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História O Médico Louco - Noiva em fuga


Escrita por: Almafrenz

Notas do Autor


Olá pessoas lindas! Eis o segundo capítulo de “o médico louco”, vamos embarcar no mistério e começar a tecer teorias. Boa leitura!

Capítulo 2 - Noiva em fuga


Fanfic / Fanfiction O Médico Louco - Noiva em fuga

Sherlock Holmes não demorou a chegar ao ponto combinado com Lestrade pela ligação telefônica. O caso que quebrava a cabeça do detetive-inspetor da Scotland Yard situava-se no Park Square West e foram apenas sete minutos de caminhada pela Marylebone até visualizar os carros de polícia e a movimentação atípica para a área.  

A movimentação se concentrava na primeira casa geminada próxima à entrada do parque, onde viaturas piscavam suas luzes rubras e azuladas atribuindo um ar excessivamente dramático na opinião de Sherlock que suspirou levemente irritado ao avistar Anderson agitando freneticamente os braços enquanto coordenava a equipe de peritos que rodeavam o local.

– O que você está fazendo aqui? – Anderson perguntou parando seus braços no ar tomando a aparência de um maestro dando uma pausa dramática no meio de um concerto.

            Sherlock inspirou profundamente preparando sua resposta, mas foi interrompido por um agarre firme em seu braço, sendo firmemente arrastado para dentro da casa geminada. 

 – Eu o chamei aqui, Anderson. - Lestrade esclareceu passando por ele enquanto puxava o detetive consultor pelo braço.

– Tem que parar de chamar esse maluco o tempo todo! –  o perito protestou.

– Então pare de demonstrar incompetência o tempo todo! – Sherlock retrucou já dentro da casa.

– Por aqui, Sherlock. – Lestrade disse soltando seu braço, meneado a cabeça no sentido de um corredor que desembocava num quarto cuja porta estava escancarada.

            Ao entrar no local, os olhos do detetive repousaram sobre o corpo de uma mulher jovem, deitada diagonalmente na cama em uma posição tão tranquila que se podia dizer que estava apenas dormindo se a enorme mancha de sangue embebido pelos lençóis na altura do pescoço não gritasse o contrário, mas o que de fato chamava mais atenção no quarto era um grotesco desenho feito com o sangue da vítima na parede ao lado da cabeceira: um coração cortado ao meio por uma linha sangrenta vertical.

– Ela foi encontrada pela irmã há mais ou menos vinte minutos. Trata-se de Rebeca Allen, trinta e um anos, professora de literatura na Universidade de Westminster, era noiva e ia se casar em março no começo da primavera, o noivo é arquiteto e está na França a trabalho há duas semanas e retornaria em dois dias. Nenhum objeto foi removido da casa, joias e dinheiro permanecem intactos. Janelas e portas de acesso sem o menor sinal de arrombamento. Não tinha inimigos. Familiares, alunos e vizinhos a amavam. – Lestrade resumiu a ficha da vítima olhando o cadáver com notável pena.

– O amor também é um perigo à vida, inspetor. – Sherlock comentou se aproximando do corpo com a sua lupa para analisar os detalhes.

            Depois de alguns minutos verificando o cadáver, o detetive olhou o chão ao seu entorno com muita atenção como se enxergasse algo que ninguém fosse capaz, foi até a janela que havia na parede oposta da entrada do quarto e afastou as cortinas observando atentamente o parapeito, depois dirigiu-se até o desenho na parede e o mediu com uma fita métrica removida do bolso do seu casaco, fez uma anotação mental e seguiu sua análise pelo quarto esbarrando com o pé direito numa mala vermelha aberta com algumas peças de roupa, ele agachou-se e dedicou alguns segundos farejando e observando o item, mas antes de se erguer, teve a atenção periférica do seu olho esquerdo sugada por uma pequena luz oscilante na quina de um notebook preto fechado sobre a mesa de cabeceira, o que o fez erguer-se de todo e abrir o aparelho que estava ligado, porém, mostrando uma tela azul com espaço para adição de senha de segurança. O equipamento estava bloqueado para estranhos.

