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História O Mestiço e o Vingador do Planeta Vermelho - Ana Lívia


Escrita por: SpiderFromMars

Capítulo 11 - Ana Lívia


Fanfic / Fanfiction O Mestiço e o Vingador do Planeta Vermelho - Ana Lívia

   Guardar aquele segredo só para si já estava ficando difícil. Ele nunca tinha contado para ninguém que aliens visitaram a Terra há mais ou menos dezoito anos atrás e levaram uma mulher com eles. Só havia dito a todos que seu pai morrera de um ataque cardíaco naquela chuvosa noite.
   Talvez ele apenas quisesse tornar aquilo um pesadelo, algo irreal, e sendo assim, jamais contou a ninguém, nem mesmo ao seu melhor amigo, sobre os aliens que mataram seu pai e levaram aquela pobre mulher.
   - Como assim? - perguntou o doutor mais confuso do que nunca.
   - Eu vi os alienígenas levarem uma mulher há alguns anos atrás. Tentei ver o que eles queriam mas fui atingido por uma espécie de arma paralisante. Enquanto eu estava caído no chão, com a chuva a cair sobre o meu rosto, pude ouvir e ver parcialmente uma mulher que corria por ali ser capturada.
   - Por que você nunca me contou isso? - perguntou Jason com um tom de decepção na voz.
   - Eu, eu não sei. Acho que eu queria apenas esquecer e tornar aquilo só um pesadelo. Eu esperei para ver se voltariam, mas nunca voltaram. Passei várias noites tentando achar as respostas nas estrelas, esperando na escuridão, mas nunca mais os vi.
   Diego sentia as palavras sinceras daquele homem e o olhava profundamente com seus olhos relativamente grandes.
   - E vocês conheciam aquela mulher? - perguntou o alien.
   - Não - respondeu o rei.
   - Eu só a conhecia de vista, acho que nunca falei com ela - disse o doutor. - Mas eu sei que ela tinha uma...
   - Vida muito boa - interrompeu Gabriel, lançando um rigoroso olhar ao seu amigo.
   - Sim. É. Ela tinha uma ótima vida.
   - Eu sinto tanto - lamentou o híbrido. - Ela morreu quando eu nasci.
   - Certo, agora eu preciso te ordenar algo - Disse o rei Gabriel olhando para o seu prisioneiro. - Quero que você fique aqui por enquanto, até decidirmos o que faremos. Traremos mais comida e algo em que você possa dormir. - Se virou para o seu amigo e disse: - Vamos doutor.
   - ¡Hasta la vista, Diego! - se despediu Lovitz, com ironia.
   Deixaram as celas subterrâneas com uma pressa exagerada e logo na saída, atrás das portas principais, viram o chefe de segurança. Os dois foram até ele para dar uma ordem que acharam ser essencial, básica e precisa.
   - Chefe - gritou Gabriel -, escuta, não quero que ninguém entre nas celas. Jogamos muito veneno para ratos lá, não é doutor?
   - Sim. É muito perigoso.
   O guarda engoliu a história do veneno com facilidade, pois realmente sabia que aquele lugar era lotado de ratos, baratas e outras pragas.
   - Sim, senhor. Entendi.
   O rei, acompanhado de seu assistente, subiu as escadas úmidas e voltaram para o prédio, onde iam tentar entender o que realmente estava acontecendo.
   - E então? Por que não pude contar a ele sobre a mulher levada ter uma filha? - questionou o doutor, abrindo a porta que dava acesso à sala de Gabriel.
   - Filha essa que eu adotei.
   - Você adotou Ana, a filha da mulher que foi morta atingida por um raio no meio de uma tempestade...
   - Foi a mulher levada pelos alienígenas. Eu  não queria contar o que houve, então menti - ele olhou diretamente para o seu amigo enquanto sentava em uma confortável cadeira, pronto para acender um cigarro. - Você não percebe, Jason? Ele nasceu da mulher levada. Ele é praticamente irmão da menina que eu adotei.
   - Ai caramba! - exclamou o doutor, passando a mão em sua vasta cabeleira.

