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História O Pacto - Por um golpe do acaso


Escrita por: Mallagueta

Capítulo 2 - Por um golpe do acaso


Ele ainda se lembrava daquele dia, que inicialmente parecia ter sido feito para dar errado. E tudo tinha dado errado mesmo.

- É que o despertador não tocou, aí eu saí correndo, nem tomei café e...
- Isso não é desculpa. Você deveria ter colocado o trabalho na sua mochila com antecedência.
- Eu posso entregar amanhã? O trabalho tá prontinho, eu juro!
- Nada disso. Se eu abrir essa exceção para você, terei que fazer o mesmo para os outros que também não entregaram o trabalho.
- Então deixa eu ir até lá em casa buscar, é rapidinho!
- Melhor você se sentar e da próxima vez, trate de se preparar com antecedência.

Não adiantou argumentar. O professor não aceitou nenhuma desculpa e ele ficou com zero em química. Sua mãe com certeza ia lhe dar uma bronca por causa da nota baixa. Na aula de educação física, as coisas não melhoraram. Durante todo o tempo, ele ficou esquecido no banco de reserva e não pode sequer jogar para aliviar um pouco o stress.

Assim era sua vida, sempre ignorado e esquecido por todos. Seus amigos praticamente viviam como se ele não existisse. Eles só notavam sua presença quando ele falava alguma coisa e mesmo assim quase ninguém lhe dava importância. Na hora de jogar vídeo-game na casa de alguém, ele sempre ficava por último na hora de jogar e muitas vezes acabava nem jogando. Quando seus amigos programavam alguma coisa, se ele não estivesse por perto ouvindo tudo acabava ficando de fora porque ninguém se incomodava em lhe dar um telefonema.

Apesar de tudo, ele tinha se conformado em viver assim, nas sombras e como um zero a esquerda. Xaveco já tinha acostumado a perder e pensava que a vida não teria nada de melhor para lhe dar. Não, as coisas boas eram só para os outros personagens, não para ele.

E naquele dia, depois da aula, ele ainda acabou encontrando mais uma dificuldade no meio do caminho. Remexendo em uma lata de lixo, ele viu um cachorro que a primeira vista parecia inofensivo, mas assim que o viu o cão logo mostrou os dentes e começou a rosnar.

- Calma, cachorrinho bonitinho... bom menino... aaaaaiiiii!!!!!! – não teve jeito. O cachorro investiu contra ele e arrancou um bom pedaço da sua bermuda com os dentes.

Para fugir da fera, ele foi obrigado a se esconder em uma grande caçamba de lixo. E para seu azar, a caçamba parecia estar cheia com o lixo mais nojento e fedido de toda a cidade. Ratos corriam em volta dele, um cheiro de podre terrível penetrou suas narinas e pareceu chegar até seus pulmões e uma grande variedade de coisas sujas, gosmentas, molhadas e esponjosas grudaram em sua roupa.

Ele só pode sair dali depois de alguns minutos e ainda assim teve dificuldade. Todo aquele lixo mais parecia areia movediça e ele acabou afundando enquanto se debatia tentando sair ao mesmo tempo que segurava sua mochila. Felizmente o lixo não era suficiente para cobrir seu corpo e ele podia ficar em pé se precisasse. Sua maior preocupação era pelo menos manter a cabeça para fora daquele monte de lixo para não morrer sufocado com toda aquela coisa nojenta.

Depois de muito se debater, revirar, bater braços e pernas, finalmente ele pode sair dali todo coberto de lixo. Aquelas roupas estavam perdidas para sempre.

- Fala sério, tô na maior urucubaca hoje! O que mais falta acontecer? - cabrummm!!! - ah, ótimo! Por que diabos eu fui perguntar?

Por que sempre que alguém perguntava o que mais faltava acontecer, acabava caindo uma chuva das bravas? Talvez fosse lei de Murphy, coisa que tinha virado rotina em sua vida. Quando uma coisa tinha que dar errado, sempre dava errado. E no caso dele, o azar vinha em dobro. Pelo menos a chuva estava ajudando a lavar um pouco o lixo e ao ver que não adiantava correr, Xaveco foi andando mesmo, tentando proteger a mochila para que seus cadernos não se molhassem.

Chegando em casa, ele tomou todo cuidado para não sujar o chão e correu para o banheiro, se apressando em tirar logo aquelas roupas. Aquilo não ia servir para mais nada e teria que ser jogado no lixo. Sua mochila, por outro lado, precisaria ser lavada pelo menos umas cinco vezes.

Xaveco tomou um bom banho, ensaboando e enxaguando seu corpo várias vezes. Ele passou sabonete e até xampu da sua mãe na tentativa de tirar aquele cheiro horrível. Depois de quase quarenta minutos, ele ainda estava com um pouco do cheiro ruim no corpo, mas acabou tendo que sair do chuveiro porque ainda tinha que dar um jeito na sua roupa e na sua mochila.

Tudo estava sujo, coberto por um liquido nojento e manchado. Ele levou tudo para a lavanderia da casa e jogou no tanque para poder examinar os bolsos da sua roupa a procura de algo importante. Foi assim que ele encontrou aquela moeda no bolso de uma bermuda, envolvida em um pedaço de casca de banana. Uma moeda?

