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História O Pacto - Prisioneiro do próprio sonho


Escrita por: Mallagueta

Capítulo 14 - Prisioneiro do próprio sonho


 

- Xaveco. Xavecoooo! Acorda criatura!

- Ah, mamãe! Só mais cinco minutos!

- Que mamãe que nada! Levanta daí e vai resolver esse exercício no quadro!

- Hum? – ele levantou a cabeça e encarou o professor ainda confuso. Licurgo bateu na cabeça dele com uma régua para terminar de acordá-lo e fez com que ele fosse até o quadro.

 

Por mais que tentasse ler o que estava escrito, as palavras pareciam embolar na sua mente. Se ele não era capaz de ler o exercício, como poderia dar uma resposta? Melina veio ao seu socorro.

 

- Escreva tudo o que vou lhe dizer.

- Tá bom...

 

Ele foi escrevendo maquinalmente, as letras saiam tortas e meio tremidas, mas ainda assim o exercício foi respondido e ele voltou para sua carteira, sentando-se pesadamente e caindo mais uma vez no sono.

 

Licurgo balançou a cabeça, triste por causa da situação daquele garoto e continuou sua aula.

 

Quanto tempo tinha passado? Xaveco não fazia idéia. Ele só se deu conta de que era hora da saída quando a Mônica lhe sacudiu.

 

- Acorda aí! Você vai ficar o dia inteiro na escola?

- Tá tão bom aqui! Ai mamãe!

- Afe, levanta logo! – Ela agarrou a gola da camisa dele, fazendo com que ele se levantasse. Nas mãos dela, ele mais parecia um boneco de pano e mal se agüentava em pé. Até Cebola ficou preocupado com o estado do amigo. Era obvio que ele não estava nada bem.

- Melhor a gente levar ele pra enfermaria, Mô.

- Também acho. Vamos, Xaveco.

(Xaveco) - Eu posso comer mais gelatina, vovó? – rapaz balbuciou com a voz meio embolada e se deixou levar sem protesto. Melina também os acompanhou, irritada com aquela intervenção. Talvez ela tivesse exagerado um pouco na noite anterior e sugado dele mais do que devia. Paciência. Ela estava com fome e não era justo ter que economizar tendo um grande banquete a sua frente.

 

A enfermeira o examinada rapidamente, olhando a pele dentro dos olhos dele.

 

- É... parece que ele está mesmo com um pouco de anemia, só mesmo um exame de sangue para dizer.

(Mônica) – Eu sabia, é por isso que ele tá molenga desse jeito!

(Xaveco) - Eu não quero maria-mole não, titia! Já tô de barriga cheia!

- Ai, meu bofe! O que vocês estão fazendo com o meu bofe? – Denise falou alto, invadindo a enfermaria como um tufão.

(Cebola) – O seu “bofe” tá passando mal, não tá vendo?

- Ele está ótimo, lindo como sempre! Agora vamos, gato! O Moreira tá te esperando lá em frente a escola!

 

Denise tentou fazer com que ele se levantasse da cama e foi detida pela enfermeira.

 

- Nada disso. Eu vou ligar para a mãe dele e pedir para ela vir buscá-lo.

- Não precisa, o empresário dele já está aqui! Ela pode levar ele pra casa.

- Nesse caso...

 

Cebola levantou uma sobrancelha, meio desconfiado. Será mesmo que eles iam levar o Xaveco para casa?

 

- Denise, acha mesmo que é boa idéia? Não seria melhor chamar a mãe ou o pai dele?

- Se fizer isso, vai demorar muito mais, gatz. E o Moreira tá logo ali na entrada. A gente leva o Xavequinho aqui para casa...

(Xaveco) – Eu quero entrar na piscina de bolinhas, papai...

- ... e ele vai ficar bom rapidinho!

 

Mesmo desconfiados, Cebola e Mônica ajudaram Denise a levar Xaveco até o carro, onde Moreira esperava com impaciência. Ainda assim, Mônica queria garantir que o amigo seria levado para casa, não para o trabalho onde seria mais explorado ainda.

 

- Calma, menina. Eu cuido muito bem do meu garoto de ouro. Se ele não está se sentindo bem hoje, é meu dever garantir que ele receba os cuidados necessários.

(Cebola) – Ah tá. Você tem que proteger sua galinha dos ovos de ouro, certo?

 

Moreira fingiu ignorar a provocação e colocou Xaveco dentro do carro, junto com Denise e arrancou dali a toda velocidade. Só que no meio do caminho, ele fez um desvio e o levou até o estúdio de gravação. Xaveco só tinha se dado conta de onde estava quando foi colocado em seu camarim e Denise tentava fazê-lo acordar.

 

- Vamos, fófis! Deixa de corpo mole!

- Onde eu estou?

- No estúdio, onde mais? Você vai começar a gravar daqui a pouco!

- Ah, não! Eu não tô bem hoje, que saco! Quero ir pra casa!

- Não vai não, meu lindo!

