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História O Olho de Jade - Shae


Escrita por: xPrimrose

Notas do Autor


Esse é um capítulo que eu particularmente gosto bastante, então espero que vocês gostem também :D

Capítulo 14 - Shae


Eve tinha tido a brilhante ideia de descansar antes de começarem sua busca e, por conta disso, agora Shae estava parada na frente de mais uma estalagem que não tinha lugar para elas.

— Desse jeito vamos passar a noite na rua.

— Não venha tentar me convencer de que sua ideia era melhor, Shae. Ir para as montanhas antes ia ser muito pior.

Ela fez um bico, não ia. Mas preferiu não criar mais uma briga pelo mesmo motivo.

— E então, o que fazemos agora?

— Continuamos procurando — a outra garota disse enquanto observava um mapa que Shae não fazia ideia de onde ela tinha encontrado. — A mulher dessa última casa disse que se formos mais para oeste provavelmente vamos encontrar um lugar mais vazio e mais barato para dormir.

— E cheio de ratos e aranhas. — Shae revirou os olhos, não que fosse uma pessoa que precisasse muito de luxo, sua própria casa era muito pobre, mas ela realmente prezava pela limpeza do lugar onde ela dormiria. — Além disso, vamos ficar mais longe de Maly.

— Acho que não vai fazer mal uma caminhada mais longa amanhã se pudermos dormir numa cama de verdade hoje, não é?

Sem responder, Shae começou a andar na direção que a outra garota indicava. De alguma forma, ela sentia que tudo aquilo era uma péssima ideia e que Eve sabia disso. A garota parecia gostar do fato de elas estarem se distanciando de seu objetivo, o que fazia Shae desconfiar um pouco, mas não tinha certeza se isso realmente estava acontecendo ou era sua mente tentando fazê-la desconfiar de todos.

Andaram por mais quarenta minutos, passaram na frente de dois museus, ambos fechados. Já estava anoitecendo e aos poucos começava a esfriar. Por fim, encontraram uma estalagem pequena, mas aconchegante. O preço não era muito alto, de forma que conseguiram pagar por dois quartos.

— Uau, a comida é muito boa. — Elas haviam se sentado numa das mesas do andar de baixo e começavam a aproveitar do jantar que o lugar oferecia, Eve havia escolhido uma sopa de algas.

— É. — Shae olhou para sua própria sopa, não estava com fome, não estava animada.

— O que foi?

— Se tivéssemos seguido meu primeiro plano, já estaríamos perto do Primeiro Reino, mas aqui estamos, na direção oposta.

— Se tivéssemos seguido seu plano, em três dias estaríamos mortas.

Ela deu de ombros.

— Quem sabe? Talvez eu tivesse sorte. Vou dormir, estou cansada. — Ela se levantou, abandonando seu prato intocado.

— Eu disse que era uma boa ideia descansarmos.

Shae forçou um sorriso, mas de forma alguma estava concordando com aquilo.

[...]

Shae acordou assustada, alguém batia fortemente em sua porta, parecia prestes a derruba-la.

— Quem é? — gritou enquanto se sentava na cama.

Ouviu um suspiro de alivio vindo do corredor.

— Sou eu. Eve. Abra essa porta!

Mais calma por não ser um completo estranho que a chamava, Shae se levantou e girou a chave na fechadura. A outra garota estava vestida com as roupas que ela havia emprestado, além disso, havia tomado banho e levado os cabelos, eles ainda estavam quase completamente molhados.

— O que deu em você? Eu estava preocupada.

— O quê? — Shae não entendeu.

— Já é quase hora do almoço, estou tentando te acordar faz horas, já estava com medo de ter acontecido algo. Mais um pouco e eu arrombava essa porta.

— Eu só estava dormindo. — Ela olhou para sua cama bagunçada e teve de admitir que Eve estava certa, a melhor escolha foi descansar antes de partir.

— Se arrume logo, já me informei sobre os melhores museus daqui para nossa pesquisa, quero ir antes do almoço.

Shae bocejou, apesar da pressa que estava no dia anterior, agora não se importaria de sair apenas de tarde.

— Estou indo, estou indo.

 

Assim como a outra, ela tomou um banho e lavou os cabelos. Não esperou que secassem e já os prendeu em um coque bem firme. Também colocou uma calça de linho branca e uma camisa da mesma cor, que se destacava em sua pele morena. Ela ainda amarrava os cadarços da bota quando Eve disparou a falar.

— Você estava tão apressada ontem para ver essas malditas montanhas, mas agora está assim. Uma tartaruga se arrumaria mais rápido.

— O que você tem? — Shae não podia deixar de notar a mudança do comportamento da outra garota. — Teve outra visão. — Não era uma pergunta.

Ela finalmente ficou calada, Shae sabia que tinha acertado.

— Eu só quero sair daqui o mais rápido possível.

— Ok, se não quer contar o que aconteceu, tudo bem.

