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História O milagre de uma lágrima 8 ANOS DEPOIS - Atitudes corajosas.


Escrita por: NanyBecks

Notas do Autor


E se der medo, vá com medo mesmo!

Capítulo 3 - Atitudes corajosas.


No capítulo anterior: Angélica confrontou-se com a sua insegurança para salvar a vida de um paciente.

     Angélica olhou para o carrinho de parada ao lado da porta e não restou dúvidas. Ela tem que fazer a ressuscitação sozinha.

-Vem aqui! -Decidiu-

    Começou a empurrar o carrinho com certa dificuldade e com uma força superior a que está acostumada à fazer já que ele encontra-se em um emaranhado de fios que dificulta sua locomoção até a cama onde está seu paciente. Angélica é ateia mas sempre pede ajudar aos céus em situações de desespero.

- Me ajuda senhor! Tem que dar tempo! -Apavorou-se-

      Rapidamente, começa os preparativos para ressuscitação aplicando o gel em uma das pás e esfregando em seguida uma na outra. Os médicos da emergência faziam isso com tanta rapidez que muitas vezes ela não conseguia acompanhar. O que lembra foi o que praticou com bonecos no anatômico. Nunca teve a oportunidade de fazer ressuscitação em alguém vivo, ou quase vivo. Com dificuldade, tenta a forma correta de segurar as pás em suas mãos. Gira o botão de carga para 200, ela lembra bem que qualquer ressuscitação em adulto deve começar com uma carga de 200 e poderá aumentar gradativamente caso não haja qualquer resposta positiva. Assim ela respirou fundo para obter a confiança necessária para fazer o procedimento, sabe que não tem muito tempo.

- Vamos lá! -Aplicou a primeira carga após preparar o paciente-

     Seu paciente pulou da cama com choque dado. Angélica olha no monitor que ainda acusa assistolia.

- Essa não! -Suspirou apreensiva olhando o monitor- Mais uma vez!

    Faz outra tentativa ao aumentar a carga para 260 na esperança de que se ouça o batimento no monitor. Ao aplicar o choque e em total estado de expectativa, ouve-se, ainda que em um murmúrio, o batimento cardíaco.

- Graças à Deus! -Respirou com alívio-

Álisson e Cézar que ouvira o chamado de Angélica momentos atrás, entram apressados dirigindo-se à cama onde está o paciente.

ÁLISSON: O que houve? -Perguntou olhando para Angélica que ainda está se recuperando do susto que passou-
ANGÉLICA: Caramba! Chamei vocês à mais de 5 minutos! -Reclamou irritada- Ele entrou em parada mas consegui reverter. -Colocou as pás sobre o carrinho-

     Álisson que tinha seu estetoscópio pendurado ao pescoço colocou no ouvido e começou a auscultar o coração do paciente de Angélica enquanto Cézar começou à verificar os sinais vitais.

ÁLISSON: Parabéns! Fez um excelente trabalho! -Olhou para Angélica que apesar da respiração ainda ofegante, começou a sentir-se tranquila-
CÉZAR: Pulso normal. Pressão estabilizada. -Finalizou após terminar de examinar-
ÁLISSON: Papai vai ficar orgulhoso! -Sorriu para Angélica que sentiu-se satisfeita pelo trabalho-

     Angélica sentiu como se tivesse superado uma parte da sua insegurança ao tomar a decisão de fazer a cardioversão sozinha. Mesmo no quinto ano, sente-se insegura ao realizar alguns procedimentos emergenciais. Álisson a supervisiona na emergência desde que cumpria o estágio rotatório obrigatório até optar pelo internato e mesmo dando à ela qualquer liberdade para atuar, ainda tem dificuldade em exercer alguns procedimentos que em sua visão, são básicos. 
     Em  uma das salas da emergência, Clara está verificando com Larissa uma chapa no monitor enquanto Aline, enfermeira da emergência guarda alguns materiais no armário. Saraiva, Elísia e Fábio entram com uma criança desacordada colocando-a na mesa.

SARAIVA: Criança de 2 anos. Sufocação com algum objeto não identificado. -Disse afobado-

Clara e Larissa aproximam-se da criança enquanto Aline, analisa os sinais vitais no monitor que Fábio acabara de colocar. Saraiva é ginecologista, mas por estar sempre na emergência acaba ajudando em casos que não são de sua área específica. Clara curiosa continua:

CLARA: Como sabe? -Perguntou à Saraiva olhando para a criança que parece sem respiração-
SARAIVA: A mãe disse que a viu colocando algumas coisas na boca.
LARISSA: Cadê o Amorim? -Perguntou preocupada continuando os procedimentos emergenciais-
SARAIVA: Vamos ter que fazer uma traqueostomia -Disse examinando a criança que está sem respirar-
CLARA: Não há necessidade disso. -Retrucou-

     Clara em todos os seus atendimentos sempre opta por métodos menos invasivos muitas vezes não compatíveis com os procedimentos emergenciais.

LARISSA: Um médico não pensaria duas vezes em fazer uma traqueostomia -Provocou -

     Larissa está fazendo estágio rotatório na emergência. Sua implicância não é apenas com Angélica, muitas vezes, Clara acaba tornando seu alvo quando dividem o mesmo caso. Assim como Angélica, Larissa acha Clara tão arrogante quanto a irmã, mas por ter um jeito mais doce, não deixa que isso transpareça para os outros. Como uma interna poderia passar por cima de uma ordem dada por um médico como aconteceu agora? Aline que controla os sinais vitais no monitor avisa:

ALINE: Pressão e pulso caindo.

     Elísia sem querer que se crie uma situação problemática entre Clara e Saraiva pede que chamem o responsável pela pediatria.

ELÍSIA: Localizem o Amorim.

Clara que examinava a criança retira do bolso de seu jaleco seu Beep e chama por Amorim. Ela espera que ele não esteja com um caso grave e possa vir prontamente para tentar solucionar o impasse que se criou entre ela e Saraiva. Clara sabe que como interna tem aval para decidir sobre os procedimentos cabíveis à qualquer paciente pediátrico que adentra a emergência, mas pacífica como é, o que menos quer é criar atritos desnecessários com seus superiores, afinal, ela sabe se colocar em seu lugar. Saraiva não querendo mais perder tempo afirma com precisão:

SARAIVA: Vamos ter que fazer uma traqueostomia agora! Ela não está respirando.
CLARA: Não precisamos disso! Vamos retirar o objeto -Insistiu um pouco mais incisiva-
FÁBIO: Não sabemos o que ela engoliu Clara! Ela está sem respirar à quase 2 minutos! -Exclamou preocupado-

     Fábio é interno da ortopedia e como Saraiva, teme que o procedimento que Clara insiste em realizar pode não dar certo. Amorim ao ouvir o chamado de Clara entra na sala indo até à mesa. Clara suspirou aliviada, com certeza Amorim lhe daria total força para não fazer uma traqueostomia desnecessária. Ela já havia examinado a criança e percebido uma obstrução no esôfago que poderia ser desobstruída com uma pinça sem que fosse necessário provocar qualquer lesão ao corpo.

