Em 1870, tudo era tranquilo, até a noite do dia 9 de outubro na igreja ortodoxa Mariana do Carmo, na cidade chamada Martíria.
Eu estava lá. Eu ouvi todos gritando por ajuda, implorando para que o Deus, a quem rezavam naquela noite os tivesse piedade. Lembro como se eu ainda estivesse lá.
Agora, 130 anos depois, em 2010, tudo está tão diferente, e não estou falando do tempo que se passou, mas sim, do caráter dessas pessoas que observo há anos, que diminuiu com o tempo.
E meu Deus, o que somos nessa vida? Você pode colocar o pé para o lado de fora da sua casa, na sua calçada, e simplesmente morrer! Somos tão pequenos perto da imensidão do universo.
Como por exemplo, na noite da tragédia. Quem entre aquelas 30 pessoas iria saber que todos iam a igreja rezar e cantar os famosos cantos de louvor e acabariam morrendo em agonia e ardendo em chamas como se estivessem no próprio inferno?
Ninguém nunca espera pela morte, ela não é ruim como a grande maioria das pessoas pensa. Ela é lenta, vem devagar, com muita calma, como se tivesse uma vida inteira para fazer seu trabalho.
Quando você comete suicídio, você não o faz sozinho, quem te influência é a morte. Você quer aquilo, quer sentir ela tomando contado seu ser e roubando sua alma para levar a um destino que só ela sabe. Talvez você não queira por completo, mas o ego infla e você acaba não ouvindo seu coração e vai ao encontro dessa doçura chamada Morte.
Em minha mente, algumas pessoas já sabiam o que ia acontecer, como por exemplo, o próprio padre:
“Caros irmãos e irmãs, talvez tudo o que iremos pregar aqui, nesta noite de belas estrelas e de lua maravilhosa, será em vão.”
Ainda lembro-me dessas palavras, elas tinham me deixado tão preocupada, parei para pensar e achei que poderia estar falando da questão de sermos todos pecadores, e que íamos sair daquela igreja e voltar a pecar, e aquele pensamento me tranquilizou (durante segundos).
Olhei em volta, fiquei chocada com o que vi: com exceção do padre e eu, todos olhavam para o teto. Tentei me levantar e correr ou ir até o padre, porém, só tentei. Era como se alguma força me segurasse naquele banco.
Fitei minha mãe, e assim como todas as outras pessoas, estava aparentemente enfeitiçada, em uma espécie de transe, olhando para a pintura sob suas cabeças.
Lembro que o padre me encarava como se quisesse me ordenar a fazer o que todos faziam, ele falava palavras com muita rapidez, eu não conseguia entender, querendo chamar, ou melhor, invocar algo ou alguém para aquele local.
Era algo relacionado a “fogo que vem”, “fogo do senhor” ou até “fogo divino”. O homem de aparência cansada segurava com a mão esquerda um tipo de barra ou bastão com um símbolo muito bonito na ponta, parecia uma flor ou uma estrela, não conseguia enxergar direito em meio ao meu pavor. A outra mão estava levantada, como quem diz pare, mas sinto que a mão dele induzia a continuação daquilo que eu acreditava ser um pesadelo terrível.
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