-Garu, como assim você vai se mudar semana que vem?
A história já tinha se espalhado pela escola, porém era algo inimaginável até para os amigos mais próximos do garoto. Garu, o órfão que vivia solitário na floresta, iria partir em questão de dias. Seu melhor amigo, Abyo, não conseguia parar de perguntar mais e mais coisas para seu companheiro de longa data. Os dois sempre faziam os trabalhos juntos, saíam juntos, brincavam e lutavam um ao lado do outro. E tudo isso com uma grande condição: em (quase) todas as interações, Garu não respondia de volta.
- Seria muito bom se você pudesse explicar essa história direito para a gente, Garu! - disse Ching, aprendiz de espadachim e amiga de longa data do garoto – Nem que seja digitando no celular, exijimos uma explicação!
O garoto então sacou o celular em seu bolso e começou a digitar. Havia se formado uma pequena roda de colegas em comum em volta dele, porém isso não o intimidou, já que continuava ritmicamente a escrever um longo parágrafo em seu aplicativo de notas. Ao terminar, passou o aparelho para a menina.
- “Vou melhorar minhas habilidades indo para a academia Roteu” Você vai treinar na academia Roteu? - perguntou assustada. “Vou fazer o treinamento completo e depois voltarei para cá”.
Todos ficavam surpresos com a história, e já queriam mais detalhes sobre essa conquista. Afinal, a companhia Roteu era famosa pelos excelentes professores, equipamentos e métodos de ensino nas artes do taekwondo, ninjatsu e estudos.
- Você conseguiu uma bolsa lá?
- Quanto tempo ficará estudando?
- Nossa Garu, eu sabia que você era esforçado, mas dessa vez você me surpreendeu.
Porém, dentre as pessoas da multidão encontrava-se outra pessoa, que se encontrava quieta. Ela o olhava como se tivesse sem alma, como se ele tivesse falado a pior coisa que poderia acontecer – mas, no caso dela, realmente era algo terrível. A pessoa que ela mais amava partiria da cidade.
Ela se remoeu e tentou colocar os pensamentos em ordem, porém seus sentimentos prevaleceram.
- Você... vai nos deixar... vai me deixar?
Duas lágrimas quentes correram pelo rosto da garota, seus punhos estavam tão cerrados que chegavam a tremer. Pelo tom de voz diferente da maioria das pessoas, aos poucos os que estavam ao seu redor ficaram quietos e olharam para ela, até a atenção de Garu se voltar para ela.
- Pucca...
- Ele foi convocado pela maior academia de ninjas! Você deveria ficar feliz por ele ir, finalmente evoluirá em suas habilidades como guerreiro. Uma grande honra para a nossa geração, até.
- Você não entende mesmo, Chan!
Ela correu daquele local, com o rosto vermelho de nervoso e de tanto chorar.
*/*
A notícia de que Garu iria embora já corria pela cidade, até no restaurante Go-rong não se falava de outra coisa entre os clientes e funcionários – especialmente porque todos sabiam o quanto a sobrinha dos chefes gostava do garoto. Dada, um dos funcionários, observava de longe como a garota servia os clientes, como se não tivesse mais nada pela cabeça. Ela, apesar de ser eficiente e rápida com os pedidos, não estava com o melhor humor para passar para os clientes.
Por um impulso, decidiu comentar esse assunto com os tios dela e donos do local, Ho, Linguini e Dumpling.
- Pois é, todos nós sabemos que ela está devastada depois de saber que o Garu vai embora – comentou Dumpling.
- Ela realmente parece gostar muito dele, mas sabemos também que é só uma coisa de idade. Vai passar... - disse Linguini, enquanto preparava os macarrões para a clientela.
- Gostaria de saber animá-la nesse momento difícil.. Apesar de sermos próximos, uma boa parte dela suportar viver conosco sem se preocupar com os pais é por conta do Garu. Ela sempre foi a namorada dele, mesmo que ele não concorde haha – falou Ho, enquanto cozinhava.
- Então... Os pais da Pucca faleceram?
Os chefes se olharam, como se disputassem em quem explicaria essa questão para o funcionário.
- Não, eles só são bem ocupados com seus trabalhos. - suspirou Dumpling – eles só nos visitam algumas vezes por ano, porque eles estão sempre com algo para fazer.
- Nossa que sinistro! - tremeu – que trabalhos seriam esses?
- Ah garoto, vai pegar o pano com vassoura para passar na entrada por favor! - terminou Ho, quase com fogo em seus olhos.O garoto saiu correndo e assustado, achando que os pais dela trabalhavam com alguma coisa muito suspeita tipo... Espiões! Ou hackers! Pensava consigo próprio: “Nossa, eu não posso irritar meus chefes mesmo, eles podem acabar comigo caso faça algo errado!”
- Tios, o Dada mijou na frente do restaurante de novo... Vocês os assustaram?
- Ah, ele só estava fazendo perguntas demais. Ele não precisa farejar nossa família demais.
- Mas ele chegou a perguntar algo de mais?
