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História O medo de Willy Wonka. - Capítulo 13


Escrita por: Ryuuaka

Notas do Autor


Isso mesmo estou de férias, então comemoro com um capítulo novo.
Isso mesmo, o capítulo ainda está pesado, mas tem um bom motivo (vou comentar lá em baixo, acompanhe-me depois do capítulo.
Isso mesmo, to com a mania de falar isso mesmo. Mas acho que o certo seria Isto, e não Isso. Ai santo português arrochado, mim ajunde.

Capítulo 14 - Capítulo 13


Chega um dia, que ao seu lado, a dona morte senta. No outro lado, fica seu anjo da guarda, cansado e suado, esperando você falar. 
É seu coração que vai falar. Falar da tristeza ou mágoa. Do vazio, da felicidade. Passado e presente. De um futuro imperfeito, que virou decepção por nunca ter sido real.
É neste dia que a morte te conta a segunda maior verdade da vida: somos todos fracos.
Ela então se ergue, sacode a poeira das roupas e segue com seu caminho eterno. 
"Até breve" ela finaliza.

 

 

Willy não entrou no quarto em que a Senhora Bucket estava. Ficou encostado ao lado da porta pronto para dar apoio ao pupilo, mas permitindo que ele se fortalecesse sozinho. Willy já tinha passado por algo parecido, apenas parecido. A mãe do chocolateiro não teve a vida prolongada por medicamentos e aparatos médicos, não teve um quarto só para ela, confortável, com tudo o que ela quisesse pedir e nem a melhor comida que o hospital podia oferecer.

Quando foi com a Senhora Wonka, ela só  teve uns dias em um quartinho com mais dois doentes e uma cama vazia, onde ainda era possível escutar os últimos gemidos de dor daquele que havia partido há menos de vinte e quatro horas. A senhora Wonka teve sopa rala, teve os olhos dos enfermeiros implorando por perdão, teve os últimos dias em casa, para melhor conforto dela e das finanças da família Wonka.

Wilbur era o melhor dentista da cidade, mas seus bolsos não eram os mais cheios.

Olhando para a parede branca no outro extremo do corredor, Willy se sentiu mal. Convivendo com Charlie, aprendia coisas novas, aprendia a importância da família, de ter em quem confiar, de se arriscar um pouco na vida pessoal. Agora aprendia que o dinheiro não é mais forte que a morte, no máximo proporciona um pouco de conforto.

Charlie passou pela porta, o rosto pálido, os olhos exaustos. Aquele era o poder de um hospital. Ele suga as energias e confiança das pessoas, poucos possuem o dom de não ser afetado por este beijo gelado.

– Você está bem? - Willy questionou.

– Só preciso de um pouco de água e descansar.

O herdeiro mentiu.

Desde que tinha pisado naquele lugar seu coração estava pesado, o corpo tremia, as pernas ameaçavam despencar. Ver a mãe fraquinha e magrinha não foi uma sensação reconfortante. Os olhos dela ainda eram atentos e vivos, bem mais vivo do que o sorriso e a voz rouca o saldando:

"Oh, meu querido. Se eu soubesse que você vinha, tinha me arrumado melhor".

O herdeiro tentou a fazer rir, conversou sobre o que estavam tramando para o aniversário de Veruca, tentou esquecer-se de onde estava e colocar na cabeça que ali era o quarto dos pais e que a mãe só estava muito resfriada.

"Eu quase não consegui dormir quando comi aquele chocolate. Foi bem intenso. Vou trazer para a senhora experimentar".

Mas ao dizer que traria o chocolate exagerado que Willy tinha feito, aquele com confeitos explosivos, não deixou de notar a asneira que tinha falado. A mãe não poderia comer aquela engenhoca, não é?

– Eu não consigo ligar com hospitais, Willy.

– Está se saindo muito bem, estrelinha.

Charlie girou sobre o colo de Willy, passando a olhar para o chocolateiro. Sabia que estava abusando, que Willy não gostava de pessoas o tocando, mas naquele momento, naquele dia em especial o sortudo garotinho pobre se sentia destruído e acima de tudo sentia que não podia mostrar aos pais o quão destruído estava.

