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História O pão do amor - Capítulo Único


Escrita por: RED_BOSS

Notas do Autor


Segunda fase do You are The One com comida, Coréia, muitos pães e um XiuKai bem fofinho, tal como as massas devem ser u.u

P.S.: tenho minhas dúvidas se isso é realmente fluffy, mas creio que nosso padeiro consiga conquistar a todos.
Leiam e descubram, boa leitura! <3

Capítulo 1 - Capítulo Único


               

 

O dia ainda estava escuro quando Kim MinSeok vestiu seu avental branco, calçou as botas, escondeu os fios loiros na touca transparente e deixou que as mãos, agora limpas e esterilizadas, fossem empurradas para dentro de uma luva também branca que grudava em sua pele.

Trabalhar com aquilo que se ama é a melhor descrição para a felicidade e por algum motivo peculiar Kim MinSeok descobriu isso muito cedo, quando não tinha mais de quatro anos de idade. Era um dia ensolarado, tal como aquele também seria, seu pai segurava sua mão, enquanto conversava com um homem do outro lado do balcão. “Quero dois, por favor”, falou seu pai, “Recheado? Tudo bem. ”, “É especialidade da casa, acabou de sair do forno”, aquelas palavras que os dois homens trocavam e os gestos, o cheiro e todas as cores daqueles alimentos deixaram o pequeno MinSeok com os olhos brilhando. Ele decidiu, naquele momento, que queria fazer aquilo, acordar mais cedo que o habitual todas as manhãs, moldar, mexer, amassar e temperar cada pedacinho de massa, ele queria olhar para as pessoas que viriam logo que a padaria estivesse aberta e falar: “Acabou de sair do forno, está quentinho”, ou dizer que aquele pão com queijo, gergelim e salsa era especialidade da casa. Os clientes iriam sair com as sacolas cheias, um sorriso no rosto e a vontade de comer aqueles pães fresquinhos, saciada.

A porta do forno foi aberta pela primeira vez naquela manhã quando MinSeok depositou uma bandeja com três massas moldadas e polvilhadas com açúcar mascavo, divididas e separadas de maneira que nenhuma delas grudassem uma na outra, a massa continha três tipos de farinha, açúcar mascavo, água e sal. O padeiro olhou por dois segundos as pequenas massas lá dentro e retornou a mesa de trabalho.

— Bom dia! — Disse a senhora Bo-Hyung, ela já estava com a vestimenta apropriada e não perdeu tempo para ir até a dispensa. — Chegou cedo hoje, filho.

— Bom dia Bo-Hyung! — Respondeu ele, amassando sua massa e observando sua companheira de trabalho jogar alguns ingredientes, como manteiga, leite e ovos em cima da mesa ao lado. — Estou inspirado hoje.

— Ah, conheço essa inspiração. — Riu a mulher, passando os ovos e o leite para uma vasilha. — A minha morreu há muitos anos, mas ela tinha nome e sobrenome.

MinSeok riu constrangido.

— A minha tem nome e sobrenome também. — Disse ele, saindo da mesa e indo até as prateleiras pegar outra forma de metal.

— Deixe essa velha adivinhar. Começa com “Jong” e termina com “In”?

— E tem o sobrenome Kim. — MinSeok não podia deixar de sorrir, pensar em seu namorado fazia que o sol brilhasse mais, o céu ficasse mais azul e que os pães que ele moldava permanecessem sempre quentinhos. — Estamos fazendo dois anos hoje.

— Então compre um presente bonito e leve o menino para um lugar tão bonito quanto.

— Ficaremos em casa, Bo-Hyung. JongIn irá cozinhar, acredita?

— Quem vai cozinhar? — Ouviram uma terceira voz, rouca, perguntar da porta da padaria. Era Park Sun Hee, o terceiro padeiro que completava o trio. — Bom dia, bom dia!

— Bom dia Sun Hee! — Responderam os outros dois.

— Viram no jornal? — Perguntou o homem de meia idade, com cabelos negros e uma barba rala, tinha um físico saudável e uma excelente mão para preparar massa podre para as tortas. — Os russos desistiram da competição.

Um a menos na jogada, pensou MinSeok.

— Por que desistiram?

Park Sun Hee ergueu os ombros, dirigiu-se para a terceira mesa e peneirou a mesa com farinha branca.

