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História O Melhor Vem Após o Pior - Terceira parte


Escrita por: redrosess

Capítulo 3 - Terceira parte


 


(Vera)

Tento não deixar o pânico tomar conta de mim quando escuto a voz de Lionel. Oh, Deus! O que ele está fazendo aqui tão cedo?! Nosso compromisso seria às sete!

— O que você está fazendo aqui? — eu pergunto, com mais compostura do que realmente estou sentindo ter.

Esforço-me muito para ignorar o modo como meu peito se contrai ao ver minha filha nos braços de Lionel. Para mim, é tão linda a visão de um homem segurando uma criança. Luna parece tão pequena e está completamente confiante nele.

Normalmente, ela é lenta para ficar confortável com a companhia de estranhos, mas parece apresentar reação totalmente oposta perto de Lionel. Pego-me a imaginar o quão facilmente ela poderia amá-lo

Mas, o fato, depois de hoje Lionel irá desaparecer da minha vida, de uma vez por todas.

Agora, o encontro entre eles, face a face, é exatamente o que eu estava tentando evitar quando resolvi vir até aqui para falar com Lionel. Eu não tinha nenhuma intenção de deixar ele saber  da existência de Luna. Sei que isso irá feri-lo.

— Eu machuquei minha mão — Luna declara, alheia ao ar dramático entre Lionel e eu.

Ele parece totalmente concentrado na pequena pessoa que segura, mas volta a se focar no que está acontecendo. Segura a pequena mão de minha filha e observa-a.

— Que tal se eu beijasse sua mão para melhorar?

— Sim! — responde Luna, com um pequeno sorriso enquanto leva a mão ao rosto dele. Lionel sorri de volta e beija-a com grande ternura. — Obrigada. Eu sou Luna.

— Lionel.

Eles parecem presos em seu próprio pequeno mundo.

— Eu sei. Mamãe e eu vemos você na TV — Luna diz.

Neste momento Lionel me lança um olhar que me causa um rubor. Felizmente, minha tia corta esse momento um tanto embaraçoso:

— Leo! Que surpresa!

Ela fala-lhe sobre seu desapontamento por não ter recebido chamadas ou cartas por parte dele desde sua partida, há quatro anos.

— Sinto-me como um saco de batatas deixado de lado — ela brinca.

— Lela, algumas coisas inesperadas aconteceram naqueles dias — Lionel diz e olha para mim.

— Você realmente fez seus sonhos se tornarem realidade, hein? — minha tia continua. — Da última vez que eu o vi, ninguém sabia o seu nome, mas agora você é o assunto do mundo inteiro! Onde quer que eu vá, eu ouço Messi isso, ou Messi aquilo... Eu, é claro, vanglorio-me de ser a tia de sua ex-esposa.

Eu amo minha tia, mas às vezes ela consegue ser realmente embaraçosa.

— Posso contar um segredo a você? — Luna, não gostando de ser ignorada, chama a atenção de Lionel para ela.

— Eu adoraria ouvir — ele responde.

Minha filha se inclina e coloca as mãos nos ouvidos dele, sussurrando baixo demais para eu capturar as palavras. O que Luna diz a Lionel faz os olhos dele escurecerem. Ele então me encara com confusão.

— Eu prometo não dizer uma palavra a menos que você queira — ele jura seriamente a Luna, que olha para ele como se o mesmo fosse um herói.

Não gostando de onde isso está indo, eu ergo minha mão para minha filha.

— Querida, já chega de incomodar Lionel. Tenho certeza de que ele tem um monte de coisas para fazer. 

— Mas nós apenas começamos a ser amigos! — protesta Luna, segurando Lionel em volta do pescoço.

— O que você acha de irmos ao zoológico? Você sempre adora ir lá.

— Lionel pode vir! — grita Luna, fazendo meu estômago esfriar.

— Eu não acho que ele iria querer...

— Claro que eu gostaria. — Os olhos de Lionel brilham. — Sabe, eu gosto de zoológicos.

Seu olhar não deixa dúvida de que ele está pensando em uma certa visita ao zoológico na Argentina que foi o local do nosso primeiro beijo.

— Nós não vamos ver os tigres — eu murmuro sob minha respiração, mas eu juro que Lionel me ouve porque ele mostra um sorriso malicioso.

Ele coloca levemente Luna no chão, mas ela agarra sua mão e então caminha para mim como uma pequena princesa, até alcançar minha mão com a sua livre.