O detetive sentou-se na beirada da cama de frente para o inspetor e dedicou alguns segundos com o notebook na mão e Lestrade pôde distinguir alguns caracteres sendo agitados no teclado do notebook e depois um suave sinal de acesso liberado. Sherlock havia desbloqueado o aparelho sem o menor esforço.    

Mais alguns segundos se passaram até o detetive se levantar da cama fechando a tampa do aparelho lançando-o sobre o colchão perto do corpo e sentenciar:

 – Estamos procurando por um homem de aproximados um metro e setenta, mãos firmes, provavelmente é um bom atirador, tem notável conhecimento em técnicas de incapacitação de oponentes numa briga corpo a corpo, possui histórico militar e entrou pela janela do quarto da vítima.

– Como é que é? Pela janela do quarto? Ela está fechada! Eu estava assumindo que se tratava de uma pessoa conhecida, geralmente é assim em crimes onde não se acha arrombamento. Um conhecido bate na porta e a vítima atende sem saber das verdadeiras intenções do malfeitor. – o detetive inspetor disse.

– O geral não se aplica a esse caso, inspetor, se não fosse assim, não teria me chamado. –  Sherlock respondeu arqueando uma sobrancelha de forma arrogante. –É óbvio que a vítima sabia de quem se tratava a pessoa que invadiu a casa dela, mas não era uma pessoa para quem ela abriria sua porta de bom grado. O assassino entrou por aquela janela. – O detetive apontou para a parede no sentido oposto da entrada da porta. – Por que, ao contrário do que parece. – o detetive comentou caminhando para o ponto comentado afastando o cortinado dando um pequeno soco na vidraça fazendo-a abrir-se facilmente. – Ela está aberta, apenas passa a impressão de estar fechada, mas o ferrolho não foi passado e o assassino achou mais prático usar uma entrada favorável do que forçar uma.

– Como sabe que ele entrou por essa janela? Como você mesmo disse, ela parece fechada.

– Muito simples. Olhe com bastante atenção, inspetor. – o detetive disse apontando para o chão entre a janela e a cama. – Há pegadas úmidas no chão que vão e vêm da janela para os arredores da cama e da cama para a janela.

            Lestrade apurou a vista e realmente percebeu alguns traços de umidade no piso em torno da cama e depois disse:

– Essas marcas podem ter sido feitas pela vítima, ela esteve caminhando pelo quarto, não esteve?

– Sim, ela esteve andando pelo quarto, mas essas marcas não pertencem a ela, preste mais atenção, as pegadas são grandes, feitas por uma bota masculina tamanho quarenta e a vítima calça trinta e seis! – Sherlock destacou.

– Mediu o pé dela? – Lestrade perguntou imaginando haver o detetive utilizado uma extraordinária técnica para descobrir a pontuação da morta.

– Não, eu olhei a numeração no solado do sapato que ela está usando. – o moreno apontou o pé da mulher deitada na cama.

– Ah...- Lestrade respondeu sentindo-se meio idiota.

– Então, como eu estava dizendo, as pegadas são grandes, certamente de um homem, e elas são quase invisíveis porque ele caminhou pelo calçamento limpo da rua onde havia apenas acumulação de água da chuva. Ele rodeou a casa em busca de um acesso, descobriu essa janela apenas encostada e a pulou deixando uma pegada úmida no parapeito, depois caminhou até o meio do quarto e atacou a vítima. – disse apontando o rastro úmido no chão.

– Ok. Agora me explique de onde tirou todas as outras informações. – Lestrade pediu entre curioso e derrotado.

– Essa parte foi ainda mais fácil, está tudo escrito na cena, inspetor. – Sherlock disse apontando para o desenho na parede. – O desenho nos dá a altura do homem. Quando alguém tenta rabiscar numa parede, instintivamente sua mão se posta à altura dos olhos, então foi só medir a altura do ponto de maior pressão na parede, onde provavelmente iniciou-se o traço para o desenho, para se ter uma estimativa da altura do assassino. Quanto ao sexo, o histórico militar deu a dica, não é costume mandar mulheres para combate corpo a corpo nas Forças Armadas.  

