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História O Médico Louco - A partida


Escrita por: Almafrenz

Notas do Autor


Boa leitura e divirtam-se!

Capítulo 15 - A partida


Fanfic / Fanfiction O Médico Louco - A partida

A Estação Menwith Hill destacava-se no horizonte da pequena vila de Harrogate, no norte de Yorkshire, com suas imensas estruturas esféricas brancas, formalmente conhecidas por domos geodésicos, monitorando e interceptando comunicações dia e noite.

As imensas estruturas que mais pareciam gigantescas bolas de golfe perdidas no campo, inspiravam uma inocência lúdica que estava longe de revelar sua verdadeira finalidade estabelecida com o lançamento do satélite de espionagem M8501 em 2009. A Estação passou, deste então, a ser uma instalação de coleta de inteligência global, interceptando as comunicações transmitidas através de links de satélites comerciais tendo como principal missão a vigilância de satélites estrangeiros.

Por estar em um lugar afastado, a rotina da base normalmente é tranquila, o sentinela na guarita de entrada não costuma ter grandes acontecimentos para relatar em seu longo e tedioso dia monitorando crachás e verificando autorizações de entrada e saída da instalação. Aquele dia sem chuvas e sem vento e um sol dourado que sorria no horizonte, prometia ser mais um como tantos outros, sem qualquer incidente ou mínima alteração de rotina digna de nota. Seria essa a opinião do sentinela de plantão naquele dia se não fosse uma fila razoável de veículos oficiais do MI6 se aglomerando às pressas diante do portão de acesso da base numa clara agitação de emergência.

            Antes que o sentinela se dignasse a solicitar identificação, um homem alto e de expressão severa abriu a porta de um dos carros oficiais e sacou um cartão de identificação com acesso de alta prioridade, deslizando-o com agilidade autoritária no leitor digital da entrada.

 – Entrada liberada, Sr. Mycroft Holmes. – o leitor disparou com sua voz eletrônica.

– A equipe logo atrás de mim está comigo, deixe-os entrar, é uma questão de segurança nacional. – Holmes mais velho destacou de modo a possibilitar a rápida inclusão dos demais veículos dentro da base sem qualquer verificação que pudesse fazê-los perder tempo.

            Os veículos entraram e estacionaram na entrada do prédio principal de monitoramento, Sherlock, que estava no banco do carona do carro de Mycroft, saiu apressado se unindo ao seu irmão que tomara o rumo da porta principal de acesso do lugar. O grupo era formado pelos irmãos Holmes e sete agentes do MI6 que tinham como principal plano coordenar equipes de técnicos internos da base para realizar uma rápida e ampla varredura nos sistemas anti-incêndio do lugar.

            As equipes se espalharam enquanto Sherlock olhava ansiosamente para o relógio em seu pulso, eram 09:00 da manhã, segundo a Deck Map do Rei de Espadas, o dispositivo com VX seria acionado às 10:00 horas daquele dia. Os minutos foram passando enquanto Mycroft segurava com força exagerada o rádio pelo qual mantinha comunicação com as equipes, que permaneciam desagradavelmente silenciosas no canal.

            09h15min, nada havia sido encontrado.

            09h20min, um agente indicou perceber algo estranho na encanação do lado sul.

            09h37min, o agente informa que o elemento estranho era um pequeno agrupamento de morcegos abrigados.

            09h38min, veio a sentença final das buscas:

– As varreduras não encontraram nada de errado. – o técnico de segurança interna do governo afirmou intrigado pelo rádio a Mycroft que olhou interrogador para Sherlock.

– Não é possível, eu sei que é aqui, o dispositivo está em algum lugar no sistema anti-incêndio, como não encontraram nada? Procurem direito! – o detetive insistiu.

– Sherlock, eles procuraram por cada centímetro do sistema anti-incêndio desse lugar. Tem certeza que você deduziu o lugar certo? – o homem perguntou erguendo uma sobrancelha de forma desafiadora.

  – É claro que eu deduzi certo! – o detetive enfatizou. – Está aqui, eu sei que está.

            Sherlock colocou-se a andar de um lado para o outro murmurando hipóteses até parar subitamente sentindo o celular vibrar no bolso. Ele puxou o aparelho e a frase no visor da tela de mensagens fez seus olhos alargarem de surpresa e curiosidade.