“Qual é o melhor pão do mundo?”, esta pergunta apesar de pequena e talvez insignificante para a sociedade, era o objetivo dos três padeiros ali presentes, eles estavam representando a Coréia inteira e estavam muito perto da final da Coupe du Monde de Boulangerie ou Copa Mundial da Panificação. Os coreanos estavam com as notas mais altas, contudo outros países também possuíam notas tão altas quanto. A França sempre foi idolatrada, ironicamente o Brasil tornou-se o rei em pães franceses, a Alemanha fazia as melhores tortas, a Bulgária tinha os melhores ingredientes, Espanha e México sabiam realmente inovar quando era necessário criar algo próprio, existia a Itália com sua deliciosa massa com azeite, a Austrália e seu pão com mel, cacau e extrato de mate, e outros tantos países que possuíam títulos e mais títulos. A Coréia não possuía nada.

— Precisamos nos preparar para a próxima prova. — Falou MinSeok, colocando outra fornalha de pães no forno. — Acho que será uma prova de agilidade, para eliminar os participantes.

— É possível. — Disse Park Sun Hee, amassando a farinha para que esta virasse um bolinho uniforme. — Teremos dificuldades com isso.

MinSeok assentiu preocupado, pois ganhar essa competição era tudo, eles precisavam ganhar. Aquele pensamento estava fixo em sua mente desde o início, MinSeok, assim como os outros, ficavam até tarde na padaria todos os dias, treinavam receitas diferentes todos os dias, anotavam os fracassos e ofereciam aos clientes as vitórias, o pão salgado de milho com frango foi uma delas. Mas aquilo não era o suficiente para levar o título de melhor pão do mundo.

— É isso meninos! — Disse Bo-Hyung, com farinha no rosto. — Peguem os ingredientes e preparem os fornos. Vamos surpreender esses jurados.

Algumas palmas, abafadas e cobertas de farinha branca, foram dadas. O pequeno trio era humilde, mas corajoso o suficiente para enfrentar os grandes padeiros ao redor do mundo.

A manhã passou rápida, com clientes que vinham e iam, alguns comiam por ali mesmo, nas mesinhas enfeitadas com flores, outros mais conversavam do que comiam, e tinham as crianças que sempre ficavam encantadas com os mágicos bolinhos que Kim MinSeok fazia, eram decorados com tantas cores e sabores que ficava difícil não desejar levar todos.

— Tome. — Disse MinSeok, estendendo um cupcake de caramelo a uma garotinha magricela com os olhos brilhando para a vitrine. A mãe da menina tentou impedir que o presente fosse dado, mas o padeiro tinha aquele olhar tão doce e inocente que conseguia comprar a qualquer um. — Se gostar eu te ensino como fazer.

— Sério?! — Indagou a garotinha, com o cupcake em suas duas mãozinhas pequeninas.

— Mas terá que guardar segrego.

Os clientes, na parte da tarde, continuaram indo e vindo, alguns com mais pressa do que outros, alguns paravam admirados com os enfeites que os bolos e os pães carregavam, outros pareciam querer levar a padaria inteira, os pães embrulhados em saquinhos eram esquentados e devorados com elogios. MinSeok, entre massas e sorrisos destinados aos clientes, ficava imaginando que não havia trabalho melhor do que o seu.

— Obrigado! Espero que aprecie o pão. — Dizia ele para outro cliente. Duas senhoras conversavam em uma das mesinhas, comiam com calma e apreciavam o delicioso café paulatinamente, ambas pareciam estar entretidas com algo além da conversa, ou talvez aquilo fosse só história da cabeça do padeiro.

— Olá? — Cantarolou alguém com uma voz doce e divertida, como os pãezinhos aromatizados com laranja e menta. — Alguém aí?

MinSeok sacudiu os pensamentos avoados em sua mente e ergueu a cabeça para ver quem o chamava. Ele sorriu constrangido ao ver aquele sorriso no canto da boca de Kim JongIn.

— A quanto tempo está me chamando?

JongIn debruçou-se sobre o balcão, ficando com o rosto mais próximo do padeiro, que ainda usava touca e luvas.

— Estou te ligando há duas horas. — Sussurrou ele, divertidamente. MinSeok, no mesmo instante, tateou nos bolsos a procura do celular, mas este não se encontrava com ele.

