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História O Melhor Vem Após o Pior - Segunda parte


Escrita por: redrosess

Notas do Autor


Desculpem a demora, mas meu tempo livre está cada vez mais escasso😔 Bem, espero pelo menos não decepcionar vocês.

Ah! Vale lembrar que esta parte da história se passa uns quatro anos depois da anterior, que se desenvolve lá por 2006. Assim, vocês que são mais ligados em futebol verão alguns jogadores que já não pertencem mais ao Barça. Fiz isso para deixar a história mais real. Então, sem mais delongas, vamos lá!!!

Capítulo 2 - Segunda parte


(Messi)

 

Agarro a mão errante de Adriana e a coloco de volta no meu peito, sem me preocupar em desviar o olhar do filme passando na TV de tela grande. Adriana não aceita a derrota e mais uma vez deixa sua mão deslizar pelo meu corpo.

 

— Adriana, assista o filme.

 

— Leo — ela começa, fazendo beicinho enquanto se põe sobre meu corpo esticado no sofá —, sabe quanto tempo estamos juntos?

 

— Oito meses — respondo distraidamente, enquanto contenho sua mão determinada.

 

— Dez meses, Leo! — Adriana diz, irritada, sentando-se e me fazendo olhar diretamente nos seus olhos. — E você sabe quantas vezes nós fizemos sexo nesses dez meses?

 

Reviro meus olhos para o tópico que ela parece não querer deixar de lado.

 

— Zero — ela responde sua própria pergunta, claramente sabendo que eu não estou querendo participar do seu pequeno jogo. — Não é normal, você não está me dando o que eu preciso. Você sabe…

 

Deixo-a continuar em seu discurso, realmente não me preocupando com seus argumentos. Claro que eu finjo estar ouvindo. Balanço a cabeça e faço sons para sinalizar meu acordo com suas tagarelices, certificando-me de manter um olhar compreensivo no meu rosto. A verdade é que ela está dando cada vez mais nos meus nervos recentemente. Eu realmente só comecei a namorar Adriana para tirar todo mundo do meu pé em relação ao meu caso com Vera. Meus pais estavam preocupados que minha ex-esposa ainda estavesse em minha mente depois de quatro anos. Eles insistiram que o maior prejudicado com o fim do casamento era Vera, e não eu, frequentemente me aconselhando a seguir em frente. Meus companheiros de equipe sabem que eu já fui casado, mas nunca conheceram Vera. Constantemente me incomodavam para que eu voltasse a namorar. Então eu escolhi (erroneamente) Adriana, mas, pelo menos, finalmente consegui tirar todo mundo do meu pé. Agora, entretanto, Adriana quer levar nossa relação para o próximo nível e fazer sexo.

 

O problema é que eu não posso, tampouco faria mesmo que eu pudesse. A verdade que ninguém, mesmo meus pais, sabe é que eu ainda estou legalmente casado com Vera. Nos primeiros meses após o telefonema que me destruiu, eu estava certo de que ela iria entrar em contato comigo para procurar uma separação legal, mas com passar dos meses nada aconteceu. Por alguma razão pela qual eu ainda me repreendo, nunca tentei obter um divórcio. Uma pequena parte de mim ainda é o marido de Vera e, embora ela tenha me traído, eu não posso quebrar meus votos e ficar com outra mulher. Então eu tento manter Adriana feliz sem consumar o nosso relacionamento, e ela não se importava no início; mas agora é tudo o que ela fala. Eu sempre escutei que os caras tentam entrar nas calças das mulheres a todo custo, só que o oposto parece acontecer em meu caso com Adriana. Em toda oportunidade que tem, ela tenta convencer-me a fazer sexo. Ela já comprou lingeries, organizou noites romântica... já, inclusive, esperou-me nua em minha cama. Nada funcionou, porém. Tudo o que vejo quando olho para ela são as coisas que a diferenciam de Vera. Adriana não sorri como minha ex-esposa, nem anda, ri ou beija como a mesma. Adriana nunca foi mais de que um lembrete melancólico de que não posso mais ter Vera.

