1. Spirit Fanfics >
  2. O Médico Louco >
  3. Uma carta na manga?

História O Médico Louco - Uma carta na manga?


Escrita por: Almafrenz

Notas do Autor


Mais um capítulo fresquinho trazendo mais pistas sobre o estranho caso investigado por Sherlock! Boa leitura!

Capítulo 4 - Uma carta na manga?


Fanfic / Fanfiction O Médico Louco - Uma carta na manga?

Nessa época do ano, o Condado irlandês de Dublin estava com pouco movimento urbano, a queda da temperatura outonal de clima úmido e ventos fortes dava claro sinal de que o lugar estava rumo a mais um inverno frio com dias de nada mais que nove horas de luz solar, e isso não animava ninguém a perambular fora de suas casas a não ser que a necessidade gritasse. Sherlock não pretendia ficar ao ar livre, saltou em Dublin para enfurnar-se em um lugar em especial: A Trinity College Library, localizada no Campus do Trinity College a um quarteirão do rio Liffey.

            Fundada pela Rainha Elizabeth I em 1592 com a finalidade de fornecer instrução aos súditos irlandeses no século XVI, a Universidade Trinity possui atualmente o que é considerada a biblioteca mais deslumbrante do mundo no quesito arquitetura e design, possuindo um amplo e rico acervo que atrai turistas, estudiosos e pesquisadores de todo o mundo, mas Sherlock Holmes não estava interessado nesses elementos enquanto avançava a passos largos rumo ao conjunto de prédios universitários a alguns metros dele.   

            O detetive atravessou a praça da universidade passando por baixo do arco do famoso campanário pelo qual, segundo a lenda, nenhum estudante deveria passar caso estivesse esperando resultado de algum exame acadêmico importante, pois negligenciar esse conselho daria má sorte nas provas. Apressando seus passos por conta de um sereno gélido que começou a cair, o moreno atingiu um espaço gramado onde se destacavam duas árvores enormes de copa larga e desse ponto para a biblioteca da Universidade Trinity, foram poucos passos.

            Na portaria da biblioteca, o homem foi recebido por uma jovem universitária ruiva e sardenta de não mais que vinte e dois anos que lhe sorriu simpaticamente de orelha a orelha e isso fez Sherlock se lembrar da estranha regra social de também sorrir em resposta e adicionar alguns piscares simpáticos de olhos ao gesto, afinal, por uma alguma razão que lhe escapava, sorrir e piscar os olhos algumas vezes agradava as pessoas e quando se quer algo das pessoas, você tem que agradá-las.  

– Posso ajudá-lo, senhor?

– Oh, sim. Onde fica a seção de história e biografias? – o detetive perguntou fazendo o seu melhor ar agradável, imaginando intimamente que John estaria rindo dele se estivesse por perto e diria alguma coisa sobre o quão esquisita era a maneira com a qual ele aplicava simpatia humana como uma fórmula química para obter resultados.

– Está localizado no terceiro corredor de estantes à direita. Quer ajuda para encontrar alguma obra? – A moça disponibilizou-se sem apagar o amplo sorriso.

– Não, obrigado. – Sherlock disse seguindo na direção indicada.

            O corredor de história e biografias reunia centenas de livros dos mais variados autores, tamanhos e encadernações, essa quantidade quase opressora de publicações deixaria qualquer visitante perdido e seriamente tentado a voltar correndo para pedir ajuda à moça ruiva na portaria, mas Sherlock sabia exatamente para que ponto rumar e que obra puxar fora de sua prateleira e assim ele fez.   

Foram apenas treze passos aprofundados no corredor de estantes para então parar de frente a uma prateleira a altura de seus olhos, estender os longos dedos e puxar a obra “Elizabeth I”- Anne Somerset, 1991, 1ª edição. Ele pôs o livro debaixo do braço e seguiu para uma das mesas de leitura dispostas no lugar, preparado para analisar o livro de uma forma muito mais profunda do que um leitor ordinário.

            Enquanto isso, em Londres, John estava curvado sobre sua mesa, babando levemente sobre seu receituário no Barts, derrotado por um sono insuportável que já estava lhe cavando profundas olheiras perceptíveis para qualquer observador que o encarasse a pouco mais de um metro.

            Nos primeiros vinte minutos de cochilo, o médico havia sido abençoado com o completo nada em sua mente, mas no minuto seguinte, a forma distorcida de uma lâmina pequena se desenhou diante dos seus olhos enquanto seu eu onírico avançava por uma calçada úmida no meio da noite.

