História O Melhor Maknae - Obliviate

“Não podia ser verdade. Era um sonho. Tudo isso não passa de um sonho estúpido. É completamente impossível. Certo?”

Taemin

            Eu nunca senti tanto prazer em responder a uma pergunta em toda a minha vida. Sentia como se eu tivesse todos os ‘às’ debaixo das minhas mangas. Não todas as cartas do baralho, mas todas as que eu precisava pra vencer aquele jogo. Eu estava cansado, eu mal esperava a hora de a tela anunciar “game over”.

- Portas servem para serem fechadas – foi o que eu disse.

            Yibo estacou. Empalideceu como uma estátua.

            Seungyeon olhou para ele, com um olhar pasmo no rosto. A incredulidade espalhada por toda a sua face. Você já sentiu prazer em provocar determinadas expressões? Sensações?

            Eu me sentia satisfeito. Completo.

            Eu já tinha ganhado o jogo. Disso eu tinha absoluta certeza.

Luizy

            Era mentira.

            Tinha de ser. Porque não podia ser verdade.

            Partindo dessa constatação eu tinha pelo menos duas opções: a) eu tinha ouvido errado, ou b) eu estou apenas sonhando.

- É isso mesmo que vocês ouviram – disse Taemin com um estranho sorriso de lado estampado em seu rosto – eu vi. E não eu não contei a melhor parte ainda. Será que vocês querem a ouvir? Oh, por que não iriam, não é?

- O que você fez seu... – disse Yibo, mas Taemin apenas ergueu uma das mãos que estava em seu bolso para mostrar a nós uma interessante gravação.

            Eu não podia acreditar.

- O que você fez? – perguntou Yibo empurrando o ombro de Taemin – que direito você tinha?

- Não adianta se exaltar – disse Taemin batendo na mão dele – essa aqui é apenas uma cópia. Pode até ficar com ela se quiser. Aproveita e dá uma olhada nela primeiro. Depois nós voltamos a conversar.

- O que você tá querendo com isso? – rebateu Yibo – Vai, fala logo!

- Você pode... Por favor, me deixar dar uma olhada nisso? – pedi com a voz tremida, sentindo minhas cordas vocais trepidarem.

            Taemin estendeu o pen drive em minha direção.

            “- Nada disso tem valor, ou muda alguma coisa porque eu seria capaz de te amar acima de qualquer coisa. Eu ainda carrego comigo essa confusão que eu descobri ser o amor... Por você Seung.”

“- O que você disse Yibo?”

“- Eu disse que te amo no sentido mais amplo da palavra”

            A gravação acabava nesse momento.

- Como vocês devem prever eu tenho algumas exigências em torno desse áudio.

- E o que é que você quer em Taemin? – bradou Yibo completamente exaltado

- Nada demais não se preocupem. Por hora, quero que vocês parem com essa sacanagem. E claro me deixem ganhar esse jogo, afinal vocês dois já ganharam tudo não é?

            Fiquei sem chão. Eu queria apenas me esquecer de tudo que estava acontecendo. Queria que magia existisse e alguém lançasse um feitiço obliviate sobre mim. Não me importaria de ter essas memórias comprometidas ou roubadas. Eu as cederia de bom gosto.

            Ás vezes não saber o que está acontecendo é uma grande dádiva, porque sinceramente a ignorância não é de todo ruim. Não quando a verdade é uma realidade devastadora.

            Mas, há algo que eu devo admitir, eu fui o principal culpado. Eu devia ter sido mais duro, e enquanto meu coração não se decidisse eu deveria ter sido frio e ficado longe de problemas. Infelizmente não foi o que eu fiz.

            Eu fiquei em cima do muro. Os fatos eram inegáveis. Eu não podia mais mentir. Tanto Yibo quanto Taemin gostavam de mim e se odiavam pelo mesmo motivo. Coisa que eu poderia ter evitado se não lhes desse esperanças.

            Eu estava sofrendo as consequências dos meus atos.

- Não há mais com o que se preocuparem, pois eu vou sair do programa – anunciei com a voz o mais firme que eu podia.

Yibo

            Eu não podia permitir uma coisa dessas!

            Não depois de tudo que Luizy fez para que esse programa continuasse em andamento, depois de ele ter ficado ferido e ainda assim ter continuado firme. Eu não posso deixa-lo desistir agora.

            Não faz sentido. Por que ele faria uma coisa dessas?