 

— Quero dizer, você age como um monge, droga! Eu não sou bonita o bastante? Você não me acha suficientemente atraente para fazer sexo? Leo? Você está ouvindo ao menos?

 

— Eu estou, querida — eu respondo automaticamente, olhando para o relógio do canto dos meus olhos. — E você é incrível. Eu realmente queria terminar esta conversa, mas tenho que ir.

 

 Adriana trabalha como atriz e aproveita para por sua faceta de tristeza em seu benefício. Mas não funciona.

 

— Năo quero ir, mas o ônibus para Madrid sai daqui a uma hora. — Inferno, hoje eu ainda tenho que ir a Madrid para jogar futebol. — Falamos quando eu voltar.

 

Extraindo-me de suas mãos, me ponho de pé, apanho meus equipamentos  e saio pela porta principal. Fico aliviado que eu vou ficar por três dias sem ter que lidar com Adriana a choramingar, porquanto o meu time de futebol estará em Madrid para a formação de um jogo contra o nosso rival, Real Madrid.

 

Estou seriamente tão ferrado que a única coisa que eu penso assim que entro em meu carro é que eu estou livre, por ora.

 

(Vera)

 

Eu não posso fazer isso, eu não posso fazer isso, eu não posso fazer isso! Eu penso freneticamente enquanto caminho para longe de meu modesto hotel em direção a um dos ricos bairros de Madrid. Nesta manhã, há poucos minutos eu estava tão segura de mim mesma, mas agora estou tão nervosa que esqueci do caminho e estou tendo que adivinhar. A longa viagem de minha casa, em Paris, para Madrid me deu muito tempo para pensar sobre a minha decisão e ver todas as suas lacunas, bem como perceber o que as minhas ações significam.

 

Depois de quatro anos de agonia e tortura, eu estou indo ver Lionel.

 

Não há alternativa para o meu problema. Eu não posso chamá-lo, já que seu número de telefone foi mudado, e eu, em hipótese alguma, ligaria para seus pais para pedir seu número. Compreensivelmente, eles não são muito amigáveis ​​para comigo depois que eu quebrei o coração do filho deles. A única opção, então, é ir encontrar Lionel pessoalmente, e logo que eu soube que ele vai jogar em Madrid, parti sem pensar muito ao encontro daquela que pode ser minha única chance de revê-lo em pessoa. Graças à ajuda de um site de fãs que seguiu cada movimento do FC Barcelona, eu sei o hotel onde Lionel está hospedado. Não foi difícil encontrar dito hotel, uma vez que há uma enorme multidão de adolescentes enlouquecidas de pé do lado de fora, com camisas do Barça e placas em mãos. Paro na esquina da rua e vejo como policiais escoltam a maioria das garotas histéricas para fora da propriedade do hotel. Eu balanço minha cabeça em desaprovação pela loucura dessas adolescentes desesperadas... e então franzo a testa e estreito os olhos quando eu vejo uma das adolescente com uma placa na qual está escrito "Case-se comigo, Messi!", com dezenas de pequenos corações envolta.

 

Uma pontada afiada de ciúme e possessão faz meus dedos fecharem-se em punhos. Pensei: "Lionel é meu!" Ele é meu marido, não? Mas o que estou falando?! A quem quero enganar? Eu logo relembro a mim mesma que ele não é mais meu. Eu o perdi e não há mais como recuperá-lo... Mas, ainda assim,  ele é meu marido, de fato. Ao longo dos anos, depois de meu telefonema horrível para ele, não deixei de me perguntar por que ele nunca me enviou papéis de divórcio. Lionel deve ter me odiado muito pelo que eu fiz para ele, no entanto ele nunca me contactou com pensamentos de separação. No meu caso, posso dizer que eu estava muito abatida e a ideia de que eu ainda poderia ter alguma reivindicação sobre um homem tão amoroso como Lionel sempre foi muito difícil de resistir.

