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História O Paraíso que Espere - O Inferno Não é um Lugar Ruim Para se Estar PARTE I


Escrita por: vixen

Notas do Autor


Boa leitura!

Capítulo 5 - O Inferno Não é um Lugar Ruim Para se Estar PARTE I


Fanfic / Fanfiction O Paraíso que Espere - O Inferno Não é um Lugar Ruim Para se Estar PARTE I

O dia havia passado sem que Kirk percebesse. O convite para ir a despedida de solteiro do cunhado de James alegrou-o profundamente. Poderia ter ficado triste ao lembrar que o Padre Joseph havia lhe proibido de sair do convento pela sua má conduta e a briga inútil contra David, mas a alegria contagiava o corpo esguio do garoto.

Era seis e meia quando Kirk se arrumava da melhor forma possível para sair. Devia arrumar-se e esconder-se do Padre Superior, mas tal tarefa parecia ser impossível. De frente ao espelho, torcendo para que tudo desse certo, olhou-se durante longos segundos e percebeu que parecia um crente, como era. Não podia ir a uma despedida de solteiro parecendo um puritano; Precisava manter descrição.

Ficou observando seu reflexo magro e pensou na frase que poderia salvar a sua noite: “O que James faria?”. Desde que aprendeu seu nome, pensava nele como um santo – Saint James. Como ele se vestiria? Obviamente de forma desleixada. Kirk não tinha nenhuma roupa verdadeiramente desleixada. A Irmã Mindy era a costureira do convento, e sempre costurou roupas sobre medida, de grande qualidade, nada de roupas rasgadas, largas ou com um tecido mal feito. Tudo naquele lugar tinha um padrão de qualidade, e Kirk tinha que seguir aquilo a risca.

Abriu o guarda-roupas, bagunçando-o por completo, procurando algo que pudesse ser verdadeiramente discreto. Só havia roupas pretas e brancas, algumas calças e blusas sociais, nada que pudesse ser o suficiente para a noite. Após procurar durante um bom tempo, olhou no fundo do armário a peça de roupa que iria salvar o resto do seu dia. Lá estava o jeans azul claro que usou durante longos anos quando estudava numa escola normal, mas que foram proibidos porque não eram adequados para o lugar. Fitou a calça que havia estendido sobre cama, murmurando consigo mesmo: “É essa”. Podia não ter camisas bonitas, ao menos uma calça boa ele tinha. Vestiu-a com dificuldade, afinal, engordou muito durante os anos que frequentava aquele convento. Qual foi a última vez que usou aqueles jeans? Ah sim, há três anos atrás.

Prendeu a respiração enquanto puxava as calças para cima da cintura, fazendo a mesma dancinha que todos fazem ao vestir algo realmente apertado. Com as graças de Deus – murmurando tais palavras – a calça conseguiu entrar. Teve que deitar-se na cama para conseguir fechar o pequeno zíper entre as pernas, olhou-se no espelho e viu o retrato de um garoto rebelde – como assim pensava. Kirk chegou em uma época de sua vida que até o uso de uma peça de roupas definia o seu caráter; Uma calça jeans velha tirava toda aquela cruz que a igreja pendurou em suas costas.

Finalmente, sentia-se como James.

Mas não obstante.

Viu que aquela calça era simples demais para ser como James, então, pensou em fazer uma loucura que, até então, não havia passado pela sua cabeça. Abriu a pequena cômoda ao lado da cama, pegou um estilete médio e começou a passar o instrumento lentamente no seu joelho esquerdo, afim de abrir um rasgo. Com muito custo, conseguiu fazer um furo, abrindo-o com os dedos, para que não se arranhasse com o estilete. Desfiou aquela parte da calça com cautela, afim de deixar um pequeno rombo. Devia ser algo sutil, como tentava ser aquela noite.

Quando finalmente pode ter um tempo para olhar-se no espelho, ouviu um pequeno ruído vindo do lado de fora do convento. Deu alguns passos até a sua janela, olhou para baixo e lá estava James, estacionando seu carro ao lado do meio-fio. O loiro desceu do veículo, encostou-se no capô, olhou o relógio e permaneceu lá.

O coração de Kirk perdeu-se de sua órbita, mais vivo que nunca. Decidiu correr antes que alguém visse-o daquele jeito – ou ver James do outro lado da rua. Abriu novamente a porta do guarda-roupas e sentiu alguém bater incessantemente na porta. Assustou-se. Sabia bem de quem eram aquelas batidas brutas.

 

- O que está fazendo? – pergunta o Padre Joseph abrindo a porta bruscamente.

 

Kirk, que entrou em pânico ao vê-lo no quarto, escondeu-se atrás da porta do guarda-roupas, sem ser visto, pondo seu rosto para fora da porta do armário, deixando o resto do corpo para dentro, escondendo a “calça nova”.

