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História O Médico Louco - Insano


Escrita por: Almafrenz

Notas do Autor


Boa leitura pessoal!

Capítulo 11 - Insano


Fanfic / Fanfiction O Médico Louco - Insano

John acordou desorientado com um galo doloroso cantando sua presença no canto direito da sua cabeça.

– Ai! Droga... – o loiro reclamou movendo-se numa cama desconfortável de uma categoria que o médico já estava acostumado a ouvir seus pacientes reclamar: leito hospitalar de observação. 

 – John, você está bem? – Sherlock perguntou aparecendo no seu campo de visão.

– Sherlock? Há quanto tempo estive desacordado?

– Quarenta minutos. Fiquei preocupado, corri para cá quando recebi sua mensagem.

– É, e me arrastou com ele. – Greg afirmou resvalando pela porta de entrada do quarto de hospital com um copo de café médio na mão. – Pensávamos que o assassino que estamos investigando tinha feito de você um alvo.

– Ah...  foi quase. Meu Deus, minha cabeça está latejando. – John reclamou.

– Você deve ter batido a cabeça quando caiu. – Sherlock afirmou.

– Não levei uma coronhada? – o loiro estranhou.

– Não, quando chegamos você estava desmaiado no vestiário masculino, não é a primeira vez que eu te encontro em situação semelhante. – Sherlock respondeu lembrando-se de uma situação semelhante durante o caso da Mensageira.

– Isso não faz muito sentido. – John grunhiu alisando o calombo crescido do lado da sua cabeça – O cara armado estava lá comigo! Eu consegui fugir dele no corredor me escondendo numa sala vazia, deixei passar uns minutos e corri para o vestiário, pensei que ele tinha ido embora e desistido, mas quando eu fechei a porta do armário eu vi o reflexo dele com a arma bem atrás de mim, tenho certeza disso! Por que ele não me matou? Por que fugiu quando eu apaguei? E como eu apaguei? – John perguntava ficando cada vez mais agitado.

– Você tem certeza do que viu, John? – Sherlock perguntou lembrando-se do incidente com a xícara estilhaçada na parede no início da noite passada.

– É claro que tenho! – John respondeu exasperado. – Acha que eu ia correr desesperadamente de coisa nenhuma no corredor? Eu não estou louco se é isso que está sugerindo!

– Não estou sugerindo nada, acalme-se. – Sherlock pediu.

– Eu estou calmo! – John gritou sentando-se. – Você precisa acreditar em mim, tinha um cara armado me perseguindo no corredor perto do necrotério! Certamente ele deve ter fugido do vestiário por ter ouvido alguém se aproximar, tenho certeza que ele não quis arriscar me matar e ser encurralado na sala. Você deve ter chegado a tempo de assustá-lo. Viu? Faz todo sentido. – John argumentou.

– Tudo bem. Eu acredito em você. – Sherlock disse pondo as mãos no nos ombros do médico. – Vamos para casa, John.

            Não houve mais discussão, John saiu do quarto meio cambaleante amparado por Sherlock que relanceou um olhar para Lestrade que balançou a cabeça num gesto positivo para algo estabelecido silenciosamente entre eles e afundou para dentro do Barts.

            Posto dentro de um táxi, John permaneceu calado repassando as imagens do homem que o perseguiu, mas cujo rosto ele não conseguiu ver. Por mais que se esforçasse, os traços de sua fisionomia não se definiam e isso o estava matando além de piorar exponencialmente a sua dor de cabeça.

            A chegada no apartamento não foi diferente do ambiente instalado no táxi. John entrou calado para o banheiro, tomou um banho frio e serviu-se dos seus remédios psicotrópicos em uma dose três vezes maior que a prescrita, não quis saber do seu chá, estava nervoso demais para apreciar a bebida.

            Quando John entrou no quarto, Sherlock estava esperando por ele, o moreno estava de pé olhando para a rua através da janela, o céu estava pontilhado de estrelas, um lindo convite para passear ao ar livre na noite de Londres. O homem se virou para ele caminhando até estar bem perto para abraçá-lo em silêncio beijando o alto da sua cabeça e puxá-lo para a cama onde, poucos minutos depois, o médico deslizou para um sono profundo, não percebendo o momento em que Sherlock se levantou e saiu do quarto deixando-o sozinho debaixo das cobertas mornas.

