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História O menino de cabelos de sol - O menino de cabelos de sol


Escrita por: AyzuLK

Notas do Autor


Comecei publicando pequenos trechos na página, acabou surgindo essa estória. Fofinha, em algumas partes tristinhas, mas especial :)
Não desejo ofender ninguém sobre essa estória, ela aborda temas como assexualidade, espectros de autismo e poliamor, que tento trabalhar com o conhecimento limitado que tenho em alguma das áreas, e outras por experiência própria. Aberta a críticas construtivas ;)

Com amor
Ayzu

P.S. A capa é uma edição de uma imagem que não é minha, porém infelizmente não consegui encontrar o autor da mesma. De qualquer forma todos os créditos vão para essa pessoas extraordinária ♥

Capítulo 1 - O menino de cabelos de sol


O menino de cabelos de sol

Sobre ovelhas e Sherlock

Naru e sua família se mudaram para Costwolds na Inglaterra naquele ano, indo morar em uma pequena vila de casas iguais chamada Mikleton. De algum modo, na sua cabecinha de sete anos, quando sua ma lhe falara que iriam para a Inglaterra, tudo em que pensava eram nas ruas obscuras e misteriosas de uma cidade antiga e cinzenta, palco das investigações fantásticas de Sherlock Holmes, que seu avô tanto gostava de lhe contar.

Ir para um vilarejo, cercado por outras cidadezinhas, onde tudo o que parecia ter eram ovelhas foi um tanto decepcionante. A primeira impressão da casa não ajudou muito. Era muito antiga, no fim da rua. Havia mato por toda a cerca, e a pintura estava descascada. Tentou não se mostrar decepcionado, mas pelo olhar compreensivo do seu irmão Kurama, não teve sucesso.

Alcateia

Sakura estava intrigada. Ino havia dito que uma alcateia havia se mudado para o fim da rua. Sakura não entendia bem como isso era possível. Nem Ino, sua mãe que havia lhe dito. Sasuke deveria saber, ele era bem esperto, e sempre podia recorrer a Ita se não soubesse. Ita sabia de tudo!

Não precisou no entanto. Seu papa havia ouvido a conversa, e rido da sua cara confusa. A tal alcateia era na verdade uma família bem grande que havia vindo dos EUA, e que parecia ter viajado um tantão pelo mundo – seu papa conhecera o papa deles no supermercado naquela manhã. Ele disse que o vovô deles escrevia livros – Sakura amava livros! – e que eles tinham ainda uma mama, cinco filhos e um vovô. Sakura não sabia como cabia tanta gente em uma casa tão pequena. Sempre fora ela, sua mama e seu papa. E Sasuke tinha uma mama, um papa e o Ita. Nunca conhecera uma família assim, o máximo que havia visto era um menino chamado Gaara que estudava na escola e que tinha dois irmãos mais velhos. Como deveria ser isso?

Ah! E seu papa havia dito que o mais novo era da sua idade, e que gostava muito de animais. Os dois talvez estivessem na escola juntos, e Sakura deveria ser gentil.

Ela iria tentar. Geralmente as outras crianças não gostavam tanto de Sakura, por que ela lia muito, batia forte e sabia responder as perguntas dos professores. As meninas diziam que ela gostava de coisas de menino, e os meninos também eram maus com ela. Exceto Sasuke, ela gostava muito de Sasuke. E Ino as vezes vinha lhe ver em sua casa, por que sua mama era amiga do papa dela.

Só esperava que esse menino não fosse mau também.

Ela o viu naquela tarde no entanto, passando na rua, segurando a mão de um menino ruivo e com um cachorro grandão que mais parecia um lobo do lado. Estava com seu papa na padaria e ele passou na calçada. Sakura sabia que encarar não era legal, mas era muito curiosa, por isso foi para mais perto do vidro. O menino tinha um sorriso tímido no rosto. Os cabelos dele eram muito bonitos, Sakura decidiu. Pareciam um sol.

Ele olhou para o vidro, a pegando no flagra. Sem saber o que fazer mais, e sem ter tempo de se esconder, sorriu, hesitante. O menino sorriu de volta, o rosto encabulando, se escondendo um pouco atrás do outro garoto ruivo, que estava conversando com alguém ainda na calçada.