– E não é que a noite sempre é mais escura antes de amanhecer? – Sherlock murmurou analisando atentamente a mensagem que dizia:

Número Restrito: Não encontrarão o percurso da contaminação antes dela começar. Não adianta tentar evacuar, se o fizerem, acionarei o dispositivo contaminante imediatamente ao primeiro sinal de evacuação da área. Estou de olho.   

SH: Quem é você? – Sherlock digitou furiosamente.

NR: Você saberá no momento oportuno. – veio a resposta.

SH: O que você quer?

NR: Jogar um jogo com aposta.

SH: Não tenho tempo para jogos, diga onde está o ponto de contaminação?

NR: Como eu disse, quero jogar um jogo com aposta e te dar uma chance de ser o mocinho nesse caso, ou o vilão, caso a vitória seja minha.

SH: O que levo se eu ganhar?

NR: Uma dica preciosa para localização do ponto contaminante que está programado para estourar nos próximos vinte minutos.

SH: Se você ganhar?

NR: O resultado é óbvio: uma base inutilizada e centenas de pessoas morrendo dolorosamente a cada metro quadrado do edifício. Um belo cenário e você pode evitar isso. Entre no jogo. 

            Sherlock ficou parado olhando a tela do celular por alguns instantes até que outra mensagem surgiu na tela:

NR: O tempo está passando. Tic, toc! Então? Vamos Jogar?

SH: Qual jogo?

NR: Xadrez.

SH: Onde?

NR: Na terra de ninguém. Vamos jogar online, acesse seu email, irei mandar o link. Estou te esperando.

– Bem, já que não encontramos nada seguindo a sua dica meu irmãozinho, vou mandar evacuar a área por precaução pelas próximas 24 horas e...

– Não, Mycroft! Ninguém deve sair. – Sherlock avisou.

– Perdeu o juízo? – Mycroft indagou franzindo a testa. – Estamos diante de uma ameaça de um ataque contaminante grave e é óbvio que devemos tirar todos daqui.

– Não, o atacante está de olho na base, acabou de entrar em contato comigo por mensagem, se alguém sair, ele irá detonar o dispositivo antes do tempo programado.

– Como é? Quer dizer que ele resolveu te informar dos planos alternativos dele? Sob qual explicação? – Holmes mais velho perguntou encarando-o severamente.

– Diversão. – Sherlock murmurou mais para si do que como resposta à pergunta do irmão. – Mycroft, me dê o seu laptop. – o detetive pediu.

– Por que eu te daria meu laptop? Ele é propriedade do governo e possui dados ultrassecretos relativos à segurança nacional. – o homem reclamou. 

– Trata-se de uma questão de segurança nacional meu irmão. Me dê logo! – Sherlock insistiu estendendo a mão de forma exigente.

            Com uma expressão desgostosa, Holmes mais velho entregou-lhe o aparelho do tamanho de uma agenda convencional, facilmente portável em fundos bolsos de casacos como o que estava vestindo. 

            Sherlock se afastou sentando-se numa cadeira próxima, colocando o equipamento no colo. Os dedos longos e ágeis digitaram o acesso ao seu email, localizando de imediato o link para o jogo. O detetive clicou imediatamente, vendo surgir na tela um tabuleiro clássico configurado para o início da partida.

            No canto direito inferior da tela surgiu um quadro de mensagem onde ele pôde ler:

Jogador 1: Olá, Sr. Holmes. Como meu convidado para esta partida, ofereço-lhe as peças brancas e a honra de iniciar o nosso jogo.

            O detive leu e respondeu:

Jogador 2: Oferta aceita.

            O jogo teve início onde os dois jogadores manifestavam perícia equivalente na manipulação das peças enquanto o mostrador de tempo no canto superior esquerdo indicava que o detetive tinha menos de quinze minutos para vencer a partida.

Sherlock habilmente conseguiu escapar de trancamento de peças, evitou um movimento de “afogamento do seu Rei” o que resultaria num empate, e o empate não lhe ajudaria.  O mostrador no canto da tela lhe informava que lhe restavam doze minutos.

Com o tempo escorrendo, ele foi avançando com o “cavalo” formando um ataque “garfo”, derrubando a Dama, o Bispo e a Torre, sacrificando algumas das suas peças para poder encurralar o Rei do seu oponente.  

