História O outro lado - 120!

A minha decepção não me deixou dormir direito. A Rafaela e um playboy da outra turma? Qual é!
Mas tinha alguém que estava mais inquieta que eu. Samantha estava estranha. Pensativa e extremamente excitada a definia. Voltamos praquele lugarzinho esquisito mais vezes. As vezes passávamos a tarde inteira só olhando através daquela varanda. E ela? Sempre com conversas estranhas, estava distante e um pouco inquieta, como sempre. Uma vez ela disse que a probabilidade de alguém como eu perder a virgindade é igual a de um obeso olhar para o próprio pênis sem prender a respiração, ela tinha um certo gosto em ofender.
Em uma sexta-feira, voltamos a admirar aquela mesma varanda e uma conversa aleatória se iniciou
—fiquei sabendo sobre a Rafaela.
—o que?—perguntei
—ela e o otário do namoradinho tiveram uma briga.
—então eles terminaram?—Samantha apenas olhou pra mim, e deu uma leve risada.
—o pervertido então ainda está obcecado pelo rabo dela hahaha. Você é realmente patético. Aposto que só liga para o sexo.
—não! Não é verdade. Eu quero mesmo fazê-la feliz. Eu sinto algo por ela que não consigo descrever. Mas você não entenderia
—entendo sim. Isso se chama tesão.
—o que!? Não. Não é isso...
—então admite que não quer transar com ela?—Samantha me olhava fixamente enquanto cuspia aquelas palavras em cima de mim
—bem, não bem assim.
—não é bem assim o que? Então você realmente quer sentir o perfume dela empreguinado na sua cama. Não minta pra si mesmo, é baixo até pra um pervertido.—o silêncio se instaurou por alguns segundos. Apenas pensava no que ela poderia ganhar me tratando dessa forma.
—por que está dizendo isso? Você nem ao menos a conhece.—Samantha virou-se para a rua e não respondeu a minha pergunta. Ficamos mais alguns minutos em silêncio, quando Samantha olhou para a tela de seu celular.
—vamos pra algum lugar. Já são sete horas.
—pra onde?
—me siga.—e assim o fiz. Saímos daquela casa e Samantha me fez segui-la para o tal lugar. Chegamos no local em alguns minutos. Era uma pizzaria não tão famosa da região.
—é aqui mesmo?—perguntei
—uhum. É exatamente aqui. Entre! Esse tédio me da fome.—a princípio eu achei o convite meio estranho. Mas era uma pizzaria. Afinal, um lanchinho não faz mal.
A escolha da noite foi rodízio. Samantha comia feito um monstro, por fora ela era arrumadinha, mas a surpresa do primeiro jantar pode doer o bolso de qualquer um. Aquele lanchinho noturno estava demorando uma fucking hora, sem ao menos parar para descansar, e ela ainda não parava de comer.
—isso aqui está uma delícia.—disse Samantha enquanto comia mais uma fatia—sabe, a pizza daqui me faz ter um pouco menos de desgosto pela humanidade.
—nossa, você comeu bastante mesmo.
—pois é...—disse Samantha enquanto esticava as costas. E posteriormente, a porta do estabelecimento se abriu e algumas vozes invadiram o local. Me virei para descobrir o motivo da gritaria, e me deparei com um grupo grande de adolescentes. Entre eles, aquele perfil típico de garota maloqueira do século XXI, e pra acompanhar os garotos seguiam o mesmo padrão.
—quanta gente!—exclamei
—quanto lixo.—respondeu Samantha
—eles devem vir aqui regularmente.
—mas eles vêm mesmo.
—como sabe?
—opa. Acho que vai gostar de saber quem veio para curtir hoje.
—hã?
—olha! No meio daquela gente. Reconhece aquela que está sentada no canto esquerdo?—Samantha deu um leve sorriso, enquanto apontava para a mesa que ficava próxima a porta de entrada. Me virei para saber do quem se tratava, e me deparei com nada menos que a Rafaela.
—caramba! ela? aqui? com eles? Cara, ela não pode me ver aqui.
—relaxa. reconhece aquele ali do lado dela?
—é ele—"ele" o playboysinho babaca que estava saindo com a Rafaela.
—espera aí. Eu conheço aquilo ali. Aquele porra ainda tá se exibindo com meu bastão.—disse Samantha com uma expressão séria.
—é ele mesmo. E é o seu bastão.
—ah. Vou ao banheiro—Ela respirou fundo e seguiu em direção ao banheiro. Provavelmente estava tentando manter a calma. Ela passou lentamente pela mesa deles, e por um instante pude ver o sorriso no rosto da Rafaela. "Pra eles? Tá de sacanagem" pensei. Esperei sentado ali observando o que estava rolando na outra mesa. Passei um tempo ali esperando a Samantha voltar, mas não preciso dizer que a ida ao banheiro não teria volta. "Mas por que caralhos? Ela não é rica? Que calote filho da puta" passou pela minha cabeça.
Primeiramente, olhei para os lados e certifiquei-me de que ninguém estava olhando, o único garçom que tinha no local estava entregando duas pizzas para o grupo da Rafaela, então pensei em aproveitar do momento de distração para fugir dos queridos 120 reais que eu devia pagar. E então deixei a conta na mesa e levantei-me lentamente para não chamar atenção. Meus pensamentos estavam me matando naquele momento, era uma transgressão muito grande para mim. Logo eu que nunca gostei de bancar o esperto. Mas por 120 dilmas eu não conseguia ficar naquele lugar (desculpa sociedade 🙇). Me aproximei da porta lentamente para não chamar a atenção do garçom e muito menos do grupinho. E eu estava conseguindo, estavam todos distraídos com as pizzas que o garçom colocava na mesa. Naquele momento o mundo ficou mudo, e meu coração disparou. Eu estava em frente à porta de entrada e estava rezando para que não me identificassem. Mas sutilmente uma pergunta fez com que meu coração quase saísse pela boca de vez.
—Thomas!?