Suas pernas doiam, o mesmo ocorria com seus braços. Não suportava mais permanecer naquela posição, o livro pesava em sua mão e seus olhos começavam a se incomodar com o óculos.
Vez ou outra lançava olhares protestantes para o loiro a sua frente, que apenas ignorava e seguia com seu trabalho.
O bater do lápis contra a folha já estava irritando Sasuke, que só pensava em quais xingamentos iria oferecer a Shikamaru por faze-lo passar por isso.
Nunca cogitou em ser modelo ou coisa parecida, e se agradecia mentalmente por isso. Não servia para aquilo, e quando esse "trabalho" acabasse, nunca mais se quer iria fazer algo relacionado a moda.
- Vejamos..- Naruto se ajeitou na cadeira enquanto analisava o conteúdo na folha. - Não posso dizer que é um desenho digno de uma revista mas, vai servir para amanhã.
Desfez sua posição suspirando aliviado, enquanto retirava os óculos e os fones, os deixando em cima da mesa - agora bagunçada - de Naruto.
-Posso? - Estava ali a horas, então estava realmente curioso em ver a que fim levou a isso.
- Claro. - O Uzumaki deu ombros entregando o desenho a ele.
Por alguns instantes Sasuke pensou que estava olhando para uma fotografia, tudo estava perfeito, desde as roupas a seus detalhes no rosto e corpo.
- Não está bom o suficiente ainda. - Disse o loiro observando a expressão facial que o Uchiha fazia. - Ainda tenho que concertar os comprimentos.
O moreno permanecia calado observando o que achou ser uma perfeita obra de arte e não por seu rosto estar nela. Cada detalhe estava tão perfeito, que dava a parecer que Naruto tinha tirado um foto e colado na folha.
- Está...Bom. - Foi o que conseguiu dizer. - Eu já posso ir embora agora?
Devolveu o desenho a ele, ganhando olhares desconfiados e curiosos do Uzumaki.
- As roupas. - O loiro colocou os óculos que Sasuke usava a poucos minutos atrás. - Troque e pode ir.
Ir para aquele lugar foi uma estúpida ideia, mais uma para sua lista.
Não queria ter saído de casa, mas Kiba o convenceu a ir para a boate, que segundo ele, era a melhor de todas. O Inuzuka parecia se divertir muito, para alguém que quase foi demitido de seu trabalho.
Mas Shikamaru não se sentia a vontade, além do que, sabia que Sasuke estava "trabalhando" e logo iria ouvir um belo sermão vindo do amigo.
- Ei! - Kiba colocou o braço sobre seu pescoço. - Você está em uma festa!
O mais velho cheirava a álcool, e era notável sua embriaguez. A garrafa de cerveja em sua mão o denunciava.
- Eu disse a você que eu não queria vir! - Gritou tentando encaixar sua voz em meio a música alta. - Não é certo estarmos nos divertindo enquanto Sasuke está trabalhando por nós!
- Esquece isso! - O Inuzuka derramou um pouco do líquido da garrafa em sua boca. - Por que não aproveita e chama sua namorada para se divertir também?!
- Do que você está falando?! - Seguiu o olhar do mais velho para o balcão de bebidas.
Santo Deus aquele não era seu dia.
Temari estava junto a Sakura, e pelo olhar vago que elas olhavam em sua direção, já tinham notado sua presença.
- Ah merda!
Não sabia o que fazer, seria grosseria sair correndo dali? Por que era exatamente isso que queria fazer.
Afinal como iria falar com a garota com quem foi apaixonado desde o primário, mas também com quem "quase" transou?
- E melhor você ir falar com ela! - Kiba se afastou dele. - Vou estar aqui se precisar!
Engoliu um seco e forçou suas pernas a andarem até a Sabaku, e tudo que saiu da sua boca foi apenas um simples...
- Desculpa - Idiota? Talvez, mas foi a única coisa que seu cérebro conseguiu raciocinar naquele momento.
- Eu acho que vou dançar um pouco. - Sakura sorriu para ele e seguiu até a multidão.
- Nem ao menos um boa noite? - A garota soltou uma risada forçada. - Pelo visto ruim é um elogio para o que fizemos.
Se sentou ao lado dela pensando em mil coisas mas não dizia nada, perdeu por instantes o dom da fala.
- Me diz só uma coisa...- Temari o encarou. - Por que me deixou sozinha? Podia ao menos ter deixado um recado ou mandado uma mensagem.
Ele queria ter feito, na noite em questão, ficou horas olhando para o número dela em seu telefone, digitou infinitas vezes, mas não conseguiu enviar.
O silêncio não agradou a Sabaku que suspirou irritada e se levantou pronta para ir embora.
- Espera. - Segurou seu braço a impedindo. - Me desculpe.
- E só isso que você sabe falar? - No canto de seus olhos castanhos pode se notar pequenas lagrimas se formando. - Sabe aquilo pode não ter sido especial pra você, o que deixou bem claro quando dormiu em cima de mim.
Shikamaru queria voltar no tempo e se socar, como pode desmaiar quando por fim iria ficar com a garota de seus sonhos?
- Mas aquela foi minha primeira vez. - Continuou Temari. - E com alguém que eu gostava desde sempre.
Ouviu seu coração bater mais rápido. Ela também sentia a mesma coisa por ele? Não sabia se ficava feliz ou irritado por sua imbecilidade.
- Mas não importa. - A Sabaku puxou seu braço e seguiu andando até a saída.
- Vá atrás dela. - O barmen aparece ao lado dele limpando um dos copos. - Não deixe pra depois.
Seja lá quem fosse aquele homem Shikamaru o escutou sem pensar duas vezes e correu até o lado de fora do estabelecimento.