Ele examinou aquilo por algum tempo. Era do tamanho da moeda de um real e depois de lavar bem, ele viu que era uma moeda dourada e ficou contemplando seu achado por um tempo. Um pequeno furo perto da beirada indicava que aquilo devia ser algum pingente para ser usado no pescoço. Para algo que tinha sido encontrado no lixo, até que estava bem conservado e ele a guardou no bolso. Pelo menos aquilo poderia ser aproveitado.

Estava quase na hora da sua mãe chegar quando ele conseguiu dar um jeito naquilo tudo.

- Oi, filho, como foi na escola... ai, que cheiro é esse?
- Hã... é que um cachorro bravo me perseguiu e...
- De novo? Nossa, é a quarta vez esse mês! Ou seria a quinta?
- Pois é.
- Tudo bem... vá se lavar enquanto eu faço a janta. Você ainda está com um cheirinho bem ruim! Nem o Cascão fedia desse jeito!

Ele não teve ânimo para dizer que já tinha tomado banho antes e resolveu voltar para o chuveiro. Seu cheiro estava mesmo muito ruim.

Após o jantar, ele resolveu se recolher mais cedo para relaxar um pouco. Ao trocar de roupa, algo caiu no chão e rolou para debaixo da cama. Era a tal moeda.

“Até tinha esquecido desse troço” ele ficou examinando a moeda, olhando de um lado e de outro. Será que aquilo não tinha nenhum valor? Seria de ouro? Talvez não, seria sorte demais para ele que não conseguia achar nem moeda de cinco centavos na rua. Ao ver que tinha um furo, ele se perguntou como aquilo ficaria em seu pescoço.

Pensando nisso, ele procurou um cordão que estivesse livre e achou um que parecia uma pequena tira de couro muito fina, comprado em uma feira hippie. Xaveco tirou o pingente do cordão, colocou a moeda no lugar e pôs aquilo no pescoço, admirando o resultado no espelho. Até que não tinha ficado tão ruim.

“Grande coisa... ninguém vai notar mesmo. Aposto que se fosse alguém como o Toni ou o Titi todo mundo notaria! Bem, mas até que ficou legal... acho que vou ficar com ela. vai ser a minha moeda da sorte!” ele finalizou meio que de brincadeira.

O que ele não sabia era que aquilo não tinha nada de brincadeira e foi preciso tapar sua boca com força para não gritar quando uma forma irreal e fantasmagórica foi se materializando em seu quarto. Ele só se acalmou ao ver que a entidade era muito bonita e parecia vir em paz.

- Saudações, meu novo protegido.
- Cuma?

Melina era seu nome e ela se dizia anjo da felicidade, que somente aparecia para quem colocasse seu talismã no pescoço como ele tinha feito.

- Você é... meu anjo da felicidade? Eu tenho isso? Ah, peraí! Essas coisas não deviam aparecer só para os personagens principais?
- Para mim não existe essa distinção. Todos são iguais e eu escolho aqueles que fazem por merecer. Títulos, posição social ou qualquer outra coisa não tem importância para mim.
- Caramba... e o que é um anjo da felicidade?
- Um anjo que realiza todos os seus sonhos e te dá a vida com a qual você sempre sonhou.
- Sério? – ele mal podia acreditar. Aquilo seria mesmo verdade ou só um sonho maluco?
- Sério. Enquanto você tiver essa moeda, estarei sempre do seu lado. Nunca abra mão dela por nada.

Xaveco voltou a olhar para sua moeda, que parecia mais dourada e bonita do que antes e a segurou de forma protetora com a mão fechada.

- A partir de amanhã, sua vida irá mudar para sempre. E será para melhor.

E ela estava certa. Ele até que não tinha acreditado muito naquilo e foi dormir certo de que no dia seguinte veria que tudo foi apenas um sonho. Ao acordar, no entanto, ele teve a surpresa de ver que a moeda continuava bonita e dourada como na noite anterior. A única difereça era que agora havia ali o desenho de um anjo. O seu novo anjo da guarda. E a mudança tinha acontecido mais rápido do que ele pensava.

No café da manhã, sua mãe tinha lhe dado um cereal de primeira, que ela não costumava comprar.

- Eu não sei por que... quando estava na padaria comprando pão me deu vontade de te comprar isso. Espero que goste. Ah, e ao invés de levar lanche de casa, compre um bem gostoso no colégio, viu? – ela falou colocando uma boa quantia em dinheiro sobre a mesa.

No caminho para a escola, tudo parecia sorrir para ele. Os cães lhe faziam festa ao invés de tentar arrancar um pedaço da sua perna, várias garotas o olhavam e mandavam beijos, seus amigos correram para cumprimentá-lo e seguir com ele até a escola e Xaveco até tinha encontrado uma nota de vinte no meio do caminho, coisa que nunca tinha lhe acontecido antes.

Desde então, sua vida era apenas uma subida meteórica. Sua popularidade disparou e ele acabou sendo descoberto por Moreira, um empresário famoso e badalado que assistiu a uns vídeos seus postados no Youtube. Com isso, ele se tornou famoso, assediado, bem sucedido e cheio de contratos e propostas importantes.

Quando a secretária daquele famoso empresário telefonou marcando uma entrevista, ele não acreditou. Apesar de ter postado aqueles vídeos há muitos meses, havia muito pouco acesso e só um comentário aqui e ali.

Depois de se tornar famoso, seus vídeos se tornaram os mais acessados do youtube e foram espalhados de maneira viral por toda a web, sendo assistido até por pessoas da Europa e na Ásia.

A vida nunca tinha sido tão doce e generosa para ele.


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