1. Spirit Fanfics >
  2. O Mundo Perfeito >
  3. A ilusão se desfaz

História O Mundo Perfeito - A ilusão se desfaz


Escrita por: Mallagueta

Capítulo 5 - A ilusão se desfaz



- Eu espero que dessa vez ela fique. Criar essas formas de luz e controlá-las é muito trabalhoso. Você sabe que eu não me dou bem com a luz. Prefiro as trevas.
- Não se preocupe. Ela ficará dessa vez. Não há como resistir.
- Tenho minhas dúvidas. Com as outras crianças foi mais fácil porque elas são muito novas mais impressionáveis. Essa menina é mais velha e muito inteligente para acreditar em qualquer coisa.
- Tentaremos só mais essa vez. Mas algo me diz que ela ficará.
- Assim espero. Perdemos tempo valioso. Já poderíamos estar com mais duas crianças em nosso poder e até agora não conseguimos nada.

A pequena fada foi liberada para ir atrás de Maria Cebolinha. Só faltava esperar e torcer.

__________________________________________________________

As coisas não estavam nada boas. As horas passavam e nada da Mônica e do DC. Dona Cebola estava na casa dos Souza tentando dar apoio. Cebola estava envolvido em um dos seus planos malucos e seu pai estava trabalhando. Ela ficou sozinha em casa e totalmente esquecida por todos. Bem... ela já era grandinha e não precisava de supervisão constante. Mas lhe chateava bastante aquela sensação de estar sendo deixada de lado.

Isso, somado ao fato de o almoço ter sido uma porcaria requentada do dia anterior, só fez com que seu dia piorasse mais ainda e o desejo de ficar definitivamente com a outra família se tornava cada vez maior. Pelo menos ali ela não havia aqueles problemas ela era o centro das atenções, uma princesa paparicada por todos. Quem não ia querer uma vida assim?

- Vem... vem...
- Ai, que bom! Você chegou mais cedo! – Maria falou muito alegre. Quanto mais cedo fosse ao outro mundo, mais tempo poderia ficar por lá. Isso, claro, se ela não decidisse ficar para sempre.

__________________________________________________________

Do lado de fora, ela viu que a menina tinha sucumbido a tentação novamente. Previsível, já que era somente uma criança e não tinha plenas condições de pensar nas conseqüências dos seus atos. Bem... ela sabia que ia acontecer e esperava por isso. Aquela garota podia ser de grande ajuda no fim das contas. Isso, claro, se fosse capaz de vencer seus medos.

__________________________________________________________

- Seja bem vinda, Maria Cebolinha! – a outra família saudou de braços abertos
- Como vai nossa princesinha?
- Vem cá que eu quero dar um abraço na irmãzinha mais linda do mundo!
- Eu quero dar um abraço na minha cunhadinha!

Todos disputavam quem ia segurá-la no colo e encher seu rosto de beijos e ela se deixou levar sentindo-se a menina mais feliz do mundo. Aquilo sim era vida!

- O que vamos fazer hoje? – o outro Cebola respondeu.
- Uma coisa muito especial. Você sabia que o circo chegou à cidade?

Seus olhos brilharam. Ela não ia ao circo há muito tempo.

(Mônica) – O espetáculo de hoje foi feito em sua homenagem!
(Cebola) – Tudo já tá preparado. Você vai adorar!

Ela os seguiu de boa vontade e ficou maravilhada ao ver a beleza do grande circo montado no bairro. Era uma grande tenda colorida, com muitas bandeirinhas, luzes e balões por toda parte. A platéia estava lotada e havia um bonito camarote feito especialmente para ela equipado com suco, refrigerante, algodão-doce, pipoca, sorvete e maçã do amor. Ela se esbaldava com as guloseimas enquanto aguardava o início do espetáculo. E que espetáculo aquele!

Era algo que ela só tinha visto pela televisão quando anunciavam a chegada do Cirque Du Soleil e mesmo assim muito brevemente. Mas aquilo era muito melhor porque os artistas faziam performances que no mundo real seriam impossíveis. Nem a Mônica seria capaz de equilibrar um filhote de elefante numa vara de bambu! E como aquela bailarina conseguia fazer malabarismos com tochas enquanto balançava no trapézio? Céus, aquela pirâmide humana ia além da sua imaginação! E aquele cavalo andando num monociclo era algo que ela jamais imaginou ver em sua vida.

O espetáculo seguia com muita música, cores, luzes, efeitos especiais, performances de animais exóticos que ela nunca tinha visto antes, imensos shows de mágica e ilusionismo. Quanto mais o tempo passava, mais ela queria continuar naquele lugar fantástico. O resto não importava. Tudo ali era perfeito como ela sempre quis.