            Depois houve sangue, muito sangue diante dele e tudo se resumiu a um grito ensurdecedor que o pôs imediatamente desperto e ofegante com uma folha de receituário pregada em seu rosto suado.

– Meu Deus... o que foi isso? – John murmurou passando a mão no rosto úmido para arrancar a folha grudada. – Eu preciso de uma dose dupla de café. – concluiu saindo da sua sala.

            Era final de tarde em Londres e o Barts estava calmo, até mesmo o necrotério estava com pouco movimento de modo que Molly estava sentada numa mesa no canto direito da cafeteria do hospital segurando uma enorme caneca de chocolate enquanto lia alguma coisa numa revista feminina.

            John entrou no recinto, pegou uma grande xícara de café forte e sentou-se na mesma mesa da patologista que parecia muito distraída com sua leitura.

– Relacionamento novo? – ele indagou.

– Oi? Oh, John! É você, desculpe, estava distraída... – Molly sorriu desculpando-se.

– Sem problemas. E então? Namorado novo?

– É... ei, como sabe?

– A revista que está lendo me disse. – John apontou como se fosse óbvio e uma voz no fundo de sua mente disse que esse tipo de observação era típica de um certo moreno.

            Molly imediatamente observou o título principal da sua revista que destacava em letras garrafais: “Saiba se ele realmente ama você”. Os subtítulos da publicação eram apenas pequenas variações da proposta principal e Hooper corou furiosamente.

– Bem observado, você fez como o Sherlock faria. – Ela comentou dando um gole do seu chocolate observando que John parecia muito cansado e, além disso, não deixou de notar uma pequena sobra de consternação deslizar pelo olhar do médico. – Você não parece nada bem, John...

– É, eu não ando dormindo direito há dois dias... isso está cobrando o preço.

– Como vai você e o Sherlock?

– Não vamos.

– Como assim? O que houve?

– Estamos dando um tempo e eu saí do apartamento.

– Vocês brigaram?

– Só um pequeno desentendimento. – John pontuou sorvendo seu café.

– Pequenos desentendimentos não fazem namorados deixarem o apartamento em que moram juntos.

– Talvez você tenha razão, talvez seja algo com maior significado do que eu quero admitir. – o médico comentou apoiando os cotovelos na mesa.

– Você não o ama mais?

– Claro que amo! – John respondeu rápido – Acredito que esse seja o grande problema da nossa relação.

– Não entendi.

– Eu amo o Sherlock, muito mesmo, só que...

– Você acha que ele não o ama do mesmo modo, não é?

– Como sabe? – o homem perguntou espantado.

            Molly riu e apontou a revista feminina que estava lendo.

–Oh... minhas declarações são tão clichê assim a ponto de me fazer transparente e alvo fácil de uma fórmula pré-definida de uma revista para meninas? – John perguntou se sentindo ridículo.

– John, a grande maioria das pessoas costuma se comportar de forma parecida quando amam ou quando duvidam que são amadas e isso forma um padrão que geralmente é posto em revistas femininas sobre relacionamento. Então? Por que você está duvidando do sentimento do Sherlock? – Molly perguntou paciente.

– Eu pedi o Sherlock em casamento.

– Você o quê?

– Não vou repetir, você ouviu.

– Ok, eu ouvi... mas imagino que a resposta não foi positiva e por isso você ficou magoado e saiu de casa, não foi?

– Foi. Olha, eu sei que pode parecer estúpido, e talvez seja mesmo, mas isso me magoou, me senti rejeitado, quer dizer que eu sou bom para transar, mas não para casar?

– Esse é o pensamento que quebra a cabeça da maioria das garotas apaixonadas por rapazes que não querem nada sério, meu amigo. – Molly disse rindo de forma triste.

– Então você acha que o Sherlock não quer nada sério comigo?

– Não foi isso que eu quis dizer, mas você tem certeza que quer algo tão sério com ele? Tipo, juntos para sempre?

– Eu quero.

– Então mostre para o Sherlock que você é um homem para casar. – Molly incentivou.

– Se fosse tão simples, Molly... lembre-se que é do Sherlock que estamos falando. – John pontuou sentindo-se derrotado.

            Molly sentiu o coração apertar, mas nenhuma palavra de consolo razoável lhe veio à mente, então ela limitou-se a sorrir-lhe em solidariedade.

            Na manhã do dia seguinte, Lestrade foi ao 221B e encontrou Sherlock sentado em sua poltrona habitual perto da lareira aparentando estar em profunda reflexão.

 – Então? Você descobriu o que era aquele código em baixo relevo no envelope? – o inspetor perguntou.