 

- Pondo o meu pijama. – responde Kirk, segurando-se na porta. – Por que?

- Esqueceu-se dos planos de hoje a noite?

- Planos? Que planos?

- A missa de quinta-feira na Arquidiocese Central.

 

“Merda...” pensou. Espere, ‘merda?’ Como assim? Há anos não soltava ou palavrão, mesmo que mentalmente. Estaria ficando tão mal educado assim? Ou seria a presença de James que deixava-o desta maneira? Ambas as opções não faziam sentido.

 

- Se arrume logo. Partiremos após o jantar.

 

Padre Joseph deixou o quarto, fechando a porta delicadamente, como o anjo que não era. Kirk levou sua mão direita até a testa, lembrando-se do compromisso que havia concordado com o Padre sobre a missa. Se sentiu culpado por ter prometido algo a James que não podia confirmar com toda a certeza.

Deu alguns passos até a janela e viu o loiro ainda sentado no capô do carro, observando o relógio. Estava quase na hora, e ambos sabiam disso. Pensou em dizer a ele que não podia faltar este compromisso com a igreja, afinal, as missas na Arquidiocese Central eram as mais importantes do mês. Virou-se para trás, onde se encontrava a sua porta e refletiu: “Fiz ele sair de San Francisco e vir até aqui para me buscar, não é justo dizer a ele que não posso ir. O Padre superior que me desculpe, mas vou faltar.”

Respirou fundo, foi até o guarda-roupas, pegou uma camisa branca de seda com pequenos botões na frente, pôs a parte da frente da camisa dentro da calça e a outra deixou para fora, como um verdadeiro badboy. Abriu a gaveta e viu o seu perfume escondido entre as roupas de baixo. Escondia o perfume para que nenhum outro garoto roubasse – sim, os meninos tinham costume de roubar fragrâncias naquela igreja. Passou um pouco nos pulsos, esfregou-os lentamente e finalmente pode fechar seu quarto com a chave, descer as escadas e ir até a parte da frente da capela, indo de encontro com loiro.

Em outras circunstancias, James Hetfield estaria completamente impaciente com a demora do rapaz. Odiava depender dos outros, principalmente uma presença que pediu para ter. Mas hoje era diferente. Seu humor estava mudado. Sentia-se feliz, animado e, principalmente, sereno. Permaneceu ali durante longos minutos e ficaria mais, dependendo da situação.

Deu uma ultima olhada para a enorme porta de madeira da igreja, podendo ver o moreno descendo as escadas e indo em sua direção. Sorriu como ninguém, cerrou o punho e escondeu o sorriso, mordendo o lábio inferior.

 

- Boa noite. – disse o filipino, animado.

- Olha só, que calça bonita. – comenta o loiro.

- Serio?

- Claro. Se me permite dizer, nem parece que você é padre.

 

Kirk sorriu com brilho nos olhos. “Essa era a intenção” pensou.

Ambos entraram no veículo, sentaram-se em seus respectivos bancos, e Kirk pôs o cinto de segurança antes do motor ser ligado.

 

- Você é precavido. – diz o loiro. – E tem um perfume forte.

 

Kirk corou. Não sabia se era um elogio ou um flerte. Queria que fosse os dois. James ligou o carro e então pôs o cinto, ligando a radio.

A viagem foi realmente interessante, a não ser a musica estranha que ele havia posto para ouvirem. Era uma mistura de rock com algo inaudível e indecifrável, que se segurou para não perguntar. James começou a dizer o que era antes dele abrir a boca.

 

- Isso é Misfits, uma banda de punk rock de New Jersey.

 

Kirk só entendeu a parte do ‘New Jersey’. Ficou imaginando a loucura que deve ser um bando de caras sarados na praia tocando essas musicas estranhas - era assim que via o povo de New Jersey. Fez força pra não rir, e conseguiu seguir viagem sem pensar no pessoal quebrando uns aos outros nas areias de Point Pleasant Beach.

O trajeto feito com o carro foi diferente do que haviam feito ontem. James evitou passar pela Golden Gate, sabia que não era uma boa escolha – todos os habitantes de San Francisco sabem que passar pela ponte é perda de tempo.

Enquanto não chegavam ao destino que nem mesmo Kirk sabia onde seria, aproveitara o momento junto ao loiro como nunca. Estava animado por tê-lo ao seu lado – mesmo que numa forma literal e pouco fantasiosa. Olhava disfarçadamente para o lado e via-o dirigindo com cautela, pegando na parte do meio do volante, como se acariciasse seios femininos. Trocava as marchas com os cinco dedos e a palma da mão, sem desviar os olhos da estrada. Nunca deixava o velocímetro marcar menos de 30km/h, o que deixava o moreno aflito, afinal, os radares nunca descansam.