 

A gritaria das meninas e dos policiais me faz voltar à realidade. Logo todo o barulho começa a fraquejar. De alguma forma, eu fiz minhas pernas avançarem, deixando para trás os policiais a esforçarem-se no intento de conter as dezenas de fãs, que não estão dispostas a perder a chance de ver seus ídolos em carne e osso.

 

Uma vez no lobby frio, eu hesito, não sabendo o que fazer em seguida. Eu não tenho ideia a respeito de qual quarto Lionel pode estar e não estou em condições de pedir ajuda a funcionários do hotel, que muito provavelmente me confundiriam com alguma das histéricas fangirls do lado de fora. Por outro lado, também não seria uma boa ideia bater em cada porta para encontrá-lo ou esperar no lobby até ele mostrar-se. O que tenho que fazer é voltar para o meu próprio hotel e, por mais frustrante que seja, deixar de lado essa ideia maluca de querer ver Lionel a qualquer custo. Não! Droga, não! Eu não vim de Paris até aqui para desistir tão em cima do meu objetivo! Empurro a pequena parte de mim que ansia por ver Lionel depois de tanto tempo e tomo uma respiração fortificante. Caminho para o balcão de recepção do hotel.

 

— Olá, estou aqui para ver Lionel Messi — digo, olhando diretamente nos olhos da recepcionista e agindo como se fosse um direito meu estar perguntando por alguém tão famoso.

Não é fácil falar em meu espanhol nativo depois de usar o francês por tanto tempo.

 

— Sinto muito, mas o senhor Messi não está esperando visitas.

 

— Como você sabe?

 

— Ele não deixou qualquer aviso a respeito — ela fala em tom de obviedade. — O senhor Messi não quer ser perturbado.

 

— Acredite, Lionel vai querer me ver — afirmo, usando seu primeiro nome para deixar claro que o conheço intimamente.

 

— Por favor, vá embora ou terei que chamar a segurança — a recepcionista ameaça, não me dando uma segunda olhada, como se estivesse esperando que eu realmente me retirasse depois disso. 

Sem chance, penso.

 

— Veja bem. — Aproximo-me da mulher e olho bem nos olhos dela. — Lionel não vai ficar feliz se ele ouvir que você me expulsou, então me diga qual é o número do quarto dele.

 

— Senhora, ou senhorita, é política do hotel; eu não posso deixar um desconhecido ir aos quartos sem qualquer autorização.

 

— Então, pelo menos ligue para ele no telefone do hotel e diga-lhe que Vera está aqui para vê-lo!

Eu mantenho a maior parte da minha exasperação em cheque, mas essa conversa está afetando meus nervos já frágeis.

 

— Eu sinto Muito...

 

— Por favor, ligue para ele...

 

 Deve ter havido desespero em minha voz porque a atendente pega meus olhos e depois assente. Ela toma o telefone e disca um número. O toque sem resposta na outra extremidade me faz querer morder minhas unhas.

 

Não muito tempo depois, uma voz soa do outro lado, e a mulher diante de mim diz: 

 

— Boa tarde, Sr. Villa. Sinto muito incomodá-lo, mas há uma jovem aqui que insiste em ver o Sr. Messi.

 

Passam para Lionel, porque eu ouço outro murmurar, e a recepcionista diz:

 

— Peço desculpas pelo incômodo, Sr. Messi, mas há alguém no saguão que gostaria de falar com você e tem a impressão de que você gostaria também.

 

Oh meu Deus, é ele! E ele está tão perto! 

 

Há uma pausa da recepcionista, antes de continuar:

 

— O nome dela é…

 

— Desculpe! — Uma cliente esbarra em mim e todos os papéis dela voam. Distraída pelo ato desajeitado da mulher, acabo não dando muita atenção ao momento em que a recepcionista fala no telefone "Fara", em vez de "Vera".