Eve concordou com a cabeça.

— Vamos?

Shae sentiu um frio na barriga, ela tinha passado anos de sua vida planejando isso e dias viajando para o Quarto Reino, mas só agora sentia que começava a fazer algo de verdade. Estava assustada, tensa e sentia uma pontada de medo em seu coração, mas no fundo, mais do que tudo isso, se sentia como se pela primeira vez, desde a morte de seu pai, estivesse vivendo.

— Vamos!

[...]

O primeiro museu pelo qual elas passaram era péssimo, eles se recusavam a colocar qualquer coisa ligada ao misticismo, portanto nenhuma referência sobre a espada foi encontrada.

O segundo era um pouco mais aberto a esse tipo de ideias, num cantinho escondido no segundo andar do prédio havia um desenho feito à mão da espada e um resumo da história do General Ming. Eve chamou um homem baixinho que aparentemente trabalhava no museu.

— O senhor saberia informar se podemos encontrar mais alguma coisa a respeito disso aqui? — Perguntou apontando para o desenho.

— Não. Não temos muitas informações a respeito do General Ming, principalmente pelo fato de a história inteira se basear numa mentira.

— Numa mentira? — Shae quis saber.

— Sim, dizem que ele usou uma espada mágica para derrotar os gigantes. Imagine só, não sei qual parte é mais absurda! Gigantes ou uma espada capaz de conjurar demônios? Besteira, quem sabe se esse general realmente existiu?

Shae e Eve se entreolharam, obviamente o homem era um cético.

— Então não há nada mais sobre o paradeiro da espada? — Eve insistiu.

— Vocês são de onde? Do Segundo Reino? Devem ser, por isso acham que uma bobagem como essa é verdadeira. Aposto que acreditam em deuses também. — O homem lançou uma gargalhada. — Vocês, turistas, são muito engraçados. Aposto que se eu dissesse que posso ver o futuro vocês acreditariam cegamente.

Eve soltou uma risada. Shae tentou se controlar, queria dizer umas poucas e boas para aquele homem, mas a ruiva lançou um olhar pedindo que essa ficasse quieta.

— Isso é besteira, ninguém pode ver o futuro. — Eve estava sendo irônica, obviamente, mas Shae viu que o homem não percebeu isso.

— Nisso concordamos. — O homem tossiu. — Agora se me dão licença, vou tentar ajudar pessoas que procurem algo que realmente exista.

Ele se afastou resmungando algo sobre espadas mágicas e jovens tolas.

— Você devia ter deixado eu dizer algumas coisas para ele ou mostrado que pode ver o futuro. — Shae estava frustrada. Ela lançou um último olhar para o homem enquanto desciam para o primeiro andar e depois saiam do prédio.

— Já expliquei que minhas visões não funcionam dessa forma e, também, não é bom mudar a crença das pessoas a força.

— Crença? Que crença? Aquele homem não acredita em nada.

— Exatamente. E a certeza de que nada fora do normal existe, é tudo para ele.

O último museu que encontraram nem deveria ser chamado de museu. Era apenas um andar entulhado de tranqueiras. Loja de artigos místicos, Shae achava que essa descrição seria muito melhor, apesar de não vender nada.

Havia apenas um funcionário, um homem alto e loiro que saiu de trás de um balcão quando as duas entraram no estabelecimento.

— Bom dia, eu sou Stev. Ficaria feliz em acompanha-las pela jornada mística de nossa história.

Shae quase sentiu seu estômago embrulhar com aquelas palavras.

“Jornada mística de nossa história? Quem criou isso?”, pensou, mas segurou a língua e não disse nada.

— Bom dia — Eve respondeu, educada como sempre.

Shae se limitou a dar um sorrisinho.

— Tem algo que vocês têm em mente para conhecer a história, ou querem que eu lhes apresente tudo?

— Queremos saber da espada do General Ming — ela disse antes que ele começasse a contar histórias sobre as bonecas assustadoras que estavam espalhadas pelo lugar e para as quais ele lançava olhares como se estivesse louco para falar sobre elas.

— Muito bem, me sigam.

Ele as levou até o fundo do museu, numa parede onde havia uma espada retorcida de cor vermelha e vários pergaminhos colados em volta, todos com uma letra feia demais para que Shae descobrisse o que queriam dizer.

— Essa é a réplica mais perfeita que temos sobre a espada do General Ming. Também conhecida como Invocadora de Almas.

Shae teve que admitir que era um bom nome.

— Tudo começou muitos anos atrás, quando...

— Nós já sabemos a história, queremos saber onde ela está — Shae interrompeu.

Eve lançou um olhar ameaçador para ela.

— Pode ter algo que não sabemos, Shae. Pode continuar, Stev. É Stev né?

Stev assentiu e continuou, Shae não gostou muito da ideia, sentia que novamente iriam perder tempo, mas decidiu permanecer calada.