Precisando de apoio, eu silenciosamente peço a minha tia:

— Vamos.

— Estou me sentindo um pouco tonta. — Minha tia coloca a mão na própria testa. — Você se importaria se eu pulasse esse pequeno passeio?

"SIM!" eu grito por dentro.

— Tudo bem — eu respondo-lhe por fora.

— Muito obrigada, querida. Espero que vocês se divirtam!

Então é isso... Não tenho ninguém para livrar-me dessa enrascada. Minha filha puxa-me para a frente. Ela está muito alegre e, logicamente, não tem ideia do tormento que está trazendo para sua mãe.


(Messi)


— Vocês moram na França? — pergunto a Vera assim que paramos na frente da jaula dos macacos. Luna ri das brincadeiras dos animais, e Vera observa a filha com alegria. Eu sempre soube que Vera seria uma boa mãe, mas ver suas interações com Luna é algo lindo. Elas se amam muito, isso é certo. Eu me sinto como um intruso na rotina delas, mas ainda estou feliz por fazer parte dessa linda família, ao menos por um dia.

— Luna, tome cuidado — adverte Vera, enquanto sua filha, perto demais da jaula, brinca de imitar um dos macacos.

Vera então se vira para mim e vê que eu não vou ser dissuadido da verdade

— Mudei-me para a França alguns meses antes de eu ter Luna. Eu não poderia ficar na Argentina. Todas as lembranças de lá... — Ela morde os lábios desajeitadamente e então acrescenta: — Eu moro em um apartamento com minha tia, que me ajuda a cuidar de Luna quando estou trabalhando.

— Você ainda cria roupas?

Eu espero que sim, sinceramente. Não quero que ela tenha desistido de seus sonhos.

— Eu tenho uma pequena loja. Acabei de criar alguns modelos que vou mostrar na semana de moda de Nova York no próximo ano.

— Estou muito contente por isso.

Mas isso me traz a questão de por que ela precisa do meu dinheiro? Vera era uma mulher orgulhosa, e eu agora sei que ela também tem um negócio. Então o que ela pretende afinal?

— Apresse-se, mamãe! — grita Luna.

A pequena então corre ao redor de nós, e sua mãe, tentando não a derrubar, acaba tropeçando nas próprias pernas. Reflexivamente, eu agarro Vera pela cintura e trago-a para mim, mas ela coloca as duas mãos no meu peito e tenta afastar-se; eu não a deixo ir, porém. A respiração dela parece travar por uns três segundos, finalmente deixando seu corpo se moldar contra o meu, quase como se ela estivesse cedendo a uma sensação que tinha resistido por um longo tempo. Um breve momento passa e Vera balança a cabeça como se tentasse acordar de um transe, rapidamente dando alguns passos para trás.

— Lionel, mamãe, olhem o lobo! — Luna grita, muito alegremente. 

Vera vai para perto da filha na redondeza do cativeiro dos lobos, e eu a sigo a passos lentos. Não consigo deixar de pensar na possibilidade de Vera, minha querida Vera, ainda ter sentimentos por mim! Será que isso ainda é possível? Eu não estou vendo demais?

A rigidez de Vera logo desaparece e, graças à inocência de Luna, logo voltamos a rir e usufruir o momento. Visitamos todos os animais, dos répteis, que amedrontaram Luna e fizeram com que ela procurasse minha mão por proteção, passando pela simpatia dos pinguins, cujos movimentos aparentemente desengonçados arrancaram muitas gargalhadas de Vera e sua filha, até a imponência hipnotizante dos tigres. Por volta das cinco horas, decidimos fazer compras de algumas lembranças desse prazeroso passeio antes de comermos algo. 

Em um certo momento, Vera confiantemente deixa sua filha sob meus cuidados.

— Quero encontrar uma lembrança para que você não me esqueça — diz Luna assim que ficamos sozinhos.

— Eu nunca esquecerei você, pequena. Mas, se você quiser, podemos fazer assim: eu lhe consigo uma lembrancinha, e você procura algo especial para sua mãe. O que acha? 

De nenhuma maneira que eu vou esquecer este dia. Está sendo um dos momentos mais feliz e mais gratificante que eu estou passando em um longo tempo.

— Sim!