– Claro, eu soube do que se tratava desde o segundo em que coloquei os olhos sobre ele. – Sherlock respondeu encarando-o com um olhar brilhante.

– Você já sabia? Por que não me disse o que era?

– Era tão óbvio o seu significado que eu pensei que não fosse necessário.

– Ok, pode parar de me ofender agora e me conta logo o que era. – Lestrade exigiu se sentando.

            O detetive sorriu levemente e o inspetor sabia que era esse o jogo que Sherlock gostava de jogar, despertar extrema curiosidade nas pessoas em volta e depois explicar como descobriu o significado de algo tentando fazer isso parecer extremamente simples, se bem que, depois que ele explicava, tudo parecia bem simples mesmo.

– Era um código de registro bibliotecário, qualquer pessoa familiarizada com livros de leitura coletiva catalogados em uma grande biblioteca pública, reconheceria aquele código, eles costumam ser colocados em etiquetas na lombada das obras.

– Eu gosto de ler, se está sugerindo que eu não leio, mas nunca me atentei para os códigos na lombada dos livros. – Lestrade reclamou justificando-se.

– Aí é que está o seu problema, inspetor, olha mais não vê.

– Ok, agora me fala a que se referia o código.

– Um livro específico, claramente. A referência “900S695e1991/ex.1” era bem clara... 900 é o código referente às obras de história e biografias de acordo com a classificação decimal Dewey, “S” era a primeira letra do sobrenome do autor do livro, 695 corresponde ao nome “Somerset” segundo a tabela Cutter, a letra “e” é a primeira letra do título da obra, o ano 1991 refere-se à publicação e “ex.1” é o número da edição, ou seja: “Elizabeth I”, uma biografia escrita por Anne Somerset e publicado em 1991, 1ª edição.

– Uau! Mas isso não é tão simples de qualquer um ler naquele código. – Lestrade resmungou.

– Tem razão, seria necessário haver memorizado meio milhão de códigos da tabela Cutter e uma centena de variações da Classificação decimal Dewey para saber logo de cara. Isso não é para pessoas normais – Sherlock admitiu cheio de si.

– Ainda bem que você admite... – Lestrade murmurou. – Certo, mas o que tinha de tão importante nesse livro? E, além disso, como sabia qual volume era? A primeira tiragem desse “Elizabeth I” deve ter algo em torno de centenas de exemplares, poderia ser qualquer um em qualquer biblioteca.

– Não podia, não. – Sherlock discordou.

– Explique.

– Você olhou, mas não viu.

– O que eu não vi, Sherlock? – Lestrade estava perdendo a paciência.

– O canto superior esquerdo do envelope.

 – O quê? Eu não prestei atenção, fiquei perturbado com as cinco folhas em branco e com o código esquisito.

– Para variar. – Sherlock comentou em tom zombador. – No canto superior esquerdo do envelope havia a marca d’água de um brasão institucional, um leão à esquerda, uma harpa à direita, um livro no centro e um castelo na parte central inferior de um escudo.

– E?

– E esse brasão pertence à Universidade Trinity. Então foi só juntar dois mais dois e pronto! Um código biblioteconômico e uma universidade com um dos maiores acervos de livros da Grã-Bretanha, um lugar que é como açúcar para formigas quando o assunto é pesquisadores e fonte de pesquisa. Allen era professora e vi várias pesquisas sobre a mesa dela, foi fácil deduzir que ela frequentava o lugar e havia deixado algo no “Elizabeth I” pertencente ao acervo daquela biblioteca.

– Deixou? Ela anotou algo em alguma página desse livro? Você o trouxe?

– Sim. Não e não. – Sherlock respondeu sorrindo satisfeito notando Lestrade ficar um pouco vermelho de impaciência.

– Desenvolva... – o inspetor pediu derrotado.

– Sim, ela deixou uma coisa. Não, ela não escreveu nada, aliás, obcecada com arrumação do jeito que ela era, duvido que tivesse coragem de riscar um livro... e não, eu não trouxe o livro porque não era útil.

– Como ele não era útil? O código se referia a ele!

– Se lhe dissesse para ir ao banco pegar uma joia do cofre, você traria somente a joia ou mandaria arrancar a gaveta e traria junto? – Sherlock indagou com expressão azeda.

– Ok, entendi, o livro era só um “cofre” para algo importante, me diga o que era tão importante, o que você achou lá?

– Algo inusitado que tem me feito pensar. – o detetive respondeu deslizando a mão por dentro do bolso da calça para retirar um retângulo de papel duplex de aproximados 8,9 por 5,7 centímetros em cuja superfície se destaca a impressão de alguns símbolos em tinta vermelha.