            Sentado em sua poltrona perto da lareira, Sherlock acessou um número em sua agenda pondo para chamar. Rapidamente a pessoa do outro lado atendeu.

– O que você viu? – o detetive perguntou.

– Nada além do John correndo pelo corredor vazio. A câmera não captou mais ninguém no local, apenas o John que parecia fugir de alguma coisa que não estava lá. – Lestrade respondeu do outro lado da linha.

– Tem certeza? Não aparece nenhum indício de outra pessoa no corredor com ele?

– Absoluta, já vi a gravação das câmeras do circuito interno de segurança várias vezes e não se percebe mais nada. É sério, não havia mais ninguém no corredor. – Lestrade insistiu.

– Obrigado. – Sherlock disse finalizando a ligação.

            O detetive encarou as brasas incandescentes na lareira tentando encontrar uma resposta lógica para o que havia acontecido com seu companheiro, mas as respostas que sua mente lhe forneciam eram insatisfatórias e faziam uma angustia sufocante crescer dentro dele. Sherlock Holmes não conseguiu dormir nessa noite.

A rotina de John Watson no São Bartolomeu passou a ser meio tensa para o médico depois do susto que passou no final do dia anterior. O homem passou a dar preferência a lugares onde houvesse pelo menos mais de duas pessoas, não se aproximava de corredores mal iluminados e não perdia uma oportunidade de olhar por cima do ombro para certificar-se de que não havia um psicopata armado atrás dele.

– Alguma coisa está errada, John? – Molly perguntou se aproximando do médico próximo à ala de pacientes em observação.

– Sim...Não! Quero dizer, mais ou menos... Ah, não se preocupe, está tudo bem. – o médico respondeu com um sorriso nervoso.

– Não parece tudo bem. Eu soube de ontem... você ainda está assustado, não é?

– Um pouco... – o loiro respondeu suspirando cansado.

– Precisa descansar, John... tire uma licença, acho que os últimos dias foram estressantes para você, teve aquele lance com o Sherlock e tudo...

– Você está falado igual à minha terapeuta, ela acha que eu desenvolvi uma paranoia decorrente do meu pequeno desentendimento com Sherlock.

– Você ficou muito chateado por ele ter negado seu pedido. – Molly destacou.

– Sim, eu fiquei, mas já aceitei o fato de que ele não gosta da ideia de casamento e vou ficar ao lado dele até quando ele desejar. Então, já que eu superei esse ponto, a lógica dita que minha mente volte ao equilíbrio, certo?

– Certo. – Molly concordou.

– Ótimo. – John falou de forma grave mordendo o lábio por um instante antes de continuar. – A questão que me incomoda aqui é que tenho a impressão de que acham que estou imaginando coisas, mas não estou, não mesmo... Olha, Molly, eu juro que tinha alguém atrás de mim ontem, eu vi a arma, ele passou na frente da porta do quarto onde eu me escondi, eu não poderia ter imaginado tudo isso, poderia?

– Eu acho que não. – Hooper falou um pouco indecisa.

– Então... é isso, enquanto não descobrirmos quem e por quê está me perseguindo, eu vou manter alerta máximo – John afirmou sem esclarecer que “alerta máximo” para um Capitão do Exército Britânico, significava andar armado.

            O resto do dia passou sem qualquer incidente e ele pôde ir mais cedo para o 221-B levando uma macarronada, especialidade do restaurante do Angelo.

– Trouxe macarronada do Angelo e ele mandou uma porção extra de batatas para você. – o médico disse passando pela sala onde Sherlock encontrava-se estirado no sofá.

– Estou sem fome. – o detetive informou sem se mexer.

– Eu conheço essa história, mas não vou aceitá-la. Vou arrumar a mesa e nós vamos jantar juntos, nem que eu tenha que servir a comida no meu corpo nu para chamar sua atenção, eu fui claro?

– Como um cristal. – o detetive respondeu finalmente se remexendo no sofá para encará-lo e completou. – E só a título de informação, dou preferência a frutas e pastas doces em seu corpo nu, John. Acho que eu apreciaria saboreá-lo com pêssegos fatiados, calda de framboesa e ameixas frescas.  Ah, mas cerejas também soam como algo tentador em seu umbigo e bagas de mangostão suculento em seu peito não seria má ideia – o homem falou como um menino que informa os itens que deseja em seu sorvete.  

