História O novo Romeu - 1.1 - Where is she?

ETHAN:

Fazia muito tempo que eu não faltava na escola.

Costumava fingir-me tanto de doente quando mais novo que, nos dias em que eu realmente pegava uma gripe ou resfriado, não tinha escolha a não ser me aprontar para estudar ou perderia todo o ano letivo por simples faltas.

Passei boa parte da manhã dentro do quarto amarelo meu e do meu irmão, ouvindo as músicas dele no aparelho antigo de fita cassete. Esperei minha irmã partir em direção ao trabalho para finalmente começar a me aprontar para sair.

Tomei um longo banho, deixando a água bater no corpo e escorrer até o chão durante quase uma hora, passei perfume, usei a lâmina de barbear do meu pai para tirar os pelos ralos que cresciam no queixo. Quanto a roupa, tive de ir de roupão até o armário de Grayson para escolher algo que nunca tinha usado.

Mais uma hora depois, finalmente após várias trocas de camisas e bermudas, estava pronto. Encarei-me no espelho para reavaliar se tudo estava nos conformes e ter minha própria aprovação. Então deitei-me no sofá observando veementemente os ponteiros do relógio andarem como tartarugas numa competição de quem demora mais para chegar até o meio-dia.

- Finalmente! - disse para mim mesmo quando deu a hora de ir. Peguei dois livros recomendados por Anne de Charles Bukowski, que eu mal tinha lido o prólogo e coloquei dentro da mochila escolar.

Mais uma vez, dei uma olhada no reflexo - vestido com camisa regata preta e bermuda azul - antes de correr escadas abaixo e depois entrar no gramado da casa para pegar minha bicicleta prateada perto de um canteiro com diversas flores que Cameron teimava a cultivar.

Pedalei bastante, algumas vezes deixando a inercia fazer sozinha o trabalho de mover o veiculo até chegar levemente suado na biblioteca "Van Houten", que ficava somente quinze minutos a mais do que se estivesse indo até a escola pública. A essa altura, Grayson já estaria chegando em casa depois de um dia chato de estudo.

Eu larguei a bicicleta na porta da frente e entrei da forma mais "importante" que consegui aparentar: de nariz empinado e olhar desinteressado, porém fixos em um dos balcões de atendimento que Anne normalmente ficava todos os dias da semana. Onde agora tinha outra garota, que tinha cabelos claros diferentes dos da outra.

Coloquei ambos os livros que tinha pego no balcão para fazer a devolução. Ela avaliou os dois, segurando-os depois guardando-os debaixo da mesa:

- Ele foi um velho safado que escrevia muito bem, não é mesmo? - A garota fez um breve comentário sobre o autor dos exemplares. Acenei positivamente a cabeça, como se tivesse realmente lido as obras.

Mas não era pelo "velho safado" que eu estava na biblioteca. Tomei coragem, enchi o peito e perguntei para a nova contratada:

- Onde está a Anne? - Os meus dedos batiam no balcão como se estivessem tocando uma música dentro da minha própria cabeça. A balconista por sua vez, não tirou os olhos do livro escolar que estava fazendo para me responder.

Anne. A garota que eu namorava sem que ninguém soubesse. A razão que me fazia pedalar vários quarteirões por livros idiotas.

- Anne não trabalha mais aqui, sabe - Ela Passou o dedo na ponta da língua e depois foleou algumas páginas, procurando alguma coisa entre as passagens - Pediu demissão no último fim de semana. Foi assim que eu entrei nessa vaga - Procurou um outro caderno debaixo do balcão e continuou a falar - Mas não de preocupe, ela avisou que vai aparecer alguns dias aqui para ler para as crianças.

O coração apertou. Perguntei para minha consciência porque ela não disse nada relacionado a isso para mim, além de qual seria o motivo de uma demissão tão repentina.

- Posso te ajudar em mais alguma coisa? Temos um mapa de onde pode encontrar os livros que procura no mural à esquerda - A menina apontou para o lugar que tinha falado. Suas unhas pareciam ter sido pintadas de azul fazia tempo e descascavam em vários lugares.

- Não, não... Obrigado - Desapontado, eu chutei o ar e enfiei ambas as mãos nos bolsos da bermuda. Estava a ponto de me virar para ir embora da biblioteca, quando ouvi a voz feminina e ligeiramente aguda mais uma vez.

- Eu não te conheço? - agora ela encarava-me com seus grandes olhos de boneca. Cara, ela era bonita.

- Não me conhece, não - Virei-me de costas afinal. Não reconhecia o rosto da garota e muito menos a maneira que ela falava puxando algumas vezes os r's como alguém do interior.

- Eu posso pedir à Anne o número de telefone dela e quem sabe te passar depois... Toma, pega o meu - A menina rasgou um pedaço de papel do caderno mais próximo e começou a escrever vários números que formavam seu celular - Pode me chamar de Jazz.

- Dolan - Apresentei-me para ela.

Um sorriso se formou nos lábios de Jazz, ela pegou outro livro debaixo da mesa antes de levantar-se da cadeira onde sentava e desceu um ou dois degraus, logo saindo do pequeno mezanino. Nao chutaria mais de um metro e sessenta para ela, que entregou para mim os materiais e disse:

- Misto-quente, a melhor obra dele - Tinham várias marcações de post-it em muitas paginas. Afinal, o livro não era da biblioteca; era dela - Alias, você pode me mandar uma mensagem quando bem entender para me lembrar de cobrar ela, ok?

Isso me fez sorrir mais uma vez.