(Vera)


Lionel, Luna, e eu estamos sentados em uma das mesas do lado de fora, tendo um agradabilíssimo almoço à constante brisa neste dia ensolarado. Acho que devemos parecer uma família perfeita para quem nos vê de fora. Mesmo depois de tanto tempo separada de Lionel, eu ainda me sinto muito relaxada ao lado dele, uma sensação de paz que me leva à época em que éramos ainda dois adolescentes apaixonados. Lembro que nossa sincronia era algo para ser estudado. E, ao menos é o que parece neste dia que estamos compartilhando, nem tudo que construímos se perdeu depois da separação. 

É tão natural e esquisito ao mesmo tempo. Lionel ainda me passa o sal sem eu ter que pedir, e eu continuo sabendo dos pratos que ele mais gosta, sendo que eu fiz os pedidos. Estou tentando me rebelar contra a ideia de que pareça tão certo estarmos juntos. Nós três agimos como uma família. Eu mesma noto que Lionel está mantendo um olhar atento sobre Luna enquanto ela brinca com o pinguim de pelúcia que ele lhe deu. Lionel será um grande pai, e eu realmente queria que Luna tivesse sido dele. 

— Posso saber por que você está vestindo essa horrível camiseta? — eu digo a Lionel, sem conseguir conter uma risada ao ver sua camisa cor de rosa que diz: 'Dá-me um abraço de urso!' 

Lionel olha para mim como se eu fosse a estranha da história, segura sua camisa como se estivesse orgulhoso de usá-la e responde: 

— Esta camisa é linda! Você deve ser cega. 

— Sim mamãe, eu escolhi para ele — Luna diz orgulhosamente.

— Você tem o grande senso de moda da sua mãe. Acho que de agora em diante você será a responsável por me vestir — Lionel brinca antes de comer algumas batatas fritas, e eu resisto a olhar para seus lábios com grande dificuldade. 

— Você não vai dar à mamãe o presente dela? — Luna pergunta, vindo ficar bem ao meu lado, seus braços apoiados nos meus joelhos. 

— Eu quase esqueci. — Lionel enfia a mão no bolso de trás e estende um pequeno item embrulhado em uma bolsa de plástico. — Isso é para você.

Meu coração acelera enquanto meus dedos deslizam pelo presente. Para que Lionel não consiga ver a emoção em meu rosto, mantenho meus olhos na lembrança antes de desembrulhá-la. Deparo-me com uma pulseira cujos detalhes lembram a pelagem dos tigres. Eu dou a Lionel um olhar de agradecimento enquanto Luna pula e diz que ela escolheu a lembrancinha para mim. 

— Deixe-me colocá-la — pede Lionel, tomando uma de minhas mãos e circundando-a​ com a pulseira. 

Eu realmente espero que ele não sinta meu pulso a um milhão de milhas por hora.

— E aí, gostou? — ele pergunta.

— S-sim.  É um bracelete adorável, embora seja um tanto diferente.

— Luna que insistiu que eu o comprasse.

Só pelo brilho nos olhos dele eu pego sua mentira. Reviro meus olhos e falo:

— Isso mesmo, culpe uma criança de três anos...

Permanecemos sob um breve momento confortável de silêncio. Neste momento, Luna sai de perto da mesa e começa a perseguir alguns pássaros que tinham pousado, tentando fazê-los voar.

— Quem é o pai de Luna? — Lionel pergunta de repente, fazendo-me congelar, minhas mãos visivelmente trêmulas.

— D-Desculpe-me?

— É aquele homem com quem você dormiu quando me ligou, não é? — Lionel responde com civilidade forçada.

— Sim... seu nome era Juan...  — eu digo, sentindo náuseas só por mencionar esse nome.

— O que aconteceu com ele?

— Ele foi embora — respondo, uma grande subavaliação e evasão da verdade.

— Eu sinto muito.

— Mas eu não.

As sobrancelhas de Lionel levantam-se, surpresas com minha afirmação, mas eu não estou a ponto de elaborar sobre isso. A determinação inunda seus olhos, e eu me preparo para a próxima questão, sabendo que ele está prestes a perguntar por que eu o deixei. No entanto, antes de fazer sua pergunta, Lionel é distraído por algo atrás de mim. Quando eu me viro, descubro que há alguns homens com câmeras no meio dos arbustos perto de nós.

— Droga! — esbraveja Lionel.

— São os paparazzi? — pergunto ao mesmo tempo.

— Venha — diz ele, apressando-se para Luna e pegando-a no colo sem esforço.

Ele então se vira para mim, pegando minha mão também. Depois, vamos correndo pela calçada.

— O que estamos fazendo?! — grito quando passamos pelas jaulas dos tigres.

