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História O Paraíso que Espere - Rebeldia Precoce


Escrita por: vixen

Notas do Autor


Boa leitura!

Capítulo 3 - Rebeldia Precoce


Fanfic / Fanfiction O Paraíso que Espere - Rebeldia Precoce

Deitado em sua cama sem conseguir dormir, Kirk revirava-se a cada minuto, torcendo para o sono chegar em breve. A ansiedade parecia dominar o seu ser intensamente, sem deixar espaço para qualquer outro sentimento, senão a fraqueza. Nem ele conseguia entender o porque disso, o dia havia sido tão bom. Passou grande parte da manhã e da tarde nos preparativos do casamento da irmã daquele loiro, e aquilo devia ser um remédio para a sua alma, afinal, geralmente, o Padre Joseph conseguia deixar os seus dias naquele convento de pernas pro ar – algo que hoje foi totalmente diferente.

Diferente em aspectos que Kirk tratou imaginar. Em primeiro lugar, não ficou trancado no quarto sem ter contato com a humanidade, estudando, como de costume. Segundo, saiu um pouco daquela igreja e foi visitar o exterior, indo à loja de decorações para casamento com o loiro que havia esquecido o nome. E em terceiro, pode exercitar seu corpo, pois só usava a mente.

Este dia foi interessante, e o filipino sabia porque, só não sabia o que estava confundindo sua mente com tanta singularidade. O que trouxe aquela sensação ansiosa? Não entendia. Será que foi sua conexão com o mundo lá fora? Será que foi os novos ares? Ou será que foi uma nova companhia? Provavelmente as três indagações estão certas; Mas só uma correta.

Ao rever todos os conceitos sobre o dia, virou-se para o lado direito e fitou a janela parcialmente coberta por uma cortina branca transparente, revelando o brilho da lua e das estrelas no  céu escuro pela noite. O filipino levantou-se da cama, deu alguns passos até a escrivaninha, pegou uma cadeira e foi até a janela, abrindo a cortina e se deliciando com a paisagem do céu rural. Aquilo era algo que os cidadãos de São Francisco não podiam ver com frequência, sem antes sair da cidade e ir para o campo.

Estava cansado, não o suficiente para dormir. Seu cansaço era físico. Havia anos que não sentia seus músculos sendo usados para algum fim não espiritual. Odiava sentir-se o inútil que só usa a mente, não o corpo.

A ansiedade foi embora como vento leve que invadia as frestas do lado de fora daquela janela fechada, irradiando seu corpo e trazendo-lhe paz. Não a paz que os padres indagavam existir graças a santa trindade, mas a paz de espirito que qualquer sábio e dono de si mesmo sentia ao se deparar com as belezas da vida. A igreja liga tanto para a dor e sofrimento que esquece de tais essências.

“Que pensamento estupido! Estou parecendo um herege” pensou Kirk, ao refletir a bobagem que havia dito. Como alguém como ele iria questionar os dogmas de sua religião? Isso é besteira de gente ignorante, que não tem escrúpulos suficiente para formar um argumento rígido contra uma instituição como a igreja católica.

Quanta indagação.

Se martirizou tanto que, por um momento de pura inocência, imaginou o loiro estranho que havia sido o seu maior companheiro no dia de hoje. “Ele é a face da heresia, não eu” pensou, justificando-se mentalmente. Afinal, se justificando pra quem? Ninguém estaria ouvindo tais pensamentos... ou será que estaria? Provavelmente Deus estava, de alguma forma, ouvindo os questionamentos de um de seus carneiros ansiosos, esperando que ele próprio chegue à uma conclusão.

Será que Deus tem o domínio do psicológico humano? Absolutamente não. Ninguém domina a mente humana, mesmo sendo finita. Esse era um dos pensamentos que o Padre Joseph condenava, dizendo: “Deus sabe tudo e sobre todos. Nada está fora de seu alcance”. Falácia.

Ficar ao lado daquele homem engraçado hoje lhe fez imaginar como era antigamente, e como sentia falta, mesmo que por poucos instantes, daquela vida. Não gostava de comentar sobre, mas tinha interesse em lembrar, só pra mantê-lo aquecido em sua mente.