AMORIM: O quê temos? -Aproximou-se-
LARISSA: Criança de 2 anos asfixiada por algum objeto.

     Amorim começou a examinar a criança.

FÁBIO: A mãe acredita ser aquelas bolinhas de brinquedo. -Continuou-
SARAIVA: Queremos fazer uma traqueostomia mas sua interna não quer deixar. -Olhou para Clara que continuou firme em sua decisão-
CLARA: Quero um procedimento menos invasivo. -Justificou-se-
AMORIM: O que pensa em fazer? -Olhou para Clara-

    O diálogo segue sem qualquer definição por parte de Saraiva e Amorim. Aline que está responsável por acompanhar os sinais vitais alertou:

ALINE: Enquanto decidem a menina está perdendo pulso. 

     Clara que já examinara a garganta da criança alguns minutos atrás sugere:

CLARA: A bolinha se alojou entre a garganta e o esôfago. Podemos retirar com uma pinça.
AMORIM: Consegue fazer isso?
CLARA: Claro! -Respondeu com segurança-
AMORIM: Está em suas mãos . -Afastou-se da maca-

     Amorim supervisiona Clara desde que era ainda estagiária na pediatria. Por sempre demonstrar muita segurança e confiança em qualquer procedimento que realiza sempre permitiu que ela ousasse um pouco em alguns atendimentos. Clara construiu durante sua trajetória toda uma ideologia no trabalho com crianças. Diferente de dela, Amorim é um pediatra que sempre opta por intervenções mais invasivas, já Clara tem outras perspectivas mesmo que não coadune com a prática emergencial e ambos vem apendendo um com o outro. Larissa fica à observá-la com indignação. Mais uma vez deram razão para uma das filhas do Ventura ao invés de seguirem o protocolo emergencial. Clara começa seu procedimento.

CLARA: Preciso de uma pinça pequena. Grande mas pequena e fina. -Disse olhando a garganta da criança com um instrumento próprio-

     Aline vai pegar a pinça solicitada por Clara enquanto Saraiva fica à olhar desconfiado. Ele não é pediatra mas sabe que esse procedimento pode não funcionar e acabar prejudicando ainda mais a criança. E se Clara deixa escapar a tal bolinha engolida? Amorim dá asas demais para seus internos, pensou receoso. Clara pega a pinça que Aline acabara de lhe entregar. Insere-a cuidadosamente pela boca da criança que já está à mais de 3 minutos sem respiração.

AMORIM: Desça um pouco mais -Orientou- Isso! -Finalizou-
CLARA: Peguei! -Puxou a pinça com uma pequena bolinha em sua ponta-
FÁBIO: Oxigênio. -Gritou-

      Aline e Elísia colocam a mascara de oxigênio na criança que começa à chorar e a ter novamente seu batimento cardíaco no monitor. Saraiva fica à olhar aliviado. Amorim arriscou-se deixando Clara fazer um procedimento tão delicado mas ainda bem que deu certo, pensou. Clara continua:

CLARA: A mãe tinha razão! Era realmente uma bolinha -Levou a pinça até a altura dos olhos examinando com satisfação a bolinha que acabara de pegar-
AMORIM: Muito bem Clara! -Sorriu satisfeito-
ELÍSIA: Vou avisar à mãe -Saiu da sala-

     Saraiva retirou-se da sala com Fábio e Elísia enquanto Larissa ficou à olhar Clara com indignação. Amorim só permitiu tamanho absurdo porque era Clara. Como sempre, ela e Angélica tem mais privilégios em relação aos demais. Ele não deixaria que qualquer outro interno realizasse o procedimento e saiu da sala irritada enquanto Clara ficou à olhar junto com Amorim a criança que parece ter recuperado seu estado vital. Ela estava até mais corada.
     Cada departamento do HUE tem uma sala dos médicos específica, mas por eles sempre estarem se dividindo entre seus setores e o pronto-atendimento é na sala dos médicos da emergência que muitos deles resolvem ficar para tomar café e conversarem quando tem algum momento livre. Eloísa por exemplo, é do setor de cirurgia mas está à quase 1 hora sentada em uma poltrona verificando um prontuário. André do sexto ano e interno da neurologia dorme em um outro sofá à frente de Eloísa. Ele está de plantão desde às 4 da manhã. Ventura havia pedido que ele avaliasse um paciente que chegou na emergência com um quadro grave de aneurisma e André ao que parece, não voltou para dar seu parecer. Garcia é ortopedista mas por estar escalado para a emergência, tem seu armário próprio na sala e é nele que está guardando algumas coisas próximo à Eloísa e André. Ventura entra dirigindo-se à garrafa de café ao lado dos armários. Ele foi procurar por café em seu setor e como nunca tem, resolveu ir até a emergência já que o chamaram para avaliar um outro caso que acabara de chegar.

VENTURA: Não tem café? -Perguntou ao sacudir a garrafa vazia-
ELOÍSA: Não! -Respondeu com certa rispidez sem tirar os olhos do prontuário-
VENTURA: Nossa! Está pior que a neurologia. -Comentou-

     Ventura dirige-se a geladeira para pegar uma água passando por André que parece estar desmaiado no sofá.

-André? -Passou por ele dando um tapa em seu ombro para que acorde- Internos de medicina não podem dormir às 4 da tarde.
ANDRÉ: Me desculpa Ventura! -Respondeu ainda sonolento-
VENTURA: Que horas acaba seu plantão? -Perguntou colocando água em seu copo e guardando a garrafa na geladeira-
ANDRÉ: Daqui meia hora -Olhou no relógio-
VENTURA: Está liberado. O Eduardo cobre você!
GARCIA: Aproveita antes que ele mude de ideia -Brincou terminando de arrumar as coisas no armário.-

     André retirou-se da sala apressadamente para não cumprir às meia hora restantes. Vai que aparece um caso de emergência? Ventura riu da forma como seu interno se retirou da sala e continuou à tomar sua água, afinal, é o que lhe resta fazer.