– Certo, explique essa parte também. Como sabe que o assassino é ou foi militar? – pediu o inspetor cruzando os braços.

– Observe a ferida no pescoço da vítima. – Sherlock apontou o corpo sobre a cama.

– Estou observando, foi feita por uma lâmina, obviamente...

– É claro que foi, mas não qualquer lâmina, olhe o formato da perfuração. – o detetive se aproximou do cadáver indicando mais enfaticamente o ponto de análise. – a arma era pequena e tinha dois gumes

– Um punhal? – Lestrade arriscou.

– Uma categoria muito peculiar de punhal, inspetor. Observe a pequena elevação aguda no centro do corte, esse formato costuma ser reproduzido por uma baioneta. – Sherlock concluiu.

– Uma baioneta?

– Exatamente, um punhal utilizado por militares na ponta de seus fuzis para combate corpo a corpo. Daí deduzir trata-se de um homem e que certamente serviu no exército por um bom tempo, tempo suficiente para ser cogitado para combate corpo a corpo, daí a posse e uso da baioneta – Sherlock esclareceu.

– Nossa!

– Talvez você se sinta melhor ao saber que ela não estava consciente quando recebeu o golpe fatal, dá para ver isso na marca abaixo do queixo dela, houve um súbito e violento trauma na parte frontal do pescoço, certamente fraturou o osso hióide provocando asfixia e desmaio quase imediato. Ela desmaiou e ele a colocou na cama para em seguida perfurar com precisão louvável a veia carótida dela fazendo-a sangrar rapidamente até a morte que, pela temperatura do corpo, deve ter ocorrido há pelo menos uma hora. Nosso assassino é hábil em técnicas de incapacitação numa briga e gosta de serviços limpos e rápidos. Tudo indica que é um profissional. – Sherlock finalizou.

– Então ela morreu há uma hora... – murmurou Lestrade. – Então deve ter ocorrido assim que ela voltou das compras no supermercado por volta das sete e vinte, a irmã disse que Allen havia dito que compraria alguns mantimentos para uma dieta antes de voltar para casa onde as duas se encontrariam para jantar fora...

– Compras? – O detetive rodou o lugar verificando a sala, a cozinha e depois voltando para o quarto. – Ela não foi às compras.

– Mas a irmã disse haver falado com ela pelo celular enquanto Allen estava escolhendo itens em um supermercado há alguns quarteirões daqui. – Lestrade pontuou.

– Não há compras na casa, o assassino não teria levado uma sacola de vegetais e produtos dietéticos, a não ser que... Claro, algo a fez desistir subitamente da compra e vir correndo para casa... interessante. – Sherlock murmurou para si.

– Você não parece interessando no coração rabiscado na parede. Não falou nada sobre ele. – Lestrade indicou ansioso.

            Sherlock olhou de canto de olho para o inspetor e depois e o incitou:

– Fale você sobre ele.

– O quê? Eu?

– Sim, você. Diga o que acha do desenho. – o detetive insistiu cravando-lhe um par de olhos falcônicos.

            Um tanto sem jeito, mas estranhamento encorajado, Lestrade começou:

– Bem...Todo mundo sabe que a imagem de um coração atravessado horizontalmente por uma linha simboliza os apaixonados, mas não é isso que a parede mostra, ela nos mostra o desenho de um coração partido ao meio por uma linha vertical, ou seja, o símbolo da decepção amorosa, o que me faz pensar que o crime foi motivado por decepção amorosa, sei lá, alguém que era apaixonado pela vítima e a matou para que não casasse com outro...

– Genial – Sherlock disse.

– Sério? – Lestrade indagou animado.

– Não. – Sherlock cortou. – Esse não foi um crime motivado por paixão. Não tem nada com sentimentos. Você passou longe.

– Como não? Você olhou a parede?

– Olhei, mas, só para variar, vi o que você obviamente não viu.

– O que eu não vi?

– Que o desenho é só uma distração, uma bem brega por sinal. – o detetive comentou torcendo uma careta lançando um olhar desdenhoso para o desenho sangrento.

– O quê? O desenho não tem significado? – Lestrade parecia achar aquilo um grande absurdo.