— Deve estar lá dentro. Desculpe.

JongIn beijou rapidamente seu namorado nos lábios e disse:

— Perdoado! Passei apenas para ver como você estava... não esqueceu de hoje, não é?

— Claro que não! — Disse MinSeok, quase ofendido. A verdade, é que nas horas que ele passava na padaria todo o resto, desde pequenos lembretes até importantes compromissos, pareciam ficar em segundo plano, um plano muito distante a vago. — Ás dez, não é?

JongIn riu.

— Ás dez, Kim MinSeok. Ás dez.

E outros clientes vieram, os três padeiros trocaram de turno e enquanto o engraçado Sun Hee atendia os clientes, MinSeok e a velha Bo-Hyung trabalhavam em novos experimentos, testável o quão rápido eles podiam ser, comiam e comiam, e ora bisbilhotavam o movimento da loja, ora bisbilhotavam em sites procurando como seus adversários estavam se preparando; em um deles um usuário comentou que havia experimentado o pão de quatro queijos da Noruega e jurou que era a melhor coisa que já havia comido.

— Acha mesmo que é o melhor pão de quatro queijos? — Perguntou com cautela MinSeok.

— Talvez. — Respondeu a senhora. — Como saberemos? Teríamos que comer todos os pães de quatro queijos do mundo para afirmar algo dessa dimensão.

O mais jovem assentiu, enquanto batia uma nova massa para que essa ficasse macia e pronta para ir ao forno, o recheio de cream cheese já estava em uma vasilha ao seu lado, pronto para ser fundido a massa.

— Acha que podemos ganhar?

— Talvez. Não se aflija, criança. Não tente adivinhar o futuro.

MinSeok ouviu aquilo, mas não conseguiu seguir o concelho de sua amiga. Sua mente borbulhava sonhos proféticos, era um pior que o outro; sua massa desandou e ele quase queimou a cobertura dos bolinhos de chocolate.

O jovem estava obcecado em conseguir aquele título; ele amassou, e decorou; e amassou novamente, e quando achava que não estava bom ele oferecia á Bo-Hyung que sempre lhe dizia a mesma coisa: “Está uma delícia, mas tente não deixar perfeito, tente deixar saboroso”. Outro concelho, desses de gente com muita experiência, que MinSeok não conseguiu seguir.

— Como vou deixar saboroso se não ficar perfeito? — Resmungava ele para si mesmo, fingindo estar concentrado no cronometro que lhe dizia quando as mini tortinhas estariam prontas. — Elas precisam ficar perfeitas, não precisam?

E com perguntas aflitas, clientes famintos e depois de muita farinha a noite, enfim, chegou.

— O cheiro é sempre tão bom. — Comentava uma mulher voltando do trabalho.

— Os pães com gergelim são ótimos. — Dizia a outra.

MinSeok ouvia tudo e não conseguia compreender o que faltava para seus pães ficarem perfeitos, tipo os melhores do mundo, era isso que ele queria. E por isso ficou compenetrado em suas criações, uma saiu sem gosto, outra extremamente normal; já eram nove horas e o jovem padeiro continuava testando métodos e ingredientes. Ele descobriu que se você deixasse a massa tradicional, de farinha de trigo e água, um minuto mergulhada no molho inglês ela ficaria muito forte, mas se você deixasse quarenta e cinco segundos ela ficava perfeita.

— Até amanhã, garoto! — Disse Sun Hee, levando o avental para casa, de certo iria lavá-lo.

— Não demore muito mais, filho. — Disse Bo-Hyung, não muito tempo depois.

As bolhas começaram a surgir na panela prateada, aquele chocolate ao leite inundava a cozinha com seu delicioso aroma; aquela calda derretida ficaria perfeita em cima do bolo gelado com massa de baunilha e recheio de leite condensado, cocô e creme de leite. Talvez ainda desse tempo de preparar outro bolo de chá verde, quem sabe um pão de chá verde, seria, de fato, interessante.

— O cheiro do chocolate está chegando lá na esquina.

O padeiro ouviu, mas ao mesmo tempo não ouviu; a voz parecia de alguém tão distante, talvez fosse outro voltando do trabalho ou talvez fossem fantasmas, era provável também, Kim MinSeok nunca negou a existência deles.