 

— Está tudo bem. Não foi nada — eu digo educadamente à mulher que acabou de esbarrar em mim, me inclinando para ajudar a reunir seus papéis e entregando-lhe no momento em que ela me pede desculpas mais uma vez, em seguida, voltando a tomar seu caminho. 

Minha concentração volta para a recepcionista, que acaba de desligar o telefone.

 

— O Sr. Messi não tem lembrança de você. — Eu estremeço ao escutar a recepcionista dizer isso. Doe saber que o levei a me esquecer. — Por favor, deixe nossas instalações antes que eu ligue para a segurança.

 

Eu balanço a cabeça e passo pelas pessoas ao redor, saindo do edifício. Eu me inclino contra uma das muitas árvores plantadas em frente ao hotel e tento não deixar as lágrimas saírem pela decepção que sinto.

 

Eu falhei miseravelmente. Mas não posso falhar! Fecho os olhos para me acalmar. Tenho que fazer isso, não há outra opção, pois uma vida depende disso!

 

Meus olhos brilham abertos, decisão bombeando em todo o meu corpo. Eu estava prestes a marchar direto para o hotel e exigir escandalosamente que eles me mostrassem o quarto de Lionel, mas, de repente, uma figura à minha esquerda chama minha atenção. Apoiando-me em uma árvore, eu limpo bem os olhos e me concentro na janela do hotel, no segundo andar. Estou certa de que eu acabei de ver David Villa. Na recepção, lembro, a funcionaria primeiro falou com Villa, depois com Lionel, o que me leva a crer que devem compartilhar um quarto. Minha sorte parece virar porque o próprio Lionel atravessa a janela que eu estou olhando. Eu tento ignorar o choque que meu coração recebe quando eu reconheço sua figura e agarro um galho de árvore, me erguendo. A dita árvore está praticamente encostada no hotel, então a trepando eu posso ser capaz de alcançar o quarto de Lionel. Sei que quem quer que me veja fazendo isso vai logo pensar que eu estou louca, mas eu preciso chegar a Lionel e essa parece ser a única maneira.

 

E eu faço tudo e qualquer coisa quando se trata da vida de alguém que eu amo!

 

(Messi)

 

— Ninguém mais me quer? — reclama David logo que desliga o telefone. — Toda vez que há uma fã é para você ou Geri, mas nunca para o velho David aqui.

 

— Não é verdade — eu nego.

 

— É sim! Será que ninguém mais acha isto sexy? — meu amigo diz, gesticulando para seu corpo enquanto flexiona sua musculatura abdominal.

 

Por minha vez, tento não rir dele porque não dá para saber se ele está realmente brincando.

 

— Você tem uma bela esposa e filhas, o que mais poderia querer? Elas lhe dão muito mais amor do que as fãs.

Eu tento esconder minha inveja enquanto olho para David. Seu casamento é o que o meu deveria ter sido; mas, em vez disso, eu estou preso a Adriana. "Pare de pensar no passado!" eu grito para mim mesmo. Porém, não consigo deixar de amaldiçoar Vera e depois desejar que eu ainda a tivesse.

 

— Você está certo — David concorda e mostra um sorriso pateta assim que pensa em suas mulheres.

 

— Não pareça tão presunçoso! — eu brinco enquanto abro a janela para arejar o quarto abafado.

 

—  Então, quando você vai amarrar o nó? Tem que se mover ou você vai perder seus anos de ouro. 

 

— Eu gosto da minha vida do jeito que está, obrigado.

Eu viro minhas costas para David, tentando evitar que ele veja o olhar abalado em meu rosto. As únicas pessoas que sabem do meu casamento com Vera, além de meus familiares, é claro, são os meus companheiros de equipe e eles pensam que eu já estou divorciado dela. Só que David se transferiu recentemente para o Barcelona, logo, ele não tem ideia do meu passado.

 

— A vida passa rápido, principalmente para nós futebolistas. Eu digo para você se estabelecer com... Adriana. 