– Xeque e Mate! – Sherlock digitou no quadro de mensagens verificando o canto superior direito indicar menos de dez minutos para a detonação programada do agente contaminante.

            Não demorou muito e o jogador adversário respondeu:

Jogador 1: Parabéns, você venceu. A dica é: a contaminação não será líquida e sim gasosa. Pense e saberá onde procurar. Isso é tudo.  

            A frustração que essa resposta forneceu ao detetive o fez sentir vontade de atirar o laptop na parede adjacente, mas ele se conteve, seus minutos estavam passando a informação era pequena, mas certamente não insignificante para seu cérebro.

– Pense...Não é por meio solúvel... – Sherlock murmurou colocando o laptop no bolso interno do seu casaco e começou a andar agitado de um lado para o outro sob o olhar expectante de Mycroft e alguns agentes de segurança do local. – o solúvel viajaria com a água pelo sistema anti-incêndio, o gasoso teria que viajar pelo ar então... – o detetive parou abruptamente. – Mas é claro! É óbvio!

– O que é óbvio, Sherlock? Diga logo, estamos ficando sem tempo de ação aqui. – Mycroft reclamou.

– Mande fazer uma busca na central de controle dos dutos de ventilação. A contaminação está programada para ocorrer por via gasosa! Pelo ar! É por isso que não encontraram nada, a busca estava no lugar errado! – disse animado com sua descoberta.

            Faltava menos de oito minutos, mas a varredura foi eficiente, encontrando e desativando o dispositivo com o gás contaminante com dois minutos e quarenta e três segundos de sobra.

– Fez um ótimo trabalho, irmão. – Holmes mais velho afirmou se aproximando do detetive escorado na lataria de um dos veículos do governo no pátio fora do prédio.

– Eu sempre faço. – Sherlock respondeu com um risinho debochado.

– Quer carona para o 221-B?

– Quero, vou passar lá antes de ver John no hospital.

– Fiquei sabendo sobre John, sinto muito.

– Sério? – Sherlock disse olhando atentamente para o irmão. – Você se importando com alguém além de você? Estou surpreso.

– Eu me importo com você e com o que é bom para você, não seja injusto seu ingrato. – Mycroft reclamou.

            Sherlock revirou os olhos e enfiou-se no banco traseiro do carro do irmão. O detetive estava satisfeito por haver descoberto a tempo o local exato onde as bombas químicas estavam, mas a sua satisfação aos poucos foi sendo apagada pela lembrança desconfortável de que havia uma segunda faceta do caso que ainda não havia sido resolvida e que era de suma importância resolver: quem matou Allen, Patel e Horace? A liberdade e a sanidade do seu companheiro dependiam disso.

            Era noite quando o carro de Mycroft deixou Sherlock na entrada do 221B na Baker Street. O detetive entrou em seu apartamento ansioso por um bom banho e uma muda de roupas limpas, mas antes que pudesse tirar o casaco e pendurá-lo no cabide, sentiu o bolso do blazer vibrar fazendo-o enriquecer imediatamente.

            Catou e encarou o celular em cujo visor brilhava o símbolo de uma mensagem recebida de número restrito. Sherlock puxou pesadamente ar para dentro dos seus pulmões e comprimiu os lábios ao tocar o display para ter acesso ao conteúdo que dizia:

NR: Ainda interessando em me conhecer?

SH: É claro. – Sherlock digitou.

NR: Chegou a hora.

SH: Quem é você?

NR: Direi pessoalmente.

            Sherlock instintivamente olhou em volta na sala como se esperasse que alguém aparecesse de algum canto.

NR: Não seja tolo, não estou na sua sala. – o estranho digitou em tom irônico.

SH: Onde nos encontraremos?

NR: Você não precisa saber onde, apenas quando e como. Desça e encontrará um carro à sua espera na frente do seu apartamento, entre no banco traseiro aceite a venda que estará no assento e o motorista trará você até mim.

SH: Se eu não aceitar?

NR: Você aceitará, tem necessidade de saber coisas que talvez eu seja o único capaz de lhe dar respostas.

SH: Eu vou.

NR: Estou esperando.