- Agora, senhoras, senhores e Maria Cebolinha! Com vocês, o fantástico Sr. Saposo e seus sapos dançarinos!

Um homem de roupa verde, uma grande cartola e bengala na mão entrou sendo seguido por vários sapos que pulavam dando voltas no ar. Eles dançavam ao som da música, faziam acrobacias e shows de agilidade. Maria acompanhava tudo rindo e batendo palmas para aqueles sapos incríveis. Ela normalmente não gostava de sapos porque achava nojento, mas aqueles eram impressionantes!

- Eu até que ia querer um sapinho assim. – ela falou para si mesma. – Um sapinho bem bonitinho...

Seu sorriso desapareceu ao lembrar da conversa que tivera com aquela mulher estranha mais cedo.

"- Você sabe o que acontece se colocarmos um sapo numa panela de água fervente?"

Ela sentou-se novamente, já não prestando mais atenção ao espetáculo.

"- Ele sairá pulando na mesma hora e mesmo ferido, sobreviverá."

Era estranho como de certa forma, aquilo parecia fazer algum sentido.

"- Mas se você colocá-lo numa panela de água fria e aquecer gradualmente, ele continuará quieto e irá morrer aos poucos."

Uma coisa ruim pareceu revirar em seu estômago e de repente sua alegria começou a dissipar.

"- A mesma coisa está acontecendo com você."

Seu corpo tremeu. Por que ela foi lembrar daquilo justamente no meio daquele espetáculo tão lindo? Droga, aquela mulher acabou estragando seu dia! Por outro lado... Por que uma desconhecida iria lhe falar aquelas coisas assim do nada? Será que ela sabia de alguma coisa?

"- Pense muito bem antes de atravessar a porta."

Calafrios desagradáveis percorreram seu corpo. Qual seria a probabilidade de uma mulher estranha, que ela nunca viu em sua vida, saber de alguma coisa sobre a porta mágica do seu porão? Ainda assim... Por que ela deveria ter medo daquele lugar tão lindo? Tudo ali era perfeito e todos se desdobravam para agradá-la!

"- Por enquanto, você se sente feliz e confortável, mas a água está se aquecendo cada vez mais e chegará um ponto em que você não poderá mais sair."

Por acaso isso estava acontecendo com ela? Será que todo aquele sonho podia lhe fazer mal no fim? Era mesmo possível? De repente, sua visão ficou turva e o cenário a sua volta pareceu se deformar por alguns segundos, voltando ao normal logo em seguida.  

- O que foi, Maria? Algum problema? – o outro Cebola perguntou e ela sentiu um pouco de medo da forma como ele a olhava, como se estivesse lhe vigiando.
- É que eu tô meio cansada... o dia lá na escola foi muito ruim...
- Quer ir pra casa? A mãe vai te fazer um lanche bem gostoso!

A menina aceitou, pois não tinha mais espírito para continuar vendo o espetáculo. Chegando em casa, ela foi saudada novamente e daquela vez sentiu-se desconfortável com tanta demonstração de afeto que chegava a sufocar um pouco. Mesmo assim ela não falou nada e aceitou o lanche delicioso que sua outra mãe tinha lhe oferecido. Era misto quente com Milk-shake de morango com creme e raspas de chocolate. Ao dar uma mordida, ela sentiu algo estranho na boca, como se a comida tivesse perdido o gosto.

Olhando ao redor, tudo voltou a tremer novamente. Não... havia algo de muito errado ali.

- Você não está gostando do lanche que a mamãe fez, Mariazinha? Quer que eu faça outra coisa? Talvez uma pizza, ou pasteizinhos de palmito?
- Não, obrigada... é que eu comi muita coisa lá no circo e tô sem fome...

A menina levantou-se da mesa e foi para a sala sendo seguida por todos. Será que eles não podiam lhe deixar só um pouco sozinha? Por que ela tinha a impressão de que estavam lhe vigiando?

- Eu... eu estou com um pouco de sono e queria dormir... – ela mentiu tentando desvencilhar daquela vigilância. Os pais alternativos, no entanto, queriam tocar naquele assunto delicado que ela estava evitando. Sua mãe começou.
- Hoje é seu terceiro dia aqui, meu bem. Agora você precisa escolher.
- Você quer ficar aqui e ser tratada como uma princesa ou voltar para aquele mundo chato e sem graça? – o pai alternativo perguntou.
(Cebola) – Se você ir embora pra lá, nunca mais poderá voltar pra cá novamente. Pense bem!