ELOÍSA: Já está liberado? -Perguntou ao ver Garcia fechar seu armário retirando seu jaleco-
GARCIA: Quem me dera! Ainda tenho que dar aula - Respondeu em um lamento-
VENTURA: Não reclame! Você não pegou os períodos iniciais. -Sentou-se ao lado de Eloísa que continua com sua fisionomia séria-

     Eloísa e Ventura são muito próximos mesmo sendo de áreas diferentes. A seriedade e a dedicação que ela leva sua prática profissional lembra muito Érika e isso acabou por torná-los grandes amigos. Possivelmente, seu mau-humor se deve à algum caso complicado que ela não sabe como proceder com a perfeição que acredita ser necessária. Teixeira que estava cuidando de um paciente em surto na emergência entra na sala e como Ventura, frustra-se ao dirigir-se à garrafa de café.

TEIXEIRA: Eu vou ter que falar com as enfermeiras que ficam sempre tomando o nosso café -Reclamou- 

     Eloísa, Garcia e Ventura uníssonos gritam como se tivessem combinado.

Deixa!!! 

     O café sempre foi motivo de brigas entre a equipe de emergência e os outros setores do hospital principalmente entre a equipe de enfermagem que reclama que médicos de outros setores não devem utilizar-se do café da emergência já que eles não se dão ao trabalho nem de repor o que tomaram. Ela já tem problemas demais com os médicos do próprio setor que acham que o café é sua propriedade. A confusão por conta de uma mísera garrafa de café foi tamanha que a equipe de enfermagem fez um abaixo assinado endereçado à Gestão e Carlito para solucionar o problema separou duas garrafas, uma para os médicos e outra para os enfermeiros. Essa divisão vem funcionando bem e agora que ambas as equipes conseguiram manter uma relação amigável com os demais setores, nenhum médico quer qualquer tipo de problema com o setor de enfermagem.

TEIXEIRA: Tudo bem! Eu deixo. -Respondeu assustado com a reação dos três-

     Eneida entra na sala. Teixeira automaticamente mudou seu semblante assim que ela entrou. Alguém havia tomado o café destinado à equipe médica e só podia ser a equipe de Enfermagem. Eneida ao perceber a mudança repentina de Teixeira pergunta:

ENEIDA: O que houve? 

     Com seu jeito intimidador como de costume, Teixeira aproxima-se de Eneida irritado.

TEIXEIRA: O que houve é que não tem café!
ENEIDA: E o que é que tem? É só fazer mais. -Respondeu sem dar importância para a forma como Teixeira referiu-se à ela-

     Ventura tirou seu celular do jaleco na tentativa de segurar o riso provocado pela resposta de Eneida. Teixeira às vezes passa dos limites ao dirigir-se à equipe de enfermagem e merece que alguém o coloque em seu lugar.

TEIXEIRA: Fazer mais? Você sabe desde que horas estou aqui minha filha? Desde ontem à noite! Atendi 4 esquizofrênicos sem medicação. 2 bipolares. Não almocei, não lanchei e aí eu venho aqui tomar café e você me pede pra fazer mais?
ENEIDA: Nossa! Estou morrendo de pena! Se o café do seu setor acabou não tem que vir aqui tomar o nosso. -Saiu sem importar-se com Teixeira-

     Ventura e Eloísa começam a rir discretamente da ousadia de Eneida enquanto Garcia tranca seu armário ficando à observar a situação. Teixeira sempre teve esse jeito dominador e invasivo principalmente com a equipe de enfermagem. Por sempre causar medo, nenhuma delas tem coragem de enfrentá-lo como Eneida fizera até o momento. Eloísa pergunta em tom de deboche:

ELOÍSA: Quer o coador? 

     Teixeira irritou-se com a pergunta de Eloísa. Ventura entra na onda da companheira que parece ter perdido o mau-humor e continua a brincadeira:

VENTURA: O pó está no armário. -Riu discreto-

     Teixeira lança para Ventura e Eloísa um olhar irritadiço, dirige-se à saída da sala e fecha a porta com raiva deixando os três aos risos. Ás vezes vale à pena ser médico, pensou Ventura.

São 5 horas da tarde, Érika largou a administração na responsabilidade de Marlene porque tinha uma reunião com a direção do hospital que mais uma vez está à reclamar dos gastos em demasia com materiais médicos. A reunião que era para durar apenas 2 horas acabou tomando toda à tarde já que os médicos e enfermeiros começaram a justificar todo o gasto com material como necessários para a segurança de suas práticas. Érika havia sugerido alguns cortes orçamentários à alguns meses e até hoje ainda não conseguiram solucionar o problema. Quase todo mês ela se reúne com a direção e os administradores de cada setor para resolver esse impasse. Sem sucesso, já não aguenta mais participar dessas reuniões enfadonhas que nunca chegam ao fim. 

HOSPITAL VITTE

     Érika entra apressada na administração onde estão Marlene e Julinha trabalhando. Ela ausentou-se por toda à tarde e não faz qualquer ideia do que pode ter acontecido em sua ausência.

ÉRIKA: E aí? Muito trabalho? -Sentou-se em sua mesa começando a folhear os papéis que estavam sobre ela-
MARLENE: Até que não. Aliviei a barra pra você Érika. Só tem que conferir estes gastos aqui e pronto -Entregou-lhe uma planilha com pelo menos 2 folhas-
ÉRIKA: Vou pra casa mais cedo hoje. -Começou a analisar as folhas que Marlene lhe entregara- A Clarisse diz que não conversamos mais.
MARLENE: É um pecado Érika! Ela fica tão triste quando não vai aos eventos do colégio.

     Érika fita Marlene sentada um pouco mais à sua frente em um olhar de irritação e descontentamento por seu comentário.

ÉRIKA: Lene, eu queria ter mais tempo para a Clarisse principalmente nesta fase que mais precisa de mim, não faço de propósito! O que eu posso fazer se o trabalho me toma o tempo em família? Quando a Clarisse nasceu eu disse que não ia cometer com ela os mesmos erros que cometi com Clara e estou errando do mesmo jeito. Com a diferença que agora não é por querer me afastar dela e sim, por falta de tempo mesmo.
MARLENE: Trabalha muito porque quer -Usou seu tom firme já que percebeu um comportamento de vitima na amiga como sempre faz quanto refere-se à forma como conduz seu trabalho-
ÉRIKA: Por quê quero Marlene? -Defendeu-se meio irritada- Se eu saio um dia cedo no outro tem trabalho acumulado e se eu levar para casa não vou ter tempo para a família do mesmo jeito. Tudo que vocês decidem eu tenho que analisar e assinar. É complicado Marlene! Muito complicado! Final do ano então o trabalho dobra. Todo dia de noite eu tirava 1 horinha para conversar com minhas filhas, agora nem isso. Antes eu tinha tempo de corrigir os deveres da Clarisse e ajudá-la a fazer certo, agora ela deixa todos os deveres na cabeceira da minha cama e vai dormir. Só tenho tempo para ela nos domingos e nas férias. 