            Apenas para não ter que ceder às chantagens de Taemin? Será que de repente ele tinha um plano? Será que era apenas um blefe?

            Eu não tinha as respostas que buscava.

            Eu não as teria tão cedo.

            Seung fez uma careta e deu meia volta, deixando a mim e a Taemin para trás. Nós não lhe dissemos nada, tão pouco conseguimos o impedir de sair e entrar pra dentro da mansão.

            Ele nem nos deu tempo.

            Mas, quando estava a um passo da porta, ele se virou para nós para dizer uma última coisa:

- Não me procurem, pois eu não quero falar com ninguém e também não tentem me impedir porque será inútil. Eu já tomei a minha decisão.

            Observei a silhueta dele desaparecendo e era como se uma densa névoa se instalasse por todo o local. Eu havia sido acometido por uma baixa visibilidade e cada passo que eu dava já não me levavam a lugar algum. Visibilidade comprometida: eu só conseguia tropeçar por um caminho estranho.

            Estranho... É exatamente assim que eu me sinto.

            Não só pelo fato de ter essa sensação de estar meio perdido, sem ter um rumo.

            Mas, é porque me sinto culpado. Luizy confiou em mim e em Taemin. E agora ele estava decepcionado.

            Se eu pudesse voltar no tempo, eu teria sido mais cuidadoso em muitos aspectos. A começar por me lembrar da importância de manter portas fechadas.

Luizy

            Poxa, eu me sentia traído. Era como se alguém pegasse e enfiasse uma faca pelas minhas costas. Eu não esperava que Taemin fosse chegar tão longe apenas para atingir Yibo. Ele nem tinha se dado conta de como havia me atingido junto nesse processo. Agora que eu tomei uma atitude drástica acredito finalmente tenha caído a ficha.

            Infelizmente no caso dele, eu acredito que agora já seja tarde demais.

            Eu estava completamente cansado de todo aquela situação. Eu não era um prêmio ou algum tipo de recompensa que eles podiam ganhar se vencessem a competição. Eu não era algum tipo de objeto.

            Quem eles estavam pensando que eu fosse?

            Se eu estava revoltado? Óbvio que sim, se coloque no meu lugar.

            Eu só queria arrumar as minhas malas e sair. Mas, é claro que não ia ser tão fácil assim...

            Cheguei a meu quarto joguei as malas na cama e comecei a colocar todas as roupas e os meus pertences dentro. Senti a porta atrás de mim se abrindo, mas sequer me virei para ver quem era. Eu só queria arrumar minhas coisas o mais rápido possível, sair dali e rescindir o contrato independente da multa que eu teria que pagar por causa disso.

- O que você pensa que estava fazendo Seungyeon? – reconheci a voz de Wenhan.

- Parece bastante óbvio o que eu estou fazendo, em minha opinião.

            O vi surgir diante de mim, puxando meu pulso para que eu o olhasse de volta.

- Você entendeu muito bem a minha pergunta.

- Caramba me deixa Wenhan! Eu não preciso da sua opinião sobre isso tá legal? Eu já tomei a minha decisão, eu vou deixar o programa e não há nada que você possa fazer em relação a isso. Então, não piore as coisas pra você e saia.

            Eu podia ver os olhos de Wenhan se revirando com a minha visão periférica. Ele soltou meu pulso em desistência e saiu.

            Eu só não podia prever o que ele estava pensando quando fez isso. Afinal por que ele cederia tão facilmente assim a um pedido meu?

            Será que eu estava tão furioso que consegui assustá-lo, ou ele apenas me considerou um caso perdido e desistiu?

            Acho que no fim das contas eu sempre fui esse tipo de pessoa, que apenas despeja toda a sua raiva nas pessoas erradas. Quando eu estou ferido eu não me contento em ficar ferido sozinho, eu começo a ferir qualquer um que aparece no meu caminho junto. Mas, caramba é exatamente por esse motivo que eu peço as pessoas pra me deixarem sozinho, por que elas insistem tanto?

            Eu preciso esfriar a cabeça...

            Sento na cama e bagunço os meus cabelos, deixo meus cotovelos apoiados nas minhas pernas e encaro o tapete.

            Eu apenas queria encontrar alguém que pudesse me tratar bem, que me aceitasse do jeito que eu sou. Mesmo que eu seja falante demais para os padrões coreanos.

            Ser homossexual apenas piorava as coisas pra mim.