“Ele me disse seu nome, e eu esqueci” pensou, imaginando o loiro em algum lugar desta cidade, fazendo algo que, provavelmente, era melhor que sentar-se em frente à janela e pensar sobre a vida. Provavelmente levava uma vida melhor que a sua. E quem não levava uma vida melhor que a sua? Qualquer coisa que não seja estudar é melhor. Queria entender o que se passava na cabeça daquele homem, nem que por um instante. Essa era uma das curiosidades mais comuns entre os seres-humanos: saber o que o outro pensa. Seria considerado uma dadiva se alguém tivesse o dom; Kirk não queria apenas entender ele, como queria estar com ele.

“Que desejo é esse?” pensou. Aos poucos, viu que a curiosidade dava espaço à algo maior, como uma vaidade pecaminosa. Algo que iria condenar sua pobre alma à eternidade no fogo do inferno. Seus sentidos estavam mais aflorados enquanto o céu se iluminava. Não pensava em mais nada que não fosse naquele homem. Ele era intenso, interessante e diferente, algo incomum, dada as suas condições.

Batalhou incessantemente, evitando não pensar nele, mas era mais que impossível. Seu corpo tremia e seu punho estava cerrado. Há anos não sentia a velha ansiedade ir embora e dar espaço a um sentimento menos brutal, como a paixão. “Paixão? Paixão de que?” pensou. A única paixão que conheceu na vida foi a de Cristo, na qual mal entendia suas passagens. Não poderia estar apaixonado pelo loiro estranho. Kirk é um padre, e antes de mais nada, James é um homem. Se fosse uma mulher, quem sabe poderia pedir permissão à Deus para seguir seu rumo, mas as coisas não são tão fáceis quanto poderiam ser. Além de homem, o loiro é mais velho, e, provavelmente, compromissado.

Quando sua batalha mental parecia ter acabado, ela se intensificou, pegando nos pontos mais frágeis do garoto. O que ele podia fazer? Absolutamente nada. Poderia pedir ajuda ao Padre Joseph. Não, não! Ele não vai fazer isso! Padre Joseph ia crucifica-lo –em todos os sentidos. Onde já se viu um jovem padre tendo desejos homossexuais com um homem mais velho? Isso é triplamente pecaminoso!. Sua fonte de ajuda estava se esgotando. Descartou qualquer possibilidade do Padre Superior ajuda-lo nesta encruzilhada. Pensou no Padre Kennedy, mas foi em vão. O Padre Kennedy, braço direito do Padre Joseph, estava em uma missão missionária na Argentina, passando pelo Brasil. Aos poucos sua mente esvaziava-se com as possibilidades de contar à alguém próximo.

E por fim, retomando consciência, pensou na Irmã Julie, a freira mais caridosa do convento. A Irmã Julie era aquilo que as pessoas chamavam de ‘amor-de-pessoa’. Era realmente um doce. Além de gentil, alegre e disposta, a irmã é uma boa pessoa para se guardar um segredo, além de temente a Deus. Aqueles eram os atributos que Kirk procurava em alguém que pudesse lhe ajudar neste embaraço pessoal, e foi a última pessoa que pensou antes de dormir, sentado na cadeira, torto e desconfortável, enquanto o céu brilhoso aos poucos se escurecia.

 

                                                                                                                               [...]

 

No dia seguinte, foi acordado pela porta de seu quarto sendo aberta por alguém. Demorou alguns segundos para a sua mente volta a funcionar. Olhou para os lados e se assustou ao ver que havia dormido na cadeira da mesa, em frente a janela.

 

- Dormiu ai, Kirk? – pergunta o Padre Joseph, em tom de deboche, pondo as roupas recém-lavadas do garoto em cima da cama.

- Acho que sim.

- Então não precisa mais da cama.

 

Dizendo isso, Padre Joseph fechou a porta e saiu, passando pelos outros quartos. O dia havia começado bem. O Padre Superior reclamou de algo logo de principio, então, que mais esperar?. Kirk fez sua higiene, tomando um banho demorado. Enquanto passava o sabonete pelo corpo, abaixou-se para ensaboar suas pernas, quando foi surpreendido por uma dor repentina e bruta vindo do seu pescoço. Gemeu de dor, pondo a mão esquerda na nuca; Dormir naquela cadeira não lhe fez bem.

Vestiu-se com as roupas que o padre havia lhe entregado e foi até a cozinha, com a dor se intensificando. Fez sua refeição ao lado dos outros estudantes, evitando mexer-se, dada às suas condições.

 

- Alguém sabe onde a irmã Julie está? – perguntou para alguém, esperando resposta.

- Deve estar ajudado na cozinha, ou na enfermaria. – respondeu um dos garotos no canto da mesa.