 

David não soa muito convencido, e eu me viro para vê-lo esfregando a parte de trás de seu pescoço. Sinto que ele está envergonhado. Acho que não sou o único que vê que Adriana não é para mim.

 

— A vida de casado é maravilhosa — acrescenta rapidamente David, para ocultar sua pausa. — Você vai ver que...

 

— Eu vou tomar um banho — interrompo-o.

 

Não estou com cabeça para ouvir David falando sobre as maravilhas que eu pude ter brevemente, antes de ver tudo desmoronar feito um castelo de cartas. Fecho a porta atrás de mim e rasgo minha camisa com raiva. Agarro cada lado da pia e olho para o meu reflexo, odiando o que está olhando para mim. Por que diabos eu estou pensando tanto sobre Vera hoje?

 

Eu geralmente sou capaz de ofuscar a sua presença constante em minha mente, mas hoje isso está dominando tudo. Vamos, Leo, tenha pensamentos positivos... pensamentos positivos!  Droga! Vera e eu costumávamos amar assistir Peter Pan quando éramos crianças. Bato na minha cabeça com a palma da minha mão, sabendo o quão patético eu estou soando. "O que você precisa é de uma ducha fria para fazê-lo pensar em outras coisas", digo em pensamento. Eu desabotoo meu cinto e desfaço um dos botões do meu jeans. Em meio a isso, ouço um estrondo do outro quarto, seguido de vozes.

 

Com dois passos, abro a porta para encontrar David no chão com Vera ao seu lado.

 

(Vera)

 

O "desembarque" não saiu como planejado. Eu consegui tropeçar na borda da janela com uma perna já dentro e, em seguida, caí em cima de alguém. Olho para baixo para encontrar os olhos redondos e chocados de David Villa olhando para mim.

 

— Oh meu Deus, eu sinto muito. — Afasto-me dele e me ajoelho ao seu lado. — Eu machuquei você?  Realmente foi sem querer. 

 

— Eu estou bem — ele responde, realmente parecendo intrigado (e mesmo satisfeito) ao invés de enraivado, o que parece significar alguma vantagem para mim, dado que ele ainda não gritou por seguranças.

 

Abro a boca para dizer algo, mas um leve movimento para a direita me faz encontrar os olhos de ninguém menos que Lionel. Minha boca cai assim que o vejo parado, sem nada além de sua calça jeans. Seu abdômen de músculos bem definidos quase me faz babar. Eu não paro de me lembrar das vezes em que eu pus minha cabeça sobre seu tronco para dormir, segura em seus braços. Ele sempre esteve em forma, mas nossos anos separados transformaram seu corpo no paraíso!

 

Eu desvio meu olhar e focalizo em seu rosto, com um pouco de hesitação. Ele é magnífico. Seus cabelos castanhos agora estão curtos, como eu sempre quis que os deixasse, mostrando seus traços faciais. Meus olhos vagam pela fenda realçada em seu queixo antes de finalmente encontrar seus olhos. Seu olhar castanho parece mais escuro, quase preto, o que, eu sei, significa que ele está dominado por alguma onda de emoção. Seria choque, alegria? Ou... ódio? Depois de tanto tempo sem ver seus olhos, não consigo desviar-me deles. A eletricidade familiar parece chiar no ar, e eu me sinto atraída por ele, como um imã sem esperança. Meu sangue corre em minhas veias à toda velocidade, impulsionado por meu coração, que está bombeando tão forte que parece querer explodir para fora do meu peito.

 

— Leo! — exclama Villa, fazendo os meus olhos se inclinarem para a sua figura ainda deitada no chão, quebrando o momento. — Eu não perdi meu charme! Fui atacado por uma fã! 

 

Eu coro, e Lionel estala uma leve gargalhada para seu amigo enquanto se aproxima para ajudá-lo a levantar. Depois de uma pequena hesitação, ele estende sua mão para mim, mas eu não a pego, pois sei que um singelo toque seu me enviaria soluçando em seus braços.