— Por sorte vivemos em um país com um baixo número de assaltos. — Disse novamente a voz, estava mais próxima e, finalmente, MinSeok percebeu que era familiar, muito familiar. Dois braços magricelas percorreram sua cintura, apertando-o onde não havia nada para apertar. — Você está tão magro.

O fogo foi desligado e a panela com o chocolate deixada de lado. MinSeok virou-se e abraçou a pessoa atrás de si. Sim, ele estava muito magro; sim, ele possuía o melhor namorado do mundo; sim, ele havia esquecido do jantar em comemoração aos dois anos de namoro.

— Você esqueceu, não é? — Perguntou JongIn, apoiando sua cabeça no ombro do namorado.

Kim MinSeok ficou branco, rosa e vermelho, talvez até mesmo azul. Espiou as horas no relógio da cozinha, era decorado com comida, cada número havia sido substituído por um alimento indispensável, como farinha, leite e ovos; eram dez e quarenta e dois.

— Não esqueci, — disse finalmente, apertando com força o corpo do outro — eu só... estava terminando essa calda, estava me arrumando para fechar tudo.

JongIn se soltou e encarou o namorado com aqueles olhos serenos e confiantes de quem sempre sabia de toda a verdade. Será que ele sabia quem ganharia o campeonato de melhor pão do mundo?

— Eu trouxe a comida. Vamos, tire essas luvas.

Um suspiro de alívio saiu dos lábios de Kim MinSeok e antes que as luvas fossem retiradas, ele agarrou Kim JongIn pela nuca e beijou-lhe como se fizessem meses que não o visse. 

A comida estava boa, mas o frango frito havia queimado um pouco, o japchae estava ensosso e o kimchi muito salgado, era tudo simples e aquela comida jamais ganharia algum prêmio, mas para ele estava tudo perfeito.

Não havia velas em cima do balcão e aquele nem sequer estava forrado com alguma toalha de mesa bonita, mas o vinho estava ali, tinto e amargo, o favorito do casal.

— Desculpe, — sussurrou MinSeok, quando os dois estavam deitados no chão da dispensa, em cima de um humilde colchonete, um ótimo local para tirar um cochilo antes do fim do expediente. JongIn estava deitado em seus braços e ironicamente MinSeok não pensava em nada relacionado a competição naquele momento. — Eu não devia ter esquecido.

— Mas esqueceu. E daí? Eu jamais ficaria bravo por isso... eu, eu sei o quanto você está tentando ganhar essa competição.

— Não importa. Eu não devia ter esquecido. É nosso aniversário, e...

— É só um aniversário. Portanto que você prometa que nunca irá me esquecer... nós ficaremos bem.

O beijo que veio em direção a bochecha de MinSeok foi rápido, tinha o cheiro do vinho que eles haviam acabado de tomar.

— Eu prometo.

E como em uma daquelas cenas de filmes famosos, que haviam sido ensaiadas várias e várias vezes, onde as palavras e os atos eram decorados e onde a única emoção era fingida e sem graça, aquele outro beijo aconteceu, veio depois de uma troca de olhares, manso e ardente, os olhares foram degustados com calma até que não houvesse mais calma alguma. O beijo tornou-se fogoso e aflito, logo as mãos precisaram apreciar juntas os corpos, tudo era um amontoado de apertos e suspiros.

A camiseta de MinSeok foi a primeira a ser arrancada, com uma força que mostrava um outro lado do padeiro, alguém apressado pelo calor humano, não qualquer um, o de Kim JongIn. Os pães, por alguns minutos, ficariam afastados de seus pensamentos.

 

-<oOo>-

               

As crianças corriam desordenadamente pelo parque, corriam envolta de uma árvore gigantesca, corriam espalhando folhas e espantando pássaros. MinSeok e JongIn estavam sentados em um banco afastado, observando toda aquela movimentação de longe.  

— Não posso ir com você, JongIn. — Disse MinSeok. — Tenho que me concentrar. Preciso treinar novas receitas.

— Estou te pedindo um dia. Apenas um, MinSeok!

Em algum momento da conversa pouco amigável, as mãos se separaram e os dois corpos pareciam ficar cada vez mais afastados.        

— Você está há três meses nesse lance de competição e eu... te apoiei em cada segundo. Quero que você me apoie agora.