— Correndo!

— SIM! Isso é muito divertido! — Luna grita inocentemente enquanto levanta as mãos no ar.

Atrás de nós, eu posso ver mais de uma dúzia de pessoas com câmeras nos seguindo.

— Isso é loucura! — eu grito, mas eu logo rio de alegria, enquanto corremos da multidão de loucos atrás de nós.

Ainda de mãos dadas, Lionel e eu corremos para fora do zoológico, encontrando os olhos um do outro no estalar da velocidade, a liberdade bombeando pelas nossas veias. Lionel me puxa para a esquerda, para um dos becos das redondezas.

— Eu acho que nos livramos dele — Lionel diz, e de alguma forma encontro-me encostada a uma parede, Lionel com uma mão perto da minha cabeça enquanto a outra segura a de Luna. Sinto sua respiração bem perto do meu rosto, uma posição que dispara de vez a chama que só ele é capaz de acender em mim. Lionel não respira muito para um homem que acabou de correr com uma criança em seus braços. Eu jogo minha cabeça para trás e rio.

— Vamos fazer isso de novo! — diz Luna, batendo palmas.

(Messi)

Durante o trajeto de táxi de volta ao hotel de Vera, não pude tirar da cabeça as imagens dela rindo de forma tão adorável e descontraída. Finalmente, ela agiu e pareceu com a Vera que eu conheci poucos anos atrás. Ela parece tão mais relaxada com a minha presença que até me deixou entrar em sua casa para colocar Luna na cama. 

Observo quando Vera beija a cabeça de sua filha e sorri amorosamente para ela antes de se aproximar de mim e dizer:

— Eu vou encontrá-lo na sala.

Ela percebe que eu ainda tenho muitas perguntas para ela.

— Você tem que ir? — diz Luna na minha direção, enquanto se aconchega perto do bicho de pelúcia que eu escolhi para ela. — Você não pode ficar para sempre?

— Não querida, desculpe — respondo sua pergunta inocente, rindo e passando uma de minhas mãos sobre seu cabelo.

— Eu queria que você fosse meu pai. Eu não tenho um pai e realmente gostaria de ter um — ela confidencia com tristeza.

— Eu queria poder ser seu pai também...

Meu deus, como essa garotinha atravessou tão rapidamente as barreiras do meu coração?!

— Você virá me visitar? — diz Luna.

— Se a sua mãe permitir.

— Espero que sim. — Os olhos de Luna brilham de amor quando ela declara: — Eu tive o melhor dia de todos! E eu te amo, Lionel!

— Eu também te amo.

Minha garganta aperta-se, então eu me inclino e beijo sua bochecha. 

— Boa noite, Luna.

 Antes de eu poder me endireitar, ela joga o braço em volta do meu pescoço e me aproxima para que ela me dê um beijo na bochecha.

— Boa noite! Ah, e você pode dizer a mamãe o segredo, se você quiser.

Após isso, Vera chama sua tia para o quarto de Luna.

— É bom vê-la novamente, Lela — eu digo à tia de Vera enquanto a mesma arranja um lugar ao lado da cama de Luna, para cuidar da menina enquanto Vera e eu vamos conversar em outro cômodo.

— É bom rever você também, querido. Não seja mal educado e me ligue a qualquer momento que você quiser.

Eu sorrio e rapidamente saio da sala, sentindo que tinha deixado a maior parte do meu coração com Luna.

— Eu tenho os papéis de divórcio — afirma Vera, sem perder tempo quando entramos na sala de estar deserta. Ela se senta no sofá e põe os documentos sobre a mesa de centro.  — Tudo o que você precisa fazer é assinar e você nunca mais terá que me ver novamente.

— Isso não é o que eu quero. — Eu me ajoelho na frente dela e vejo seus ombros caírem.  — E eu não acho que é o que você quer também.

— Lionel, por favor — ela implora, não encontrando meus olhos.

— Não — eu nego, não querendo mais aceitar besteiras e meias verdades. Agarro seu queixo e faço ela se concentrar em mim. — Você sabe o que eu penso, não é? Eu acho que você nunca deixou de me amar. Mas o que não entendo é por que você me deixou há quatro anos.

— Eu simplesmente não te merecia mais. Eu não era pura! — ela exclama, afastando-se do meu contato e explodindo em lágrimas.

— Vera...

— Lionel, naquela noite que eu te liguei... eu havia sido estuprada.

O mundo caiu à minha volta.


