História O Mendigo e a Princesa - O Amanhã e a Verdade de Lucy

— O QUE VOCÊS ESTÃO FAZENDO? – Erza indagou indignada ao ver Jellal, Levy e Lucy adentrarem no local.

Natsu rapidamente se desvencilhou da ruiva e se levantou da cama da mesma. O rosado tentou sair, mas acabou barrado por Jellal, que sem pensar acabou lhe acertando um forte soco na cara.

— POR QUE FEZ ISSO? – Erza pareceu ainda mais irritada ao ver o amigo caído no chão com o lábio inferior cortado.

Toda aquela gritaria apenas atraiu o restante dos jovens que estavam na casa, já que a curiosidade acabou falando mais alto.

— Você nem mesmo segue suas próprias regras, como quer impô-las aos outros? – o rapaz de cabelos azuis indagou tomado pela indignação — E você sabe que ele é namorado da Levy, ainda assim fica se atirando para cima dele!

— Não é da sua conta o que eu faço ou o que deixo de fazer na minha vida! – a ruiva o respondeu de imediato, mas logo a discussão dos dois foi interrompida pela pequena que até então somente encarava o rosado sentado sobre o chão.

— Você está enganado Jellal... – Levy chamou a atenção de todos sem desviar os olhos do garoto que era para ser seu “namorado” — Natsu e eu não somos namorados... Nunca namoramos, sempre foi fingimento... Ele só queria causar ciúmes na Lucy... E creio que enganamos todos vocês.

A surpresa estava estampada na face de todos. E logo em seguida a pequena saiu do local, voltando para o próprio quarto.

Uma declaração aberta havia sido feita, e Natsu sabia que já não havia o que fazer. O rosado conseguiu acabar com tudo em relação à Levy, mesmo que não tenha sido com Lucy, mas sim com a Erza.

— Satisfeito? – a ruiva encarou à Jellal ao indagar.

— Nem um pouco! – o rapaz exclamou no mesmo tom da jovem — Será que só você não percebeu ainda? Todos os problemas e discussões que tivemos nessa viagem, esse moleque estava no meio! – explicou ao apontar para o rosado.

Natsu nada disse. O mesmo se levantou e então seguiu de volta para o próprio quarto, enquanto o restante do grupo apenas o encaravam sem saberem o que dizer.

Sentado sobre a cama, com os pés a encostarem no piso gélido, os olhos do rosado se perdiam no vazio enquanto sua mente viajava longe. O culpado por tal efeito não havia sido as palavras de Jellal, mas sim o olhar de decepção mesclado de tristeza com a qual Levy havia o encarado por todo aquele tempo.

—... Eu... Não sou nada diferente da Lucy, né? – Natsu murmurou consigo mesmo ao perceber o que havia feito com aquela que era sua melhor amiga até então.

“Com o beijo de Erza, ficou subentendido que meu namoro com Levy não era sério... Logo ela estaria fazendo papel de idiota... E ela disse que não ia aceitar isso... Mas foi só por isso mesmo? Na piscina... Aquela hora no quarto dela, e então agora a pouco... Será que dei alguma ideia errada para a Levy? ”, sua mente se perdia na busca por alguma coisa que pudesse solucionar todo aquele problema que surgira devido a sua irresponsabilidade.

Mas logo o rosado ouviu alguém bater em sua porta enquanto a discussão de Jellal e Erza ainda podia ser escutada. Natsu nada respondeu, só que a maçaneta foi girada, mostrando que a porta não estava trancada.

Não demorou muito e o garoto viu que quem estava ali não era ninguém mais ninguém menos que sua própria irmã.

— Lucy... – murmurou o nome da mesma sem resistência alguma.

A loira fechou a porta em suas costas e então se aproximou do rosado com um pedaço de pano umedecido em sua mão direita. A garota se sentou ao lado de Natsu, permanecendo parada por alguns instantes, sem saber o que dizer ao mesmo.

—... Acho que magoei a Levy... – o rosado comentou em um tom mais baixo.

— Sim, magoou... – Lucy o respondeu em um tom calmo.

— Não era minha intenção... Eu queria pedir desculpas, mas acho que ela não vai me ouvir – Natsu então sentiu a mão da loira segurar seu queixo gentilmente, o virando na direção da mesma, fazendo com que ele a encarasse.

— Será que você me entende ao menos um pouco agora? – Lucy indagou levando o pano umedecido até os lábios do irmão, limpando o corte que se abriu devido ao soco que Jellal acertou — Eu sei que sou um dos motivos de sua dor, mas eu não tenho a intenção disso... Tudo que está acontecendo simplesmente nos leva a isso... Eu sei que lhe pedir desculpas de nada adianta, assim como sei que por eu não querer lhe perder seu sofrimento só aumenta... Eu sinto muito se... O amo demais – concluiu com os olhos marejados, prontos para deixarem as lágrimas escorrerem por sua face.