 

— Sinto muito pela minha entrada.

 

— O que você está fazendo aqui, Vera? — Lionel vai direto ao ponto.

 

— Eu vim vê-lo — respondo, inconscientemente deixando meus olhos derivarem até sua calça desabotoada. Lionel percebe onde meus olhos estão e rapidamente fixa seu jeans, e eu, vermelha de vergonha, volto a virar o rosto, para deparar-me com um Villa muito confuso.

 

— Você conhece esta mulher? — Villa pergunta.

 

— Ela é minha esposa. — Lionel afirma de forma monótona, como se estivesse falando sobre o clima.

 

— Sua esposa? — repete Villa, alternando olhares entre Lionel e eu.

Imagino que o amigo de Lionel deve ter sentido a tensão no ar porque não demora a se encaminhar para a porta. 

 

— Acho que vou dar um passeio.

 

Assim que ficamos sozinhos, Lionel começa a me encarar friamente, sem dizer uma palavra. Ele parece gostar que eu fique desconfortável, como se estivesse me castigando. Sabendo que ele não vai quebrar o silêncio, eu digo: 

 

— Eu pensei que você tivesse se esquecido de mim.

 

— Eu nunca poderia esquecer você. — O pequeno sorriso que estava se formando em meu rosto abruptamente cai em suas próximas palavras: — A esposa que partiu meu coração sem uma palavra de explicação.

 

O pior foi ele ter dito isso como se não tivesse importância, como se eu significasse nada. Você merece isso Vera, eu penso. Mas não vou deixá-lo ver a minha dor.

 

— Então por que você não me deixou vê-lo antes? Na recepção, pedi para ligarem para você. 

 

Ele franze a testa, cruzando os braços e fazendo-me segurar um gemido.

 

— Eles disseram que era uma tal de Farra.

 

— Oh...

 

Traz-me orgulho saber que Lionel não me ignorou.

 

Ele baixa as mãos e caminha para o meu lado, circulando-me como um caçador com sua presa à vista. 

 

— Então você tomou as coisas em suas próprias mãos e decidiu escalar pela janela.

 

— Você fez a mesma coisa muitas vezes. Tenho que te lembrar que você passou pela janela do meu quarto na casa de meus pais muitas vezes para passar a noite comigo?

 

Lionel parece congelar por um segundo, diante da minha oração. Então ignora meu comentário e vai para atrás de mim, tão perto que eu posso sentir sua respiração fazer cócegas em minha pele.

 

— Por que você está aqui depois de quatro anos sem uma palavra, Vera?

 

Eu tremo ao sentir o peso de sua pergunta. Ele afasta-se de mim e volta para me encarar.

 

— O que você quer?

 

Eu respiro fundo e respondo:

 

— Eu quero o divórcio.

 

(Messi)

 

Sinto suas palavras como um soco no estômago. Eu deveria saber que esse dia chegaria. Dor e ódio elevam-se dentro de mim. Depois de todos esses anos sem palavras, ela decide vir me ver apenas para pedir divórcio?! Não mesmo! Pelo menos não antes de me dar a explicação que eu mereço!

 

— Você quer o divórcio? — eu repito para me dar um pouco mais de tempo para processar.

Em vez de responder, me envolvo no estudo de Vera. Eu absorvo cada curva suave de seu corpo de baixa estatura. Seus lábios parecem tão macios e beijáveis; como sempre, ela cortou seu cabelo castanho e liso de modo que fique caído em seu ombro. Seus olhos me seguram tão hipnotizado quanto antes. Aqueles orbes de tom castanho-claro com manchas de verde começam a me desafiar enquanto ela assente.

 

— Por que agora?

 

— É problema meu — responde.

 

— Ah, mas não é mesmo! — grito, agarrando seus braços e puxando-a para mim. 

 

Vera se enrijece quando ofereço minha mão para ela, assim como há pouco. Parece que eu não sou nem mesmo suficientemente importante para tocá-la.