      Julinha que estava verificando algumas ligações em seu celular sentada em sua mesa mas prestando atenção do diálogo das colegas, intromete-se na conversa.

JULINHA: Quem conversa mais com ela é a Clara né?
ÉRIKA: É, tanto que as duas tem um laço muito forte ao ponto da Clarisse sentir as suas dores e tristezas.
JULINHA: Ela ainda tem premonições?
ÉRIKA: Parou um pouco com elas o que indica que não tem novidades à vista. Nem boas e nem ruins - Voltou a analisar os papéis entregue por Marlene-
MARLENE: Menininha esperta! Sexto sentido apurado.
JULINHA: Ela vai sofrer tanto com o casamento da Clara. -Lamentou-
ÉRIKA: Vai Julinha e isso me preocupa sabia? -Suspirou- Ela chora, se lamenta pelo casamento da irmã. Tenho medo do que pode acontecer. Ela é muito agarrada com a Clara. Vai sofrer com a distância.
MARLENE: Ela vai se acostumar.
JULINHA: E os preparativos do casório como estão?
ÉRIKA: Bem. Clara está animada e super insegura também.
MARLENE: Insegura? -Perguntou em um tom curioso-

     Clara tem 8 anos de relacionamento com Victor como pode estar insegura? Indagou Marlene para si mesma.

ÉRIKA: É. Ontem ela me confessou estar com medo deste casamento.
JULINHA: Medo de quê?
ÉRIKA: O medo que sempre dá na gente antes de casar. Medo de não estar fazendo o certo.
MARLENE: Eu também me senti assim quando me casei com o Daniel, falei: meu Deus! Vou ter que dormir com este homem o resto da vida! O que eu fiz? 

     Érika que conferia os papéis olha para Marlene estranhando o comentário da amiga.

ÉRIKA: Lene do céu! -Riu-
MARLENE: Dá insegurança Érika. -Justificou-se-
ÉRIKA: Essa insegurança eu nunca tive. Acredito que também não seja a da Clara. A insegurança dela é de não ser boa esposa.
MARLENE: Isso só teremos certeza depois que casarmos. Não dá pra saber antes.
JULINHA: Eu não acredito que depois de tanto tempo de namoro ela ainda tenha essa dúvida.
ÉRIKA: Ela vai começar outra vida. É normal. Vida de casados é bem diferente de namorados. Tem responsabilidade com casa, marido, logo vem os filhos.
MARLENE: A Érika é experiente em namoros -Indiretou para a amiga que sempre demonstrou segurança em relação aos relacionamentos que teve-
ÉRIKA: Não sou nada. Meu único namorado sério foi o Ventura, antes dele eu só tive rolinho.
MARLENE: É dos rolinhos mesmo que eu falo -Disse em um sorriso como se denunciasse um passado da amiga que só ela sabe-
ÉRIKA: Tive vários rolos. Tive mesmo. Aproveitei muito eu e a Lene. -Relembrou- E não me arrependo nem um pouco. Todos os meus rolos foram maravilhosos, mas namorado mesmo foi só o Ventura. Namorei ele 7 anos, depois o Carlos, me casei, tive duas filhas maravilhosas.
MARLENE: Uma delas com o homem que mais amou.
ÉRIKA: O Ventura me falou hoje que sempre desejou ter uma filha comigo. Quando a gente namorava ele queria que se chamasse Angélica. Clara foi o Carlos que escolheu. Ele e minha mãe achavam lindo este nome. -Alegrou-se-

     Renato pertence ao setor financeiro do hospital. Seu jeito carrancudo e autoritário tem trazido inúmeros problemas para os outros departamentos, pois, acredita que pode mandar nos outros setores assim como manda no seu. Por terem formas de atuar muito parecidas, ele e Érika vivem em embate por conta disso. Dominadora como é, Érika jamais permitiu que Renato se colocasse acima dela como faz com outros colegas. Eles estavam na mesma reunião minutos atrás e travaram uma discussão exaltada. Renato sugeriu que demitissem pessoas para conter gastos enquanto Érika achou a ideia absurda e se impôs veemente. Se querem conter gastos que façam isso sem descontar naqueles que precisam trabalhar. Com seu jeito mandão, Renato entra na administração.

RENATO: Papo fiado já né? Assim o trabalho não rende. -Colocou algumas folhas que carregava sobre à mesa de Érika-
ÉRIKA: Não se esqueça caro Renato que a chefe deste lugar sou eu. -Respondeu ríspida tentando impedir que Renato faça uma cena como é de costume.
RENATO: Abuso de autoridade - Deu de ombros e retirou-se-

     Érika sai em seguida dirigindo-se à recepção do hospital encontrando Nilze no balcão atendendo alguns pacientes que estão fazendo ficha para atendimento. Ela é a recepcionista do hospital.

ÉRIKA: Nilze? As fichas dos gastos com materiais cirúrgicos estão com você?
NILZE: Aqui Érika. Já conferiram. -Entregou-lhe um envelope que retirara da gaveta à suas costas-
ÉRIKA: Obrigada -Deu um sorriso-

     Renato que acabara de sair da administração está tomando café na porta da recepção do hospital. Érika não podia deixar passar a oportunidade de cutucar o companheiro com aquilo que ele sempre reclamou, o cafézinho no horário de expediente. Se ele quer cobrar, tem que dar o exemplo. Érika então aproxima-se dele. 

- Renato? Trabalhar né? -Provocou-

     O comentário de Érika irritou Renato que jogou o copo no lixo e adentrou o corredor do hospital. Érika deu uma risada ao perceber a irritação do companheiro e dirigiu-se à administração.

O condomínio mostra-se tranquilo, ainda são 5 horas e nesse horário muitas pessoas ainda estão trabalhando ou estudando. Cristina está no salão com suas colegas de trabalho, Marise e Denise. Elas se conheceram em um curso de férias que Cristina fez e como não estava dando conta da clientela convidou-as para trabalhar com ela. Cristina passa praticamente o dia todo no salão, às vezes, até a madrugada. Ela começou atendendo apenas a clientela do condomínio e do bairro mas com sua popularidade, agora atende também os bairros vizinhos e isso à mantém ocupada durante todo o dia. Às vezes é comum vê-la trabalhando até aos domingos quando surge algum evento como casamento ou festa de 15 anos. Agora Cristina pode dizer que é uma mulher feliz e realizada.

