História O Pacto - Uma luz no fim do túnel e um novo caminho

O ano estava acabando. Eles tinham acabado de entrar no mês de novembro e era época das provas finais. Depois disso, dois meses de férias.

Por ser domingo, a turma resolveu sair um pouco para a noite da turma clássica e Xaveco tinha sido convidado. Quando o filme terminou, eles foram para a praça de alimentação fazer um lanche enquanto falavam sobre as provas que estavam por vir e o que cada um ia fazer nas férias.

(Magali) – A gente vai viajar para o sitio do meu tio, lá no interior. A cozinheira dele faz cada coisa gostosa!

(Cebola) – Meu pai vai levar a gente pra passar uma semana na praia!

(Mônica) – Os meus também. E você, Xaveco? Como vai ser?

Ele gaguejou um pouco, pois ainda não sabia o que sua família pretendia fazer nas férias de fim de ano. Se seus amigos pretendiam viajar, ele poderia acabar sozinho por alguns dias, o que era bem ruim. Mesmo assim ele procurou não demonstrar o que sentia. Talvez, depois das férias, todo mundo esquecesse dele e a vida voltasse ao normal.

Fora da escola ele não ia mais sofrer o assédio dos outros alunos e nem a humilhação de precisar se esconder atrás dos amigos. As piadas na internet e na televisão podiam ser ignoradas e ele poderia ter um tempo de sossego.

Eles comeram, riram, conversaram, fizeram vários planos para as férias e quando chegou a hora de ir embora, cada um tomou seu rumo. Xaveco foi embora para casa sentindo o peito oprimido. Sua esperança era de que depois das férias, as pessoas parassem de pegar no seu pé. E se isso não acontecesse? Ele fez as contas e viu que cinco meses tinham se passado e pouca coisa mudou. Embora as provocações não tivessem a mesma força de antes, ele ainda tinha que carregar o estigma de astro fracassado, o que não era nada bom. As pessoas pareciam não levá-lo mais a sério, vendo-o como alguém que perdeu tudo porque não teve competência para se manter no topo, o que não era verdade.

O que deixava o rapaz meio aflito era saber que ainda teria que agüentar aquilo por mais dois anos antes de ir para a faculdade. Pelo visto, aqueles iam ser os dois anos mais longos da sua vida.

Ao chegar em casa, seu rosto se iluminou ao ver um carro bem familiar parado em frente à garagem e ele entrou correndo, com os olhos brilhando de alegria e deu um grande sorriso ao ver uma jovem mulher loira sentada em sua sala conversando com seus pais.

- Xabéu! Caramba! Que bom te ver!

- Oi, maninho! Como vai?

- Muito bem, mas... você não ia vir só no fim do ano? – ele perguntou confuso, já que a última visita da sua irmã tinha sido apenas há dois meses e ela não costumava ir para casa com tanta freqüência assim.

- Eu voltei porque tem alguém aqui que quer falar com você. Diga oi para o Astronauta!

- Cuma?

Ele levou um susto ao se deparar com a figura alta, forte e imponente do astronauta.

- Oi, Seu Astronauta! Desculpa eu não ter visto o senhor antes, é que...

- Tudo bem, rapaz. Você deve sentir muita falta da sua irmã, não é mesmo?

- Demais! Ela vem tão pouco pra casa!

- Pois bem. O que acha de vê-la com um pouco mais de freqüência?

- Como é? – ele ficou olhando ora para um, ora para outro, não entendendo nada. Para sua surpresa, até o seu pai estava em casa, sentado no sofá ao lado da sua mãe. A família estava toda reunida.

Sem mais delongas, Seu pai resolveu esclarecer as duvidas do filho.

- Xaveco, o Sr. Astronauta fez uma proposta para gente que parece ser muito boa.

- Que proposta?

- Sente-se, meu jovem. Eu vou explicar tudo. É o seguinte: existe no espaço uma escola para cadetes e eles abriram vagas para rapazes da Terra. Ali você pode completar o ensino médio, receber treinamento físico e intelectual e caso seja da sua escolha, você pode seguir a mesma carreira que sua irmã.

Os olhos do rapaz brilharam.

- Tá falando sério? Eu posso ir estudar lá no espaço?