MinSeok via as crianças brincarem e imaginou se quando tinha aquela idade ele teria que fazer escolhas tão difíceis.

— Eu estou te apoiando...

— Não, — disse JongIn, cansado daquela conversa — não está. Você só consegue ver o que será bom para você.

O musical era tudo para JongIn, tal como a competição na França era tudo para MinSeok. A apresentação e a última prova da competição aconteceriam em uma diferença de doze horas, seria impossível um assistir ao outro.

JongIn tinha os olhos inchados, talvez por ter chorado antes de dormir, e quando acordará, e enquanto tomava seu banho e comia algo na cozinha, talvez as lágrimas estivessem secado, porque já fazia duas longas semanas que MinSeok não dormia em casa, não comia em casa, não saia com seus amigos, fazia duas semanas desastrosas que MinSeok só conseguia pensar naquele maldita competição.

— Eu... eu — soluçou JongIn, culpando a si mesmo pelas coisas que iria dizer, — eu fui em todas as onze provas que você teve. Lembra disso?  Perdoei seus atrasos, suas desculpas, e fiquei do seu lado quando você quis desistir. Lembra disso?

MinSeok não conseguia encará-lo. Sabia o quão importante era o musical que JongIn iria participar, mas o outro tinha que entender que a competição também era importante. Ele precisava entender.

— Você não precisa estar presente na última prova. — Disse JongIn, afirmando algo que os dois já sabiam. Teoricamente, cada participante tinha direito a ter duas faltas e MinSeok não havia cometido nenhuma. Ele não precisa ir até a França. — MinSeok... eu não quero que isso acabe.    

Nem eu, era o que ele pensava. Mas o padeiro não conseguia ver outra alternativa. Não abriria mão de estar presente na última prova, não estando tão perto do final, não depois de tudo que o trio enfrentou.

MinSeok olhou, pela primeira em vez em muito tempo, para o homem que estava ao seu lado. Dois anos e meio e ele não conseguia se lembrar qual havia sido a última vez que disse que o amava. As lembranças quentes dos abraços tinham sido perdidas, tudo que ele conseguia se lembrar era do forno da padaria queimando, ardente, e aquecendo seus pães.

— Gostaria muito de ver a apresentação, — disse ele, erguendo-se do banco, — mas não posso.

Nenhum aperto de mão, beijo ou abraço, nenhum dos dois faria algo daquele tipo.

— Quando voltar, — disse JongIn, erguendo-se do banco e caminhando para longe de Kim MinSeok, — quando tiver seu tão sonhando prêmio em mãos, lembre-se de me procurar. Quero que me conte como é não ter ninguém para dividir sua vitória.

Não ter ninguém. Isso feria o padeiro muito mais do que ver seu pão queimado. Há muito tempo ele não tinha ninguém, mas estava pronto e aceitaria as consequências daquilo.

 

-<oOo>-

 

Sete horas dentro de um avião ouvindo aquela criança de pouco menos de dois anos chorar e aquilo não irritou MinSeok, na verdade o padeiro não ouvia e não via nada, sentia-se culpado e isso era tudo.

— Ligue para ele. — Disse Bo-Hyung, após o desembarque.

— Ele não vai atender.

A conversa acabou ali, tão rápida e fria como todas as outras que vieram depois. MinSeok não dormiu quando chegou no hotel, sentia medo, medo pela competição, medo por JongIn, medo de ter estragado tudo e medo de estragar o que ainda não estava estragado. Era possível sentir tanto medo?        

— Há cerca de doze mil anos! — Bradou um homem velho com a cara enrugada e uma enorme barriga que escondia o cós da calça. — Foi feito o primeiro pão feito no mundo, feitos de cevada, o primeiro cereal a ser plantado pelo homem. E não há nada que se assemelhe a este, era duro, amargo e pouco comestível. Os egípcios mudaram isso,

O homem, um dos mais renomados chefes do mundo, ia anunciando as regras, o tempo e tudo mais. Os participantes, que não eram muitos, estavam em círculo, com as bancadas e os ingredientes virados uns para os outros, pareciam estar em uma vasilha pronta para ir ao forno, todos separados e polvilhados. MinSeok estava com uma sensação muito estranha na barriga, era aquele tal medo.