Sentindo-se corajosa Sakura sorriu mais aberto e amigável. O menino sorriu largo em resposta. Ele tinha sardas ao redor do nariz, e um dente faltando na frente, que nem mesmo tentou esconder. Ele acenou timidamente e ela respondeu mais entusiasmada.

Quando o menino ruivo saiu o levando, e seu papa voltou, Sakura estava decidida.

—Eu gosto dele.

—De quem? – seu papa perguntou confuso, os dois caminhando pra casa.

—Do menininho da alcateia papa. Ele tem os cabelos de sol. Vou ser amiga dele. E Sasuke também vai gostar dele. E vamos ser os mais melhores amigos!

Seu papa segurou o riso, assentindo com falsa seriedade.

Sakura não ligava.

Cabelos de sol, olhos de céu

Sakura disse que o garoto novo do fim da rua tinha cabelos de sol. Sasuke achava que Sakura falava coisas estranhas, mas tudo bem. Ele gostava de Sakura, apesar de ela ser tão irritante as vezes! Quando ele viu o menino no entanto, a mão grudada na de uma mulher ruiva que conversava com sua ma, ele viu que Sakura não mentia. O menino tinha cabelo de sol, e olho de céu. E quando ele viu os dois o espiando da janela ele sorriu e acenou, e Sakura riu tentando se esconder, derrubando os dois por cima do sofá.

 Quando tiveram coragem de olhar de novo, aqueles olhos azuis estavam perto demais, grudados na janela, curiosos. Os três gritaram de susto. Adultos vieram correndo, apenas para os olhar daquele jeito de adultos e mandarem brincar lá fora. E foi naquele dia que o menino de cabelos de sol virou o Naruto da Sakura e do Sasuke.

O príncipe

As meninas na escola diziam que Sakura era um menino, por que ela só andava com meninos. Sakura não ligava. Ela sabia que era menina - que coisa boba de se dizer -, e que Naruto e Sasuke eram suas pessoas "mais favoritas" de todo o mundo! Ela gostava de subir em árvores com eles sim, e de brincar no rio. Eles não se importavam de brincar com as bonecas dela - Naru sempre criava as melhores estórias de mundo! - ou se irritavam por ela gostar de ler tanto. Eles a aceitavam. E eram bobos os que pensavam que nas brincadeiras ela era a donzela para ser salva. Na verdade geralmente Naruto era o príncipe preso na torre pelo grande monstro que eles tinham que salvar. De vez em quando eles até deixavam os Hyuuga do número 43 brincarem, mas Sakura não gostava muito deles, eles pareciam querer sempre roubar a atenção de Naruto deles dois!

Sua mama dizia que eram ciúmes, e que ela e Sasuke deviam aprender a dividir Naruto com os outros. Era difícil dividir Naruto! Ainda mais com tantas crianças querendo brincar com ele por ele ser tão amigável! Sasuke e ela sempre faziam o possível para deixá-lo bem ocupado, mas as vezes não dava mesmo. Ita haviam falado para os dois que se gostavam de Naru deviam querer vê-lo feliz, por isso pararam mais de fazer birra, porque Naru ficava triste com eles. E não era legal Naruto triste. E ela brincava com Ino de vez em quando também. E Sasuke dizia que suportava Sai. Então talvez eles pudessem deixar Naruto brincar com os outros sem ficarem chateados...mas só se eles continuassem os melhores amigos dele! E passar mais tempo com os dois do que qualquer pessoa. Além da mama dele, e do papa, mas mais do que com os irmãos dele!

Afinal...Naru era o príncipe deles dois.

Rabinhos

Kurama sabia que tinha fama de encrenqueiro, marrento. Sendo o irmão mais velho de cinco, um deles um pacifista, um destrambelhado, a outra uma doida e o outro o ser humaninho mais inocente do mundo - e por ele continuaria assim até os 30-, alguém tinha que colocar ordem nessa alcateia.

 Em resumo, ele era super protetor dos seus irmãozinhos fofos, mesmo Nagato sendo muito ajuizado, e Karin capaz de se defender bem até demais.