            Quando Sherlock desceu, percebeu imediatamente a presença de um carro preto com vidros escuros estacionado de frente à porta do 221B. Ele parou na soleira e olhou a rua constatando que ela estava completamente deserta. Quem quer que seja a pessoa à sua espera, parece ter verificado esse detalhe antes de propor o encontro de forma tão repentina.

            O detetive ajustou seu cachecol e abriu a porta traseira do veículo deduzindo que estava destravada, aguardando-o. Sobre o assento estava a venda mencionada na mensagem, ele encarou-a e olhou para o banco da frete tentando identificar o motorista, mas uma escura cortina dificultava sua visualização do homem ao volante. O motorista ficou ali, imóvel com as mãos na direção como se aguardasse algo.

            Sherlock suspirou chateado compreendendo o que o homem esperava e resolveu seguir as regras. Pegou a venda e acomodou-a sobre seus olhos e a escuridão foi tudo o que ele encarou durante um suave percurso de trinta minutos por ruas asfaltadas dando a ele pelo menos uma dúzia de possíveis locais para onde estava sendo levado.

            Quando o carro parou, o número de probabilidades de endereços foi drasticamente reduzido para duas. O detetive percebeu o motorista sair do veículo e segundos depois a porta ao seu lado foi aberta num claro sinal para que ele saísse. Ele tentou tirar a venda antes de descer, mas teve suas mãos detidas, fazendo-o desistir de removê-la antes que lhe fosse autorizado fazer, mas isso não impediu dele reduzir para uma a probabilidade de sua localização ao ser conduzido para dentro de um prédio e caminhar em linha reta por dez segundos e depois dobrar à direita, caminhando por mais quinze segundos, sentindo toda a variação sonora e olfativa em se entorno para em seguida subir três degraus largos precedidos de um pequeno espaço plano e depois mais dez degraus estreitos de um material que soava mármore sob seu solado. Ele sorriu com isso. Sherlock Holmes não precisava ver para saber onde estava.

A mão em seu cotovelo o conduziu para um ponto que ele deduziu ser uma ampla sala com ar parado e pesado, o que o fez deduzir que as janelas estavam obviamente fechadas. O lugar estava muito silencioso e lá ele foi deixado ouvindo os passos do seu condutor sumir atrás dele tornando-se completamente ausente depois de um som de abrir e fechar de porta. Ele fora deixado sozinho. Com alguém. Era certo que havia alguém parado a quatro metros adiante dele olhando-o com expectativa. Sherlock deixou-se observar a espera da inevitável autorização para tirar a venda e conhecer seu oponente. Esse era o ponto fraco dos psicopatas, o desejo de atenção. Nenhuma obra está completa se ele não puder se vangloriar, e para tanto, revelar-se a alguém era necessário.

– Pode tirar a venda. – o estranho mandou.

            Sherlock não precisou tirar a venda para reconhecer a presença na sala e congelou, ficando levemente boquiaberto com sua constatação por meio da audição.

– Me reconheceu mesmo vendado, não é? A minha voz de fato é inconfundível – o homem disse com um risinho irônico. – Fico lisonjeado com isso, fico mesmo. Obrigado.

– James Moriarty – Sherlock disse finalmente removendo a venda dos seus olhos para encarar seu oponente de pé no meio de uma sala mal iluminada.

– Oi! Sentiu minha falta?

– Confesso que estou intrigado por você não ter me feito uma visita antes.

– Oh, não fique chateado comigo. Eu estive ocupado, sabe como é, os clientes só se multiplicam. Quem presta um serviço de excelência como o meu, sempre está cheio de clientes. – Moriarty respondeu alisando o terno. 

– Imagino que sim. Então... Eram os dutos de ventilação. Agora entendo por que seu assassino não fez nenhum esforço para recuperar as Deck Maps, os planos haviam mudado.

– Por que eu manteria o plano totalmente original com sua entrada no jogo? Fiz um pequeno ajuste. – Moriarty respondeu.

– Exatamente. Isso nos leva a uma segunda pergunta: por que não antecipou o ataque ao invés de esperar a data pré determinada no plano original. Seria um sucesso completo. Por que não mudou isso também?

– Que graça teria? Com você na jogada os lances ficaram tão mais excitantes! Queria ver até onde ia sua esperteza. Foi divertido, valeu à pena perder essa partida.

– O jogo acabou, Moriarty.           