            Talvez não houvesse uma metade, alguém que um dia me completaria e com quem eu poderia ser feliz. Talvez eu apenas passasse o resto da minha vida sozinho, sendo um Idol e apesar de todos os treinos exaustivos e uma agenda lotada ganhando uma boa grana e fingindo ser feliz.

            Mas, por dentro eu penso todos os dias que eu apenas queria alguém pra estar ao meu lado. E é tão triste pensar que talvez eu espere a minha vida inteira por algo que nunca vai acontecer...

            Consigo sentir um par de lágrimas solitárias escorrendo pelo meu rosto.

            Parece que no fim das contas também não tem ninguém aqui por mim pra dizer que vai ficar tudo bem. Mas, eu tento me convencer disso apesar de tudo. Sabe um dia de alguma forma vai ficar tudo bem.

            Mas, enquanto isso eu apenas sigo em frente. Meio cansado talvez, embora eu já tenha feito a minha escolha: apenas seguir em frente, indiferente do que aconteça: sempre.

            Apesar de eu não conseguir apagar as minhas memórias eu ia as soterrando e escondendo conforme dava.

Narradora

            Wenhan tinha um plano. Mas, ele sabia que não ia conseguir executar ele sozinho e que também precisava descobrir o motivo do porque Luizy queria desistir do programa.

            Não foi muito difícil imaginar o que podia ter acontecido quando ele passou pelo corredor e avistou pela janela Taemin e Yibo feito duas estátuas lá fora. Apenas para garantir que estava certo ele foi até lá trocar umas palavrinhas com eles.

- Perderam alguma coisa aí? – ele perguntou aos dois.

- Perdi – respondeu Yibo fechando a cara – a dignidade.

            Yibo fechou os punhos e começou a caminhar até a entrada.

- Então...? – perguntou Wenhan a Taemin

- Então o que? – perguntou Taemin

- O que é que disseram a Seungyeon?

- Nada demais

- É parece bem convincente

- Não sei do que está falando

- Você quer não saber, mas você sabe sim Taemin, apenas admita

- Você sabe ser irritante né?

- Dizem que sim... Mas, você também se irrita fácil.

- Talvez tenha me dado motivos pra isso – Taemin disse chutando uma pedrinha aleatória

            Wenhan o observou um pouco em silêncio.

- Ainda dá tempo – Wen disse por fim e Taemin ergueu o olhar para ele

- Do que?

- Sabe, de voltar atrás. Seus olhos te condenam garoto. A culpa neles é palpável. Mas, se não era algo que você queria mexa esse traseiro e faça alguma coisa logo.

            Wen observou os olhos de Taemin se arregalarem e sentiu que seu trabalho por ali já havia terminado e por isso ele saiu o deixando sozinho.

            Ele precisava falar com Yixuan o mais breve possível.

Taemin

            Parabéns Taemin! Você já pode buscar o seu prêmio agora, seu grande idiota...

            Eu apenas não pensei na hora. Afinal de contas eu estava cego pela minha raiva.

            Eu queria atingir Yibo de qualquer maneira, e nesse processo acabei ferindo Luizy junto, o que no começo não importava, pois como eu disse eu estava puto. Acontece que as coisas nem sempre saem como a gente planeja não é mesmo?

            Isso me feriu de volta.

            Parece que estamos de volta a guerra de vidro da floresta. Acho que não consigo ferir Seung sem me ferir junto.

            Naquele dia eu tinha certeza de que nada voltaria a ser como era antes e eu estava certo. Acontece que o que tá ruim embora a gente não deseje sempre dá pra piorar.

            Talvez Wenhan esteja certo, talvez ainda dê tempo de eu fazer alguma coisa em relação a isso. Mas, ao mesmo tempo eu tenho medo de já ser tarde demais.

            Se eu ficar apenas parado aqui pensando no quanto eu fui idiota isso não vai mudar nada. Mas, se eu for até lá e tentar falar com Luizy alguma coisa pode acontecer, pode ser algo ruim ou pode ser algo bom, mas eu nunca vou saber se eu continuar aqui de braços cruzados.

            Então, é isso. Eu já azedei o leite. Mas, sei lá vai que dá pra reutilizar e fazer queijo?

             Enquanto ainda há uma batalha para ganhar ou perder, vamos lutar. A decisão final. A última rodada. Meu coração parece falhar uma batida.

            Em frente à porta do quarto em que Luizy está hospedado eu bato. E que bela surpresa não é girar o trinco e abri-la... Abri-la e querer obliviatar no mesmo momento àquela cena.