Por isso, quando Menma veio lhe contar sobre os dois rabinhos que seu irmãozinho Naruto vinha trazendo pra casa todos os dias, ele ficou curioso. Sabia que um deles era irmão de Itachi, que era um sujeito okay, pelo o que viu no colégio. A outra era uma garotinha de cabelos cor de rosa - WTF- e olhos docinhos, mas que ele sabia que eram na verdade assustadores.
Foi também Menma - e por Deus, que seu irmão não tirava o olho da vida de Naruto - que notou que os dois grudes eram um tanto possessivos. Menma tinha que roubar Naruto deles com Karin de vez em quando. Não era um sinal incomum encontrar os três dormindo empilhados no tapete em alguma das três casas. Em um mês, Kurama notou que o quarto de Naruto tinha sempre sacos de dormir no chão - e não duvidava que na casa dos dois também. Logo sua ma estava comprando os biscoitos favoritos do "Sasu" e da "Sakura-chan". Logo Kurama, que havia acabado de tirar sua licença, estava levando os três pirralhos para o cinema juntos, para a escola juntos, para onde seu irmão fosse na verdade, por que eles sempre estariam lá. 
Um dia até mesmo chegou em casa e os 3 pestinhas estavam pendurados em seu pai, em algum jogo estranho em que Minato era um monstro que tinha raptado Naruto e eles tinham que salvar Naruto-chan. Kurama quis entrar na brincadeira e roubar o irmão, e quase foi morto pela garota - e ele tinha razão, um louco pra reconhecer outra.

E quando Menma falou - para de fofocar sobre a vida do seu irmão! - que daqui uns anos eles teriam um trabalho com os dois no pé de Naru, Kurama quis acreditar que não. Que era coisa de criança. Que o grude ia passar.

Vendo os três dormindo no sofá no entanto, agarrados a seu irmão, o pivetinho até mesmo rosnando sonolento quanto tentou enrolar o seu irmãozinho melhor, ele tinha as suas dúvidas.
E como ele estava certo!

Especial

Sasuke sabia que havia algo de diferente em Naruto. Por exemplo, apesar das pessoas gostarem dele de cara, o fazendo sociável, Sasuke sabia que Naru gostava mais de bichos do que de pessoas. Ele estava sempre salvando algum animal em apuros, e quando não conseguia salvar algum ficava inconsolável. E não importava o qual perigoso fosse o animal, eles sempre amavam Naruto de volta. Sua ma lhe dizia que os animais gostavam de almas puras, e Sasuke também acreditava nisso. Nunca esqueceria no dia que Naruto não conseguiu salvar um pássaro que batera em um carro. O quanto ele chorou quando o animal morreu. Tanto que nem mesmo ele e Sakura conseguiram o fazer parar de chorar, e acabaram chamando Naa, que era a pessoa que sempre acalmava Naruto quando ninguém mais conseguia.

Naruto também era muito inocente. Aos doze anos, havia algo nele que nunca mudara de quando eram menores. Ele odiava brigas, e gritos. Uma vez mesmo tivera um ataque de pânico quando Karin e Menma começaram a brigar na sua frente. Ele acreditava em todo mundo, não tinha o cinismo que Sasuke sabia que possuía, o que poderia fazê-lo um alvo fácil. Nessas horas agradecia que parecia que todos amavam Naruto, e que tantos tinham medo dos seus irmãos demais para tentar algo contra ele.

Sasuke gostava de Naruto assim mesmo, do jeito dele. Por mais que muitos o achassem estranho, avoado, Sasuke não queria Naruto de outro jeito. O Naruto que sempre sorria quando falava da sua família enorme. Que não se importava de ser zoado por receber beijos de seus pais na frente de outros, por que ele era louco por eles. O Naruto que aprendera a tocar violão para tocar para as crianças no hospital, e acabara arrastando ele e Sakura juntos. Ele era bom, e altruísta, e queria salvar o mundo.

Sasuke nunca conhecera ninguém igual na vida.

Mitlestoe

O primeiro beijo de Sakura e Sasuke foram juntos. E foi estranho. Eles tinham treze anos, e nenhum dos dois entendia bem o que era beijar, apenas que todos da escola pareciam ter beijado exceto os dois.

E Naruto.

Sakura decidiu que não gostava tanto de beijo. Segurar mãos tudo bem. Abraçar ela adorava. Principalmente Sasuke e Naruto! Beijar não era tão importante. Ainda assim...