SALÃO THE HAIR

     Cristina  arruma o salão junto com suas amigas. Enquanto varre, Denise e Marise juntam alguns materiais que estão jogados em cima da bancada. Elas precisam deixar tudo arrumado para receber as clientes da noite. Anabela que saía de casa passa por elas apressada, combinou de fazer um trabalho de escola na casa de uma amiga que mora na Gávea.

CRISTINA: Hei! Onde você vai? -Chamou-a ao vê-la passar-
ANABELA: Combinei com o Lucas de fazer um trabalho na casa da Cecília.
CRISTINA: Vão demorar?
ANABELA: Aí eu não sei. Por quê?
CRISTINA: Não quero que ande a noite pelo Rio. É perigoso. Se terminar tarde liga pro Théo que ele vai te buscar.
ANABELA: Tá. Eu não vou demorar. Meu pai me chamou pra jantar.
LUCAS: Aninha? -A chamou na porta do salão-
ANABELA: Entra aqui no salão Lucas. -Gritou-

     Lucas entrou.

CRISTINA: Oi Lucas! Tudo bem?
LUCAS: Tudo. Oi gente! -Cumprimentou-  Vamos? A Ceci ligou 2 vezes já perguntando se estávamos indo.
ANABELA: Já estou saindo, tchau mãe! -Despediu-se com um beijo-
CRISTINA: Tchau filha! Vai com Deus!
LUCAS: Tchau gente! -Acenou com a mão-
DENISE: Tchau Aninha! Tchau Lucas! -Despediu-se-

Anabela e Lucas saem do salão e os demais continuam a arrumar o salão.

MARISE: Essa amizade vai longe!
CRISTINA: Se conhecem desde pequenos.
MARISE: Amizades longas sempre dão namoro.
DENISE: Aí Cris? O que diz disso?
CRISTINA: Eu não me oporia. O Lucas é um ótimo menino.
MARISE: Você deveria ter arrumado outro filho.
CRISTINA: Eu? Não! Não tenho mais pique para cuidar de um bebê.
DENISE: Você nunca desejou ter outro filho com o Théo?
CRISTINA: Já tive muita vontade nos primeiros anos de casamento, mas agora não. Já estou com minhas filhas criadas e crescidas. Não quero ter o trabalho de criar mais um filho e colocar filho no mundo em que vivemos é ate pecado.
MARISE: E eu louca para ter mais um.
DENISE: A Érika que fez bem. Agora que a Clara vai casar tem a outra filha pra cuidar. Não sentirá tanta falta.
CRISTINA: Mãe sempre sente, mesmo com outro filho.
MARISE: Logo se acostumam.
CRISTINA: Temos freguesas agora né? -Olhou no relógio-
DENISE: Muitas. -Respondeu continuando a arrumar o salão-

A Ecotur é uma agência turismo da família Resende Medeiros, Pedro trabalha nela desde que se formou em administração. Ele sempre teve o desejo de assumir a direção mas por conta da rivalidade existente entre ele e seu irmão mais novo Elias, seu pai achou melhor ficar à cargo dela por enquanto. Dar a direção para Pedro seria dar à ele todas as ferramentas para que se tornasse um ditador. Se Pedro já trata Elias como seu empregado sendo apenas um estagiário o que fará se tiver o poder nas mãos? Pedro não gostou nem um pouco da ideia, afinal, escolheu administração para que pudesse mais pra frente assumir a empresa de sua família já que Talita, sua irmã mais velha foi estudar fora e Elias não tem capacidade alguma para gerir qualquer coisa. Localizada no Shopping da Barra a Ecotur tem um bom fluxo de pessoas que a procura para pacotes de viagens e alguns passeios turísticos pela cidade.

ECOTUR TURISMO

     Pedro , Sofia e Solene estão na recepção. Já é quase fim de expediente e os três estão terminando de concluir seus trabalhos. Sofia e Solene são secretárias e a empresa ficou à maior parte do tempo nas mãos de Pedro já que seu pai se encarregou de fazer alguns serviços burocráticos.

SOLENE: Pedro? Essas passagens são para o final de semana? -Mostrou-lhe alguns papéis-

      Pedro olha-os curioso sem saber do que se trata. São muitas agendas de viagens que ele faz por dia e sem uma agenda não consegue lembrar de todas elas de cabeça.

PEDRO: São Solene. Deixa arquivadas aí. -Entregou-lhe-

     Solene virou-se para um arquivo atrás dela guardando as passagens.

SOFIA: Seu pai não veio hoje.
PEDRO: Ele tinha que resolver outros problemas burocráticos. Sofia arquiva esses nomes no computador pra mim? -Entregou-lhe o papel que segurava na mão- Não esquece de nenhum hein.
SOFIA: Deixa comigo! -Sorriu-
MARIANE: Boa tarde! Boa tarde! -Entrou na recepção cumprimentando Sofia, Solene e Pedro-
PEDRO: Oi Mari! Vem cá! -A abraça-
MARIANE: Não estou te atrapalhando não né?
PEDRO: Não. Você nunca atrapalha. -Respondeu dando-lhe um selinho- O quê está fazendo aqui ao invés de estar no estúdio?
MARIANE: Vim aqui no shopping comprar algumas coisas lá pro estúdio. Aproveitei que estava morta de saudade e vim te ver.

     O Estúdio de Mariane localiza-se próximo ao shopping e da Engenher, empresa onde Victor e Cléris trabalham e por essa proximidade é muito fácil se encontrarem por lá.

PEDRO: Ontem eu ia te chamar para sair mas tinha muito trabalho aqui e não deu.
MARIANE: Tudo bem. A gente sai no sábado. Está muito ocupado?
PEDRO: Não, por quê?
MARIANE: Porque eu queria te convidar para dar uma volta pelo shopping mesmo. Quero ver algumas coisas e sozinha não tem graça.
PEDRO: Ótimo! Claro que vou -Sorriu fitando Mariane-
MARIANE: Não vou te atrapalhar?
PEDRO: De jeito nenhum! Está na hora do meu café. Gente. Deixo a agência na mão de vocês. Não vou demorar.
SOLENE: Tudo bem Pedro.
SOFIA: Divirtam-se.
MARIANE: Tchau gente! -Acenou com a mão saindo com Pedro da recepção-
SOLENE: Tchau Mariane! -Respondeu a despedida voltando a mexer no computador-

O La Porte que se designa um PUB, a noite recebe o público dos bairros vizinhos mas durante o dia funciona como uma cafeteria. Localizado à frente da quadra de esportes na entrada do condomínio, faz com que o barulho das músicas não incomode aqueles que ali residem. Com duas áreas, externa e interna o torna um lugar adequado para todos os públicos. Muitos preferem a área externa para conversar sem ser incomodados pelo barulho da danceteria, já os mais jovens preferem a área interna por ficarem mais à vontade para dançar e namorar com um pouco mais de privacidade.

