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História O outro lado da fita - Uma festinha nunca matou ninguém


Escrita por: vittorioboamorte

Capítulo 3 - Uma festinha nunca matou ninguém


Fanfic / Fanfiction O outro lado da fita - Uma festinha nunca matou ninguém

Já havia anoitecido e Rafael ainda tentava encontrar o caminho de volta para casa. A cada passo que ele dava, no entanto, mais perdido se sentia. Mal sabia que estava caminhando em direção ao bairro Oceania considerado o mais perigoso de Vassoural, lá era considerada a principal zona de prostituição, uso e comercialização de drogas e onde havia ocorrido os assassinatos mais hediondos da história de Vassoural; famosos artistas internacionais como Roger Alcutar e Simone Vilar (ambos cantores), haviam morrido de overdose de heroína em alguma das famosas suítes da rua João Peçanha (a rua mais importante do bairro). O bairro era famoso também por ser refúgio de artistas decadentes, poetas e boêmios.

Ao escurecer as ruas do Oceania se transformavam em um desfile de corpos semi-nus expostos como carne no açougue. Homens e mulheres, na maioria jovens, ofereciam seus corpos como mercadoria em troca de dinheiro, jóias, roupas ou drogas. Rafael não demorou a perceber isso. Conforme adentrava as ruas do Oceania se deparava com corpos hipersexualizados caminhando livremente sem o menor pudor. Um homem que aparentava ter por volta de vinte anos caminhava de mãos dadas com uma mulher de mesma idade; ambos tragavam cigarros profundamente, devorando a fumaça como se fosse um néctar dos deuses; em seus semblantes era possível notar um aspecto sedento de quem estava louco por diversão, mas não de uma diversão comum e sim de uma diversão letal, uma diversão sem precedentes que os fizesse perder o contato com a realidade. Eles passaram ao lado de Rafael e o homem olhou para ele com uma expressão lasciva; Rafael por mais que tentasse não conseguiu ignorá-lo e acabou olhando de volta, até que quando finalmente conseguiu desviar o olhar se viu em meio a outras pessoas trajadas do mesmo modo; o homem então olha para a mulher que o acompanha e faz um sinal qualquer com a sobrancelha.

Rafael continua caminhando e se sente cada vez mais assustado e temeroso com aquela situação, ele não tinha experiência alguma com a vida urbana e com relações humanas de modo geral. Conforme ele avançava ele se deparava com outras situações inusitadas desde pessoas usando drogas ao ar livre até pessoas se relacionando sexualmente nas vielas, bares, carros e em toda a sorte de lugares. No Oceania tudo era permitido, não haviam regras, até mesmo a polícia evitava o bairro pois além de muitos dos policiais serem frequentadores assíduos daqueles bares, outros não se sentiam preparados para enfrentar sua ultraviolência pois nele morava a grande maioria dos traficantes e criminosos de Vassoural o que significava que seria uma missão no mínimo arriscada.

Rafael se abaixa para amarrar os cadarços e quando se levanta é surpreendido por um homem que aparentava ter no mínimo sessenta anos de idade.

- Olá garotinho você é novo por aqui? - pergunta o homem descendo de seu carro.

- Eu… eu.. - Rafael olha para o homem e gagueja de nervosismo e medo - estou a procura da minha casa - conclui com a voz trêmula.

- Hum, entre no meu carro que eu posso te levar para sua casa - disse o homem com um sorrisinho de canto.

- Não, obrigado - respondeu Rafael temeroso.

- Deixa de ser bobo rapaz, a noite está apenas começando - insistiu o estranho.

- Meu pai está me esperando, tenho que ir - respondeu Rafael dando as costas para o homem.

- Não tão rápido mocinho, não te ensinaram a ter educação? - dizia o homem enquanto sacava uma arma do bolso.