– Jesus Cristo, Sherlock! – John exclamou meio sem fôlego olhando para a própria virilha constatando um grande volume animado dentro das suas calças.

            O loiro correu para a cozinha com o jantar, pois se empregasse mais alguns segundos contemplando a imagem mental tecida em sua mente pela lista de iguarias citadas pelo namorado e o que poderia fazer com eles em seu corpo, ele gozaria.

– Conseguiu algum progresso em descobrir de qual edifício é aquele esquema de tubulações anti-incêndio? – John perguntou quando ele e o companheiro estavam jantando.

– Ainda não, mas continuo vasculhando meus arquivos mentais. – o detetive respondeu bebericando suco de laranja no copo que John havia servido e posto ao seu lado.

– E se não houver nada parecido em seus arquivos? – o médico sugeriu.

– Então terei de fazer aquilo que estou dando o sangue para não fazer. – o moreno respondeu torcendo uma careta de puro desgosto.

– E o que seria?

– Procurar o meu irmão.

– Sério, Sherlock? Você já podia saber onde raios a tragédia poderá acontecer se procurasse seu irmão e não o procura para não dar o braço a torcer? O que foi? Apostaram alguma coisa novamente nesse caso? – John perguntou em tom de reprimenda.

– Não apostamos nada, ele nem sabe desse caso, eu simplesmente não corro para o meu irmão e seus meios sofisticados de obtenção de dados toda vez que uma coisa não se revela imediatamente para mim. Eu posso e resolvo as coisas por mim mesmo. – Sherlock defendeu-se chateado.

– Tudo bem, me desculpa. – o médico disse catando as louças da mesa e pondo de molho na pia. – Eu estou um pouco cansado, vou tomar um banho e me deitar, você vem se deitar comigo?

– Não.

– Ok.

            John foi ao quarto e catou uma toalha, seu pijama e seus frascos de medicamento levando-os para o banheiro. Ele evitou deixar Sherlock saber que ele estava ingerindo medicação controlada, não queria preocupar o companheiro com isso. John não via necessidade alguma em informá-lo, pois acreditava que a repentina necessidade da medicação passaria muito em breve.

            John escovou seus dentes, ingeriu seus comprimidos e jogou-se debaixo da ducha do chuveiro morno sentindo a água massagear seus músculos. Era uma carícia muito boa que o fez fechar os olhos, no entanto, o médico desejava intimamente que ela fosse somada as longas mãos brancas de dedos compridos e habilidosos que despertava prazer e satisfação em seu corpo como ninguém nuca foi capaz em sua vida.  

Havia levado tantas mulheres para a cama, tantas vezes considerara-se satisfeito com o sexo decorrente desses encontros, se antes lhe dissessem que ele via apenas a sombra do que de fato era satisfação amorosa plena, ele riria, mas então o ex-militar conheceu Sherlock e descobriu o que de fato era sentir-se plenamente satisfeito e Sherlock por muitas vezes o fazia sentir isso até a completa exaustão e ele era feliz com isso, tão feliz que queria que durasse para sempre e durar para sempre em sua cabeça envolvia casamento.

            Esse último pensamento o fez abrir os olhos sentindo uma pontada gélida de amargura no peito, mas ele respirou fundo e ergueu o rosto para deixar a ducha atingi-lo como se pretendesse que a água corrente lavasse para longe essa ideia sem futuro. Ele estava relaxando novamente quando um vulto passou rápido demais na frente do vidro embaçado do box,  fazendo seu corpo rápida e instintivamente recuar para a parede oposta erguendo os braços para um ataque defensivo.

– John?

– Sherlock!

– Te assustei?

– Eu tava distraído, só isso. – o médico disse sentindo o coração disparado buscar normalizar o ritmo. – Você veio banhar comigo?

– Não, só informar que estou de saída, sei de um especialista que pode me ajudar com o mapa de tubulações.

– Ah, tudo bem. – John respondeu desapontado.

            John terminou seu banho logo depois que Sherlock se despediu dele no banheiro. Ele pôs um pijama folgado e acomodou-se na cama puxando o travesseiro de Sherlock esfregando o nariz na fronha, adormecendo rapidamente sentindo o cheiro do namorado.