Mas com Willy era diferente. O chocolateiro já sabia. Sabia antes mesmo de pousar o elevador e Charlie não fazia ideia de como podia saber que Willy tinha tal conhecimento.

– Eu quase desmaiei duas vezes antes mesmo de chegar ao quarto da minha mãe. Como posso estar me saindo bem?

Wonka sorriu.

– Não seja bobo. – Ele estava com o rosto apoiado nas costas da mão, enquanto o cotovelo se apoiava sobre o estofado do sofá.

O sol brilhava na janela que se estendia do chão até o teto, deixando a vista sobre a cidade tomar conta da ala de descanso dos visitantes. Não havia ninguém além dos dois e de um senhorzinho japonês, lendo uma revista escrita em japonês. Ele usava chinelos, meias e um fone de ouvido para não escutar conversas alheias. O sol dava uma cor bonita ao rosto de Willy.

– Ser forte, estrelinha, não é nunca chorar. E se você não chorar a perda de alguém, não quer dizer que não está machucado. – Com a mão livre, Willy iniciou um cafuné reconfortante no pupilo. – Não tem um padrão para os sentimentos. Você não chora só de dor, nem chora sempre que sente dor.

Charlie secou uma lágrima antes que ela caísse sobre a calça do tutor.

– Mamãe vai morrer, não vai?

Willy fez uma careta. Era uma pergunta bem difícil.

– Você quer eu diga o que sei, o que acho, o que espero ou minta para te reconfortar?

– Era uma pergunta retórica. – Charlie sorriu. – Mas quantas respostas pode haver para uma pergunta?

– Muito mais do que certo ou errado, sim ou não. – Willy também sorriu. – Sabe, estrelinha, quando eu era bem novo, minha mãe também adoeceu.

– Willy, não precisa...

– Eu não pude dar tudo do bom e do melhor, como agora. – Willy continuou falando. - Ela ficou em casa, definhando até morrer.  Eu preciso falar, Charlie, porque achei que sua mãe aguentaria se tivesse os melhores médicos, mas... – Parou. Estava um tanto encabulado de não conseguir falar que a senhora Bucket estava morrendo. – Você quer que ela continue aqui?

– Deixe ela e meu pai escolher. – Charlie fechou os olhos. – Não quero ser tão adulto ainda.

Willy também fechou os olhos. Sim, ser adulto não é tão vantajoso quanto imaginam as crianças.

 

W.W.

 

O pequeno Willy Wonka nunca tinha ido a enterros ou velórios. Sua mãe estava dentro de uma caixa de madeira com pessoas vestidas de preto, chorando enquanto viam ela descer, pessoas que ele já tinha visto e pessoas que ele nunca viu. O pai estava firme e forte ao lado dele, apenas olhando a caixa descer, sem uma lágrima cair dos olhos que não havia chorado durante o dia todo, mas estavam vermelhos mesmo assim.

Willy, pequenino, que conhecia a morte de frente pela primeira vez, não soube o que deveria fazer. Quando viu a mãe deitada na caixa, o corpo duro, os olhos fechados e o rosto maquiado e pálido, coberto por flores, abriu um largo sorriso e até soltou uma risada alta.

Aquela risada chamou a atenção de todo mundo. Os adultos o olharam torto, fizeram caretas, cochicharam. O menino soube que tinha feito besteira, mas não conseguiu deixar de achar graça no boneco gigante que sua mãe tinha se tornado.

Depois, percebeu que não a teria mais. Lembrou-se da voz dela o chamando, lembrou-se de conversas bobas, de grandes ensinamentos. Lembrou que nunca mais isto aconteceria, a voz nunca mais seria escutada. Então ele chorou.  

Chorando, as pessoas sentiram dó dele. Falaram que ele finalmente tinha entendido, que tinham pena dele, que ele era muito novo. Foi enquanto chorava que o senhor Wilbur Wonka surgiu, ensinou-lhe que homens não choram, quebrou a criança com o martelo da confusão.

