Introdução ao capítulo:
Existem pessoas que sempre vão nos surpreender. Algumas podem estar perto, outras longe e algumas... escondidas.
1
Eu suava compulsivamente. Continuávamos a correr e eu não fazia ideia do destino. Margareth só estava tentando me manter vivo. O sol estava quase se pondo e isso poderia auxiliar na nossa fuga. Sabia que agora era um caminho sem volta. Nenhum de nós retornaria a Cidadel.
Paramos e nos encostamos nas arvores para descansarmos um pouco. Ficamos nos olhando por um bom tempo, como se estivéssemos certos do que estaria por vir. O desconhecido seria um adversário complexo, mas não invencível. Nos olhos dela, encontrei algo que jamais tive na minha vida: Apoio.
- Pra onde estamos indo? – Digo um pouco ofegante.
- Há alguns anos estava fazendo uma ronda de rotina para a Cidadel. Decidi ir além. Explorar além dos limites seguros. E eu achei o fundador. – Limpa o suor e leva as mãos aos joelhos para respirar.
- O FUNDADOR? – Seguro a risada. – Garota isso é bobagem. Todos sabem que Marcos é o líder desde o começo da Cidadel e é um homem bom.
- Marcos que deu a ideia de te matar e depois entregar o corpo aos revolucionários como trégua. Tem certeza que ele é tão bom quanto pensa? - Suspira.
Aquilo me deixou pensativo. O fundador soava mais como uma lenda do que qualquer outra coisa. Não havia prova ou testemunhas de que no início, o homem que projetou os portões, as torres de vigilância e outras partes importantes da Cidadel tivesse sido expulso por divergências com o Marcos.
Quando escutamos latidos vindos de longe. Não estavam poupando esforços para me encontrar. Nos recompomos, bebemos um pouco mais de água e seguimos caminho. A floresta parecia nunca terminar e meus pés já acusavam o cansaço.
2
A noite finalmente caiu. Mas a lua estava tão grande que iluminava todo o caminho. Aos poucos consegui notar que havia uma trilha no chão, aberta por golpes de facão. Até que numa arvore, um “X” estava marcado num dos longos galhos.
- Estamos quase lá. – Diz Margareth ao observar.
Logo, chegamos a uma cabana velha que aparentava estar com a lareira acessa. Subimos para a parte da entrada e paramos diante a porta. Margareth bateu três vezes e depois de um segundo, bateu mais duas vezes bem rápido. Podia ser um tipo de sinal.
Quando escutamos passos lá dentro. Fazia anos que não ia tão longe da Cidadel, aquilo estava me assustando. Porém, permanecia expressando naturalidade para que Margareth não me achasse fraco.
A porta se abre, revelando um homem não tão velho, alto e com cabelos grisalhos. Não havia seriedade no seu rosto, apenas um sorriso ao ver Maggie.
- Minha criança, como é bom te ver! – A abraça forte.
- Karin, quanto tempo. – Margareth sorri e o olha fixamente. – Precisamos conversar. Tenho muito para te contar.
Permaneço em silencio.
- Quem é seu amigo? – O homem olha fixamente pra mim e analisa. – Namorado?
- Eu te apresento Jim Morris em pessoa. – Maggie dá um tapinha no meu ombro como se fosse uma honra me apresentar e entra na cabana.
- Olha só... – Ele ri tanto, que chega a ficar quase sem ar. – Ai ai... Desculpe, mas não é todo dia que recebo o patrocinador do final do mundo na minha humilde cabana. Pode entrar.
Entro no local com um sorriso meio forçado. E até me surpreendo com a organização da casa. Tudo limpo, lareira com fogo e uma mesa de centro feita de madeira. O lugar não era grande, mas sem dúvidas mil vezes mais aconchegante do que os nossos quartos na Cidadel.
- TIO JIMMMM! – Lui sai de um dos quartos e pula para me abraçar.
- Ainda bem que nada te aconteceu. – O abraço de volta.
3
Sentamos todos ao redor da lareira e deixamos Karin a par do que havia ocorrido. E por incrível que pareça, nada o surpreendeu. Os revolucionários, a tentativa de Marcos me matar e o sistema Lola ter voltado naquele dispositivo.
- Então o senhor é realmente o fundador? – Pergunto sem tirar os olhos da lareira.
- Eu projetei tudo naquele lugar. Cada torre, alojamento e portão... tudo ideias minhas. – Suspira e cruza as pernas. – Eu sabia que muitas pessoas iriam pra lá. Tinha potencial para ser uma grande comunidade. Mas Marcos e seus amigos que vocês devem conhecer por fiéis, acharam que músculos seriam uma liderança melhor do que alguém sábio.
- E por que os primeiros moradores nunca falaram nada sobre? - Indago.