- Eu tô doente, Denise!

- Que bobagem! Você tá mais lindo que nunca, saudável e forte! Esse povo é que fica inventando intriga pra não te deixar trabalhar. Agora vai logo, vai!

- Eu não vou porcaria nenhuma! Cadê meu celular? Vou ligar pra minha mãe e pedir pra ela me buscar!

- Você não vai fazer isso, garoto. – Moreira falou em pé diante da porta do camarim. – Você tem trabalho hoje, precisa cumprir suas obrigações.

- Vocês não estão vendo que eu não tô legal hoje? Caramba, a enfermeira até falou que eu posso estar com anemia!

 

O empresário deu de ombros.

 

- Sua aparência pra mim está ótima. Se for o caso, eu mando comprar algumas vitaminas e complexo ferroso pra você. Agora levanta daí e vai brilhar como um astro que você é! Anda, vamos.

 

Com um gesto gentil, porém firme, Moreira fez com que ele se levantasse e o levou até a sala de gravação, forçando-o a cantar algumas canções. Depois disso, ele tirou fotos e fez entrevistas para fechar o contrato para uma campanha publicitária e deu vários autógrafos para algumas fãs.

 

Ele fazia tudo aquilo tirando forças sabe-se lá de onde. Seu maior desejo era o de se deitar em sua cama e ficar lá o resto do dia. Só que não havia descanso para ele. A todo instante, havia alguém ao seu redor lhe bajulando, pedindo autógrafos, tirando fotos e até tentando roubar uma peça de sua roupa. Nem para ir ao banheiro ele tinha privacidade. Quem não podia entrar, ficava de vigia pelo lado de fora. E Denise não o ajudou em nada, forçando-o junto com Moreira a participar daquela rotina estafante.

 

Quanto mais o tempo passava, mais ele sentia vontade de terminar com aquela ruiva maluca. Ao invés de apoiá-lo, ela estava mais interessada em si mesma e nos seus minutos de fama. Aquilo não era uma namorada, era uma bruxa.

 

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Ele acompanhava de longe o rapaz descendo do carro e entrando em sua casa. Dava para ver o quanto ele estava abatido e cansado.

 

“Parece que ela está tentando levá-lo a loucura. Criatura desgraçada dos infernos! Eu tenho que fazer alguma coisa!” a situação tinha ficado grave demais para que ele continuasse apenas acompanhando sem fazer nada e assim que o carro foi embora, Ivan foi até a casa do Xaveco para tentar falar com ele mais uma vez na esperança de que daquela vez o rapaz lhe desse ouvidos.

 

- O que você quer aqui? Vai embora! – um grupo de jovens bradou assim que ele pôs os pés no quintal da casa.

- Saiam da minha frente, pirralhos!

- Você quer machucar o Xaveco, não quer? – um rapaz perguntou estalando os dedos e se preparando para a briga.

 

Aqueles adolescentes não o assustava. Ele poderia dar um jeito neles facilmente, mas não queria machucar ninguém. Todos estavam sob o encanto daquele demônio e não estavam pensando por si mesmos.

 

Melina acompanhava tudo da janela, rindo da situação daquele homem. Que tolo sentimental! Foi por isso que ela estragou a vida dele, porque ele era um fraco. E pessoas fracas mereciam ser pisadas e abusadas pelos mais fortes. Era a lei da selva que ela seguia a risca.

 

Ivan passou pela pequena multidão e tocou a campainha da casa. Alguém golpeou suas costas. Não lhe machucou, mas o fez perceber que aquele pessoal não ia facilitar as coisas para ele.

 

- Ué, tem alguém na porta?

- Não se preocupe, querido. É apenas algumas fãs alucinadas querendo sua atenção. Volte a dormir, você merece um bom descanso.

- Isso é verdade.

 

Ele voltou para o quarto, ignorando o que se passava do lado de fora. Sempre havia barulho, agitação e gritos de forma que ele acabou se acostumando com aquilo e nem imaginou que algo diferente estava acontecendo.

 

Do lado de fora, Ivan tentava se desviar dos golpes sem machucar ninguém. Cada vez mais pessoas apareciam, com o olhar vidrado e algumas até espumavam pela boca. Eles gritavam, xingavam e investiam contra ele.

 

- Droga, se continuar assim vou acabar machucando alguém. Tenho que sair daqui logo!

 

Juntando a palavra ao verbo, ele saiu correndo se desviando da multidão. Quando ganhou a rua, ele olhou para trás e viu que um número cada vez maior de pessoas se reuniam em volta da asa, como que tentando protegê-la. Eram os cães de guarda daquela abominação e ele sabia que não ia conseguir entrar na casa daquele jeito.

 

Xaveco dormia a sono solto, sem perceber que estava totalmente cercado. Era irônico ele ter sonhado a vida inteira em ser famoso, notado por todos e receber toda atenção e agora ele estava sendo feito prisioneiro pela própria fama, sem poder decidir se queria ou não sair daquele atoleiro.



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