– Um Às de copas? – Lestrade disse surpreso.

– Exatamente, estava colado com fita adesiva atrás da orelha larga da capa do livro de uma forma que um leitor comum não se incomodaria com o item e não o descobriria, a cola da fita estava desgastada, diria que foi deixada lá há alguns meses, e eu estou começando a acreditar que o coração partido desenhado a sangue na parede do quarto da professora Allen não era só uma distração como eu inicialmente supus. Quem a matou parecia saber que ela guardava um Às de Copas.

– Mas o que de tão importante tem nesse Às de copas? Parece apenas uma carta de baralho comum, isso não faz o menor sentido.

– Passa a fazer sentido se ela puder te dar a vitória num jogo. – Sherlock comentou girando a carta entre os dedos observando-a quase hipnotizado.

– Isso não é um jogo, Sherlock.

– Para a pessoa por trás da morte de Rebeca Allen, isso é um jogo e dos grandes. –Sherlock disse com um sorrido de canto.

– Mas qual o significado desse Ás? Por que Allen o deixou nesse livro e qual a razão de ter escondido sua localização?

– Eu ainda não sei, mas vou descobrir em breve. Quer leite?  – o detetive cortou a conversa indo para a cozinha, dando a Lestrade a velha sensação de que o homem não estava contando tudo o que deduziu.

– Um chá seria bom. – Greg pontuou resignado em esperar por mais informações quando Sherlock achasse conveniente.

– Estou sem isso no momento, não tive tempo de comprar mais e o John levou com ele o que tinha no armário.              

– Como assim, John levou com ele? Dr. Watson decidiu preparar seu chá no trabalho?

– Não.

– Viajou e o lugar não tem o chá que ele gosta?

– Não.

– Então... oh, espere... ele foi embora? Vocês brigaram?

– Ah, inferno, por que todo mundo insiste em me fazer essa mesma pergunta idiota ultimamente?! – Sherlock rugiu.

– Por que vocês brigaram? – Lestrade insistiu na pergunta.

– Leite cancelado. Tem certeza que não tem nada mais interessante para fazer na Yard, inspetor? – Sherlock desconversou saindo da cozinha direto para o cabide onde estava seu blazer e sobretudo.

– Tenho certeza que não há nada lá para mim nesse momento. Eu quero o leite. E aí? O que aconteceu com vocês dois? Ele realmente saiu de casa? Oh, deve ser por isso que não o vi por aqui. – Lestrade comentou olhando em volta da sala.

– Nada disso é da sua conta, Lestrade. Agora se me der licença, tenho que sair para concluir algumas pesquisas. – o detetive disse fazendo um largo gesto com o braço em direção a porta convidando o inspetor a retirar-se.  

            Lestrade riu balançando a cabeça, levantou-se sem protestos e tomou o rumo da rua consciente de que aquele assunto ainda iria render. O inspetor não poderia estar mais perto da verdade.

            O terceiro dia após a briga de John e Sherlock no 221B, amanheceu silencioso. Se a cabeça esquelética do bovino pendente na parede da sala pudesse tecer algum comentário a respeito do clima no apartamento depois da saída do médico 72 horas atrás, ele diria que sentia falta dos estranhos sons que fluíam quase todas as manhãs do quarto no final do corredor, que as coisas inimagináveis feitas por ambos engatados no sofá tornavam seus dias vibrantes e animados.

            Destacaria ainda que a paciência quase paterna do homem loiro e compacto que atendia pelo nome de John Watson era impressionante e que as excentricidades do homem moreno alto e esguio chamado Sherlock Holmes eram assustadoras e não entendia como os dois se completavam de maneira tão perfeita e impressionante.  

Sherlock era um grande homem antes de John aparecer no 221B, depois do médico, Sherlock se tornou um bom homem, mesmo que insistisse ilogicamente em não admitir, e o crânio humano na lareira concordava com a cabeça bovina na parede, sim, a cabeça esquelética de bovino diria que cada móvel naquele apartamento concordava com ele e lamentava, tal como ele, a falta do bom médico Dr. Watson, uma vez que o papel de parede seria a primeira vítima do tédio do detetive muito em breve e depois disso, o resto poderia vir abaixo e nem a Sra. Hudson poderia salvá-los.

            Sherlock saiu do quarto quando os primeiros raios solares tocaram as janelas do 221B, indicando que seu sono foi curto e insuficiente a tirar pelo olhar cansado e os dedos de ambas as mãos que flexionavam inquietos como se buscassem ocupar-se com algo urgentemente.    