   Aquela noite foi, sem sombra de dúvida, a que mais demorou a chegar para os que sabiam de Diego. Com certeza Gabriel e Jason teriam dificuldades para dormir. Mas tinha outra pessoa que, mesmo já sendo tarde da noite, ainda não dormira.
   O silêncio era absoluto. A madrugada era abençoada por uma lua que brilhava como bilhões de vagalumes reunidos em torno de uma gigante bola de cristal.
   No terceiro andar de um dos Prédios Gêmeos havia um quarto de dormir onde repousava a jovem Ana Lívia. Parecia estar em um sono profundo e imaginativo, mas abriu os olhos repentinamente, mostrando seus belos olhos verdes. Sentou-se na cama jogando um fino cobertor para o lado e depois de calçar um sapato e vestir um casaco, se levantou. Em silêncio, abriu a porta de madeira do seu quarto e avistou o corredor vazio e escuro. Com passos quase inaudíveis, andou pelo corredor e desceu as escadas para o andar de baixo. Ao chegar na cozinha, passou por uma porta e entrou em uma sala pequena e deserta, onde a única coisa visível era alguns materiais de limpeza. Mas tinha algo mais. Uma porta de madeira no chão foi avistada pela garota e, após abri-la, ela viu uma escada de cimento e começou a descer.
   Verificou se não tinha ninguém por ali mas, por azar, o chefe de segurança estava sentado em uma cadeira. Mas ela ouviu algo. Era ronco. O guarda estava dormindo. Ela pegou uma tocha acesa que estava pendurada em uma parede e voltou a andar
   Andou pelo corredor principal da prisão e viu todos os lugares vazios. A luz do fogo iluminava cada canto de cada cela, e, espiando com cuidado para ter certeza de que não havia nada de incomum ali, se aproximava lentamente da última cela.
   Quanto mais ela andava mais lentos eram os seus passos.
   Dentro da última cela, Diego ouvia suaves barulhos se aproximando, e, sem pensar, se espremeu no canto da parede, onde permaneceu em silêncio, ouvindo os passos ficando mais altos e mais rápidos.
   Ao ficar em frente das grades da última cela, ela aproximou a tocha em chamas e, lentamente, iluminou o local.
   - AAAAAAhhhhh!!!
   Tamanho foi o susto que ela deixou a tocha cair no chão, fazendo o local ficar escuro e iluminado repentinas vezes, até o fogo ficar estável no chão.
   - Não grita, por favor - pediu o mestiço se levantando e segurando as barras da grade.
    Ela colocou suas duas mãos na boca para garantir que não gritaria. Espantada, mirou Diego da cabeça aos pés, notando rapidamente que ele não era humano.
   - Quem é você? - perguntou ela, abaixando uma das mãos.
   Confuso e sem saber como explicar, ele apenas a pediu que ficasse calma. Compreensiva, ela atendeu ao pedido dele e se acalmou.
   Passaram horas ali conversando e contando um para o outro suas histórias. Ana Lívia parecia cada vez mais encantada com o alien e sempre fazia uma pergunta atrás da outra. Separados por fortes barras de metal, não se cansavam de se aprofundarem nos assuntos do passado de ambos, mesmo que às vezes não se sentissem confortáveis. Era incrível como se sentiam bem na companhia um do outro, como se pudessem compreender os dois lados somente com as palavras. Uma vez ou outra tiveram que abaixar as vozes, porque, devido à empolgação, falavam alto de mais e nem percebiam.
   A aurora chegou, surpreendendo a moça, que se deu conta de que ficou ali por mais tempo do que devia.
   - Posso te perguntar só mais uma coisa? - perguntou o mestiço levantando-se. - Por que não disse nada sobre o seu pai?
   - Acho que você deve ter conhecido ele. - respondeu Ana, pegando a tocha já apagada do chão.
   - E sua mãe?
   - Minha mãe... morreu - ela respondeu, quase sem querer. - Gabriel não é meu pai de verdade. Ele só me adotou.
   Ela já se preparava para sair quando tornou a ouvir a voz do alien, perguntando:
   - E como ela morreu?
   - Acho que não tenho tempo para falar mais...
   - Me fala...
   Ela se assustou quando ele fez uma expressão séria no rosto e correu sem olhar para trás. Aquela foi a única vez que ela achou que o prisioneiro fosse perigoso.
   Depois da noite que teve, claro, ela não voltou a dormir. Ficou pensando e pensando no alienígena e em tudo que aprendeu naquela conversa. Eles conversaram sobre de onde ele veio e o motivo dele estar ali, mas ele não contou que era meio-humano. Ela falou sobre a Terra e como os mais velhos contavam como as vidas das pessoas mudaram depois do Grande Desastre.