Naruto nunca havia beijado. E os dois decidiram que ninguém poderia ser o primeiro beijo de Naruto além de um deles. Quanto a qual deles dois, ai começou o verdadeiro problema. Tirar no palitinho parecia muito frio. Eles discutiram um pouco, não chegaram a consenso. Talvez se Naruto decidisse? O outro não ficaria com raiva, certo?  O problema era, indiretas não serviam em Naruto. Eles passaram um semestre inteiro, mas Naruto parecia não entender o que os dois estavam querendo - e pela cara da menina Hyuuga, ela também queria beijar Naruto, os dois não iriam deixar! Foi no natal que ele resolveram que poderia concluir o problema de forma diplomática. Sua mama sempre pendurava mistletoe no teto, o natal seria lá esse ano. Era só colocarem Naruto debaixo de uma com um deles, e pronto! Teriam o primeiro beijo do Naruto!

Ao menos se o Shisui-Baka não tivesse empurrado o Ita na hora errada, e justo o Naru-chan estivesse passando...

Kurama depois quis bater no Ita por ter beijado Naruto, mas sua mama disse que não queria brigas no natal. E Sakura até chorou um pouquinho- só um pouquinho-, mas tudo terminou bem.  No dia seguinte, no entanto, de manhã cedinho quando foram abrir os presentes, os três sentaram na varanda tomando cocoa e vendo a neve, Naru-chan deu um beijo de natal nos dois. Em Sasuke primeiro, depois na Sakura, mas tudo bem, o dela durou dois segundos a mais! 
Sakura ainda não gostava de beijos tanto assim. Mas os de Naruto, e os de Sasuke ela gostava sim.
Se Sasuke e ela colocaram tinta no shampoo de Ita depois, ninguém tinha como provar que foram eles!

Invasão

Tudo começou com Naruto. Uma noite ele apenas escalara a árvore para o quarto de Sakura e batera na janela. Eram três da manhã, e ele queria lhe falar sobre um livro que lera. E Sakura não conseguia dizer não para o entusiasmo nele. Fora a primeira vez desde que tinham nove anos que os dois dormiram na mesma cama. Acordaram aconchegados, e foi seu melhor sono em muito tempo.

Duas noites depois, era ela que pulava a janela dele para falar de algum filme, e acabara saindo apenas seis da manhã. Na outra noite Sasuke que pulara para seu quarto depois de uma briga com Itachi. Naruto aparecera logo depois, os olhos vermelhos e o rosto pálido e apenas se aninhara com os dois na cama em silêncio, a cabeça recostada no peito de Sasuke, Sakura o abraçando por trás. Eles não perguntaram nada.

Nunca precisavam perguntar nada.

Festa

Naruto nunca havia bebido na vida. Nunca sentira necessidade, e pra ser bem sincero ele não sentia agora. Era a festa de despedida de Menma para a universidade. Seus pais haviam viajado e o irmão tinha aproveitado a deixa para colocar a casa abaixo. Para piorar a situação Sasuke havia viajado com a família e Sakura tinha ido a alguma exposição. E como Naruto queria ter ido com os dois! Menma havia feito um escândalo em ter Naruto por perto antes de ir embora, e agora tinha o abandonado pelos amigos em algum lugar da casa barulhenta. Karin estava com Itachi e Shisui em algum lugar. Kurama e Nagato não haviam voltado para o feriado ainda. 
Naruto estava deprimido, puto com Menma, e com saudades de Sakura e Sasuke. Não gostava de todo barulho, de tanta gente por perto. Queria se encolher no quarto, tapar os ouvidos e esquecer de tudo aquilo.

Ao invés aceitou a bebida daquele cara estranho, e agora o mundo parecia rodar. Sentia um torpor estranho. Não achava que era assim que devia se sentir, ainda mais depois de um gole apenas.

Entrou em meio a multidão, um pouco consciente de que o cara estranho estava lhe chamando, tentando pará-lo. Não gostava de como ele tocava nele. Tinha que achar Menma ou Karin. Encontrar alguém!

De alguma forma conseguiu abrir a porta da frente e ganhar a rua. Já era mais de meia-noite, e estava muito frio. Havia perdido os sapatos, tinha que achar seus sapatos! 

Já havia andado um bom tempo pela rua vazia, enjoado e confuso. Apenas parou quando alguém segurou seu braço e o chamou de forma preocupada. Piscou e encontrou os olhos de Sasuke. Olhou e viu um táxi com a porta aberta. Sorriu, Sasuke havia voltado! Ele falava consigo, mas não conseguia entender. E Sakura estava lá também, talvez os dois tivessem se encontrado no aeroporto...