— Bo-Hyung... — cochichou o jovem perto da senhora que tinha um sorriso todo doce e despreocupado nos lábios murchos. — Não acho que eu vá conseguir...

— Não vai? — Indagou ela fingindo uma confusão interna. — Filho, não quero que você pense nisso. Apenas amasse a massa. Fazer pães nunca precisou de regras, você nunca precisou de receitas para fazer nada. Sabe por quê?

MinSeok não respondeu.   

— Suas receitas vêm daqui, — disse ela, tocando no peito do mais jovem, — é o amor que torna tudo perfeito.

Como um déjà vu, MinSeok escutou em sua cabeça as palavras de meses atrás da velha Bo-Hyung: “Está uma delícia, mas tente não deixar perfeito, tente deixar apenas saboroso”.

— É isso, não é?! — Perguntou eufórico, como se aquela criança que havia escolhido uma profissão tão incomum viesse à tona novamente.

Bo-Hyung riu.

— Só o amor é capaz de alcançar a perfeição. Só o amor.

Apenas amasse a massa, pensou o jovem padeiro e foi o que ele fez. Amassou sem se preocupar com o cronômetro, ou com a perfeição esperada pelos juízes, ele só pensou em como amava aquilo que fazia, pensou em como JongIn amava suas receitas que não seguiam receitas, pensou em como amava-o.

— Apenas amasse a massa. — Falou em voz alta, quando um jornalista se aproximou dele e perguntou o seu truque para ter feito o melhor pão do mundo.

O troféu estava em suas mãos, os fotógrafos e jornalistas por todos os lados e tal como JongIn havia dito, não havia ninguém para quem correr e mostrar-se vitorioso. 

MinSeok riu sozinho. Talvez fosse loucura e não desse tempo, mas quem se importava? Ele tentaria mesmo assim. E foi com esse pensamento que embarcou no primeiro voou de volta para a Coréia, que correu até um táxi, que esbarrando e desculpando-se ultrapassava as pessoas que saiam do teatro, foi nessa correria que chegou até o camarim dos dançarinos, estava lotado, MinSeok ofegante e com as pernas já bambas, puxou uma cadeira e após subir, berrou:

— KIM JONGIN!

O falatório da sala cessou aos poucos, com olhares curiosos e agressivos para o padeiro.

— Kim JongIn está aqui? — Indagou ele para as vinte pessoas dentro daquela pequena sala. Por sorte, seu atual ex-namorado apareceu, após um corredor vivo se abrir. — Ai está você!

— O que acha que está fazendo?

JongIn tinha um roupão branco cobrindo a roupa da apresentação, mas o rosto vinha com muito glitter e sombra azul. O padeiro não pode se conter e beijou-o ali mesmo, segurando o pescoço do dançarino com força e percorrendo cada centímetro daquela boca que ficou longe de si por uma semana inteira. A sala emitia um ruído, alegre ou não, era um ruído alto.

— Estou, — falou MinSeok, segurando a nuca de JongIn, que tinha a boca aberta e ofegante, com delicadeza, — pedindo uma segunda chance. Você tem razão, não importa vencer e não ter com quem compartilhar a vitória, não é? JongIn, você é o motivo, a inspiração, JongIn você é tudo. Eu preciso de você, assim... como eu espero que você ainda precise de mim.

— Ganhou a competição? — Perguntou JongIn com uma voz gélida e transparecendo total desinteresse. Por dentro ele sorria, sorria porque MinSeok conseguiu realizar seu sonho.

— Nós ganhamos. O melhor pão do mundo é coreano agora. — Disse MinSeok. — Eu quero passar a minha vida ao seu lado... e fazendo pães, é claro, mas... não tem sentido eu fazer pães se você não quiser comer meus pães, entende?

JongIn riu, talvez pelo coro de vozes gritando felicidades para o casal, ou talvez por causa de Kim MinSeok, aquele homem anormal. JongIn sorriu, seria impossível viver sem aquele padeiro bobo e doce ao seu lado.

— É. — Disse, colocando suas mãos em volta do pescoço de MinSeok. — É, eu entendo.

               

 


Notas Finais


Final feliz no estilo desenhos da disney \o/

Espero que a leitura tenha sido agradável :3 Será que nosso padeiro conseguiu conquistar alguém? ><


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