– Oh, sim...tem. Ele significa: “rodem em torno dos seus rabos, senhores policiais”.

– Sherlock, é sério, o que você viu? – Greg insistiu um pouco impaciente.

– Como eu disse, o desenho é mera distração, o mais importante está ao nosso redor! Rebeca Allen ia se casar, estava feliz, ansiosa para receber seu noivo que chegaria em breve para ajudar nos preparativos da cerimônia, certamente seria esse o tema do jantar que teria com a irmã hoje à noite, então... – disse se agachando do outro lado da cama. – por que estava arrumando as malas às pressas para tomar um voo para a Alemanha hoje às 20:00 horas sem comunicar ninguém, nem mesmo à própria irmã?

– Ela ia tomar um voo para Alemanha?

– Sim, o computador foi esquecido ligado na mesa de cabeceira, a pressa dela a fez esquecer e veja só. – disse acessando o histórico de navegação. – Allen reservou de última hora uma poltrona num voo que partiu hoje às 20:00 horas direto para a Alemanha e sem ela, pois alguém a impediu, como você pode ver – enfatizou apontando o corpo estendido na cama. – Ah, e quanto à pressa, dá para deduzir isso pela mala com odor de mofo e as peças atiradas de forma desordenada em seu interior. Ninguém com um mínimo de tempo e planejamento para uma viagem faria uso de uma mala cheirando a mofo, qualquer um tentaria limpar a mala para amenizar o odor de coisa guardada para evitar que isso estragasse as roupas, sem contar que as peças estão enfiadas sem o menor critério dentro da bolsa, isso não faz o estilo da vítima aqui. Allen exibe traços de metodismo e mania de simetria em sua decoração e na arrumação das suas coisas. – disse puxando uma gaveta da grande cômoda existente no quarto revelando dezenas de sutiãs separados por cor, estampa e textura dispostas de forma perfeitamente simétrica. – não é o tipo de mulher que faria uma mala de qualquer jeito se não estivesse apressada e desesperada para fugir de algo ou alguém a qualquer custo.  

– Mas por que a Alemanha?

– O destino aqui não importa. – Sherlock pontuou.

– Como não? Esse destino deve significar alguma coisa.

– Significaria se ela não estivesse buscando desesperadamente por qualquer vaga indo para qualquer lugar num voo que saísse esta noite. Olhe – o detetive apontou a tela do computador. – Ela esteve buscando freneticamente por vagas em diversos voos que partiam cada um para destinos diferentes e o primeiro que ofereceu uma vaga foi o 164 da Lufthansa. Portanto, não importava o destino, o importante era sair do país esta noite o quanto antes.

– Entendo, mas o que ou quem a fez ter tanto medo a ponto de querer sair do país a qualquer custo e às pressas? – Lestrade perguntou sentindo-se mais perdido do que no momento em que chegou ao local no começo da noite.

– Eu ainda não sei, preciso de mais dados. Você disse que ela era professora da Westminster. Ela certamente tinha uma sala na universidade, um lugar cheio de detalhes sobre as atividades que ela desenvolveu nos últimos meses. Quero acesso essa sala.

– Tudo bem, eu dou um jeito...

– Quero passar a vista no lugar, talvez tenha algo de valioso para minhas análises.

– Amanhã bem cedo passo no seu apartamento e iremos lá, hoje tenho que terminar as coisas por aqui.

– Tudo bem. – o detetive disse dando uma última olhada no ambiente.

            Quando Sherlock saiu da casa geminada, a chuva que havia dado uma trégua voltou com fúria fazendo-o recuar para a porta da casa com visível desgosto.

– Quer carona até a sua casa? – Lestrade ofereceu se aproximando do detetive.

– Você não disse que tinha que terminar as coisas por aqui?

– Sim, eu disse, mas não me impede de te dar uma carona, vou aproveitar para comprar um café na esquina da rua Baker. – Lestrade respondeu.

– Ah, entendi... aceito a carona – o moreno anuiu.

            Em poucos minutos o detetive estava em casa subindo as escadas e resvalando para a sala do seu apartamento sentindo-se tão alegre quanto um gato com um pardal gordo na boca.      