A menina recuou alguns passos. Não era justo eles a pressionarem daquele jeito. Tratava-se de uma decisão muito difícil que ia afetar o resto da sua vida.

(Mônica) – Fique conosco, Maria! Aqui nós dançaremos, brincaremos juntas, eu vou te vestir como princesa todos os dias!
(Cebola) – Eu sempre brincarei de boneca com você sem reclamar!
– E eu farei sua comida preferida sempre! Cuidarei muito bem de você! – a outra mãe falou abrindo os braços para pegá-la no colo, mas a menina recuou novamente.
- E eu lhe darei tudo o que quiser! – o outro pai também falou. Todos falavam ao mesmo tempo, inclusive fazendo promessas absurdas de coisas que ela nunca quis em sua vida. Por que eles queriam tanto que ela ficasse?

Um mal estar invadiu seu corpo, que parecia estar rejeitando toda aquela idéia insana de viver naquele mundo artificial. Sim... aquele não era o seu mundo de verdade. Podia ser real para aquelas pessoas, mas não para ela. Como ela ia viver o resto da sua vida ali? Será que ela ia crescer? Ir para a faculdade? Ter uma profissão? Será que ela queria mesmo viver o resto da vida como uma princesa, usando aqueles vestidos que apesar de lindos eram quentes e desconfortáveis? Era aquilo mesmo que ela queria? Ser paparicada o tempo inteiro como se não houvesse mais nada importante no mundo?

- Gente... olha... – ela falou finalmente, sentindo-se muito triste por dar aquela resposta. – Eu gosto muito daqui, de verdade! Se pudesse, voltava todos os dias. Mas morar aqui não dá! Eu tenho minha família lá do outro lado e eu não quero separar deles! Me desculpem, tá?
- Então você não gosta daqui? – a outra mãe perguntou muito triste, assim como o outro pai.
- Não fomos bons para você?
(Mônica) – Não gostou de nós?
(Cebola) – Fizemos algo de errado?

O mal estar aumentou.

- Não, nada disso! Eu adoro esse lugar e adoro vocês, mas também adoro minha família e quero ficar com eles!

Pela primeira vez, a outra mãe fechou a cara.

- Nós somos sua família também! A outra família!
- Mas eu conheci eles primeiro, nasci lá! – Maria falou sentindo medo. Aquela mulher estava certa, ela devia ter pensado muito bem antes de atravessar a porta. E se aquelas pessoas não quisessem deixá-la ir embora?

Todos a olhavam de forma recriminadora, como se ela fosse a maior ingrata do mundo. Sua outra mãe confirmou essa sensação.

- Depois de todo o trabalho que tivemos por você! Nós te damos tudo o que você sempre quis!
- Fizemos tudo por você! Eu até feri minhas mãos ao fazer aquela casa de bonecas!
- Desculpa, eu não queria magoar ninguém. Por favor, só quero ir pra casa, tá?
- Aqui é sua casa! – eles falaram em uníssono e a menina fez um grande bico e bateu o pé sentindo-se cansada de toda aquela chantagem emocional.
- Não é não! Minha casa é lá do outro lado da porta. Eu quero ir embora, não quero mais ficar aqui!

Quando terminou de falar, o cenário ao redor voltou a tremer e a se deformar. Os móveis foram escurecendo até se transformarem em sombras que evaporaram no ar. Seus pais alternativos, o outro Cebola e a outra Mônica também foram mudando, perdendo a forma humana até virarem grandes bonecos que pareciam controlados por fios escuros. Esses bonecos foram desaparecendo também, assim como tudo ao redor e sobrou apenas um lugar frio, escuro e assustador. Seu medo cresceu mais ainda. Onde ela estava afinal de contas? Que lugar era aquele?

- Eu quero ir pra casa! – ela choramingou andando de um lado para outro tentando encontrar a saída.
- Você não irá a parte alguma, menina feia! – uma voz feminina falou, sendo acompanhada por outra.
- Não acredito que tivemos tanto trabalho com uma pirralha mimada como você!

Maria viu duas sombras surgindo da escuridão. À medida que seus olhos foram se acostumando, ela viu que tinha muito mais naquele lugar do que imaginava.

 



Gostou da Fanfic? Compartilhe!

Gostou? Deixe seu Comentário!

Muitos usuários deixam de postar por falta de comentários, estimule o trabalho deles, deixando um comentário.

Para comentar e incentivar o autor, Cadastre-se ou Acesse sua Conta.


Carregando...