(Vera)


Eis que escapa a verdade que eu tanto estive querendo dizer a ele ao longo dos anos. Coloco minhas mãos sobre o meu rosto, não querendo ver o olhar de piedade de Lionel. Exatamente por isso eu mantive esse segredo por tanto tempo, eu sabia que ele nunca mais me olharia do mesmo jeito.

As lágrimas deslizam por meu rosto sem parar, e quando Lionel me puxa para seus braços quentes e seu cheiro familiar envolve-me, eu deixo todas as minhas emoções fluírem. Depois de alguns minutos, eu me sinto um pouco melhor graças aos sussurros suaves de Lionel dizendo-me que estou segura agora. Eu o ouço me pedir para contar sobre essa noite. Eu ainda estou hesitante, pois eu já sentia como se tivesse conseguido superar esse momento amargo. Eu realmente não queria mais pensar nisso; no entanto, eu preciso dizer toda a verdade a Lionel, eu lhe devo isso.

Lionel sentou-se ao meu lado, abraçando-me no colo. Depois de respirar fundo, começo a relatar aquela noite na Argentina:

— Eu saí para um clube qualquer naquela noite, quando você estava aqui na Espanha. Eu estava tão sozinha e precisava de um pouco de barulho. Assim, conheci Juan. Ele era bonito e parecia ser legal, mas acho que, no fundo, eu sabia que ele era perigoso desde o início; no entanto, ignorei minha intuição e deixei ele se aproximar. Ele me levou para casa e, chegando lá, se convidou para entrar, começando a me beijar, agindo como se fossemos um casal que se conhecia por muito tempo. — Respiro fundo outra vez, e Lionel aperta minha mão para me conscientizar de que não estou sozinha como naquela noite. — Ele disse para eu esquecer minhas hesitações para termos aquela noite, mas eu o afastei de mim e disse-lhe que eu não era esse tipo de pessoa. Eu falei que eu era casada e não estava disposta a enganar você, Lionel. Entretanto, isso só deixou Juan irritado. Lutei contra ele o mais forte que eu pude, eu juro, mas ele era muito forte!

A lembrança do corpo rude de Juan me pressionando contra o chão, me sufocando com seu peso, me domina, mas o suporte de Lionel me traz de volta do precipício.

— Esse bastardo! — Lionel jura alto.

— Depois, não contei a ninguém além da polícia. Eu queria Juan atrás das grades para que ele não pudesse machucar mais ninguém. Eu lhe disse a verdade antes, ele foi embora, mas para a prisão.

— Foi por isso que você teve medo de Geri? Ele te lembra esse Juan?

Eu fico corada, mas concordo com um movimento de cabeça; depois digo:

— Aquele seu amigo tem a mesma altura de Juan, tal como seu corpo de modelo.

— Por que você não me falou sobre esse cara? — pergunta Lionel, com a voz entristecida. — Você não deveria ter feito disso um segredo​. Eu poderia ter ajudado você.

— Você também tinha seus sonhos. Eu não permitiria que você se afastasse dos seu objetivos para estar comigo. Eu também não sentia como se eu valesse a sua companhia depois de eu ter sido infiel, mesmo que tenha sido contra minha vontade. Eu não quis que você tivesse pena de mim e, quando descobri que estava grávida de Luna, eu resolvi me separar de uma vez de você... — Eu olho bem nos olhos de Lionel e agarro a parte de trás do pescoço dele. — Você não imagina o quão difícil foi tomar essa decisão.

— Você não deveria ter me deixado — Lionel lamenta antes de fazer outra pergunta: — Você pensou em abrir mão de Luna por algum momento?

— Para ser sincera, teve, sim, um momento em que eu quis fazer o aborto, mas então percebi que eu não podia culpar uma criança indefesa pelo crime daquele infeliz. Era difícil, mas eu sabia que podia aceitar a minha nova realidade. Luna é a verdadeira razão pela qual eu pude superar o que passou naquela noite. Quando eu finalmente disse aos meus pais o que aconteceu, eles me ajudaram a organizar minha mudança para Paris, para que eu ficasse longe de Juan. Pediram para minha tia me ajudar com Luna e ela assim fez. 

Eu olho para Lionel quase através de meus cílios e o vejo profundamente meditando. Fecho os olhos e inclino a cabeça contra o peito dele e então começo a ouvir o forte coração do homem que eu nunca deixei de amar.