—Eu vou vomitar.

Tudo era um borrão. Sabia que os dois ficaram com ele, cuidaram dele. Sakura parecia muito furiosa, mas garantiu que não era com Naruto, apesar de ele não parar de se desculpar. 
Menma estava lá em algum momento e Sakura socou o cara estranho. 

— Ele dopou o seu irmão e você não viu nada! Se Naruto não tivesse saído de casa, o que acha que ele teria feito com ele...

Naruto não gostava quando eles brigavam. Ele queria chorar. E já tinha 15 anos, não devia chorar tanto. Não gostava quando gritavam.

—Leve ele pra nossa casa.

Ita. Ita parecia muito zangado. Karin estava chorando, expulsando as pessoas da casa. 

 Naruto estava com Sasuke e Sakura no quarto dele. As coisas pareciam mais nítidas, mas ainda se sentia mal, um pouquinho. 

Havia silêncio no entanto. E os dois prometeram que ficariam com ele na cama, e que não haveria briga ou barulho mais. Naruto odiava barulho e brigas. 

E sabia que haveria muito quando Ma e Kurama descobrissem o que havia acontecido.

Os três

Kushina sabia que não era comum. Ela não era cega. Mas ao mesmo tempo, não conseguia ver algo de ruim em nada daquilo. Não quando seu filho, seu doce filhinho conseguia finalmente controlar seus medos e suas inseguranças perto daqueles dois.

Eles sabiam que Naruto era especial. Desde pequenino os únicos que conseguiam removê-lo de sua concha eram os animais que teimava em trazer para casa para cuidar. Exceto por seu filho do meio, Naa, ninguém parecia realmente entende-lo, ajuda-lo quando tinha seus ataques de pânico, terrores noturnos. Por muitas noites ela e Minato passaram acordados com ele, sem poder realmente tocá-lo enquanto ele chorava. As coisas melhoraram quando Kyuubi, uma cadela vira-lata que os adotara – sim, ela que os adotara sem dúvida – aparecera na sua vida.

E então Sakura e Sasuke surgiram. Um dia chegara em casa e encontrara aquelas duas crianças sentadas com seu pequeno na varanda. E os dois estavam tocando nele sem que ele chorasse. E seu Naruto estava sorrindo e conversando, e mostrando um livro sobre animais. E aqueles dois olhavam seu filho como se cada palavra que ele falasse fosse de suma importância e essencial, e Kushina apenas queria chorar de felicidade.

Ela sempre queria chorar de felicidade quando os via juntos.

Não. Kushina não era cega. Ela sabia que a amizade linda entre os três havia mudado para algo a mais. Como sempre soube que aconteceria. Como todos eles sempre souberam que aconteceria. Por isso não se surpreendera nenhum pouco quando abrira a porta do quarto do seu filho de manhã cedo e encontrara os três aconchegados. Os dois rodeando seu filho durante o sono de forma pacifica. Do canto do quarto Kyuubi levantou a cabeça e a olhou, balançando o rabo em boas-vindas, sempre a guarda-costas de seu menino.

Por um instante ficou indecisa na porta, até fechá-la devagar. Teria que ligar para Mikoto e Sra Haruno e conversar, embora tivesse certeza que eles sabiam o que acontecia também. Como tinha certeza que Naa e Kurama sabiam, se os olhares que recebera dos filhos mais velhos quando desceram as escadas queriam dizer alguma coisa. Itachi sem dúvidas sabia também.

Naa sorriu e lhe deu um beijo no rosto, os cabelos como os seus bagunçados pelo sono, um livro na mão na poltrona da sala. Era feriado da universidade. E todos os seus meninos estavam em casa.

E bem.

E isso que importava.

Pele

Sasuke não sabia quem havia iniciado, de quem havia sido a ideia, como havia realmente acontecido. A pele de Sakura era macia. Naruto era quente. Um deles puxou seu cabelo com mais força. Alguém estava rindo entre um beijo. Não havia nenhuma pele sem ser tocada, nenhum espaço entre eles.

Como nunca havia existido ou deveria existir.