— A Levy disse que sou idiota... Não posso negar, pois apesar de tudo eu não consigo deixar de te amar – prendeu a atenção da irmã — Me pergunto qual o feitiço que jogaste em mim... Não resisto ao tom de sua voz, ao perfume de seu corpo, ao brilho dos teus olhos, à maciez de sua pele... Aos seus toques... Às suas curvas... – o rosado falou como se estivesse prestes a atacar Lucy, de forma que até a mesma pôde perceber isso. Ainda assim o mesmo se segurou e continuou a falar — Se o que sinto por você fosse algo com tamanha importância que me permitiria aceitar lhe ter em meus braços mesmo enquanto você está com outro... Me diga Lucy, como se sentiu quando me viu com a Levy e a Erza? Aceitaria estar em um relacionamento secreto comigo enquanto eu namorasse com uma das duas? – fez a loira negar firmemente com a cabeça — Então você deve me entender...

— Amanhã... – Lucy colocou o pano sobre o próprio joelho e então segurou a face de Natsu com as duas mãos — Amanhã mesmo terminarei com o Sting! – exclamou convicta de sua decisão.

“Não importa o caminho... Todos eles rasgam o Natsu da minha vida... Então, nem que seja por uma única semana... Eu quero ama-lo, quero ser amada, quero agir como um casal de verdade...”, a loira pensou com certo nervosismo, que logo se dissipou no momento em que o rosado tirou as suas mãos do rosto dele e então levou a própria direita até a face de Lucy, se aproximando lentamente da mesma.

A cabeça de Natsu estava emergida em uma nuvem de confusão, logo foi seu coração quem tomou as rédeas de todo o seu ser. A garota na qual ele queria jogar todos aqueles sentimentos estava bem a sua frente, não havia o que fazer. No momento em que seus lábios tocaram suavemente sobre os de Lucy, foi como se um choque corresse por todo seu corpo. Era como se sua alma esperasse por aquele momento, esperasse para sentir a boca de sua amada e então mergulhar naquele mar de sensações.

O cheiro que lhe entrava pelo nariz, os lábios macios que o faziam querer beija-la cada vez mais, o toque dos dedos dela a entrarem em seu cabelo... Cada pequeno detalhe que se transformava em um todo. “Todo” esse que atendia aquilo que os corações de ambos pediam.

Um segundo era transformado em milésimos. O tempo já não era mais suficiente para o desejo de um ter o outro. Mas antes que o beijo os levasse para algo mais, Natsu se afastou o suficiente para poder falar:

— É melhor pararmos... Amanhã... Se você realmente terminar com o Sting, então continuaremos... Senão... Esse será nosso último beijo – informou sentindo a respiração ofegante da loira bater contra seus lábios.

Lucy apenas confirmou com a cabeça, se levantando da cama logo em seguida.

— Então... Até amanhã – a garota abriu um sorriso alegre antes de sair do quarto.

Já sozinho, Natsu apenas soltou um longo suspiro.

—... Até.

Na manhã seguinte, ainda cedo, todos já se encontravam à mesa. O silêncio dominava o local, que estava emergido na tensão.

“Ontem foi um dia bem complicado... Beijei três... Por que estou parecendo do tipo pegador? Eu não era o amaldiçoado fracassado? ”, o rosado ainda tentava raciocinar tudo que aconteceu.

“... Mesmo assim... A Erza parece ter chorado a noite toda... Quando fui dormir ela e o Jellal ainda estavam discutindo... Talvez eu devesse ter a apoiado, mas apenas fugi em meio a tudo aquilo...”, pensou ao ver como os olhos da ruiva estavam inchados.

“Jellal está bem emburrado, mesmo que eu é quem tenha tomado o soco e perdido a namorada... Talvez eu devesse beijar a Erza de novo só para irrita-lo mais? Não... O que estou pensando? Desde quando fiquei cheio de confiança assim? Ficar longe daquela cidade fez tão bem assim para mim? “, Natsu pareceu acreditar naquilo.

“Já o Gray... Esquece”, logo viu que o amigo o encarava intensamente, como se sua cabeça estivesse trabalhando tanto quanto a sua.

A alegria de Lucy, de certa forma, estava evidente a todos. Mas a atenção do rosado acabou por se prender em Levy. A pequena tomava seu café da manhã como se nada tivesse acontecido, só que as pequenas olheiras eram perceptíveis abaixo de seus olhos. Provavelmente não havia chorado, nem tinha o porquê, mas com certeza sua noite havia sido tomada dela.

Algumas horas depois o grupo já estava na praia. Mais uma vez Natsu ficou guardando as coisas enquanto permanecia sentado sobre uma pequena cadeira abaixo do guarda-sol. Dessa vez o garoto estava sozinho. Levy havia ido junto às outras garotas, enquanto Jellal havia sumido.

O jovem de cabelos azuis não conseguiria ficar perto de Erza, assim como também não ficaria junto ao rosado.

Logo Natsu pôde ver Gray vir em sua direção.

— Me expulsaram! – o rapaz de óculos reclamou indignado, abrindo uma cadeira ao lado do amigo e se sentando — Disseram que não havia motivo de eu estar lá, já que só tinha garotas... Ainda mais por eu ser pervertido... Como pode? Desde quando sou um pervertido?