Mas o perfume do companheiro não foi suficiente para evitar o retorno de estranhas imagens de uma calçada úmida que se estendia pela Marylebone onde botas militares pisavam apressadas até uma casa localizada no Park Square West. Ele conhecia esse trajeto, ficava há alguns quarteirões da rua Baker Street.

Alcançado o imóvel, viu-se rodeá-lo e acessar uma janela destrancada surpreendendo alguém dentro do quarto, então tudo ficou confuso, havia sangue, gritos e mãos violentas que fecharam-se em seu pescoço com uma fúria vingativa sufocante tentando roubar-lhe o ar a qualquer custo. Ele se debateu, gritou, chutou e levantou os punhos tentando encontrar defesa atingindo o ar até agarrar em alguma coisa a qual apertou imediatamente num senso imediato de auto preservação, mas a coisa que ele tentava estrangular para livrar-se do tormento não se entregava fácil, debateu-se e gritou, um grito desesperado que chamava por ele e esse grito atormentou John, que abriu os olhos para descobrir-se montado sobre o corpo já meio amolecido de Sherlock que ainda murmurava meio rouco o seu nome antes de perder os sentidos sobre o emaranhado de lençóis e travesseiros na cama.

– Meu Deus! Sherlock! Sherlock! Fale comigo, pelo amor de Deus! – John implorava removendo o cachecol frouxo do pescoço do detetive desacordado.

            A região onde suas mãos estiveram cravadas instantes antes estava muito vermelha e começando a arroxear, John desesperado, mas mantendo a calma necessária, ajeitou Sherlock melhor na cama e afrouxou sua roupa para melhorar a circulação, depois aplicou pequenos tapinhas no rosto do homem chamando-o, percebendo o detetive começar a reagir, tossindo e puxando avidamente por ar. John, mortificado, ajudou Sherlock sentar-se afagando suas costas enquanto pedia repetidamente seu perdão.

– O que aconteceu, John? – Sherlock perguntou rouco, encarando-o.

– Foi um pesadelo, sonhei que estava sendo estrangulado e acordei estrangulando você, me perdoe, por favor, me perdoe... eu não queria...

– Tudo bem, você não queria me matar realmente e acordou a tempo de não me matar de fato. – Sherlock disse massageando o pescoço.

– Eu sei... sinto muito. – John lamentou baixando a cabeça. – Se preferir eu vou dormir no meu antigo quarto, você fica aqui e descansa, já é muito tarde, precisa descansar. – completou se levantando, mas teve seu movimento interrompido quando a mão de Sherlock agarrou seu pulso.

– Não. Fique aqui comigo.

            John assentiu ao pedido intimamente agradecido. Sherlock trocou a roupa de saída por um pijama confortável e deitou-se ao lado do médico que puxou os cobertores por cima de ambos.

– Esse não foi o primeiro pesadelo violento que você teve nos últimos dias, presumo. – Sherlock disse apertando-o levemente para relaxá-lo.

– Não foi...

– Todos eles têm alguém querendo matá-lo?

– Esse foi o primeiro nesse sentido, nos outros eu...

– Você, o quê?

– Era como se eu degolasse alguém e depois eu acordava com o grito dessa pessoa morrendo. Isso não me deixava dormir, eu não entendo... é diferente dos meus pesadelos padrão – John suspirou acomodando-se mais perto do corpo do namorado.

Sherlock ficou em silêncio abraçando John por debaixo das mornas camadas de tecido que os cobria na cama, depois de uns segundos, John sentiu as mãos de Sherlock buscar as suas e de bom grado o médico permitiu que elas se entrelaçassem, mas remanescia em sua mente o medo de adormecer.

– Durma, John. – Sherlock murmurou de olhos fechados aproximando seu corpo ao do namorado.

– Riria de mim se eu dissesse que estou com medo?

– Não.

– Estou com muito medo de adormecer, Sherlock.

– O medo é um bom sinal, John, significa que você não subestima o perigo e nunca se deve subestimar o perigo.

– Você está subestimando o perigo dormindo comigo depois de eu quase estrangular você num acesso de terror noturno. – John esclareceu.

– Talvez. Agora durma. – o detetive exigiu afagando sua nuca.

            Não precisou de muitos minutos, com o afago em seus cabelos, o médico deslizou de forma irresistível para um sono sem pesadelos.