LA PORTE

 Avançam-se as horas, são quase 10 da noite e por estar bastante quente algumas pessoas estão se distraindo nos arredores do condomínio, enquanto alguns jogam bola no campo outros brincam com as crianças no play ou conversam sentados no banco da praça. O dia seguinte é sábado e muitos não trabalham. O La Porte está movimentado, toda sexta é dia de música ao vivo à partir das 20 horas. No momento o público ouve MPB até a meia noite. Anabela e Bianca estão conversando em uma mesa na área externa do La Porte próximo ao palco onde os cantores estão. Lucas entra no La Porte à procura de Anabela. Eles combinaram algumas horas antes de se encontrarem lá para comerem e conversarem. Bianca ao vê-lo passar na calçada já que estão sentadas na mesa externa comenta:

BIANCA: Ai vem o Lucas.
ANABELA: Você acha que ele realmente gosta de mim Bianca?
BIANCA: Você ainda tem dúvidas?
ANABELA: Eu acho que o que ele tem por mim é carinho porque somos amigos à muito tempo. Fomos fazer trabalho hoje na casa da Cecí e ele não me deu nenhum sinal de estar a fim de mim.
BIANCA: É porque ele é tímido. Só falta um empurrãozinho para vocês dois se unirem 

     Lucas  que estava à procura-las em meio a lotação aproxima-se da mesa após encontrá-las.

ANABELA: Oi Lucas! Senta aí -Convidou-o a sentar à seu lado-
LUCAS: Vocês já pediram?
ANABELA: Não. Estávamos esperando você.

     Elias cruza a portaria do condomínio. Ele é o irmão mais novo de Pedro e estuda turismo na UFTS à quase 6 anos. Já era para ter se formado mas por conta das inúmeras greves que seu curso enfrentou ficou bastante atrasado e isso é motivo de chacota por parte de seus amigos. Com seu caderno embaixo dos braços ele avista Bianca, Anabela e Lucas em uma da mesa do La Porte e vai até eles.

ELIAS: Oi! Boa noite! -Cumprimentou-os ao aproximar-se-
BIANCA: Elias, eu não acredito que você está faltando faculdade.
ELIAS: Acabei de vir de lá.
LUCAS: A faculdade do Elias nunca tem aula. Ele sempre sai cedo ou entra tarde.
ELIAS: É que ainda estão organizando a grade curricular. -Sentou-se- Ninguém bebe nada não? -Perguntou ao ver a mesa vazia- Pago uma rodada de refrigerante porque tem menores na área - Referiu-se à Anabela e Lucas-
BIANCA: Menores nada. Eu já tenho 18 anos. -Avisou-
ELIAS: Desculpa senhora! -Brincou- A Talita ligou ontem. Não vem para o casamento da Clara por causa da faculdade.
BIANCA: Quando ela volta de vez?
ELIAS: Acho que nunca mais.
BIANCA: Não se fala em outra coisa lá em casa a não ser neste casamento. Minha irmã já até comprou a roupa.
LUCAS: Espero que ela não arrume barraco no casamento da Clara. Coitada! Antes era a irmã dela que atrapalhava. Agora é a Júlia. 

     Lucas deu uma pausa em sua fala pois percebera que a pessoa à quem acabava de referir-se é irmã de sua amiga Bianca. 

- Ai! Desculpa Bianca! Eu sei que ela é sua irmã mas ninguém merece. -Concluiu-
BIANCA: Tudo bem. Eu sei que minha irmã é encrencadinha. Meu pai falou que se ela aprontar mais uma com Clara ele vai mandar ela pra Alemanha sem passagem de volta.
LUCAS: Se a Júlia aprontar o meu irmão vai é aprontar com ela.
ANABELA: Eles namoram à tanto tempo, tem mais é que casar e não fazer igual a Mariane que até agora nada. Todo mundo namora, menos eu. -Tentou lançar uma indireta para Lucas perceba seu interesse por ele-
LUCAS: Só porque você não quer.
ANABELA: Não. Porque quem eu quero não me quer. -Suspirou chateada-

     Lucas não percebeu que a indireta fôra para ele ao fazer o comentário que fez.

ELIAS: E quem é o maluco que desperdiça uma garota como você? -Sorriu sedutor-

     Bianca chateou-se ao ver a cantada que Elias deu em Anabela. Desde que terminou com Frederico, pai de sua filha, Bianca tem feito várias tentativas de aproximar-se de Elias sem sucesso por ele ser apaixonado por sua irmã que nunca lhe deu qualquer chance por considerá-lo pirralho demais para ela.

BIANCA: Vamos pedir? -Interveio irritada-
LUCAS: Vamos porque eu estou morrendo de fome.
ANABELA: Me dá o cardápio. -Pegou sobre a mesa-

    Anabela, Lucas e Elias ficam à olhar o cardápio enquanto Bianca fica à pensar se a cantada de Elias foi apenas uma brincadeira com Anabela ou se de fato ele pensa em relacionar-se com ela mesmo sendo apaixonado por sua irmã.

     Lavinha reside em um condomínio com diversos apartamentos no bairro Jardim Botânico. Cléris escolheu esse lugar para ficar mais próximo da família enquanto Lavinha queria morar em um lugar que fosse o mais distante possível. Por ela sempre gostar de passear pelo Jardim Botânico em seus momentos livres esse foi o argumento que utilizou para convencê-la. Lavinha relutou de início mas acabou cedendo. Ela não tem o costume de visitar a família exceto aos domingos na casa de sua tia.

CASA DA FAMÍLIA DIÁZ FERREIRA

     Cléris está deitado na cama tentando assistir à TV já que Lavinha está no celular à quase 1 hora com um cliente. São quase 11 da noite e ele não entende porquê  de Lavinha ainda atender ligações desse tipo fora do horário de trabalho. De saco cheio ela já tentou finalizar a conversa por diversas vezes mas seu cliente parece ter muitas coisas para contar e se ela der corda eles entram madrugada à dentro.