- Por que se eu havia sido expulso, por que simples moradores retrucariam? Ninguém quer perder uma cama com cobertor e alimentação todo dia. Marcos silenciaria cada um que falasse meu nome. Mas por sorte. – Pega a mão de Maggie. – Há alguns anos essa garota me achou e trouxe paz as minhas antigas mágoas.
Aquela história era difícil demais para se assimilar num dia só. Mas eu sentia que era verdade.
- Karin, precisamos chegar ao Brasil. – Margareth diz ao ajeitar a lenha na fogueira. – Você ainda está trabalhando no Neiva?
Um sorriso se abre no rosto de Karin. Ele fica em silencio, beija a testa de Maggie e vai até o quarto. Depois de um tempo, volta com capacetes, paraquedas e um mapa. Tudo aparentando ser velho, mas ainda sim de qualidade.
- Quem quer viajar de avião? – Ele diz.
Fico boquiaberto.
- Mas não tem como o motor funcionar... – Digo.
- Garoto... nunca subestime um velho com tédio. – Ri e me da um soco fraco no ombro. – Vem comigo.
4
Saímos pelos fundos da cabana e andamos uns 15 minutos até chegarmos a uma pista de pouso, com um hangar. Galhos e pedras estavam no meio do asfalto. O lugar realmente tinha sido esquecido.
Quando abrimos a porta do hangar, um bimotor branco estava ali. A lataria perfeita e brilhante. A lua até refletia em uma das asas. Porém, não havia como o motor aceitar a ignição. O sistema elétrico deve ter queimado com o pulso eletromagnético da Lola. Não via carros, lanchas e muito menos aviões funcionando há muito tempo.
- E se eu te falar que consegui um jeito de fazer isso tudo funcionar? – Karin diz ao abrir a porta do avião.
- Como? – Lui pergunta, também curioso.
- Essa é uma ótima questão, pequeno Lui. – Karin aperta a bochecha dele e retoma a explicação. – Não foi fácil, todas as baterias do planeta entraram em curto. Mas por sorte, o dono desse avião devia ser muito rico e colocou 3 baterias em uma caixa revestida de chumbo no subsolo desse hangar. A onda chegou fraca até o subsolo, facilitando o trabalho do chumbo de repelir.
- E se as baterias morreram? Ninguém as utiliza a anos. – Pergunto.
- Bem... o primeiro teste foi há duas semanas. E consegui ligar todo o painel. Só não fui embora por que sabia que um dia, minha pequena Margareth viria. – Sorri e coloca as mochilas pra dentro do avião.
- Mas esse avião é um bimotor... vamos demorar semanas até chegarmos no Brasil. E o combustível? – Pergunto enquanto vigio o lado de fora do hangar.
- Temos combustível, alimentos e armas para fazermos essa viagem. Acha que combustível é o problema? As pessoas vão querer matar para ter esse transporte. – Suspira. – Embarquem todos. Vamos partir.
5
Estava tudo pronto. A sorte precisava estar conosco. A bateria principal foi colocada e Karin seria o nosso piloto. Me sentei na cadeira do copiloto para auxiliar e Margareth ficou abraçada com Lui nos assentos traseiros. Quando Karin virou a chave, o painel todo se iluminou em diferentes cores.
- DEU CERTO! – Grito e coloco as mãos no rosto.
Depois de uma breve vibração de felicidade, o avião começou a dar a volta na pista para se posicionar na decolagem. Quando estávamos prontos, Marcos surge no final da pista com uma tocha na mão e uma pistola na outra. Não demorou para iniciar disparos contra o veículo.
- E agora? O que faremos? – Maggie pergunta.
- Esperei por esse momento há muito tempo. – Karin da um sorriso maléfico e aciona a aceleração.
Conforme o avião ia se aproximando de Marcos e os disparos aumentavam, Karin gritava mais alto. Sim, ele queria mata-lo. Quando Marcos tentou desviar, já era tarde. A hélice frontal havia o tornado carne moída. O branco do avião foi substituído por vermelho sangue.
Rapidamente, eu e Karin puxamos a direção contra os nossos peitos e seguramos firme. Logo o avião saiu do solo e levantou voo. Margareth disse que na janela traseira era possível ver os fiéis ajoelhados próximos a algumas partes do corpo. Aquilo soava como vitória.
- Espero que agora a Cidadel tenha um líder que mereça estar lá. E sabe o que ainda me aborrece? É que muitos vão sempre lembrar dele como um herói. – Disse Karin.
Nossa viagem finalmente tinha começado. Agora o sonho de trazer o mundo a normalidade estava mais próximo de se realizar do que nunca.
Muitos usuários deixam de postar por falta de comentários, estimule o trabalho deles, deixando um comentário.
Para comentar e incentivar o autor, Cadastre-se ou Acesse sua Conta.