            Na manhã seguinte, John tomou uma caprichada xícara de café forte bem cedo e correu para garantir o primeiro horário no consultório da sua terapeuta, obtendo imediato ajuste na dosagem dos seus medicamentos, exigência de uma visita por semana para relatório de melhora ou piora do seu quadro e a recomendação para tirar licença do trabalho por alguns dias.

            A ideia de tirar licença não agradou muito a John, mas a ressalva de que um possível surto psicótico no meio do trabalho como o da noite passada, não seria nada bom para ele no sentido profissional, o fez levar o ponto a sério. Gostando ou não, ele sabia que seria mais seguro se afastar por uns dias. Pelo menos, Sherlock evitaria que ele tivesse tédio, ele pesou rindo para si mesmo enquanto tomava o rumo do Barts para realizar seu requerimento de licença.

            Enquanto isso na divisão de roubos e homicídios da Scotland Yard, Sargento Donovan relia pela sétima vez a descrição do possível assassino de Rebeca Allen e torceu os lábios pensativamente.

– Está quebrando a cabeça com o quê, Donovan? – Greg perguntou se aproximando da mesa onde a Sargento estava observando o relatório.

– Com algo espantosamente óbvio sobre o assassino da professora Allen,Greg.

– Do que está falando?

– Você já percebeu que as características do assassino de Rebeca Allen nos lembra alguém que conhecemos?

 – Quem?

– A sombra do maluco. – Donovan respondeu.

– O John? Impossível.

– Sério, Greg, não se faça de cego, veja só, o próprio maluco na ânsia de se exibir, entregou o namorado. Observe a descrição: “homem de aproximadamente 1,70m, histórico militar e com habilidades de incapacitação em luta corporal”. John tem aproximadamente essa altura, foi um fuzileiro e até onde sabemos, ele foi mandando para o campo algumas vezes na guerra do Afeganistão.

– Ele estava lá como médico! – Lestrade protestou.

– Médico militar. Para estar lá ele tinha que ter um razoável conhecimento de técnicas de combate em campo, ele certamente sabe utilizar uma baioneta e, como médico, sabe muito bem qual veia cortar para provocar uma morte rápida e eficiente. – A sargento concluiu encarando o colega.

– Não, o John não faria isso.  – Lestrade insistiu.

– Sério que depois de tantos anos neste departamento você ainda acredita em pessoas que não matariam?

– Não estou dizendo isso, qualquer pessoa é capaz de matar, eu estou dizendo que John Watson não mataria sem que isso fosse terrivelmente necessário. – Greg destacou com uma ponta de irritação.

– O namorado maluco dele pode ter sido o motivo. – Donovan indicou com um ar malicioso.

– Como assim?

– Todos sabem que Sherlock é viciado em investigação de assassinatos bizarros, há quanto tempo não temos um desses em Londres?

– Tem uns meses que nada de muito bizarro chega à nossa divisão. – Lestrade respondeu.

– Exato, e isso deve ter deixado o maluco subindo pelas paredes.

– Você está querendo me dizer que o John matou apenas para trazer distração para o Sherlock?

            Donova limitou-se a arquear as sobrancelhas num gesto afirmativo.

– Esse é o maior absurdo que eu já ouvi até agora!

– Não vai ser absurdo quando descobrir que foi ele.

– Não tem como ser ele, por mais que as características sejam parecidas, não foi o John, ele estava com o Sherlock no momento do assassinato. Ele tem álibi!

– Certeza? Você verificou onde ele estava no exato momento?

– Bem, não exatamente...

– Se eu fosse você, eu checaria onde John Watson esteve entre às dezenove horas e dezenove e meia daquela noite. O apartamento dos dois fica perto da casa da vítima, não mais que sete minutos, se for caminhando. Tudo encaixa, Greg. Se Dr. Watson esteve longe das vistas do Holmes nesse intervalo... bem... é melhor você dar uma verificada de qualquer forma. – a mulher disse fechando o relatório sobre a mesa para em seguida retirar-se da sala deixando um Greg muito confuso para trás.