- Sim, eu estou falando muito sério. Mas adianto desde já que não será nada fácil! Você terá que dar o melhor de si o tempo inteiro e nessa escola não aceitarão menos que isso! Eles são muito exigentes com seus alunos e você terá que acompanhar o ritmo deles.

(Xabéu) – Nessa escola, você fará novos amigos, conhecerá pessoas de várias partes da galáxia e terá uma nova vida.

O rapaz acabou entendendo tudo. Eles estavam fazendo aquilo porque perceberam suas dificuldades e estavam lhe dando uma chance de fugir daquilo tudo e ter uma nova vida. No espaço, ele teria a chance de recomeçar do zero já que ninguém o conhecia. Até que a idéia era muito boa, mas será que aquilo não significava uma fuga? O correto não seria ele ficar e enfrentar tudo de peito aberto?

Astronauta pareceu ter adivinhado seus pensamentos e lhe falou.

- Eu não quero pressionar você a tomar nenhuma decisão, meu jovem. A vida é sua e é você quem deve decidir. No entanto, seja lá qual for sua decisão, ela deve ser tomada visando o seu PRÓPRIO bem e não o que as outras pessoas pensam e deixam de pensar.

- Puxa... ainda assim eu não sei o que dizer! E os meus amigos?

(Xabéu) – Poderá visitá-los nas férias. Pense bem, irmãozinho! É uma oportunidade única! Não é qualquer pessoa que pode ingressar nessa escola e você foi selecionado!

- Eu? Como?

(Astronauta) - Eles viram suas notas na escola e seu desempenho. Também estudaram seu perfil e concluíram que você tem grande potencial que poderá ser explorado totalmente nessa nova escola. 

- E eu não vou ter que fazer nenhuma prova?

(Astronauta) – Os critérios de avaliação deles são muito mais avançados e eficientes que os da Terra. Você já foi avaliado e aprovado e poderá começar seus estudos no ano que vem. Agora irá depender da sua escolha. Para lhe ajudar a decidir, eu trouxe para você o currículo dessa escola para que você veja por si mesmo e tome uma boa decisão. Você tem até o fim desse mês para decidir.

A conversa foi encerrada ali mesmo e o jantar foi servido. A conversa girou em torno de amenidades e quando Xabéu foi embora com Astronauta, Xaveco correu para o seu quarto para poder ler o currículo daquela escola espacial. Seria mesmo boa idéia largar tudo para ir ao espaço?

- Rapaz, tem cada coisa legal aqui! Parece que o negócio é sério mesmo!

O currículo era bem extenso e incluía disciplinas como defesa pessoal, eletrônica, cultura de outros mundos, aulas de diplomacia, sobrevivência em ambientes inóspitos, pilotagem de naves de pequeno porte entre várias outras coisas. Havia disciplinas obrigatórias e optativas, que valiam pontos extras e cada matéria era melhor do que a outra. Ele jamais aprenderia algo assim no colégio do Limoeiro, que era um dos melhores do país.

- E lá ninguém me conhece e não vão pegar no meu pé! Caramba, vai ser legal demais! Vida nova, tudo novo! Só que eu não vou mais ver meus amigos... só nas férias.

Ele balançava entre o desejo de ir e o de ficar com os amigos e não sabia o que decidir. Ir ou ficar? De um lado, a possibilidade de uma nova vida. E não era só isso. Ele ia aprender muitas coisas, entrar em contato com culturas de outros mundos e também ia se tornar mais forte e seguro de si. Por outro lado havia o receio de não conseguir fazer novos amigos e todo continuar na mesma, com ele sendo o mesmo excluído e ignorado de sempre.

- Não, não vai ser a mesma coisa, isso não! Eu vou fazer acontecer, como o Cebola disse! Chega de ser o bobão perdedor que reclama de tudo e não faz nada pra mudar!

Fosse qual fosse sua decisão, uma coisa era certa: ele pretendia mudar de vida e não se deixar mais abater por provocações de ninguém. Xaveco pretendia ser forte, seguro de si, alguém que tivesse muito valor e não se importava com a opinião de pessoas medíocres.

Pela primeira vez, ele se sentiu um vencedor e ficou orgulhoso de si mesmo.