– John! Temos um caso! – o detetive declarou animado jogando seu casaco sobre o sofá. – John! – chamou parando no meio da sala apurando os ouvidos para ver se percebia algum movimento. Nada. Nenhum som.

            Sherlock suspirou, John deve ter ido dormir sem ele. O detetive tinha quase certeza que o encontraria emburrado na poltrona ao lado da lareira esperando por ele para tentar prolongar de alguma forma a desastrosa conversa que tiveram mais cedo depois do sexo.

            O detetive folgou os punhos da sua camisa e dirigiu-se para o quarto, certamente John ainda estava acordado, porém muito chateado para responder ao seu chamado. Ele não sabe lidar muito bem com essas crises emocionais do seu parceiro, mas ao que tudo indicava, ele iria ter que desenvolver essa habilidade para manter um pouco de harmonia na nova fase da sua relação com seu companheiro.

            Quando eram apenas amigos, as coisas eram mais fáceis, pensou Sherlock caminhando lentamente pelo corredor. Não havia cobranças, não havia grandes expectativas, nada de ilusões e um espaço individual mais definido, pelo menos o seu era definido, já que invadia constantemente o espaço do médico, era uma margem de segurança entre eles que lhes assegurava proteção contra expectativas um em relação ao outro. Mas, veio o envolvimento emocional profundo e com ele surgiram desejos e pensamentos que brigaram bravamente por fazer-se notados e satisfeitos. Ele tentou combater isso com lógica pura, mas a lógica pura não se aplica no campo emocional e a guerra estava perdida antes da primeira batalha.

            Ele buscou o contato físico íntimo, os espaços individuais mesclaram-se de uma forma que ficou muito confuso definir onde iniciava um e terminava outro e aos poucos foram-se criando as expectativas e com as expectativas, as cobranças e as ilusões.

            Sherlock não gostava de ser cobrado e a lógica lhe dizia que o casamento faria as cobranças e a perda de individualidade crescer exponencialmente a um nível inimaginável. Ele não queria deixar de ser quem era, não queria que algo ou alguém o forçasse a perder-se de si mesmo. Por isso, esse último passo numa relação prazerosa deveria ser evitado, era a única maneira de conservar um pouco da individualidade e liberdade de cada um, principalmente a sua.

– John? – o moreno chamou abrindo a porta do quarto.

            A cama estava vazia e arrumada com lençóis limpos. Aquilo enviou uma onda gelada pelo peito do detetive que passou rápido para o banheiro compartilhado pousando os olhos imediatamente no porta escovas. Havia apenas uma, a sua escova. John havia removido a dele.

            Impressionado, Sherlock foi até o guarda-roupas e constatou a ausência da valise de viagem e de algumas peças de roupas do médico. O moreno respirou fundo encostando a testa na porta do móvel. John Watson havia saído de casa.    

             O detetive saiu do quarto e parou olhando o corredor sentindo o ambiente subitamente silencioso demais. Avançou para a sala e finalmente percebeu um envelope branco sobre o assento da sua poltrona ao lado da lareira. Ele catou o item deduzindo ter sido deixado pelo loiro, e isso lhe levantou uma questão  enquanto ele puxava a aba de papel branco: “por que John não ligou ou mandou mensagem?” Ele puxou um pedaço de papel médio onde se podia ler na caligrafia do ex-militar:

  “Quero um tempo, não me procure. P.S.: uma ligação nos faria discutir e mensagens levariam à discussão por texto de celular”.

A resposta às perguntas mentais do detetive o fez erguer as sobrancelhas. Afinal ele percebeu que também poderia ser previsível para seu namorado.

            Sherlock guardou o papel novamente no envelope e o colocou debaixo do crânio na lareira e se afastou para se atirar no sofá perto da porta de entrada. Antes dele conseguir concluir sua intenção, a porta rangeu aberta fazendo-o virar-se de forma quase ansiosa na esperança de ser seu companheiro com cabeça mais fria e arrependido do seu ato impulsivo, mas parou confuso vendo a Sra. Hudson parada na soleira com uma expressão curiosa.