Bang! - fez-se ouvir em alto som o disparo da arma do homem na direção de Rafael o qual saltou como um canguru e caiu direto no chão com o susto. O homem continua caminhando em sua direção enquanto ele levanta o mais rápido que pode e começa a correr. Bang! Bang! Rafael desesperado se esconde atrás de um carro, o homem no entanto não desiste de seu intento e continua a sua procura. Ao olhar por debaixo do carro Rafael observa que ele está em pé do outro lado o que o deixa extremamente apreensivo, ao olhar uma segunda vez, no entanto, o homem não estava mais lá; o carro começa então a chacoalhar o que o deixa apavorado. Rafael se arrasta pelo chão para assegurar que o homem havia ido embora e é surpreendido por ele que pula de cima do carro em cima dele.

- Socorro! Socorro! Alguém me ajude - gritava Rafael enquanto tentava se desvencilhar do homem.

- Eu vou levar você pra minha casa e depois de te usar vou cortar o seu corpo em pedacinhos - dizia o homem com um sorriso maléfico no rosto.

- Rafael! Estou aqui! - bradou Igor de cima de uma motocicleta preta.

    Rafael golpeia os genitais do homem com o joelho e ao olhar para o lado visualiza Igor.

- Suba Rafael! Rápido! - dizia Igor ao notar o perigo em que ele se encontrava.

Rafael pulou em cima da moto o mais rápido que pôde e Igor arrancou em alta velocidade. Rapidamente eles já se encontravam fora do Oceania retornando ao ponto de partida onde eles haviam se “encontrado” mais cedo em frente ao prédio de Igor.

- Eu estava a sua procura Rafael, na hora que nos despedimos você parecia tão desorientado.

- Eu.. eu.. - gaguejou Rafael sentindo que não poderia evitar o choro - nem sei como te dizer o que estou sentindo neste momento.

- Não chore Rafael, vem cá me dê um abraço - disse Igor se aproximando de Rafael.

- Eu fiz tudo errado - dizia Rafael aos prantos - eu nunca deveria ter saído de dentro daquela casa, meu pai tinha razão, as pessoas são más.

    Igor abraça Rafael e seca as lágrimas de seus olhos com sua camiseta.

- Você não está mais sozinho, não tenha medo eu estou aqui com você agora - dizia Igor enquanto Rafael olhava para o chão.

    Apesar do medo e da dor que estava sentindo, aquele abraço era provavelmente uma das melhores sensações que Rafael já havia sentido, eles permaneceram abraçados por alguns minutos enquanto Igor tentava consolá-lo da maneira como podia.

- Rafael, esse é o meu prédio como eu havia dito mais cedo, lá dentro tem roupas limpas, comida e tudo mais que você precisar.

- Obrigado Igor mas eu não quero incomodá-lo.

- Não será incômodo algum Rafael, pelo contrário, será um prazer te receber na minha casa.

- Tudo bem então, eu vou entrar, estou precisando tomar um banho para esfriar a cabeça.

    Eles entram no prédio e Igor conduz Rafael até seu apartamento.

O prédio era antigo e possuía uma decoração que remetia aos anos 50. O apartamento de Igor possuía o mesmo aspecto vintage do resto do prédio, não era muito grande porém parecia suprir todas as principais necessidades de uma pessoa que morava sozinha.

- Seja bem vindo à minha casa - disse Igor conduzindo Rafael ao interior do apartamento.

- Aqui é muito bonito Igor, me parece com o cenário de alguns dos livros policiais da Agatha Christie.

- Sério? - disse Rafael sorrindo - Então quer dizer que meu apartamento poderia ser cenário de um crime?

- Talvez - respondeu Rafael retribuindo o sorriso a Igor, apesar de não ter compreendido a piada.

- Olha Rafael eu sinto muito pelo que aconteceu hoje com você, eu me sinto culpado por ter colocado você naquela situação - disse Igor.

- Você não tem culpa de nada, eu é que vivo no mundo da lua. A culpa foi toda minha.