Não trocaram uma palavra desde que entraram no carro, só ouviam os ruídos estranhos que saiam do radio – ruídos que o loiro chamava acaloradamente de ‘musica’. Balançava a cabeça gradativamente a cada batida desconhecida na melodia. Depois de quase meia hora ouvindo aquilo, Kirk familiarizou-se com a banda. As musicas só falavam de assassinato e, as vezes, estupro. Chegou a conclusão que nunca havia ouvido musicas tão estranhas e, de certa forma, agradáveis. O jeito rude que aquele homem no rádio cantava era extremamente energizante – e Kirk não queria assumir.

E o loiro? No que pensava? Ora, no mesmo. James estava com o rosto vidrado na estrada, torcendo para chegarem em casa com segurança. A visão da noite passada ainda rondava sua cabeça. Bebeu algumas garrafas de cerveja antes de buscar o filipino, afinal, como diria Lars, um dos seus companheiros de banda: a melhor forma de evitar a ressaca é continuar bêbado. Se pudesse, escreveria essa frase no seu tumulo.

Olhavam para os lados e havia uma troca de olhares mutua entre os dois. Kirk, quando era pego de surpresa pelos olhos azuis de James, avermelhava seu rosto gradativamente, voltando-o para a janela a direita, disfarçando, como se tivesse sido pego roubando. O loiro, que também era pego de surpresa pelos olhos negros do filipino, disfarçava ridicularmente, mas ao contrario do moreno, sorria de forma maliciosa com os olhares. Estava acontecendo algo ali. Algo que nenhum dos dois entendia o que era.

“A noite é uma criança” pensou James, “como ele”, indagou.

 

- Vamos pra minha casa. – diz o loiro, quebrando o silencio.

 

A forma com que James reproduziu aquilo assustou Kirk e os seus pensamentos, desvencilhando seus olhos da janela e cerrando o punho para dizer.

 

- Que horas voltaremos? – pergunta, enfim.

- Tem horas pra voltar?

- Tenho.

- Quando estiver na hora, me avise. Levarei você pra casa.

 

Kirk deu os ombros. Saber que sua carona estava garantida alegrou-o. “A noite só está começando” refletiu. Imaginou, por um minúsculo momento, que essa noite seria a noite onde se redimiria do mundo todo. Faria tudo, como se não estivesse da igreja ou perto do Padre Joseph. Mas o que poderia fazer? Será que ele vai conseguir beber? Vai cantar? Vai dançar? E será que vai até mesmo transar? Essa última pergunta pegou-o pela jugular. Evitou olhar para James depois de tais pensamentos. Não fazia nem uma hora que estavam próximos e imaginava o impossível.

Dobrando a esquina bruscamente pela a esquerda, James estacionou em frente a um prédio não muito grande no subúrbio. O prédio era feito de tijolos, com um pequeno gramado na frente, além de uma enorme garagem que comportava pelo menos uns sete ou dez carros. Havia três entradas no prédio e muitos andares acima. James desceu do e Kirk foi junto, observando de forma mais minuciosa o lugar. “Então isso é o centro urbano? Bem óbvio”. Entre as três entradas para o prédio, James abriu o portão e foi até a primeira, onde subiram um pequeno ramo de escadas, chegando ao apartamento número 16.

Abriu a porta sem precisar de chaves. Seis homens estavam espalhados pela imensa casa. Dois sentados no sofá, dois em pé, um na cozinha e o outro próximo a janela. Os sons de conversa que ecoavam pelo cômodo logo cessou, entrando um profundo silencio com a presença de ambos.

 

- Pensei que não chegaria nunca! – exclamou o homem que estava na cozinha.

- Fui buscar o meu colega. – responde James, fechando a porta após o filipino entrar. – Pessoal, esse é o Kirk, ele tá ajudando no casamento da Deanna.

- Vi ele no dia que arrumamos o salão de festas. – comentou um dos homens que estava de pé.

- Kirk, esse é o Andrew, - apresenta James, apontando para o homem em pé. – o merda que vai se casar com a minha irmã.

 

Em meio a risos, Andrew, o ruivo um pouco acima do peso mostrou o dedo do meio para James, gargalhando. O loiro continuou as apresentações.

 

- O otário que está roubando as minhas frutas na cozinha é o Lars, baterista da minha banda. Não liga muito pra ele, ele não tem o que comer em casa. – comentou, apontando para o outro lado da sala. Kirk sorriu simpaticamente. – O magrelo na janela é o Cliff, baixista da banda. Se você gostar de maconha ele é o rei dessas paradas. O Os dois idiotas no sofá são roadies da banda, Mark e Seth. Também não ligue muito pra eles, vão apagar antes da festa começar. E por fim, a garota em pé é a Audrey, irmã do Andrew. Não dê importância para o que ela fala.