Kyuubi

Naruto conhecera Kyuubi pouco antes de se mudar para a Inglaterra. Estava voltando da escola sozinho pela primeira vez e acabara se perdendo. Lembrava do medo, do pânico, de achar que nunca mais veria sua ma e seu pa.  E então, ele se encostara na parede do beco, encolhido, quando sentira o nariz gelado em seu rosto cheio de lágrimas, e se deparou com um vira-lata de grandes olhos amarelos e cabelo alaranjado e desgrenhado. Um pouco mais velho que um filhote, podia dizer. O animal se recostara perto enquanto chorava, o deixando se agarrar ao pelo sujo até se acalmar e se aquecer. E foi assim que Naa o encontrou. No fim estava apenas a alguns quarteirões de casa. A princípio, sua ma não deixara trazê-la pra casa – Men disse que era um menina-, mas todos os dias quando Naru ia pra escola, ela estava o esperando na esquina, o deixava na porta da escola, e estava lá quando saia, como uma guarda-costas. Naa, que agora sempre o acompanhava apenas o olhava com pena, sempre que trazia comida para o animal, mas não o dedurava também.

Até que um dia, sua ma abrira a porta bem cedo, deixara Kyuubi entrar e ela nunca mais fora embora. Quando se mudaram, ela veio junto. Naruto amava Kyuubi, ele sempre cuidava dos animais que encontrava e depois os deixava ir, seu pa o ajudando a encontrar um lugar para eles, mas Kyuubi fora o primeiro que ficara. Sua primeira amiga antes de finalmente conhecer Sasuke e Sakura.

Por isso, ele nunca esqueceria daquele dia. Estava indo para o parque se encontrar com Sasuke e Sakura quando algo chamou atenção de Kyuubi e ela puxou com força na corrente, e desobedecendo Naruto pela primeira vez, atravessara correndo atrás do outro cachorro do outro lado da esquina. Naruto partira em seu encalço, e o carro vinha e...quando se dera conta, o impacto havia o jogado para a calçada, do lado oposto ao que achava que o carro vinha. Abriu os olhos e Sasuke estava em cima dele, os dois muito arranhados. Sakura vinha correndo, em pânico e...ganidos.

Kyuubi estava lá na estrada, gemendo baixinho e com dor. E ele apenas olhava paralisado por quase um minuto, de joelhos na frente dela, até Sakura tocar em seu rosto, falando com ele.

—Vai ficar tudo bem, vamos leva-la ao meu pai na clínica Naruto, ela vai ficar bem.

Naruto assentiu, mas anos cuidando de animais, dois anos ajudando o pai de Sakura na clínica veterinária...Naruto sabia o que iria acontecer.

E aquilo o levara a estar sentado na sala de espera, Sakura recostada em seu ombro, Sasuke segurando sua mão com força. E quando Sr. Haruno apareceu, bastou um olhar dele e Naruto soube. Sakura o abraçou e soluçou baixo quando seu pai negou com a cabeça.

— Vou dar um tempo para você se despedir Naruto. – Sr Haruno colocou a mão em seu ombro. – Não precisa estar lá quando...

—Eu preciso. – negou.

...........

Kyuubi não estava sentindo mais dor naquele instante. Apenas se sentia muito cansada, e um pouco ansiosa e com medo. A ansiedade sumiu quando notou que o homem da máscara havia saído, e seu filhote estava do seu lado.

Kyuubi amava demais seu filhote. Desde que o vira pequeno e sozinho, e sem nem mesmo um caixote onde dormir...Ela sabia que tinha que cuidar daquele filhote desajeitado. E ela cuidara dele, por que aquele era seu trabalho, e ela era boa no que fazia! A ansiedade voltara quando notou que seu filhote estava chorando. Ela não gostava quando ele chorava, por isso lambeu seu rosto lentamente e o fez rir. A mão dele passando no pelo dela devagar, enquanto ele fazia aqueles sons.

—Boa menina. Minha boa menina.

O homem de máscara entrou, mas ela não ligou, apenas focada nos olhos azuis do seu filhote, no som dele, na mão dele no seu pêlo.

—Minha Kyuubi, você pode dormir agora...

E quando ficou muito muito cansada, apenas fechou os olhos e dormiu.

..................