O rosado apenas soltou uma pequena risada, chamando a atenção do amigo.

— E você? Está querendo ficar sem amigos mesmo? – questionou seriamente, surpreendendo Natsu.

— C-Como assim? – o rosado pareceu não entender.

— Vai ficar difícil manter a amizade se você ficar nessa de pegar elas, ainda mais sendo que a Erza e a Levy não se dão muito bem... – Gray explicou, fazendo com que o amigo olhasse em direção a onde todas as garotas estavam — Digo... Não tem problema em você querer namorar uma delas... Mas não as use assim como a Lucy faz com você.

Os olhos de Natsu se arregalaram. O mesmo nunca havia pensado nisso, nunca teve a intenção disso, mas de certa forma realmente se parecia com o que o amigo havia dito.

—... Mesmo que não se deem bem, elas não parecem estranhamente próximas? Até mesmo sua irmã... – o garoto de óculos estranhou ao ver que TODAS as garotas se divertiam juntas.

— Vai ver o choque de ontem as afetou... – Natsu o respondeu com uma gota na cabeça.

As meninas brincavam com uma bola. Mas logo os dois rapazes puderam ver Levy cortar a bola fortemente na face de Erza.

— Ah! – Gray e Natsu pronunciaram juntos.

Mas mesmo após tal agressão visivelmente proposital, o jogo continuou. Só que Erza tentou dar o troco na pequena, mas acabou acertando Lucy.

—... Não é melhor irmos lá para-las? – Gray indagou ao ver que faltava pouco para uma guerra de três lados começar.

— Se eu for é capaz de dizerem que é por minha causa... É melhor deixa-las se entender – Natsu respondeu calmamente, fazendo o amigo o encarar com uma gota na cabeça.

“Mas é por sua causa! Você é a causa do desentendimento dessas três! ”, Gray pensou meio incrédulo.

— Ah! Elas parecem estar conversando! – o garoto de óculos comentou ao perceber — Devem estar se entendendo!

De longe puderam ver Levy e Erza conversarem sem saírem de seus lugares na roda em que haviam formado. Mas então Lucy virou o rosto enquanto tentava segurar a risada após ouvir o que a pequena havia dito a ruiva.

Nesse mesmo instante, Natsu e Gray se levantaram rapidamente e correram em direção a água onde as garotas estavam. Um único segundo foi o suficiente para que Erza pulasse sobre Levy e tentasse afogar a mesma.

Mirajane, Lisanna e Juvia não conseguiam parar a ruiva, que parecia possuída por algo.

De noite, o carro de Erza já parava em frente à porta da mansão dos Heartfilia. Levy desceu rapidamente, emanando toda a raiva que estava sentindo, enquanto Erza permaneceu emburrada dentro do veículo.

—... Até amanhã – o rosado se despediu da amiga meio sem graça, mas não recebeu nenhuma resposta, somente viu a mesma partir.

“Ela está chateada por eu tê-la impedido de matar a Levy? ”, Natsu pensou com uma gota na cabeça, mas logo seguiu Lucy para dentro de casa.

“A viagem que era para me aproximar dos outros amigos da Erza... Acabou se tornando a viagem que separou os que já estavam próximos a mim”, o rosado pensou ao perceber o desastre em que a viagem havia se tornado.

“De qualquer forma, amanhã é o dia...”, o garoto apenas viu a irmã subir as escadas, enquanto seu coração batia tomado pela ansiedade do dia seguinte.

Apesar das horas terem parecido dias para o rosado, a manhã de segunda chegou. Lucy havia saído mais cedo após receber uma mensagem no celular, o que de certa forma havia deixado Natsu intrigado. Mas maior que isso era a esperança da mudança que sua vida tomaria após o fim das aulas daquele dia.

Quando Lucy chegou à escola, o portão ainda estava fechado. Esperando encostada ao mesmo, a loira pôde ver Sting se aproximar e então se encostar ao seu lado.

—... Te procurei esse fim de semana, mas sua empregada disse que você foi viajar com o Natsu... – o loiro comentou calmamente — Aproveitou muito esses dias? Chegou a dar para ele? — indagou com um sorriso bobo no rosto.

— Não é da sua conta o que fizemos ou deixamos de fazer – Lucy o respondeu ao virar o rosto na direção contrária.

Mas no mesmo instante Sting levou a mão ao pescoço da loira, a batendo contra o portão.

— Quem você acha que eu sou? – o jovem perguntou em um tom mais frio, assustando a garota — Não se esqueça que você está na palma da minha mão... Ou talvez você queira que eu conte tudo ao Natsu? – um sorriso cínico brotou sobre os lábios de Sting —... Como ele reagiria se descobrisse que é você? Que é você a culpada pela “maldição” que o assola? Você foi tão cruel, mandando aquele grupo o machucar... Como ele reagiria ao descobrir que a irmã é o motivo de toda sua dor e sofrimento?

Com a mão do loiro sobre sua garganta, as palavras pareciam não passar dali, enquanto as lágrimas pesadas de dor já escorriam por sua face.