— Continuando... — Ele fez questão de olhar para Shae ao dizer isso, mas ela não se importou. — Antes de os Quatro Reinos serem declarados, havia uma feiticeira bem poderosa, chamada NaKagiso, ela estava em guerra com um clã poderoso, seu filho, Kagi era o capitão de seu exército, era um guerreiro exímio, todos ansiavam em ser como ele. — Shae queria que ele fosse logo ao ponto, mas se segurou. — Apesar disso tudo, Kagi foi raptado pelo líder do clã inimigo e decapitado, sua cabeça foi enviada em uma caixa para NaKagiso.

— Que horror. — Eve parecia chocada com a história.

— Então NaKagiso matou os três filhos do líder do clã, na sua frente, mas ela achava que apenas isso não era suficiente. Como eu já disse, ela era muito poderosa, poderosa como nenhuma outra feiticeira já foi ou um dia será. Quero dizer, talvez alguma pudesse ter sido mais forte, mas o que importa é que ela era realmente muito poderosa.

— Já entendemos. — Shae o apressou.

Stev lançou outro olhar furioso para ela e continuou.

— Então, ela fez um feitiço usando os restos mortais do próprio filho, encantou a espada dele de forma que ele pudesse voltar para lutar com ela e, junto, traria sempre os outros homens de seu exército que morreram em batalha, os três filhos do líder e qualquer outro soldado que morresse por conta do poder da espada, ou pelo fio dela.

— Então, não eram demônios, apenas espíritos — Shae constatou.

— Mais ou menos — ele explicou. — Dizem que Kagi e os três filhos do líder do clã se tornaram demônios, tamanha sua maldade e sede de vingança. Isso, claro, é só especulação, mesmo que não seja verdade, os três são espíritos muito fortes.

— Então a espada traz espíritos e demônios.

— Não espíritos comuns, espíritos fortalecidos por NaKagiso. Seu ódio e seu amor sempre os fortaleceram, mas dizem que quando ela morreu sua própria alma foi trancada dentro da espada para ficar próxima do filho, ela não vem para as batalhas, mas seu espírito fortalece todos os outros, os tornando quase indestrutíveis.

A história era boa, Shae tinha que admitir. Estava ficando cada vez mais entusiasmada, nunca tinha ouvido falar de NaKagiso, mas agora a admirava. Havia feito tudo isso para vingar seu próprio filho, ela esperava que o espírito da feiticeira a ajudasse em sua própria vingança.

“A partir de agora, é para você que vou dirigir minhas preces.” pensou.

— Depois disso a espada pertenceu à algumas pessoas, o primeiro foi...

— Tudo bem, essa parte não interessa. Sabemos que o último foi o General Ming que usou para lutar contra os gigantes nas cavernas de Maly. Na última caverna ele entrou com a espada e voltou sem, queremos saber o que aconteceu e como encontrá-la.

— Vocês pretendem recuperar a espada de NaKagiso? — Os olhos de Stev estavam arregalados.

— Esse é o plano. — Eve estava muito calada até ali, mas finalmente abriu a boca.

— É loucura! Dizem que mesmo na época de Ming ela estava muito instável, são séculos de almas acumuladas. Nem NaKagiso pode fortalecer algo por tanto tempo assim.

— Então você reconhece que ela realmente existe? — Eve continuava com um olhar sereno.

— Claro. Eu não colocaria sua história no meu museu se não achasse que fosse verdadeira.

— Sabe onde podemos encontrá-la? — Shae queria sair logo dali e encontrar a espada.

— Nas cavernas de Maly. Definitivamente está lá. Só um momento. — Stev sumiu no meio das bugigangas de seu museu.

— Você acha que essa história que ele contou é verdadeira? — Eve parecia desconfiada.

— Claro que é.

Shae havia ficado deslumbrada com a história de NaKagiso. De alguma forma era como se conhecesse essa história a vida inteira, como se algo a tivesse levado até ali para ouvir aquilo, sabia com toda certeza que era verdade.

— Aqui. — Stev trouxe outro pergaminho, ele apertou os olhos para ler. — Segundo as informações que tenho, a última caverna em que o General Ming entrou foi a caverna central, fica bem no meio de todas as outras e é a maior. É fácil de reconhecê-la quando estiver lá dentro, no final dela há um buraco maior que o da própria entrada, é o caminho para uma segunda caverna que fica escondida. Se há um lugar onde vocês encontrarão a espada, esse lugar é lá. — Ele parou por um momento. — Ainda assim eu não me arriscaria.

— Você não se arriscaria, mas nós sim. Vamos Eve.

Elas saíram do museu enquanto Stev gritava que sua história não havia sido de graça e que elas deviam pagar pela consultoria. Eve queria voltar, mas Shae a impediu.

— Qualquer um pode contar uma história, ninguém deve receber por isso. — E então gritou para Stev: — Se encontrarmos a Invocadora de Almas voltaremos aqui e te daremos uma comissão.


Notas Finais


Espero que tenham gostado :)


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