Naruto passou um tempo ainda sentado ao lado da sua primeira amiga. Sabia que Sasuke e Sakura haviam entrado em algum ponto, mas apenas saiu do torpor quando Naa apareceu. Sr. Haruno devia tê-lo chamado. Naa sempre sabia como fazer as coisas ficarem bem, sempre fora assim desde que eram crianças. Ele sempre sabia como ajudar Naruto. Por isso quando o irmão chegou finalmente conseguiu soltar Kyuubi. E deixa-la finalmente ir.

Seu irmão não falara nada. Apenas o deixara chorar.

Irmãozinho

Nagato Uzumaki amava todos os seus irmãos. Como filho do meio, sempre era quem ficava entre as brigas, sempre o juiz desde crianças. Ele amava Kurama e seu jeito super-protetor. Karin e sua irreverência. Menma e seu sarcasmo. E Naruto. E se perguntassem se havia um favorito ele diria que não, mas todos sabiam que era mentira.

Ninguém ligava no entanto. Naruto era o favorito de cada um deles afinal. Sempre ingênuo, e doce, sempre os olhando daquela forma que sabia algo que eles não tinham ideia. Sempre o procurando no meio da noite quando não conseguia dormir. Naruto os tinha na mão sem nem mesmo perceber. Fora a razão de estudar psicologia. Seu espectro de autismo o induzindo a estudar e o ajudar como pudesse.

Nagato também sabia que era o favorito de Naruto.

Era ele que Naruto procurava quando tinha problemas. E não se importava com as ligações três da manhã depois que fora embora. Ele faria qualquer coisa pelo seu irmãozinho, por qualquer um deles na verdade, apesar das brigas e barulho. Eles eram preciosos para si.

Por isso ver Naruto chorar sempre lhe quebrava o coração. Ele sempre chorava baixinho, trêmulo. A cabeça agora recostada em suas pernas, os dois deitados na cama do quarto de Nagato. Menma estava sentado no chão perto dos dois em silêncio. Karin sentada na cabeceira. Kurama havia chegado e ficado na porta, a expressão perdida. Sua mãe e seu pai ainda estavam viajando, chegariam apenas na manhã.

Eram só os cinco agora.

E Naruto não parara de chorar desde que haviam chegado da clínica, a mão segurando firme a coleira entre os dedos. Passou os dedos nos cabelos loiros com carinho. Ele nem mesmo parecia vê-los ali. E quando seus dois amigos apareceram, deitando com ele na cama, Sakura colocando também a cabeça nas pernas de Nagato, Sasuke sentando a seu lado, os dedos resumindo o movimento que Nagato antes fazia nos cabelos do irmão, ele finalmente se acalmou.

................

Sakura trouxe o filhote uma semana depois. Ele havia sido abandonado perto do rio para morrer. Estava desnutrido, cheio de carrapatos e com medo até da própria sombra. Ainda assim quando Naruto se aproximara, os olhos azuis muito abertos, um sorriso incerto, o animal gemeu baixinho e lambeu a mão do seu irmão, o rabo balançando também incerto.

E aquela pequena risada de Naruto o fez agradecer por aqueles dois na vida do seu irmão.

Eu te amo

Sasuke amava Naruto. Naruto amava Sasuke. Sasuke amava Sakura. Naruto amava Sakura. Sakura amava Sasuke. Sakura amava Naruto.

As pessoas estranhavam sobre os três.

Sasuke amava Naruto. Naruto amava Sasuke. Sasuke amava Sakura. Naruto amava Sakura. Sakura amava Sasuke. Sakura amava Naruto.

Para ela nada era mais importante do que isso.

Trinta

Quando eram crianças as pessoas diziam que Naruto e Menma eram parecidos. Hoje em dia, Karin notava divertida, que eles não se pareciam tanto mais. O tempo havia feito muito bem a seu irmãozinho. Ele era um homem agora, ainda que aqueles olhos grandes dele, a quem ela nunca conseguia dizer não, não haviam mudado tanto. O sorriso estava mais sereno. Os cabelos mais curtos. A pele mais morena – de um safari que havia feito uns meses atrás. Ele parecia bem. Feliz. Tranquilo. Era bom vê-lo depois de uns dois anos, a distância – ela morava em Paris nesses tempos – era cruel entre os irmãos.