O homem passou para a cozinha, enfiado em seu robe marrom-caramelo, derrubando alguns itens na pia antes de equilibrar um caneco e despejar leite gelado dentro para em seguida afundar no longo sofá perto da porta de entrada, segurando o utensílio sobre a barriga sem de fato se importar em beber o conteúdo. John ainda não tinha voltado e nem dado notícias e isso estava começando a incomodá-lo.  

            O homem ficou esticado no sofá com seu caneco de leite gelado por alguns minutos até a senhoria dar três toques na porta e entrar com uma bandeja de chá quente com biscoitos de aveia.

– O John ainda não voltou? – a mulher perguntou pondo a bandeja na mesinha de frente ao sofá.

– A senhora o está vendo por aqui? – Sherlock perguntou de forma ranzinza.

– Não...

– Então isso responde a sua pergunta. – destacou ele enfim bebericando o conteúdo do seu caneco forçando os músculos faciais a não fazerem uma careta de desagrado.

– Ah, Sherlock... se eu fosse você eu iria atrás do John e conversaria direito com ele.

– Ainda bem que eu não sou a senhora. – o detetive disse descartando a caneca de leite perto da bandeja recém-colocada na mesinha próxima para se erguer e caminhar até a janela do lado direito da sala. – Tenho coisas mais urgentes a fazer. – comentou olhando para a rua sem movimento.

– Como o quê?

– Alguns experimentos muito importantes para resolver um caso.

– Não vai convidar o John para participar com você?

– Sra. Hudson, não sei se a senhora notou, mas John não quer me ver, além disso, eu sou perfeitamente capaz de resolver um caso sem ter que arrastá-lo atrás de mim, questionando as minhas maneiras o tempo todo!

– Sei... – Sra. Hudson riu com um semblante de pena. – Na verdade, o que entendi, mocinho... – disse a mulher catando a xícara de chá morno e pondo-a na mão do detetive – é que sua ficha ainda não cai e eu espero sinceramente que não demore muito a cair, pois pode ser tarde demais quando isso acontecer. – concluiu saindo do apartamento. 

            Pela janela, o moreno viu os poucos raios de sol que haviam rasgado seu caminho por entre as densas nuvens cinza, morrerem como que estrangulados por garras sombrias dando espaço a uma fina chuva que deixava um desagradável ar de umidade em tudo e o albergue para estudantes de medicina onde John se enfiara adicionava à sensação de umidade, um pungente odor de mofo desprendido do papel velho de parede que começara a descascar em alguns pontos perto da sua cama.

            O médico havia passado pelos horrores de outra noite povoada por pesadelos sangrentos e confusos, nada era distinto o suficiente para que ele pudesse concluir do que se tratava o enredo, a única coisa que latejava persistente em sua memória era uma quantidade enervante de sangue e um grito agudo e abafado por gorgolejos de uma garganta inundada com a própria voluméia.   

Decididamente essas visões oníricas eram diferentes do que ele teve por um tempo depois da guerra, antes ele sonhava com o campo de batalha e sua luta para desviar dos tiros e ajudar os soldados feridos, mas agora tinha pesadelos com alguém sendo degolado tão perto dele que parecia ele mesmo o degolador. Poderia facilmente ser a lembrança de um dos antigos casos investigados por Sherlock, apesar dele não se lembrar de nenhum que se encaixasse nesta linha operacional. No entanto, era bem verdade que, não importava a modalidade do assassinato e a situação do corpo analisado por ambos, John nunca teve seus sonhos povoados pelos casos do detetive consultor. Ele tinha que admitir que esse pesadelo recorrente e violento, era muito sem sentido, mas o fato é que isso estava cortando o seu necessário sono e ele não poderia sobreviver muito tempo sem uma boa noite de sono.

            Depois de sua terceira noite sem dormir, ele decidiu que se uma quarta noite não dormida ocorresse, ele iria atrás da sua terapeuta e pediria ajuda, afinal, ele não queria acabar louco.


Notas Finais


Alguém aí tem alguma teoria sobre esses sonhos estranhos do nosso amado John ou mesmo alguma ideia sobre qual o significado da carta de baralho que Sherlock achou? Aguardo saber o que passa na mente de vocês à respeito.


Gostou da Fanfic? Compartilhe!

Gostou? Deixe seu Comentário!

Muitos usuários deixam de postar por falta de comentários, estimule o trabalho deles, deixando um comentário.

Para comentar e incentivar o autor, Cadastre-se ou Acesse sua Conta.


Carregando...