No enterro de sua mãe, o pequeno Willy Wonka se perdeu. Agora, enquanto via o pupilo pouco se importando para o que poderiam pensar dele, enquanto via Charlie apenas sentindo o momento, sentindo a morte sentar ao lado dele e ensinar que o ser humano pode cair a qualquer momento, que o ser humano nunca é forte o bastante, Willy Wonka entendia e ensinava que não há regras para os sentimentos. A dor não é passada apenas com gritos e choros.

Charlie saltou do colo de Willy. Sentou no sofá de dois lugares e logo pegou impulso para ficar em pé.

– Ah droga!

Willy já acompanhava com os olhos o movimento súbito do herdeiro.

– Eu me esqueci de dizer que a amo. – O pupilo já trotava pelo hospital, indo até o quarto da mãe, pronto para arrumar confusão, mas pelo menos deixar bem claro que a ama. Que sente falta do abraço dela, que ela é a melhor mãe do mundo.

Quando estava no quarto, enquanto conversava com ela, só disse que sentia saudade. E só dizer que sente saudade não era o bastante.

Willy dobrou o corredor, um pouco atrasado em relação ao herdeiro.

– Charlie!

O herdeiro parou, virou no eixo.

– Eu te amo.

Disseram os dois em coro.

 Pensaram juntos, ao mesmo tempo, que nunca haviam dito aquilo. E juntos falaram que amavam um ao outro, juntos soltaram um riso ao perceber que as mentes pareciam se conectar como uma só.

Willy podia perder tudo, perder até mesmo o dia a dia ao lado do herdeiro. Mas se perdesse a oportunidade de deixar claro que faria tudo por amor ao garoto, então ele nunca se perdoaria.

Agora que havia dito, Willy Wonka estava pronto para perder a fábrica nas mãos de Amanda Funk. Um dia, se tivesse sorte, recuperaria todo aquele mundo que havia construído do zero.

E Willy Wonka, desde que conheceu Charlie Bucket, sentia-se cheio de sorte.


Notas Finais


Hello, você aguentou chegar até aqui! Pegue uma barrinha delicia Wonka, sim?

Este capítulo é em homenagem a um tio que perdi há um ano (lembrando que a fic foi postada em 2016 e que meu tiozinho morreu dia 9 deste mes [nov]).
Eu, sempre que vou em velórios e enterros, acabo rindo ou segurando o riso. Nunca tinha chorado a morte de alguém apenas rido.
Meu tio estava bem doente, sabíamos que ele partiria em breve e ele foi um dos poucos que tive contato desde muito cedo, já que minha família é natural de Alagoas e eu moro em SP.
Quando minha mãe contou sobre a morte de meu tio, eu abri um sorriso, tomei meu café da manhã e fui escovar os dentes para ir ao trabalho.
Então chorei. Não sei até hoje o motivo, mas chorei.
Fui chorando por metade do caminho e quando sentei na mesa para trabalhar, jurei que aguentaria. Bastava encher a cabeça de trabalho e não conversar muito.
Mas assim que sentei, retirei os fones e me falaram brincando "Eu disse oi, tudo bem?"
Eu abri um sorriso, explodi em choro e disse que não estava nada bem.
Minha coordenadora me arrancou da sala e mandou para casa. Passei o caminho chorando, em silêncio, sem entender.
Então fica a homenagem ao meu tio, o mesmo cara que escuto a voz carinhosa chamando minha prima, lembro do riso e das birras dele. O mesmo cara que fui visitar no hospital menos de cinco dias antes de partir, o mesmo cara que eu não tive coragem de dizer que amava, mas que amo.
Para quem aguentou ler até aqui, lembre-se: Cada um tem uma reação para a morte, a sua não está errada, a de ninguém está.
Se você não consegue dizer que ama, não se preocupe, não é sempre algo fácil, mas o coração sempre sabe como falar.
Obrigada por lerem, desculpe a bad.
Os próximos capítulos serão a reta final e terá festinha de Veruca Salt. Estou pensando em um Willy Wonka louco como minha mãe na ceia de Natal, quando tudo parece que não vai sair a tempo.


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