—Descobrimos quem ficou o mais bonito da família. – brincou, e ah, agora sim aquela vermelhidão nas bochechas e a risada encabulada, aquilo parecia mais com seu Naruto. Menma bufou do canto aonde alimentava a filha na cadeirinha da cozinha, um sorriso no rosto.

—Claro que sou eu.

—Desculpe Men, mas esse cabelos brancos não combinam com você.

—Eu não tenho cabelos brancos Karin! Tenho só 34 anos se não sabe.

—Não briguem crianças. – a fala monótona e tão familiar de seu pai da sala a fez rir. Kurama debatia algo com Nagato e ele na sala. As crianças brincavam no quintal. Sua mãe levando as guloseimas para os netos. Eram quatro. Dois de Menma, um de Kurama, um de Nagato. Karin preferia ficar sozinha, era mais feliz assim.

Quanto a Naruto, ela nunca sabia mesmo o que se passava na cabeça dele, para Naruto seus animais eram suas crianças. Ela não sabia o que Sasuke e Sakura pensavam sobre isso.

E falando nos dois.

Sasuke ela sempre soube que se tornaria em um homem lindo, não era novidade. O bom gosto rolava na família afinal. Sakura fora uma surpresa. A garota era sempre tão mirrada quando menina. Os três realmente faziam um belo trio, de chamar atenção.

Outra coisa que não mudara era o jeito que aqueles dois olhavam para seu irmãozinho. A cumplicidade quando se moviam, quando falavam. Todos da família já haviam se acostumado a muito tempo para nem piscarem quando os dois entraram na cozinha, Sasuke ajudando sua mãe com uma bandeja, Sakura trazendo Aya, a filha de Menma que vinha chorando por machucar o joelho no colo. Sasuke deu um beijo leve em Naruto, Sakura fez o mesmo com naturalidade.

—Passou Aya-chan. – Naruto pegou a sobrinha com carinho e a menina parou de chorar, fungando e se agarrando a ele. - Com um beijo passa.

—Ele é bom nisso. – Menma comentou. – Ela não para de chorar facilmente comigo.

—Ele é bom em tudo. – Sasuke comentou divertido e os outros grunhiram exasperados.

—Lá vem a melação...

—Menma, pare de provocar Sasuke.

—Okay ma, não mexo no seu precioso Suke.

—Menma!

—Calei. E o de vocês Sakurazinha? Quando finalmente vão entrar no clube?

Sakura ergueu uma sobrancelha nenhum pouco impressionada com a provocação. Naruto apenas balançou a cabeça exasperado e Sasuke rolou os olhos.

—Menma!

—Também estou curiosa. – Karin provocou.

—Eles vão ter filhos quando quiserem. – Nagato comentou entrando na cozinha. – Se quiserem.

—Só espero que se quiserem. – Kurama continuou. – Eles sejam como Naru.

Isso gerou mais uma onda de discussão amigável que deixou a cozinha em polvorosa. Karin meteu seu comentário em um momento ou outro, de olho em Naru, que sempre odiara tanto barulho. Ele parecia tranquilo. Sakura com os braços ao redor de seu pescoço de pé atrás da sua cadeira, o queixo recostado na sua cabeça. Sasuke sentado a seu lado segurando sua mão enquanto discutia com Menma. Aya em seu colo olhando com os olhos curiosos e arregalados. E Naruto...sorria. Feliz.

E não havia nada mais que Karin desejasse para seu irmãozinho do que aquilo.

...................

Cabelos de sol

—Papa disse que você gosta de animais!

O menino assentiu, os azuis piscando também curiosos, e inocentes, os medindo.

— Eu sou Naruto. Essa é minha Kyuu. – Ele apontou para o cachorro na coleira a seu lado que os olhava de forma curiosa, o rabo balançando amigável ao ouvir seu nome.  

—Sakura!

—Sasuke

Ele tinha cabelos de sol, olhos de céu, e um dente da frente faltando. E ainda assim sorria para os dois sem se importar com isso.

 Sasuke podia mesmo se acostumar com aquele sorriso.

—Eu gosto dele.- Sakura concluiu, o olhando. O menino pareceu surpreso, a cabeça inclinando curiosa. Ela apenas assentiu para si mesma, decidida. – Seremos os mais melhores amigos.

Ele sabia que essa palavra não existia, mas deixaria passar. Os dois estavam sorrindo afinal.

E se eles estavam sorrindo, tudo ficaria bem.



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