 

Levantando-se rapidamente, murmurando ‘obrigado’ que mal pode ser ouvido, deixou o seu prato com uma das irmãs e subiu o ramo de escada que dava até a enfermaria. Kirk sabia que irmã Julie não podia estar na cozinha, afinal, nunca fora boa cozinheira. Seus dotes eram limitados e, de alguma forma, importantes. Era uma boa médica, além de ser a única à ter chego perto do Vaticano em 1978, quando devotou toda a sua vida ao catolicismo. Kirk bateu duas vezes na porta, abrindo-a em seguida.

 

- Irmã Julie?

- Oh, olá Kirk! – disse a irmã, surpresa ao vê-lo.

 

O filipino deu alguns passos para a frente, vendo que havia outro alguém na sala além da irmã.

 

- Aconteceu alguma coisa, querido?

- Estou com dor.

- Onde?

 

A Irmã parou de aplicar a injeção que estava aplicando em um dos garotos. David, um garoto ruivo e sardento estava na sala. Sempre se queixava de dores no corpo e alguma virose, mas todos sabiam que era só mais um pretexto para ele se aproximar da irmã, como um tigre que se aproxima da presa silenciosamente. O ruivo deixou a sala encarando-o de cima à baixo, como se não gostasse da presença de Kirk no local.

 

- Sente-se. – disse a irmã.

 

Irmã Julie não era velha, nem aparentava ter a idade que tinha. Seus quarenta anos eram tão bem vividos que seu rosto aparentava ser o mesmo das alunas de vinte anos de outros conventos. Kirk sentou-se na cadeira, mostrando onde doía.

 

- O que você fez pra isso acontecer? – perguntou a irmã, abrindo uma gaveta com remédios e fitas.

- Acho que dormi de mau jeito.

- Todos  nós dormimos de mau jeito. Já disse pro Joseph trocar os colchões e por algo mais confortável, mas ele dizia que é um gasto desnecessário.

- O Padre Superior sempre inventou desculpas.

- Concordo.

 

Irmã Julie estava de bom humor, como sempre. Essa era a melhor hora para atacar.

 

- irmã... esse não é o único motivo para eu estar aqui.

- Pois bem, me conte o que aconteceu. – diz ela, aplicando algum remédio mal cheiroso no pescoço do garoto.

- Eu posso te contar um segredo?

 

A Irmã parou de aplicar o remédio, fitando-o, assustada. Era uma mulher acostumada a ouvir o problema dos outros, mas desta vez era diferente. Kirk era um de seus alunos, além de alguém importante em sua matéria. O que estaria confundindo a pobre mente daquele jovem? Irmã Julie ficou aflita.

 

- Conte o que quiser, querido. Sei que muitos aqui são severos demais com o pensamento dos alunos, e por isso muitos se rebelam. Sou toda ouvidos.

- Eu... bem... eu não sei por onde começar.

- Todos os segredos são pecadores, Kirk. Acredite, será melhor me contar do que guardar.

- É que... é algo muito serio.

- Não estou aqui pra julga-lo, apenas ajudar.

 

Isso era tudo que ele precisava ouvir. Havia tempos que não via um cristão de bom coração.

 

- Estou apaixonado. – disse, severo.

- Se não estivéssemos onde estamos, isso seria bom. – comentou a irmã. – Quem é a garota?

- É algo muito mais profundo.

- Ora, por que você faz com que as paixões sejam todas complicadas? Antes de encontrar e eu mesma, achava que amar outras pessoas era uma dádiva do Senhor. Se a garota gosta de você, que mal há?

 

Irmã Julie seria a arma perfeita para fazer qualquer padre se converter ao mundo dos homens, algo totalmente contra a igreja, se não fosse a sua devoção pelo cargo.

 

- Não é uma garota.

 

Kirk disse isso irradiando medo. Irmã Julie assustou-se na hora. Era uma das poucas coisas que imaginaria ouvir de um de seus alunos, e era algo que não podia ir contra. Quando a paixão se instala, só há duas maneiras de aniquila-la: Dizendo ‘sim’ ou dizendo ‘não’. A mulher ficou paralisada, tentando arranjar palavras que pudessem confortar o coração daquele pequeno pecador; Nada parecia ser o suficiente; Aquele silêncio dizia muito.

 

- Q-q-quando descobriu? – pergunta ela, enfim, acalmando-se.

- Ontem a noite.

- Ele estuda aqui?

- Não.