 

— Depois de quatro malditos anos sem saber o que eu fiz de errado para afastá-la, acho que mereço saber por que você quer se divorciar de mim.

 

— Você não fez nada para me afastar! — Vera grita de volta.

 

— Então você apenas quis dormir com outro homem?! 

 

Olho-lhe com nojo enquanto deixo cair meus braços, antes em volta dela. Minha fúria morre assim que vejo Vera estremecer e envolver seus braços ao redor de si mesma.

 

— Por favor, Lionel... — diz em tom baixo.

 

Ela sempre foi a única a me chamar pelo meu nome, recusando-se a me chamar pelo meu apelido, e eu admito a mim mesmo que é bom ouvir meu nome de seus lábios.

 

— Apenas me dê o divórcio — continua.

 

— Por quê? — eu pergunto mais calmamente desta vez.

 

Vera ergue o olhar para mim e diz: 

 

— Preciso do dinheiro.

 

— Você está se divorciando de mim por meu dinheiro?

 

Fiquei chocado ao descobri-la no meu quarto de hotel, mas sua última declaração conseguiu me deixar no chão. A Vera que eu conheci nunca deu muita importância para bens materiais; mas, novamente, nunca pensei que ela me trairia. Uma agitação no corredor nos fez virar para a porta.

 

— O que você acha que ela quer? — diz a voz de Dani.

 

— Alguém sabe como ela é? — pergunta Pedro.

 

Bojan acrescenta:

 

— Será que ela subiu mesmo pela janela?

 

— Por que ninguém me disse que o Leo é casado? — David sussurra alto.

 

— Ele é divorciado — responde Pedro.

 

— Leo especificamente a apresentou como sua esposa — insiste David.

Eles estão seriamente tendo tal debate no corredor?

 

— Quem se importa! Caramba, eu não consigo ouvir nada! Vocês acham que eles estão fazendo sexo? — Geri questiona.

 

Essa última pergunta faz Vera e eu olharmos desconfortavelmente para longe um do outro. Ambos os nossos olhares pousam na cama. Limpo a garganta e vou até a porta, abrindo-a.

 

— Droga! — jura Pedro.

 

— Eu pensei que você estava indo dar um passeio, David? — questiono.

 

— Eu o fiz, de um lado para outro no corredor para dizer a todos que sua esposa está aqui — responde David, sem vergonha.

 

— Nós só queríamos dizer olá — explica Bojan, enquanto, ao mesmo tempo, tenta espreitar por cima do meu ombro para obter um vislumbre de Vera.

 

— Certo. — Suspiro e dou um passo para o lado. — Vocês podem muito bem entrar e conhecê-la.

 

Não há maneira de contornar essa situação, então... Pego uma camiseta sobressalente e puxo-a antes de eu ir para o lado de Vera e dizer a meus amigos: 

 

— Esta é minha esposa, Vera. 

 

Eles parecem visivelmente abalados pelo meu anúncio e também curiosos. Eu mesmo vejo Bojan dar a Vera um olhar apreciativo, para cima e para baixo, o que faz a minha mandíbula apertar.

 

— Olá — Vera diz e sorri, fazendo-me ciúmes por não ser eu o receptor do gesto.

 

— É ótimo finalmente conhecer você — Pedro declara e dá um passo à frente, apertando a mão de Vera em seguida.

 

— Desculpe por estarmos escutando atrás da porta — Bojan fala, e eu estreito-lhe meus olhos em advertência assim que percebo ele segurando a mão dela por muito tempo. 

 

Vera conhece o restante da equipe, sempre os cumprimentando com franqueza e alegria, tomando suas provocações em passos largos, mas quando chega a vez de Geri, ela tem a mais estranha reação.

 

— Leo deveria estar louco para deixá-la escapar — Geri  diz e pisca para ela, com um sorriso tipicamente sugestivo em seu rosto.