- Ele perguntou sobre o que seus pais trabalhavam, mas realmente, não preciso comentar que eles são pesquisadores e exploradores da vida animal. Ele realmente é um fofoqueiro, não podemos ficar dando corda demais senão... – e Dumpling começou a rir, seguido de seus irmãos.
Após pequenas risadas, eles perceberam que a garota olhava para baixo, parecendo sem esperanças de prosseguir. Eles se olharam entre si, e mais uma vez uma pseudo batalha de quem começava a tocar no assunto que a incomodava. Porém, por demorarem demais ou por impulso próprio, ela começou a tirar umas lágrimas.
- Pucca – Ho a abraçou, e fez sua cabeça encostar em seu ombro levemente – você tem que ser forte, já que melhor que ninguém, sabe que ele está com uma oportunidade única.
- Tio.. - sussurrou – Posso ir com ele?
- Mas você só tem 12 anos, querida. Sei que você gosta dele, porém é muito nova para morar e/ou viajar sozinha assim.
- Eu não iria sozinha, tio..
- Querida... - Dumpling acariciou o cabelo da garota – Não deixaríamos uma garota de 12 anos viajar com um menino de 13 para muito longe. E se você enjoasse de treinar? Eu sei que você só se aperfeiçoou nas artes marciais por pedido de seu pai e por admirá-lo. Porém, acredito que você tem um potencial muito grande para fazer muitas coisas por aqui... - deu uma pausa e comentou – você pode fazer cursos de línguas ou outros.
- E outra coisa, Pucca... Se prender a um homem com essa idade é ruim. Eu mesmo já fui casado, e muitas coisas tive que abdicar enquanto namorava. Acho que você pode aproveitar esse tempo pra fazer tanta coisa, tão jovem. - Disse Linguini, por fim, e abraçou os três
– Lembre-se que somos uma família e nos amamos acima de tudo!
- Tios... Obrigada...
*/*
Aquele era o penúltimo dia que Garu estaria pela cidade. Ele estava aproveitando com seus amigos seus últimos momentos andando pela cidade e comendo todas as besteiras que viam pela frente. Pareciam esfomeados, até.
O círculo de amizade que seguiram e passaram pelas séries sempre juntos estava prestes a se rachar, porque todos sabiam como Garu era ruim em se comunicar com os outros.
- Cara, lembra do dia que nós pegamos sorvete escondido da tia Lee?
- Quase que fomos pegos naquele dia! Corremos que nem loucos!
- Vocês são todos uns idiotas, sabiam?
Risos e doces lembranças corriam em suas cabeças. Em cada ponto que passavam, eles comentavam e lembravam de algo que tinham feitos, provavelmente alguma travessura quando mais novos.
- Garu – comentou Chan – sei que só nos conhecemos há 1 ano, mas sou muito grato pelo que você fez por mim. Aqueles idiotas não deveriam ter pego nosso dinheiro da mesada...
- Você caiu como um para-quedas no nosso clube, Chan, e eles estavam fazendo bullying contigo só por ter sido um calouro na escola... - Comentou Yoosung, o mais inteligente dos presentes.
- Pelo menos tenho você para continuar a treinar minhas técnicas de artes marciais! - comentou Abyo parecendo sério, porém todos caíram na gargalhada.
- Haha...
Quando passaram pela praça da cidade, encontraram as duas meninas – Ching e Pucca, segurando algumas caixas. Eles correram para ver o que era.
- Olá meninas! Isso seriam PRESENTES?- Deixa de olho gordo, Abyo! São, mas para o Garu!
- Nossa, eu não sabia que você tinha voltado a falar, Pucca – comentou Chan.
- Não era como se eu tivesse deixado para sempre de falar, sabia? Aliás, é melhor colocar pra for a nossos pensamentos.
- Nossa, como pode ser tão nova mas falar tão forte assim? (lágrimas falsas saíam dele)
Elas entregaram os presentes para o Garu, que segurou parecendo genuinamente feliz e envergonhado por recebe-los.
- E aí, vai abrir para a gente ver?
- Claro que não Yoosung! Só abra quando você tiver no vôo, tá bem Garu? Promete de dedinho? - Ching levantou o dedo mindinho sinalizando o voto, e recebeu uma balançada de cabeça do garoto, confirmando.
Enquanto os meninos conversavam, Pucca se esforçava para olhar pra baixo. Ela realmente não estava acreditando que teria que deixá-lo partir, mesmo sendo para um bom lugar.
- Eu... realmente estou orgulhosa de você, oppa. Por favor, dê seu melhor lá, viu! Seja o aluno número 1.
Ele a olhou com um olhar sereno – parte disso porque ele sabia que não precisaria aturá-la mais por um tempo, mas além disso, ele sabia que era difícil para ela também. Mesmo sendo 2 anos mais nova, ela sempre foi muito fiel a ele, e nunca deu confiança a outros garotos. Depois daquilo, ambos estariam livres e abertos à novas experiências e pessoas. Enquanto se encaravam, os amigos ficaram olhando em volta e começaram a conversar entre si, dando brevemente um tempo para os dois conversarem, ou ao menos, terem um momento a sós.