            O St. James Park era um lugar aprazível com suas árvores centenárias, jardins vistosos, lagos agradáveis e grama verdejante e macia, John se sentia bem quando caminhava por entre as árvores e respirava o ar com cheiro de folhas, lenha e terra que parecia possuir um perfume mais intenso numa tarde magnificamente ensolarada como aquela. Ele tinha recebido resposta ao seu pedido de licença ao entardecer e estava tentando sentir alguma alegria por isso, mas não conseguiu, não quando o motivo era sua exaustão psicológica cuja origem ele ainda batalhava para entender.

            Mas esse não era o pior dos seus incômodos, a sua maior angústia era ver nos olhos do namorado a dúvida e a eterna interrogação silenciosa sobre sua sanidade. Essa sombra que pairava sobre os olhos de supernova estava matando-o, de modo que passear no parque naquela tarde e respirar um pouco de ar renovado pela última chuva dissipada pelo sol dourado vespertino, lhe pareceu uma ótima ideia.

            Ele avistou um velho banco de madeira debaixo de uma frondosa amoreira preta copada que lançava uma doce sombra sobre o assento, convidando-o a sentar-se e John se sentou quase que imediatamente relaxando, seus músculos tensos amoleceram e seus olhos fecharam e ele aspirou profundamente o ar doce que deslizava entre a vida arbórea do lugar.

            John estava embalado nessa paz bucólica quando ouviu galhos estalarem atrás do seu banco e um golpe rápido estourar no encosto bem na altura do seu pescoço só não atingindo John em cheio porque seu rápido reflexo o fez virar imediatamente pondo-se de pé em alerta máximo.

Quando ele firmou a vista, lá estava um homem de um metro e setenta, com touca de lã escura, grosso cachecol vermelho, camisa xadrez azul, calças folgadas de moletom e grandes óculos pretos, portando uma afiada baioneta na mão direita.

– Não se mova! – John ordenou sacando sua Browning 9mm L.A1 do Exército para render o estranho.

            Mas no instante em que ele apontou a arma, o indivíduo saiu correndo célere pela via aberta onde havia alguns transeuntes passeando, tornando perigoso realizar disparos incapacitantes para impedir a fuga, mas John não se deu por vencido, correu atrás do fugitivo de arma em punho esbarrado numa pessoa aqui e desviando de outras adiante.

O homem parecia ter um excelente condicionamento físico, pois estava conseguindo abrir uma boa distância entre eles, mas John apertou o passo se aproximando, ele iria pegar seu perseguidor esta tarde com toda certeza e essa certeza eufórica fez o médico ganhar energia renovada para continuar correndo e se aproximando do seu alvo de touca escura e cachecol vermelho enquanto as pessoas iam se afastando horrorizadas com a visão de um homem armado correndo atrás de outro no parque.

            Sua perseguição estava rumo ao sucesso quando um adolescente de bicicleta esbarrou nele caindo os dois de forma muito desastrosa no chão, mas John não se importou com os arranhões que ardiam em suas mãos e no canto esquerdo da sua testa, levantou-se quase que imediatamente, continuando sua perseguição. Haver perdido contato visual com o fugitivo por alguns segundos não foi problema para o médico, seria impossível não localizar o gorro escuro, cachecol vermelho e a camisa azul quadriculada logo à frente.

            John empregou todas as suas energias para conseguir velocidade. fechando a distância entre ele e o indivíduo que parecia finalmente perder as forças nas pernas e cair ofegante a dois metros dele, aquela visão fez um canto retumbante de vitória estourar no peito do loiro que, respirando com dificuldade, parou a dois passos do sujeito prostrado de costas e disse:

– Finalmente eu te peguei seu safado!

– Pelo amor de Deus, eu não fiz nada, deve haver algum engano! – implorou o homem numa voz estranhamente frágil.

– Como não fez nada? Você tentou me matar ali atrás! – John insistiu rodeando o homem para encará-lo e o que ele viu o fez empalidecer imediatamente.

            Não deu tempo para ele dizer qualquer coisa, pois a guarda metropolitana tinha sido chamada pelas pessoas no parque e os agentes já estavam com as mãos em John antes mesmo dele conseguir terminar de processar o que ele viu, de modo que foi conduzido à delegacia mais próxima em um completo estado de choque.

            Mais do que nunca, John temeu estar perdendo a sanidade, e ele não poderia estar mais próximo da verdade.


Notas Finais


Nossa, o John foi preso, pessoal! Então? Teorias sobre o cara do parque? Estou aguardando ;)


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