- Temari!
A garota se virou surpresa, mas não teve tempo de dizer nada. O Nara apenas a segurou pela cintura e a beijou.
Naruto aguardava o Uchiha na sala de estar, ainda não conseguiu entender a expressão que o mesmo fez ao ver o seu desenho.
Para ele era importante saber a opinião de seu modelo, afinal ele era o desenhado. Mas tudo que o moreno fez foi um simples elogio e nada mais, o que o deixava instigado.
- Pronto aqui está. - Sasuke apareceu ao seu lado estendendo a sua frente mudas de roupas perfeitamente dobradas.
- Obrigado. - As pegou colocando em cima da pequena mesa.
- Posso ir então? - Suspirou enquanto massageava seus ombros.
Para um garoto que nunca teve nenhuma prática naquele ramo, ele tinha se saído bem, não reclamou ou se mexeu como muitos novatos faziam.
O máximo que pode receber dele, foram olhares protestantes, mas obviamente os ignorou.
- Eu irei leva-lo. - O seguiu até a porta. - E não receberei um não como resposta.
Pela primeira vez não o ouviu reclamar, ele parecia mais aliviado do que contrariado. O que era sensato, afinal andar a pé no inverno não era muito animador.
X-X-X-X-X-X-X-X
Dentro do carro a viagem seguia silenciosa, a não ser pela melodia saindo do rádio. Silêncio era uma coisa estranha para Naruto que sempre permanecia falante e hiperativo, mas Sasuke não dava espaço para isso.
Mas em parte achava isso bom, seu ego de pai o deixava ainda um pouco irritado com o moreno, que mesmo sendo gay, beijou sua filha.
- Se eu puder perguntar...- O Uchiha disse de repente. - Quem era o garoto na foto?
Demorou alguns segundos para entender do que ele estava falando, mas logo se lembrou que horas atrás, Sasuke folheava sua revista.
- Você viu... - Se ajeitou no banco tentando se concentrar em apenas dirigir. - Não é ninguém, apenas um modelo mirim para quem trabalhei.
O Uzumaki esperou pela frase " você está mentindo", ou algo assim, o que era evidente já que Boruto era idêntico a ele.
Mas tudo que o moreno fez foi virar o rosto para a janela e não dizer mais nada durante todo o trajeto.
Assim que chegou em casa se jogou na cama, e logo sentiu as patas de seu gato massagearem suas costas.
- Hoje não Uryu, brincamos amanhã. - Observou o gato lhe mostrar os dentes e sair do quarto irritado. - Eu que deveria estar assim.
Olhou para o retrato pregado a parede, o que seu pai diria se soubesse de seu "emprego" de modelo? Certamente iria expulsa-lo de casa, assim como quase fez quando descobriu sobre a sexualidade de Sasuke.
Ainda se lembrava da briga que tiveram, seu pai o chamou por tantos nomes, que o Uchiha nem se atrevia a lembrar quais eram. Passaram o dia discutindo e tentando evitar um ao outro, foi então que sua mãe cogitou a ideia de irem até a casa de seu tio Madara, um cara legal no qual Sasuke via como um exemplo de vida - sem contar que ele também era gay e vivia junto a seu marido Hashirama - .
Felizmente ou infelizmente o moreno não pode ir, teria uma entrevista de emprego no dia em questão.
Foi então que tudo ocorreu.
O Uchiha não soube realmente como tudo aconteceu, só sabia de uma coisa, que sua família tinha sofrido um acidente e ninguém sobreviveu.
Sentiu o celular vibrar em seu bolso, Shikamaru estava ligando e para sorte dele Sasuke estava cansado demais para manda-lo ir a merda.
- E como vai a escola? - Peguntou Naruto.
Desde a chegada de seu pai, Boruto não saiu do seu lado, fazia muito tempo que não o via, e tinha medo que se saísse de perto não o veria mais.
- Bem. - Sorriu orgulhoso - Estou sendo o melhor da classe.
- Diferente de você. - Neji apontou para Naruto dando um gole em seu café.
- Como se você fosse diferente, ficou em último no ranking das provas. - Seu pai disse em um tom de deboche.
- Ao menos fiquei no ranking.
O pequeno Uzumaki pensou ver o começo de uma briga, mas logo os dois mais velhos estavam rindo.
- B, por que não pega seus cadernos, ficarei muito feliz em ver suas excelentes notas.
Sorriu animado enquanto corria até seu quarto em busca dos cadernos, o que estava meio impossível achar devido a enorme bagunça.
- Eu tentei o maximo que pude. - Neji disse tentando evitar que seu tom de voz aumenta-se.
- Mas não foi o suficiente! - Disse um pouco alto demais. - Como eles souberam?
- Um mês atrás eu levei Boruto ao túmulo dela. - O Hyuuga apertou suas mãos preocupado. - Não sabia que eles estavam na cidade e muito menos visitando o túmulo.
- Não fizeram nada além de matrata-la e depois vão até lá prestar suas condolências como se nada tivesse acontecido?! Desgraçados!
- Se acalme, B vai escutar. - Neji olhou de relance para a escada.
Pensou ter ouvido um barulho.
- Se encostarem um dedo nele. - O loiro tentou dizer o mais baixo possível. - Eu acabo com eles. Não me importa a merda do que eles eram de Hinata, eu não vou perdoa-los.
O Hyuuga não respondeu, por mais que fosse sua família, sabia de todo o mal que causaram a sua prima e até a si próprio. Então era primordial que Boruto nunca tivesse contato com eles.
- Estão quietos até agora então podemos relaxar. - Neji sabia que a quietude não era um sinal bom. - Mas quando agirem, não será polícia alguma que vai deter-los.
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