LAVINHA: Eu ligo para o senhor amanhã. Tudo bem. Tchau! -Desligou o celular e deu um suspiro de alívio-
CLÉRIS: Esses clientes seus que adoram te ligar. Tenho ciúmes tá. -Acariciou Lavinha que sentou-se à seu lado na cama-
LAVINHA: Ainda bem que não fez direito -Deu-lhe um selinho-
CLÉRIS: Ainda bem né.
LAVINHA: Como foi na empresa? -Deitou-se à seu lado-
CLÉRIS: Igual -Desmotivado- muito trabalho. O Victor apareceu com um projeto novo. Ótimo paixão. Você tem que ver.
LAVINHA: Não entendo nada daqueles rabiscos esquisitos.
CLÉRIS: Arquitetura paixão.
LAVINHA: Arquitetura são estes prédios e não rabiscos.
CLÉRIS: Os rabiscos os tornam assim. 

     Eduarda que estava desenhando em seu quarto entra segurando uma folha de papel subindo na cama aonde estão seus pais.

EDUARDA: Eu fiz uma casinha para o Flitz de lego.

     Flitz é um peixe de pelúcia que Eduarda tem desde que nasceu. O amor por ele é tamanho que todos já o consideram como membro da família.

CLÉRIS: Verdade gatinha? Depois o papai vê.
EDUARDA: Eu fiz um desenho para vocês.
LAVINHA: E cadê? Você não mostrou pra mamãe?
EDUARDA: Aqui! -Mostrou a folha-
LAVINHA: Deixa eu ver? Que lindo! -Olhou o desenho entusiasmada-

     Cléris olha os rabiscos coloridos feitos por sua filha na folha de papel e comenta:

CLÉRIS: Depois sou eu quem faz rabiscos.

     Lavinha o cutucou. Isso é comentário que se faz em relação à um desenho de uma criança de 3 anos? Cléris não tem a menor habilidade com criança e na tentativa de motivá-la prossegue:

LAVINHA: Explica pra mamãe seu desenho.
EDUARDA: Essa é você e esse é o papai. -Apontou para alguns rabiscos no desenho-
CLÉRIS: E essa bola aqui? -Perguntou apontando para uma espécie de coração que ocupou quase que a metade da folha.
EDUARDA: Não é bola. É coração. 
CLÉRIS: Desse tamanho? -Exclamou-
EDUARDA: É porque o meu amor por vocês é enorme. Maior que esse coração -Abraçou Cléris e Lavinha que sorriram com o carinho da filha-

     Nenhum dos dois esperavam aquela resposta de Eduarda. Lavinha obviamente chorou, ela sempre se debulha em lágrimas com qualquer manifestação de carinho da filha por menor que seja e com Cléris não é diferente, ele não chora como sua mulher mas não deixa de emocionar-se com suas demonstrações de afeto. Como amam aquela pequena garotinha doce e de olhos azuis, de fato, amor não tem nada a ver com sangue, talvez, a amem mais por isso.

   São 11 horas da noite. O campus da faculdade mostra-se movimentado já que a maioria das aulas concentram-se no período noturno. Clara e Angélica tiveram horas antes uma eletiva de neurologia com Ventura. Nenhuma delas desejam ser neurologistas mas por ser aula de seu pai nunca deixaram de fazer qualquer disciplina que ele oferecesse durante o curso. Ventura sente-se orgulhoso por todo carinho e atenção que as filhas dedicam à ele e à seus trabalhos. Angélica inclusive, é seu braço direito em grande parte das pesquisas que realiza. Ela e Eduardo passam horas em frente ao computador levantando dados junto à Ventura. Possessiva como é, muitas vezes é ela quem fica por conta de marcar as reuniões de pesquisa e montar a agenda para que seu pai não tenha trabalho. Todos até a chamam de assessora e se reportam à ela quando Ventura tem dúvida sobre alguns de seus compromissos.

UNIVERSIDADE FEDERAL THEMES SOUZA ( UFTS )

       Na sala do 5 ano de medicina, a turma estão assistindo seus companheiros de classe apresentarem um caso em seminário que vale a nota do semestre. Saraiva fornece uma eletiva sobre casos clínicos em ginecologia e obstetrícia de 2 tempos no último horário. Clara optara pela disciplina por estar no ramo da pediatria, já Angélica, acha que quanto mais matérias tiver no currículo, melhor. Ela e Ventura já haviam brigado muito por conta disso. Ventura havia dito à ela da bobagem que é cumprir eletivas além das solicitadas pela grade curricular, ainda mais no internato. Ao invés de estar cursando disciplinas que nada tem a ver com à sua prática, ela deveria estar se dedicando às suas pesquisas e ao seu TCC mas Angélica com todo seu jeito compulsivo quer superar seus limites. Em algum momento da faculdade ela cismou que isso a faria uma profissional melhor e mais capacitada. Por conhecer seu jeito teimoso e competitivo Ventura resolveu abrir mão de tentar convencê-la do contrário, afinal, ela estava se dando bem e tirando boas notas. Ouve-se aplausos, o último grupo acabara de apresentar o caso e agora todos já podem se preparar para sair. 

SARAIVA: Bom pessoal- Levantou-se ao fundo da sala dirigindo-se à sua mesa enquanto os demais colegas sentam-se em seus devidos lugares- ... Essa foi a última apresentação de caso para a primeira nota do semestre. Acho que todos deram boas contribuições para a análise do caso. Penso que o importante para formação médica seja justamente a capacidade de trocarem informações e pareceres como feito na aula de hoje, sendo assim, vou abrir para quem quiser perguntar.

     Um silêncio toma conta de toda a turma. Ninguém está mais disposto á contribuir ou a perguntar qualquer coisa às 11 da noite. Saraiva então finaliza:

- Já que ninguém se prontificou estão liberados. Obrigado! -Pegou seu material sobre a mesa-

     A movimentação para a saída começa. Saraiva retira-se da sala junto com alguns alunos-

ANGÉLICA: Qual a boa? Sair para beber? -Perguntou levantando-se da carteira-
CLARA: Você está brincando né? A gente não tem plantão hoje?
ANGÉLICA: Sim mas e daí? Hoje é sexta feira maninha.
HELEN: Eu topo ir para o Congress e vocês?

     O Congress é uma boate estilo PUB que se localiza próximo à UFTS. Alguns alunos costumam ir para lá após as aulas para tomar cerveja e jogar sinuca.

ANGÉLICA: Só vou se for 0800.
CLARA: Mão de vaca! 
ANGÉLICA: Mão de vaca nada. Já não basta a fortuna que eu vou gastar na chopada semana que vem. Você sabe que o nosso salário da bolsa de iniciação científica não dá pra nada.
CLARA: Isso é verdade! -Concordou-

     Clara, Helen e Angélica saem da sala em direção ao corredor. Por estudarem no 3 andar ainda tem que descer pelo menos 6 blocos de escadas se não quiserem esperar o elevador que quando não está com defeito, está lotado. Cézar e Thomás que saíram um pouco depois dirigem-se à elas um pouco mais à frente. 