O sorriso de Vera não chega a seus olhos desta vez enquanto se aproxima de mim. Fico surpreso e satisfeito quando sinto sua mão levemente pegar a parte de trás da minha camisa como se ela precisasse saber fisicamente que eu estou ao seu lado.

 

— Vocês são encantadores — Vera responde, não deixando eles saberem mais nada sobre nossa vida privada.

 

Eu posso dizer que ela está nervosa de ter tantos futebolistas ao seu redor e parece estar perdendo um pouco de sua compostura. Espreita sob seus cílios em Bojan e Geri.

 

— É melhor eu ir — ela sussurra para mim, largando minha camisa e olhando para sua mão como se tivesse acabado de traí-la.

 

— Ainda temos muito para conversar — digo para ela. 

 

O fato de ela querer se divorciar de mim por dinheiro ainda não deixou minha cabeça.

 

— Venha para o meu hotel amanhã às sete — diz Vera, apressadamente caminhando até a porta. — É o Casa Hotel.

 

— Você não vai fugir de novo sem deixar respostas, vai? — pergunto, segurando seu cotovelo antes que ela pudesse desaparecer.

 

— Mesmo se eu quisesse, não poderia. Preciso do meu dinheiro.

 

Vera então me deixa com mais perguntas do que respostas. Por mais que eu a odeie pela tortura e pelo sofrimento que me causou ao longo desses últimos anos, eu continuo meditando em nossa última conversa e aquela pequena frase que ela deixou escapar. Vera disse que eu não causei nossa separação. Então, por que ela quer me deixar de novo? Além disso, por que tanta necessidade do dinheiro? A maneira como ela disse isso antes de sair fez parecer que estava com a intenção de me machucar para me manter longe da verdade, como se soubesse que ouvir que ela está interessada apenas em meu dinheiro me manteria afastado.

 

Eu estou cansado de segredos e amanhã eu estou indo para obter respostas.

 

No dia seguinte, o treino termina por volta das doze horas. Sem nada mais para fazer, decido ir para o hotel no qual Vera está hospedada. Eu preciso de respostas e não acho que conseguirei esperar até às sete para tê-las.

 

Eu faço o meu caminho para o seu hotel sem que ninguém me perceba, feliz por eu não ter que lidar com câmeras ou fãs no momento.

 

Viro a esquina e paro a poucos metros do hotel quando avisto Vera. Eu não não consigo conter a sensação de felicidade que começa a percorrer o meu coração apenas por vê-la. No momento, Vera está falando com uma mulher, que eu reconheço de nosso casamento. É sua tia excêntrica que vivia na França.

 

Ela era uma mulher solteira hilariante, que hoje deve ter uns quarenta e sete anos de idade, no máximo. Vera uma vez me disse que a ama como sua própria mãe. Eu estava ponderando sobre o que ela poderia estar fazendo aqui com Vera quando uma menininha passa por elas, vindo direto para mim.

 

— Luna, cuidado! — exclama Vera, sorrindo para a garota de cabelos claros, mais despreocupada do que jamais a vi. A menina tropeça na minha frente e aterrissa no chão, com força. Ajoelho-me rapidamente e ergo-a suavemente sobre as pernas. Eu vejo lágrimas em seus familiares olhos de tom castanho salpicados de verde, e, antes que eu pudesse fazer qualquer coisa, ela pula em meus braços e enterra a cabeça em meu peito. Meus olhos se arregalam, sinto meu corpo se derreter em ternura pela inocência que carrego em meus braços.

 

De pé, com a menina ainda sustentada com segurança em meus braços, eu me viro para enfrentar Vera, que se aproximou para verificar a criança machucada.

 

— Lionel! — Vera parece engasgar-se de espanto quando percebe que é eu.

 

— Você tem uma filha.

 Não é uma questão, mas um fato. É também um fato que Luna não pode ter mais de três anos de idade e seu cabelo é muito louro... ela é de Vera, mas não minha.

 



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