– O John saiu há uns trinta minutos com uma valise de viagem. – Ela informou.

– Eu sei, ele deixou um recado. – Sherlock respondeu se jogando no sofá.

– É mesmo? O que ele disse?

– Não é da sua conta, Sra. Hudson.

– Tenho certeza que não foi isso que ele escreveu. – a mulher respondeu entrando no apartamento para puxar uma cadeira e sentar-se diante do sofá, para desespero de Sherlock. – Ele parecia nervoso e chateado... – ela murmurou mais para si do que para o detetive – Vocês brigaram? – perguntou.

O detetive a encarou de forma dura pensando numa resposta azeda, mas se conteve e disse:

– Não, nós não brigamos, apenas divergimos em algumas coisas no começo da noite.

– Bem, deve ter sido uma divergência bem grave para fazer o John sair assim... eu nunca o vi fazer as malas e sair por causa de uma divergência entre vocês.

– Sempre existe uma primeira vez, e não se preocupe, ele vai voltar logo.

– Como sabe?

– John ainda está com suas chaves do 221-B, levou pouca roupa e está de cabeça quente, ou seja, assim que esfriar as ideias vai ver que sair foi um impulso infantil e vai voltar correndo muito em breve.

– Ah, eu não ficaria tão despreocupada no seu lugar, Sherlock...quando um parceiro deixa o outro quando este está ausente, é porque a coisa é muito séria. Você deve ter magoado o John. – comentou a mulher pondo a mão no peito como se sentisse uma pontada no coração.

– Ele se magoou por conta própria eu apenas fui sincero, Sra. Hudson, eu não estou aqui para iludir ninguém, pelo menos ninguém poderá me acusar de não falar a verdade. Me faça uma pergunta direta e terá a resposta sem rodeios.

– Do que você está falando?

– Meu desinteresse por convenções sociais tais como o casamento.

– Oh. – disse a mulher pondo a mão na frente dos lábios com a súbita compreensão dos fatos. – Então ele pediu você em casamento?

– Sim, hoje, mais cedo e... Espere... – Sherlock a encarou. – a senhora já sabia que ele estava com essa ideia maluca na cabeça?

– Mas é claro, Sherlock. Eu sabia antes mesmo dele admitir para si que desejava oficializar as coisas entre vocês. Eu achei tão bonito.

– Não tem nada de bonito em fazer um circo de troca de alianças, enfiados em trajes desconfortáveis, rodeados de alimentos de procedência duvidosa e um batalhão de pessoas que sorriem na sua frente e falam mal de você pelas costas.

– Oh, Sherlock... você às vezes é tão amargo que não consegue ver a beleza e o significado profundo de algumas convenções. – a mulher lamentou balançando a cabeça com uma expressão de pena.

– Não tem nenhuma frigideira para lavar em seu apartamento, Sra. Hudson?

– Não, deixei tudo limpinho antes de vir para cá.

– Então talvez deva ter algum outro inquilino para visitar.

– Não. Além de você, não tenho interesse de visitar mais ninguém hoje.

– Certeza? O cara esquisito do 221-C está planejando fugir sem pagar o aluguel atrasado, hoje à meia noite, se eu fosse a senhora faria uma visita surpresa para ele agora se não quiser ter prejuízo.

– É mesmo?

– Mesmo. – o detetive enfatizou apontado a porta de saída como incentivo para que a mulher tratasse de sair.

            A senhoria não se demorou, levantou-se da cadeira e sumiu fechando a porta atrás de si.

            Sherlock ficou no sofá olhando para o teto estranhamente desanimado. Ele deveria está muito exultante, afinal ele tinha um caso muito interessante em mãos, seu cérebro deveria estar a mil, tecendo deduções acerca de cada elemento captado na cena do crime no qual esteve mais cedo. No entanto, a estranha ausência do seu parceiro estava mexendo com seus ânimos e constatar isso o fez atirar uma almofada contra a porta do apartamento e rosnar para o silêncio da sala.

 


Notas Finais


Então? O Sherlock está muito confiante de que nosso querido John voltará logo. O que vocês acham? Aguardo suas opiniões e impressões de leitura!


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