THOMÁS: E então meninas? Para onde vamos?
CLARA: Eu vou HUE. Tenho plantão.
THOMÁS: Que isso Clarinha! Vamos aproveitar juntos os prazeres da sexta feira à noite- Abraçou-a-
CLARA: Me respeita Thomás! Eu sou comprometida. -Afastou-se-

     Clara sabe que a cantada de Thomás não passou de uma brincadeira. Ele se comporta assim com as amigas desde que entrou na faculdade mas para não dar qualquer margem para qualquer confusão ela prefere não dar corda para esse tipo de brincadeira. Ela aprendeu com Lavinha que não se pode ignorar qualquer tipo de situação como essa vindo de um homem. Nunca se sabe quando uma brincadeira pode se tornar algo sério.

ANGÉLICA: Helen chamou a gente pra ir pro Congress.-Continuou-
CÉZAR: Mas vocês não tem que ir para o HUE daqui à pouco?
ANGÉLICA: Daqui à pouco é daqui à pouco companheiro.

     Como qualquer universitário, frequentar chopadas é uma prática muito comum entre eles. Angélica sempre deu muito trabalho à Ventura por conta de suas bebedeiras descontroladas. Desde que ficou solteira ela não ficava um fim de semana sequer em casa. Sempre rodeada de amigos era impossível mantê-la longe dos perigos da noite principalmente das latinhas de cerveja. Eduardo não poderia ter chegado em um momento tão oportuno para Angélica que estava vivendo a vida adoidada. Eduardo sai da sala com Leonor, Larissa e Valéria, ao ver Angélica um pouco mais à sua frente vai até ela e a abraça carinhosamente.

EDUARDO: Uma bala para a menina mais linda da UFTS -Entregou uma bala que havia guardado no bolso de sua calça- 

     Larissa puxa as amigas pelo corredor. Ela não consegue suportar o mela-mela de Eduardo e Angélica sempre que se encontram.

ANGÉLICA: Ainda bem que você acha isso. -Pegou a bala dando um beijo apaixonado bem no meio do corredor-

Clara fica sem graça. Angélica não consegue se conter nas caricias quando se trata de Eduardo. Ela não precisava agarrá-lo e beijá-lo daquela forma no meio do corredor. É sempre assim quando estão juntos  e continuou a caminhar pelo corredor com os amigos. Eduardo após ser beijado por Angélica continua a conversa.

EDUARDO: Tenho que te contar o passeio de hoje que te falei ao telefone.
ANGÉLICA: Estou louca para saber. Nem tivemos tempo de conversar sobre isso.
EDUARDO: Vêm cá que eu te conto tudinho. -A puxou para um canto qualquer do corredor-

Clara, Thomás, Cézar, Helen e Larissa descem as escadas que dá acesso ao 2 andar. O elevador está com uma fila gigantesca e eles chegarão mais rápido indo pelas escadas. Enquanto descem Leonor comenta:

LEONOR: Estou com uma dor no corpo! Acho que vou pedir para o Talles uma massagem.
THOMÁS: Ele é enfermeiro da policlínica da UFTS e não massagista. -Retrucou ao seu lado-

     Talles é enfermeiro da Policlínica da UFTS. Com sua beleza e seu corpo atlético faz muito sucesso com as meninas tanto da enfermagem quanto da medicina. Ele já está acostumado com as mentiras que inventam só para ser atendidas por ele. Com Leonor não seria diferente.

LEONOR: Então eu estou com taquicardia -Desceu apressada-

      A Policlínica fecha para o público às 20 horas mas por professores e alunos utiliza-se do espaço após o horário de atendimento, isso o obriga a ficar até às 23. Leonor precisa correr para encontrá-lo ainda em serviço.

THOMÁS: O que essas meninas vêem nesse carinha?
HELEN: Tudo! Ele é um homem completo. -Suspirou descendo as escadas com os amigos-
ELIANE: Deixa o Marcos saber disso.
HELEN: Gente! Olhar não é traição.
THOMÁS: Diz isso para o Marcos! -Finalizou-

      Enquanto Thomás, Helen, Clara e Cézar se dirigem para a praça da faculdade, Leonor chega à Policlínica. Ela deu sorte! Talles está terminando de guardar alguns materiais na sala de enfermagem, simulando uma falta de ar, ela quase se joga no chão.

LEONOR: Talles! Estou com um pouco de taquicardia, será que você pode me examinar? 

     Talles assustou-se e como um cavalheiro ajudou-a a caminhar até a maca.

TALLES: Posso. Senta aí -Respondeu preocupado-

      Leonor senta na cama desabotoando a blusa deixando somente o sutiã à mostra. Talles coloca o aparelho de pressão em seu braço e examina seu torax com o estetoscópio, ele não percebeu que se trata de mais uma mentira para ser atendida por ele.  Talles é um cara de 30 anos e nunca se envolveu com nenhuma estudante por mais que elas se joguem para cima dele.

LEONOR: E aí? -Curiosa-
TALLES: Não tem nada. A pressão está boa. -Respondeu friamente-

     Talles já percebeu a intenção de Leonor e irritou-se. Ela não deveria tê-lo assustado daquela forma com uma falta de ar forjada. Ele tirou o aparelho de pressão de seu braço e sem mais delongas guardou-o no armário junto com os outros materiais. 

LEONOR: Como não tem nada? -Perguntou estranhando a frieza de Talles- Não está sentindo o coração bater? - Foi até ele e pegou sua mão colocando em seu peito- 
TALLES: Estou! - Respondeu sem graça- Até mais do que devia. -Tirou a mão do peito de Leonor- Mas não é para se alarmar não -Virou-se para o armário-

     Leonor não podia perder essa chance. Eram 23 horas e eles estavam sozinhos, não terá mais oportunidades como essa e imediatamente o abraçou.

LEONOR: Você deixa meu coração ainda mais acelerado! -Seduziu-

Ventura sai de do laboratório de fisiologia. Ele estava mostrando algumas lâminas para os alunos do 2 semestre no microscópio e havia pegado alguns materiais na policlínica. É pra lá que ele dirige no momento, tem que devolver todos os materiais utilizados antes que Talles vá embora. Entrar na Policlínica ele abre a porta e chama por Talles.

VENTURA: Talles? 

Talles ao ouvir o chamado de Ventura afastou-se de Leonor assustado. Havia esquecido que Ventura teria que retornar para entregar os materiais.

- Algum problema aqui? -Olhou para Leonor que começou a abotoar a blusa sem graça-

CONTINUA...


Notas Finais


Não preciso de um crush para estar apaixonada. A vida está aí para isso!


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