– Pode ser que sim, mas não para mim. – o homem respondeu rindo de forma enigmática.

– Por que você me trouxe até aqui? – Sherlock indagou fazendo o gesto amplo para a sala que estava imersa numa pesada penumbra que impedia de ver as coisas ao entorno dele.  

– Por que não há satisfação na vingança, a menos que a vítima tenha tempo de saber quem a ataca e por quê. Você está atrapalhando meus negócios e não posso deixar você continuar a atrapalhá-los. Sacudir os miolos do seu namoradinho foi parte da minha vingança por sua intromissão nos meus negócios, fique ciente disso, John Watson sofreu por sua causa. Você é um namorado muito mau, Sherlock, John devia ter deixado você antes de começar a perder a sanidade. Agora é tarde, ele vai apodrecer numa clínica para loucos.

– Foi você quem fez John parar numa clínica psiquiátrica... – Sherlock murmurou ampliando os olhos com indignação.

– Eu? Não, você o internou, lembra? Ah, bem... eu apenas dei um empurrãozinho de leve. – disse Moriarty fazendo um gesto brincalhão de peteleco no ar. 

– Como fez?  

– Drogas e sugestões, Sherlock! É óbvio!

– É óbvio que drogou o John, mas como fez a droga chegar até ele e como o sugestionou?

– Os sinais estavam por toda parte, estavam bem debaixo do seu nariz e você não viu. Pobre John, estava se intoxicado o tempo todo com as coisas mais inocentes do mundo. – Moriarty disse com uma falsa expressão de pena. – A primeira dose estava no café com gosto ruim em seu consultório no dia em que Allen foi morta, depois no chá que um estranho passou pelo leitor de código de barras para o seu namoradinho, ah! Antes que eu me esqueça, o problema com o leitor de códigos de barras foi uma brincadeirinha minha também, adoro me intrometer no funcionamento de eletrônicos. Bem, continuando a resposta a sua pergunta,  o mesmo estranho, o cara ruivo do mercado que ajudou John com o pacote de chá,  era um manipulador de mentes profissional, um mentalista mercenário muito bem pago que imprimiu a primeira sugestão em sua mente ao encontrá-lo novamente do lado de fora do supermercado. Foi ele quem plantou as sugestões malucas na mente do seu namoradinho. O ruivo mandou bem.  

– Mas o assassinato ainda não havia sido efetivado no momento do encontro dos dois.

– Oh, você está ficando tediosamente burro, Sherlock... é claro que demos ao mentalista um resumo seco do que iria acontecer, qualquer um poderia prever como os fatos iam se desenrolar: um estranho entrando pela janela, uma faca no pescoço da vítima, muito sangue e blá, blá, blá... enquanto o verdadeiro assassino estava matando Allen a alguns quarteirões do mercado, John estava sendo hipnotizado,  sendo programando a ter lembranças construídas por meio de sugestões.  Ele foi programado a não lembrar do encontro, é claro. John deve ter demorado um pouco a chegar em casa nesse dia, acredito.

– Só mentiras têm detalhes... – Sherlock murmurou para si lembrando-se das visões oníricas do namorado. –  Por isso ele sonhava com um grito que não aconteceu, a vítima não gritou, não teve tempo, o mentalista apenas deduziu que a vítima gritaria ao ser golpeada pelo assassino e equivocadamente programou o John para lembrar de um grito... esse detalhe está totalmente fora de contexto.

– É, essa foi realmente uma falha e eu não gosto de falhas... – o homem disse com uma careta de desgosto.

– Você matou o mentalista. 

– Ele não era mais útil.

– Mas por que John continuou delirando mesmo depois do chá acabar?

– Eu pensei em tudo, Sherlock, eu sempre penso. O chá acabaria, mas a intoxicação tinha que seguir para agravar os sintomas.

– Como? 

– Os comprimidos. O chá apenas preparou o terreno e forçou John a procurar a terapeuta, daí foi fácil deduzir a que diagnóstico a mulher chegaria e os remédios que prescreveria ao Johny boy, isso foi brincadeira de criança para dizer a verdade. Depois foi só fornecer a medicação adulterada para todas as farmácias num raio de cinco quarteirões da clínica, todos pagos, eu ainda ofereci uma boa recompensa para aquele que recebesse John Watson no balcão e lhe vendesse o nosso remedinho especial. Ele estava se drogando esse tempo todo e recebendo pequenos estímulos externos que alimentavam os seus delírios e ele não sabia. Um crime perfeito!