   Pouco tempo depois e a manhã já estava formada. O sol brilhava e os pássaros cantavam. Gabriel, Jason e Ana Lívia tomavam o café da manhã e em silêncio aproveitavam o saboroso desjejum.
   Sobre a mesa, onde vários alimentos estavam à disposição, as mãos de Gabriel tremiam. Ana olhava para o seu pai sabendo que ele escondia um grande segredo e ficou esperando que ele contasse a qualquer momento. Esperou, mas nada foi dito e, antes de terminar a refeição, Gabriel se levantou, empurrando a cadeira para trás e limpando a boca com um pano.
   - Já terminei. Vamos doutor.
   - Aonde vão? - perguntou a filha, se levantando logo após o Dr. Lovitz.
   - Como assim? Vamos trabalhar. Tenho uma vila inteira para governar.
   Os dois homens se afastaram e a deixaram sozinha.
   É claro que não estavam com pressa para o trabalho e sim para ver como estava o prisioneiro extraterrestre. Nem disfarçaram ao pegar o caminho até às escadas para irem às celas subterrâneas. Mostravam a empolgação livremente, pois estavam superansiosos para mais perguntas e respostas.
   - Eu nem consegui dormir direito - comentou o Jason. - Passei a noite inteira pensando no mestiço.
   - No o quê? - questionou o rei, achando aquela palavra estranha.
   - Mestiço. Nascido de espécies diferentes. Híbrido, como...
   - já entendi - depois de alguns passos rápidos Gabriel mudou de assunto. - Então, você acha mesmo que a história que ele contou é cem por cento verdade?
   - Bem, não posso dizer ao certo, mas pode ser. É plausível.
   Passaram pela última porta, ficando próximos das celas.
   - Sei...
   - O que eu quero dizer é que se trata de tecnologia de outro planeta. Não tem como eu saber o que é verdade ou mentira. O planeta em que ele nasceu deve ser milhoes de vezes mais evoluido do que o nosso. Devem ter uma tecnologia de alto nível, pois conseguem viajar de um planeta para o outro sem dificuldades.
   Quando o Dr. Lovitz terminou sua frase, já estavam no corredor, cercados por úmidas celas vazias. Os passos eram velozes e pesados e, de sua cela, Diego já podia vê-los. Ficaram de frente ao alienígena e Jason tirou do seu casaco dois grandes pães e uma vermelha e suculenta maçã, que foi em seguida dada ao mestiço.
   - Obrigado - agradeceu, depois de uma mordida que acabou com a metade de um dos pães.
   - Então - começou a falar o rei Gabriel, olhando para os lados e andando lentamente pelo local -, como passou a noite?
   - Ah, bom, muito bom. Acho que até sonhei.
   Gabriel mirou Diego tentando intimidá-lo, desconfiando de algo que já sabia. Jason riu alto, dizendo:
   - Que esquisito! É sério isso? Alienígenas sonham?
   Após acabar com os dois pães ele abocanhou a maçã e, vendo Gabriel andar em sua direção, engoliu o que mastigava.
   - Ela esteve aqui, não esteve?
   - Ela quem?
   - Minha filha! - gritou.
   Depois de alguns segundos, o alien disse:
   - Esteve.
   - Sobre o que conversaram?
   - Muitas coisas...
   - Sobre o quê, exatamente?
   - Senhor - intrometeu Jason -, calma.
   - Ela falou que é... adotada! - exclamou o mestiço, com firmeza nas palavras. - Ela também falou que a mãe morreu. Ontem você falou que viu aquela mulher ser levada. Você não pôde fazer nada para salvá-la, mas adotou a filhinha dela. A mulher que me gerou era a mãe dela!
   Os dois homens ficaram imóveis. Não passou pela cabeça de Gabriel que ele fosse descobrir tão rápido.
   - Não quero que ela saiba disso. Preciso de tempo para pensar em como contar algo assim.
   Com o fim daquela pequena turbulência, eles respiraram fundo e esfriaram a cabeça, tornando-se tranquilos, quietos e pacíficos.
   - Nós vamos subir - disse Gabriel, calmo. - Vou conversar com Ana. Vou contá-la tudo. Fique aqui até retornarmos.
   Seguido pelo seu assistente, saiu da prisão, distanciando-se da vista do alien. Esse último ficou parado, segurando as barras com força e apoiando a cabeça em duas delas, tentando engolir a notícia de que tinha uma irmã humana.


Notas Finais


Prox. Capítulo: "A vingança é um prato que se come em outro planeta."


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