- Por favor não se culpe - dizia Igor segurando a mão de Rafael.

- Muito obrigado, por ter me salvado, por… por..- gaguejou Rafael - por aquele abraço - concluiu timidamente.

- Imagina foi um prazer… - após uma pequena pausa Igor continuou - digo era o mínimo que eu poderia fazer.

- E agora o que será de mim? Eu não posso apenas aparecer na minha casa a essa hora.

- Oras durma aqui, mi casa su casa.

- Você tem certeza que eu não vou atrapalhar? - perguntou Rafael.

- Não mesmo, só existe um porém.

- E qual seria? - perguntou Rafael.

- O porém é que eu não pretendo dormir agora, gostaria de ir naquela festinha que eu te falei mais cedo, você me acompanharia?

- Festinha? De que tipo - perguntou Rafael em tom de curiosidade.

- É uma festinha de universidade na república do Búfalos - respondeu Igor.

- Parece interessante, eu nunca fui a uma festa antes.

- Sério Rafael? Eu não acredito.

- Sim, é uma longa história, outro dia eu te conto ela - disse Rafael sorrindo.

- Tudo bem se você quiser tomar banho fique a vontade, eu vou pegar roupas limpas pra você.

- Certo, vou mesmo, estou muito necessitado de um banho.

    Rafael agora se sentia melhor, já estava longe dos perigos das ruas do Oceania porém ainda restava uma preocupação: O que o seu pai estaria achando de seu sumiço?

    Rafael decide aceitar o pedido de Igor, ele estava realmente interessado em desbravar esse novo mundo e por algum motivo ele sabia que poderia confiar naquele Rapaz.

2

    A república dos Búfalos ficava há poucos quilômetros da casa de Igor o que levaria apenas alguns minutos de moto. Eles já estavam prontos para partir, os olhos de Rafael brilhavam ao olhar para Igor o qual também aparentava estar encantado por Rafael. Igor sobe na moto e logo em seguida Rafael sobe na garupa.

- Segure firme - disse Igor arrancando com a moto.

    Igor conduzia a moto em alta velocidade pelas ruas de Vassoural. Ele tinha pressa, pressa em viver, pressa pelo que aquela noite reservava.

    Na república do Búfalos a festa estava a todo vapor, estava tocando música em alto som e os jovens universitários estavam mandando ver, sem medo e sem pudores. Haviam muitas pessoas dentro e fora da casa, rapazes e moças que bebiam e tentavam ouvir as vozes uns dos outros em meio a toda aquela agitação.

    Igor estaciona a moto e caminha juntamente com Rafael em direção à república quando um rapaz vem na direção de Igor e o aborda.

- Olá Igor, quanto tempo. Por onde você tem andado? - perguntou o rapaz cumprimentado-o com um beijinho no rosto.

- Estou bem, tenho apenas trabalhado muito ultimamente - respondeu Igor.

- E quem é esse adorável rapaz? - perguntou o amigo de Igor indicando Rafael.

- Meu nome é Rafael, sou novo aqui - disse Rafael estendendo a mão para o rapaz.

- O meu nome é Éverton seja bem vindo Rafael - disse o rapaz apertando sua mão.

    Após os cumprimentos eles entraram para a festa. Todos pareciam estar se divertindo muito, e Rafael observava tudo aquilo sem saber como proceder.

- Relaxe Rafael, apenas sinta a música e deixe que ela te invada - disse Igor conduzindo Rafael ao meio da festa.

- Eu estou bem só preciso me acostumar com essa música alta e aprender a dançar, mas no geral aqui é muito legal, as pessoas aqui parecem bem simpáticas - dizia Rafael enquanto arriscando alguns passos de dança.

- Isso! Você está no caminho certo, o segredo é não ter vergonha, mexa seu corpo como se ninguém estivesse te olhando. Acho que eu sei do que você precisa para se soltar mais, vou buscar bebida pra gente, fique aqui, eu já volto - disse Igor se afastando de Rafael.

