita raiva, parecia que ia explodir de tão irritado que estava.

Olhei para o dragão ao meu lado, ele assistia a toda a discussão com os olhos semicerrados, parecia que estava entendo a conversa e que não estava gostando nem um pouco. Me virei novamente para encarar meu pai e vi que ele bufava de raiva, ele estendeu a mão na direção do dragão para pega-lo e levar ele para fora do celeiro, quando eu me movi para impedir olhei novamente para o dragão e ele arreganhava os dentes, pronto para morder meu pai e possivelmente decepar sua mão, gritei desesperado.

- NÃO FAZ ISSO! VOCÊ VAI MACHUCA – LO!

O dragão parou o que estava fazendo e olhou pra mim, parecia confuso, já meu pai olhou para ele com raiva e me encarou logo em seguida, começou a xingar novamente.

- VIU ESTE ANIMAL É PERIGOSO! ELE PODE TE MACHUCAR SE QUISER! – gritou ele, em seguida empurrou o dragão sem dó nem piedade pra fora do celeiro. O animal se levantou e o olhou com raiva, começando a rosnar novamente, resolvi que era a hora de interferir.

- Ele não vai fazer isso, ele só agiu daquela forma por que você foi agressivo com ele! Se era pra ele me machucar ele já teria me mordido antes!

- Por acaso você está pensando em ficar com ele?  - disse ele em voz baixa, estremeci, quando ele mudava o tom de voz de uma hora pra outra era por que estava muito, mas muito zangado.

- E se eu estiver? – disse o desafiando.

Eu sabia que possivelmente estava assinando minha sentença de morte, mas eu não ia deixar meu pai se livrar de um animal ferido assim... Ok, está certo que em vez do cão que ele está vendo, na verdade é um lagarto enorme do tamanho de um tigre, mas se até agora ele não me feriu, significa que não irá mais fazer isso. Olhei novamente para o dragão, percebi um certo brilho em seu olhar, estranhei, parecia até que estava feliz por causa de eu estar o defendendo, passei a mão em sua cabeça e ele fechou os olhos aproveitando o carinho, sorri com esta ação dele, percebi que estava, pouco a pouco me afeiçoando a ele, soltei um longo suspiro e olhei irritado para o meu pai, eu definitivamente não vou deixar meu pai tirar o dragão de mim.