 

Algo mais aterrador estava no ar. Se o garoto não estudava aqui, onde Kirk o conheceu? E aliás, estamos mesmo falando de um garoto de mesma idade?

 

- Quantos anos ele tem?

- Vinte e quarto.

 

“Sete anos, não é tanto” pensou Julie, “mas na nossa linguagem é quase uma eternidade”.

 

- Como se conheceram?

- Ele é o irmão daquela mulher que vai se casar sexta-feira.

 

Irmã Julie congelou. Conhecia bem a família que estava citando. Deanna, a noiva, estudou com ela por poucos anos. James, o irmão de Deanna, era aquilo que ela chamava de bad-boy. Estas lembranças eram velhas, e ainda, atuais. Ambos não mudaram nada.

 

- Kirk... eu não sei o que dizer... – diz Irmã Julie, estarrecida.

 

O filipino não conseguiu se segurar, deixando uma lágrima escorrer. A mulher secou-a com um de seus pequenos panos para curativo, abraçando-o. Pela primeira vez na vida, sentia-se no dever de ajuda-lo. Era muito famosa por ajudar os outros, mas tudo isso era pelo dever para com Deus; Deus nada tinha com aquela história. Aquele garoto precisava de consolo, e de respostas.

 

- Vá falar com ele. – comenta Julie, apertando o seu abraço.

- Eu não sei o que falar.

- Diga a ele o que sente. Fará um favor a si mesmo.

- E se ele disser ‘sim’?

 

Aquela pergunta pegou na jugular da Irmã. Poderia ela recomendar largar o convento e se render à homossexualidade? Absolutamente não. Havia algo dentro dela que dizia ‘sim, faça o que o seu coração manda’. Se o coração do garoto não estava mais na igreja, a igreja não poderia continuar dentro de seu coração.

 

- Largue tudo. – responde ela.

- Não posso largar tudo.

 

Algo dizia para a Irmã confirmar e retirar o que havia dito, mas ela não fez isso.

 

- Claro que pode. Se houver confirmação do seu amor, nada poderá mantê-lo aqui.

 

Kirk sentiu que aquelas palavras foram o anestésico para o desespero repentino que não havia sido suprido ontem de noite. Irmã Julie era aquilo que todos diziam, e só agora percebia. Como alguém recomendaria largar a religião para seguir algo que, provavelmente, não teria futuro? Essa era a pergunta chave. Ouvir de uma freira fazia a situação ser mais inusitada que de costume.

Quando a última lagrima de seu rosto escorreu, soltou-se do abraço apertado da Irmã, sorrindo em seguida. O sorriso era sincero, além de puro e verdadeiramente alegre. Estava feliz consigo mesmo, alcançando a plena paz momentânea. Agradeceu a moça, que manteve-se firme ao dizer que devia seguir os seus sentidos perante a aquela paixão. Kirk disse que ia cumprir com tudo o que planejava.

Ao abrir a porta de saída da enfermagem, deu de cara com o demônio em pessoa. David, o garoto apaixonadamente platônico pela Irmã Julie, estava do lado de fora. Kirk sentiu uma breve pontada em seu coração, imaginando o ruivo estando ali durante toda a conversa, ouvindo tudo o que havia dito. O filipino cruzou os braços e o ruivo sorriu maliciosamente, como se estivesse entrando em contato com a sua mente dizendo: “Eu sei de tudo”. Aquilo não podia ser mais assustador. Andando pelo corredor, viu David entrando na enfermaria, fechando a porta em seguida.

 

                                                                                                                               [...]

 

Permaneceu trancando em seu quarto durante a tarde. Estava triste ao lembrar que amanhã seria o dia do casamento, e não hoje. O loiro não estava lá, só os decoradores e a irmã dele, que ensaiavam. O que estaria fazendo ele, se não está ali com ela no ensaio? Onde ele estaria agora? Estaria em casa? E afinal, como era a casa dele?. Perguntas curiosas que despertavam outras perguntas curiosas, além de interessantes.