— Você quer que eu te conte sobre o tal segredo de que Luna falou há pouco? — Lionel diz do nada. Eu aceno com a cabeça e ele continua: — Ela disse que você sempre parecia ficar triste quando me via na televisão. Palavras da menina: "Acho que minha mãe gosta de você, mas ela não sabe como te contar".

— Minha filha é uma criança muito esperta — eu murmuro.

— Isso ainda não explica por que você precisa do meu dinheiro.

— É para Luna, ela está doente.

— Não! — Lionel quase grita, mostrando claramente o seu medo genuíno pela minha filha. — O que ela tem?

— Ela está doente de leucemia e precisamos de dinheiro para o tratamento — digo, minha voz travando um pouco. Odeio pensar que o meu bebê está em perigo e não consigo suportar o fardo sozinha. — Eu não tenho dinheiro e tampouco tenho tempo para hesitar, então pensei em você. Eu juro que te pagarei cada centavo, mesmo que eu tenha que trabalhar só para isso durante o resto da minha vida.

— Não fale besteiras! — ele exclama, irritado. — Pagarei tudo que for preciso e não quero nem um centavo de volta.

— Obrigada — eu sussurro.

Lionel não diz nada em resposta, apenas me mantém em seu abraço. Ficamos quase estáticos por mais algum tempo, desfrutando do momento que nos traz os primeiros dias do nosso casamento, quando o mundo não estava contra nós.


(Messi)


— Mas que droga é essa?! — grita Adriana, invadindo minha sala de estar em Barcelona, ​​uma semana depois do meu dia com Vera e Luna. Ela joga no meu colo alguns jornais: são as imagens que os paparazzi conseguiram no zoológico. — Você está encontrando outra mulher?!

Tecnicamente, a própria Adriana é "a outra mulher", já que Vera e eu ainda estamos casados. Vera partiu para Paris no dia seguinte à nossa aventura no zoológico, com um cheque para o tratamento de Luna. Eu disse a ela que eu iria contatá-la com respeito aos papéis para a nossa separação. Contudo, a verdade é que eu ainda não me sinto pronto para dar fim a esse nosso laço, principalmente agora que conheço toda a verdade. Não sei o que fazer. A chance de eu ter minha família de volta parece tão concreta, mas a dúvida sobre Vera voltar a mentir para mim (mesmo que para me proteger) me impede de correr para ela.

— Você não me ama mais?! — grita Adriana enquanto se põe no meu colo e se pressiona contra mim. — E você tem uma filha sobre a qual não me falou?

Abro a boca para dizer-lhe que Luna não é minha, mas as palavras não saem.

— Lionel?

— Eu tenho que ir — eu digo, ignorando Adriana e partindo para a porta.

— Lionel! Volte aqui!

"Sem chance", penso, já dentro do meu carro.


(Vera)


— Você vai ficar bem, meu amor — asseguro a Luna enquanto esperamos no hospital para que ela seja chamada para seu primeiro dia de tratamento.

— Estou com medo, mamãe — diz Luna, agarrando o pinguim de pelúcia que ela se recusa a deixar de lado. — Eu queria que Lionel estivesse aqui.

— Oh querida, ele está...

— Aqui mesmo — vem uma voz masculina por trás de nós.

Nós duas nos voltamos para encontrar um Lionel desgrenhado. Com alegria, Luna salta nos braços de Lionel, que fica igualmente feliz em vê-la.

— O que você está fazendo aqui? — pergunto.

 Sem poder acreditar nos meus olhos, eu tenho que piscar um pouco para me certificar de que não estou alucinando.

— Eu vim para ficar com a minha família — ele declara.

Eu nem sei como reagir diante das palavras dele. Estou paralisada! E quando seus olhos castanhos encontram com intensidade os meus, fico perdida.

Ele caminha até mim, parando a polegadas do meu corpo, de modo que seu rosto quase encosta no meu.

— Alguém me perguntou se Luna é minha filha. E sabe de uma coisa? Eu não consegui dizer não, porque ela é sua, Vera, e você sempre foi minha.

Lionel posiciona seu braço livre ao redor da minha cintura enquanto ele ainda segura Luna. Então ele encontra meus lábios. Seu primeiro toque depois de tanto tempo me causa a sensação de voltar para casa. Totalmente rendida, aperto meu corpo contra o dele e inclino minha cabeça para que possamos nos beijar mais profundamente. Nosso beijo termina quando Luna joga os braços em nossos pescoços e exclama:

— Eu finalmente tenho um pai!



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