– Então o homem no parque era real, John não imaginou o ataque?

– O homem no parque? Pobre John. Aquilo foi tão simples como engasgar uma criança com uma balinha de melão. Não achou estranho um assassino se vestir de forma tão chamativa para tentar matar alguém? Me diga, se estivesse correndo atrás de alguém e o perdesse de vista rapidamente entre as pessoas num espaço aberto, como iria localizá-lo novamente?  

– Cores fortes... – Sherlock murmurou lembrando-se do relato do namorado apontando o gorro escuro, o cachecol vermelho e a camisa xadrez como características do homem no parque.

– Exatamente, como eu disse, muito simples. Meu Spetsnaz clonou os trajes de um velhinho, provocou seu namoradinho e o fez correr como um louco pelo parque até ser derrubado e distraído por um adolescente prévia e suficientemente pago, para em seguida por os olhos no pobre idoso que quase teve um ataque cardíaco ao ser perseguido por um maluco armado. Foi engraçado, você devia tê-lo visto.

– Não teve graça alguma, Moriarty

– Ah, não seja chato!

– E as mortes de Allen, Patel e Horace? 

– Eles estavam brincando com fogo e prejudicando planos de muitos clientes. Oscar Hall era apenas a ponta da lança dos contrabandistas de informações que estavam prejudicando os meus negócios, depois de um pouco de investigação, descobrimos quem eram os outros e os eliminamos. Por a culpa no seu namorado foi só um bônus divertido do meu trabalho.

– Então você contratou um mercenário para eliminá-los.

– Sim, o mesmo eficiente profissional que está apontando uma mira laser para seu coração neste exato momento. – Dito isto um foco vermelho surgiu no exato ponto mencionado por Moriarty que ampliou seu sorriso doentio. – Não gosto de sujar as mãos. Cansei das suas intromissões. No começo foi divertido, mas agora está chato e eu quebro brinquedos chatos. E isso vale para você e seu namoradinho intrometido que evitou que eu desse cabo de você meses atrás por meio daquela jornalista neurótica. – Jim comentou com enfado.  

– Então você me arrastou até aqui para me crivar de bala e ir embora?  

Moriarty balançou negativamente a cabeça com uma expressão de tédio doentio.

– Como você é sem criatividade, Sherlock... que decepção... – o homem disse – é claro que eu não montaria todo esse circo para transformar você numa peneira, que graça isso teria?  

– O que pretende fazer então? 

– Assistir você plantar uma bala em sua cabeça com essa Browning 9mm L.A 1 de uso exclusivo do exército que está no bolso esquerdo do seu casaco.

– Como pretende me convencer? – Sherlock indagou sentindo uma estranha tensão roer seus nervos ao assistir um brilho oleoso ampliar-se nas esferas escuras dos olhos de Moriarty.   

– Acredite, essa é a parte mais fácil da questão. – o homem respondeu estalando os dedos de forma dramática.

            O gesto provocou imediata iluminação do ambiente que esteve banhado em pesada penumbra até aquele momento, revelando aos olhos impressionados do detetive uma ampla sala cuja parede frontal, estava revestida por amplos painéis de monitoramento cujo foco de observação era uma pequena sala de 2m x 2m com nada mais que uma cadeira de madeira escura sem uma das pernas, tombada de lado evidenciando a frase “O Senhor é a nossa força” ao lado da qual estava aquilo que fez o corpo de Sherlock congelar e um grito de desespero petrificar em sua garganta.  

            John Watson estava ajoelhado no meio de uma sala fechada de algum lugar na grande Londres, com os braços oprimidos por uma camisa de força que parecia mais apertada do que a última que lhe fora posta na clínica há pouco tempo. Parecia tenso, mas alerta, o que fez Sherlock deduzir que o corpo do companheiro não estava sofrendo efeitos de sedativos e que a cadeira tombada certamente fora resultado de alguma de suas tentativas para sair da sala.

– Como conseguiu? Ele estava seguro no hospital. – o detetive indagou demonstrando um pouco de agitação na voz.