Kirk passou a imaginar que sua casa era grande e de bom gosto, como a decoração do casamento. Provavelmente morava sozinho, com algum bicho incomum, como um gato ou um cavalo no estabulo. Praticava algum esporte incomum. Ouvia musica incomum e, provavelmente, comia alguma comida incomum. Ele era incomum por si só, então, que mal há pensar algo assim?. Por um momento, imaginou que estaria acordado, cozinhando algo para o café-da manhã, mesmo sendo hora do almoço. Estaria ele arrumando-se para ir ao ensaio da irmã, pois se atrasou. Seu gato subiria na mesa e então, num momento leve, iria pega-lo no colo e deixa-lo no chão, enquanto o bichano miava loucamente com fome. Comeria panquecas no café da manhã. As panquecas seriam doces, com alguma fruta no final da refeição. Sairia de lá não muito tarde, afim de evitar o transito, e chegaria aqui num horário agradável, sem perder nada do ensaio.

Mas por que estaria ele pensando isso?

O loiro era rustico, bruto e, no geral, tímido. O que tal combinava com café-da-manhã, atrasos, comida e gatos? Absolutamente nada. Ele não era assim, e Kirk iludia-se pelos próprios pensamentos precoces.

Ao imaginar como o homem chegaria aqui, foi assustado pelo pequeno som de alguém batidas na porta.

 

- Pode entrar. – disse ele.

 

Dizendo isso, viu alguém abri-la antes de soar o som. Era David, o garoto sardento e malicioso, um dos alunos mais problemáticos do convento, alguém que o Padre Superior dizia ser “curado pelas mãos de Deus antes que seja unido pelas forças do Diabo”.

 

- O que você quer? – perguntou o moreno, assustado.

 

David nada disse, fechou a porta e começou a andar lentamente pelo quarto, com um rosto debochado, observando cada canto do cômodo, antes de soltar a primeira fala.

 

- Eu ouvi o que você disse à irmã Julie.

 

Isso soou profundamente intimo, além de severo. Kirk calou-se, esperando o pior.

 

- Então, temos uma bicha entre nós, hã? Isso é interessante...

 

O filipino estava impotente. Suas forças se esgotaram com tanta maldade.

 

- Amanhã vai ser o casamento da irmã daquele homem, e você, como uma garotinha, estava de olho no irmão dela. Que coisa horrível! O que Padre Joseph faria se soubesse disso, não?

- Ele nunca vai saber. – responde Kirk, retirando forças de algum lugar.

- Quem garante que não?

 

Isso foi o suficiente para as forças de Kirk voltarem duplicadas, junto de um sentimento de ódio infinito por aquele garoto. Saiu de si por apenas um momento, quando cerrou seus punhos e partiu para cima daquele magricela, socando-lhe a face. O menino logo revidou, chutando seu estomago, fazendo Kirk cair no chão. David não hesitou, foi pra cima do filipino parcialmente imobilizado, apertando seu pescoço contra o chão. Kirk ia se defender com honra, se não fosse pela presença brutal do Padre Joseph naquele corredor, passando pelo quarto e entrando justamente onde estava acontecendo a briga.

 

- O QUE ESTÁ ACONTECENDO AQUI? – exclamou.

 

David levantou-se automaticamente, sem precisar ser separado. Kirk, voltando a respirar normalmente, avermelhava seu rosto, com um leve corte na boca, além de uma dor insuportável no estomago. David estava com o nariz sangrando, além de arranhões no rosto. Aquilo era o suficiente para incrimina-los de algo que ninguém além deles entendia.

 

- O QUE ESTÃO FAZENDO? – voltou a exclamar o Padre Joseph, cuja voz dava para ser ouvida em todos os quartos.

- Pergunta pra esse viado.

 

David saiu do quarto, indo em direção ao seu. Não demorou muito e todo o corredor do convento estava cheio de garotos curiosos com a briga inesperada no dormitório vinte e quarto. Entre cinco e dez alunos permaneciam em volta do quarto de Kirk, querendo entender o que houve. A única pessoa que tinha permissão de estar ali era o Padre Superior, que fechou a porta do dormitório e indagou o moreno severamente.

 

- O que é isso, hã? Acha que estamos num ringue?

- Eu não comecei nada.– disse Kirk, se levantando do chão.

- Não interessa quem começou. O que acha que estava fazendo quando partiu para a briga?

- Eu não comecei briga nenhuma.

- Presamos pela nossa reputação, Kirk, e você retribui assim...

 

Por muito pouco, o filipino respondeu rispidamente ao comentário do Padre, mas discutir com um leigo como aquele homem seria inútil. Padre Joseph presava pela boa aparência do convento, e não pela vida de seus alunos.

Aquilo foi o suficiente para Kirk revoltar-se contra tudo e todos.

E assim nasce mais um herege, de pavio curto e mente pulsante, pronto para a rebeldia...


Notas Finais


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