"Tudo bem, são apenas pessoas estranhas em um ambiente estranho e eu estou aqui dançando sozinho no canto como um bobo, mas eu vou sobreviver." Pensava Rafael apertando os lábios e fingindo que estava se divertindo.

Alguns minutos se passam e Igor ainda não havia voltado o que deixou Rafael apreensivo. "Onde ele foi? O que essas pessoas vão pensar ao me ver aqui sozinho? Eu não sei ao certo quem você é Igor mas eu estou com você, por favor não suma, não me deixe dançando sozinho em uma festa em que eu não conheço ninguém, eu não quero ser essa pessoa." 

Rafael decide ir atrás de Igor. Ele caminha através da sala e ao observar que está sendo observado abaixa a cabeça e ignora aquelas pessoas. Em sua mente qualquer um deles representava um perigo em potencial afinal ele passou toda a vida na casa da árvore e o seu pai sempre o alertou sobre o quanto as pessoas poderiam ser perigosas. Rafael passava em frente a um quarto quando ouve um buxixo, era um grupo de pessoas que conversavam; ele decide então parar para ver se Igor estava lá quando ouve seu nome. “...O nome dele é Rafael, veio com o Igor, provavelmente é a mais nova vítima dele” dizia uma voz masculina no interior da sala “Provavelmente terminará como o último, o Igor vai usá-lo até enjoar e depois irá descartá-lo, ele sempre faz isso” Rafael dá um passo pra trás mas apenas não consegue parar de ouvir o que aquele rapaz dizia “Todos nós sabemos que ele sempre traiu seus namorados de maneira descarada, pobrezinho desse Rafael, tomara que esteja preparado para aguentar a sobrecarga mental” dizia a voz em tom de deboche. “... outra coisa que eu notei é que ele é escurinho, pobrezinho logo, logo perceberá que será muito difícil se encaixar entre nós”. Rafael ao ouvir essas palavras se afasta da porta e sem ver mais nada em sua frente sai esbarrando em quem ele encontra pela frente, ele só queria sair daquela festa, aquelas palavras o haviam atingido profundamente. "Ele é a mais nova vítima do Igor.. o Igor vai usá-lo até enjoar e depois descartá-lo… ele é escurinho, pobrezinho.." Aquelas palavras ecoavam em sua mente incessantemente e Rafael não conseguia pensar, não conseguia ordenar seus pensamentos, só queria ir embora daquele lugar.

Já fora da república Rafael em prantos olha a seu redor e se sente mais sozinho do que nunca. "Tem alguém aqui que eu conheça? Alguém irá me levar para casa? Eu estou sozinho novamente, eu só queria alguém, alguém que se importasse de verdade comigo"  Pensava Rafael enquanto caminhava em direção à rua. "Eu vou embora daqui nem que eu tenha que ir pra casa caminhando ou tenha que dormir na rua." 

Rafael estava transtornado e novamente na rua, sozinho e desamparado à mercê de todos os perigos e adversidades da noite. Seu castelo e seus sonhos haviam sido destruídos mais uma vez, ele preferia ficar na rua do que ficar no meio daquelas pessoas estranhas. E quanto a Igor, ele aparentemente não era quem demonstrava ser, pelo menos foi o que aquelas pessoas disseram. Para Rafael aquilo foi suficiente, ele não sabia exatamente o que estava sentindo por Igor mas já havia cultivado sentimento suficientes para se magoar com afirmações como aquela.

A noite não havia saído como o previsto porém ainda haveria salvação? Estaria Rafael seguro caminhando novamente sozinho pelas ruas obscuras de Vassoural? Ele estava apenas descobrindo o mundo e do que as pessoas eram capazes e agora estava novamente perdido na noite, por conta própria e com o coração partido.

 



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