– Seguro? Sério, Sherlock? Sua ingenuidade me ofende! Não existe lugar seguro, não há portas fechadas, cadeados ou muros altos o suficiente para impedir Jim Moriarty de conseguir algo. Você deveria ser consciente disso. Não sou um amador, já dei provas da minha genialidade e persistência, Sherlock. Bem, respondendo a pergunta óbvia que está estampada em sua cara, pretendo fazer você assistir seu namorado morrer sufocado por VX gasoso. – Moriarty disse evidenciando um interruptor pequeno em sua mão que claramente faria o dispositivo de gás venenoso ser acionado dentro da sala pequena através do pequeno acesso de ventilação visível nas imagens de monitoramento.

– Não, por favor, não! Eu farei, farei o que quiser, só não prejudique o John! – Sherlock pediu sentindo os pulmões petrificarem de desespero.

– É simplesmente delicioso ver você tão dócil, Sherlock. – Moriarty riu alisando o botão do acesso remoto ao dispositivo do VX. – Acho lindo todo esse amor pelo seu bichinho de estimação... não, mentira, isto está me deixando enjoado... Vamos terminar logo com isso. Pode começar Sherlock, ajoelhe-se e faça o que tem que fazer ou assista John Watson perecer por intoxicação química.

            Sherlock fez o que lhe foi dito. Observando intensamente as imagens do companheiro imobilizado no meio do quarto fechado, ajoelhou-se e puxou a arma do bolso. Olhou brevemente para a Browning 9mm  pertencente ao namorado e depois a posicionou na têmpora direita.

Jim era todo sorriso, todo contentamento, e seu sorriso era cada vez mais largo e mais satisfeito quando, de repente, o estrondo dos motores de alguns helicópteros rompeu o ar fazendo vibrar a vidraça das janelas fechadas.     

– Atenção! A área está cercada. – Afirmou uma voz por megafone – não há rota de fuga. Saia com as mãos na cabeça e será conduzido sem emprego de força.

– O que é isso? Como eles chegaram aqui? – Moriarty perguntou irado.

– Ops! Eu acho que me esqueci de devolver o laptop do meu irmão e de quebra, gravei tudo o que acabamos de conversar sobre os assassinatos dos agentes duplos, Moriarty, espero que não se importe. – Sherlock respondeu baixando a arma e com um risinho zombeteiro puxou um equipamento do tamanho de uma agenda de dentro do bolso fundo do casaco para mostrá-lo rapidamente antes de afundá-lo no bolso novamente.

– Você usou o protocolo de rastreamento de objetos do governo para trazê-los até aqui seu maldito! Toda essa conversa era para ganhar tempo! – Moriarty gritou as últimas palavras.

– Óbvio. Xeque e mate. – o detetive sentenciou rindo e pondo-se de pé com ar vitorioso.

– Não, Sherlock, o movimento é “Rei afogado”. – Moriarty corrigiu mostrando o dispositivo que mantinha em sua mão.  

– Não! – Sherlock gritou sacando imediatamente a arma para efetuar um único e certeiro disparo que atravessou eficientemente o crânio do seu oponente cuja morte fulminante o deixou com a grotesca expressão risonha de triunfo que ostentara segundos antes de ser morto pelo detetive.

            Sherlock não dedicou nenhum segundo para verificar o corpo de Moriarty, nem em verificar o sumiço da mira laser que segundos antes esteve apontada para o seu coração, ele pregou os olhos ansiosos na ampla tela frontal de monitoramento para verificar John e a visão que ele teve fez seu coração querer romper suas costelas. Uma espessa fumaça começou a fluir da abertura de ventilação no alto da parede, deslizando feito uma serpente fantasmagórica rumo ao piso onde John começava a se agitar dando os primeiros sinais de que havia notado o perigo letal se aproximar dele.


Notas Finais


(#autora ergue o escudo do Capitão América e veste a armadura do Homem de Ferro, cogitando se não seria prudente usar o anel de portal para buscar fuga no universo espelhado). Bem... tudo que eu tenho a dizer é que esse é o antepenúltimo capítulo, aguardo os comentários de vocês meus amores! (#sai correndo e começa a tentar abrir um portal para outra dimensão).
P.S.: Ainda chocada com o primeiro episódio da S4, ansiosa pelo segundo episódio e com esperanças de que as coisas comecem a clarear de verdade.


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