- Me desculpe por não poder seguir o voto do silêncio contigo.. É só que.. as circunstâncias foram extremas demais para mim. Eu queria.... Realmente... Ficar para sempre contigo... Mas deve ser um bom momento para nós crescermos um pouco mais. Eu prometo ficar sem namorado e te esper-
Ela foi cortada pelo dedo do mais velho, com uma cara séria. Ele pegou o celular rapidamente e a mostrou.
“Não se prive de ser feliz enquanto estiver ausente. Faça o que tem que fazer, ame quem quiser amar e viva a vida por completo, sem depender de mim. É só o que peço para você. Você.. me promete? Que continuará sorrindo e animando nossa vila até eu voltar?”
E enquanto ela lia, lágrimas começavam a correr pelo rosto, seguidos de pequenos soluços.
- Mas.. São só quatro anos! Eu.. serei forte.. consigo esperar... E você... Vai me esperar?
- Não se preocupe Garu, nós cuidaremos da Pucca enquanto você estiver lá for a. - Chegou Abyo, confortando a garota, que logo se afastou dele – além disso, em quatro anos você pode conhecer muitos meninos Pucca! E outros ninjas também...
- Nenhum deles é como o Garu...
- Mas ele também vai conhecer muitas meninas até lá, já pensou nisso? - e após Chan ter dito isso, foi fuzilado pelos olhares de Ching e Abyo.
A menina de vestido vermelho voltou apenas a chorar, como se tivesse deixado o sorvete cair no chão. Para a surpresa de todos, Garu a abraçou bem forte, com os olhos apertados. Sem ninguém perceber, ele chegou em seu ouvido e cochichou “obrigado”. Ela começou a chorar ainda mais, já que raramente tinha ouvido seu amado falar, e ainda assim, em seu ouvido. Estava tanto feliz quanto triste pelo ocorrido. Então, após se acalmar, se afastou do ninja.
Do casaco que usava, ele tirou um envelope e entregou-a. Era claramente uma carta para ela, algo que ela nunca esperaria! Ficou sem palavras com essa surpresa.
- Se quiser Pucca, você pode ler essa carta pra gente né haha – Comentou Yoosung.
- Corta essa! Deixa ela ser sozinha – Disse Ching, que deu uma ‘pedalada’ na cabeça do colega.
- Obrigada...
*/*
Era a hora realmente da despedida, as crianças estavam indo para suas casas, e todos estavam acompanhando Garu até a casa de seus tios na vila – já que, por estar se mudando, ele não precisaria mais treinar sozinho na floresta. Todos falavam palavras de encorajamento e brincadeiras para o garoto, que ouvia tudo muito atentamente e ria dependendo da piada. Ao chegarem em frente a casa, todos se abraçaram em si, e ele começou a se despedir individualmente de cada um, deixando Pucca e Abyo por último. Ele decidiu começar pelo amigo, já que suspeitava que perderia algum tempo com a garota.
Abyo estava fungando, obviamente tentando não se emocionar com a situação, porém não deu muito certo. Respirou fundo e começou a falar (ou tentar).
- Garu, por favor, se cuida lá hyung! - E o abraçou fortemente – Vê se manda notícias, tá? E continue sendo meu melhor amigo, por favor! Mande mensagens sempre que der para mim!
O amigo concordou falando um “uhum” bem baixinho, com os olhos marejados. Era visível que ambos haviam passado muita coisa juntos e se apoiavam mutualmente.
Depois tinha chegado a vez de Pucca. Todos naturalmente começaram a se sentirem meio estranhos com a situação, já que sabiam que os sentimentos que Garu tinha com ela não eram os mesmos que sua amiga. Porém, para a surpresa de todos, ele pegou as mãos dela antes que ela tomasse qualquer atitude.
- Você promete nunca esquecer de mim, Garu?
Sem questionar, ela fechou os olhos e levou seu lábios até os deles, e diferentemente das outras vezes, ele não hesitou e também a puxou mais perto de si, selando o beijo. Ela deixou uma lágrima escapar pela surpresa, e então se afastou do garoto, pensativa com tudo. Acreditava que o beijo foi uma confirmação de sua pergunta.
Os tios de Garu chamaram pelo garoto, e logo ele se curvou a todos e deu acenou para todos, e era visível que seus olhos estavam marejados. Parecia que a ficha dele, finalmente, tinha caído. Ele se distanciaria dos seus amigos e da sua vida naquela pequena comunidade.
A última pessoa que ele avistou, segundos antes de fechar a porta foi Pucca, e ela percebeu que suas bochechas estavam molhadas. Ela olhou diretamente para a lua, e meditou sozinha...
~ Por favor lua, me prometa que meu Garu ficará bem lá.
Muitos usuários deixam de postar por falta de comentários, estimule o trabalho deles, deixando um comentário.
Para comentar e incentivar o autor, Cadastre-se ou Acesse sua Conta.