 

Kirk sorriu para todos os convidados, tentando ser o mais amigável possível. Olhou para a garota que permanecia em pé e pode jurar que era um homem, olhando de relance. Magra, alta e de cabelos escuros e curtos, pouca maquiagem e uma roupa que esconde o pouco seio que tinha. Absolutamente, seria uma noite daquelas. Sete homens e uma mulher dando uma festa em qualquer lugar de San Francisco, isso podia não prestar.

Fitando automaticamente o relógio após um tempo, James percebeu que já passava das oito horas, o horário combinado. Pegou sua jaqueta de couro na cama, deu as chaves da casa para o ruivo magrelo chamado Cliff e desceram as escadas.

Kirk pensou que iriam de carro para o lugar, mas não iam. E se fossem, como iria caber oito cabeças dentro de um veículo clássico como o Mustang de James? As leis da física sempre disseram: dois corpos não habitam o mesmo espaço. Se dois não ocupam, oito também não.

Foram andando até o lugar. A rua estava interessantemente iluminada. Os postes pela calçada davam um toque mais futurístico a cidade que, mesmo sendo quinta-feira, não parava de jeito nenhum.

Andando lentamente pela calçada e se divertindo com as brincadeiras infantis que os garotos faziam, Kirk estava animado por sentir que pertencia a um grupo. James andava na frente, caçoando da cara do loiro de sotaque engraçado que se chamava Lars. Audrey, a menina esquelética ao seu lado, fumava um cigarro que cheirava menta fresca, como um chiclete recém aberto. Tinha um semblante não muito amigável, mas gostava de conversar. Vestia uma camisa listrada em preto e branco, bem anos sessenta, uma calça jeans preta e um sapato salto-alto, dando um toque mais delicado ao seu visual.

 

- Você é o garoto que vai fazer a cerimonia da Deanna e do Andrew? – perguntou ela, revelando sua voz fina e calma, provavelmente por causa do cigarro.

- Não, eu não sou padre.

- Mas está estudando pra virar um, certo?

- Estou.

 

Alguém sabia que ele era padre. “Droga...” murmurou. Pensou que sua identidade estava a salvo, mas todos sabiam como era. O que será que aquela garota pensava disso? Com certeza pensava o porquê um padre mirim como ele fazia na rua a uma horas desta rumo a uma despedida de solteiro. “Deve achar que vou batizar todos que passar por mim na pista de dança” pensou Kirk, usando a ironia para descrever o momento.

 

- Engraçado. – comenta ela.

- O que é engraçado? – pergunta Kirk.

- Tudo isso. Você não é um padre como todos os outros.

- Você acha?

- Acho.

 

Audrey sorriu delicadamente para ele e começou a enrolar uma mexa do cabelo curto que escorria em seus ombros, com desdém. É o que ele está pensando? Claro que não, quanta burrice. Por que uma garota como aquela daria em cima dele? Besteira. Mal saiu das asas do Padre Superior e está sendo dominado pelos males da alto-estima.

Ao andarem quase um 1km pelas avenidas de San Francisco, as pernas de Kirk pediam ajuda desesperadamente. O sedentarismo e a procrastinação estava no seu dicionário assim como ‘pecado’ estava para o de Padre Joseph.

Falando no Padre Joseph, o velho deve estar vermelho ao ver que, chegando na Arquidiocese Central, não viu o seu pequeno filipino desembarcar no ônibus. O que devia ter feito? Ficado desesperado? Irritado? Ignorou o fato para depois repreende-lo severamente? Provavelmente fez os três. Aquele homem era o tipo de pessoa que o mais experiente psiquiatra manteria distancia.

A verdade é que o Padre Joseph desembarcou na Arquidiocese as oito horas e dezoito da noite, e não fez questão de contar quantos alunos estavam presentes, pois sabia que nenhum costumava faltar as missas na Central. Passou pelos portões de madeira e foi muito bem recebido pelo Bispo Emery, um homem negro e de bom coração, que foi encarregou de leva-los para o altar onde a missa teria seu começo.

 

- Finalmente. – disse Andrew ao atravessar a rua junto dos outros amigos.

 

Kirk também atravessou a rua, sentindo sua vista embaçada pelas enormes luzes de neon que cobriam um letreiro escrito ‘Malibu’, em fonte de letra havaiana, nas cores roxa e azul. Só havia um homem em frente ao lugar, e pelas vestimentas, imaginou tratar-se do segurança.

 

- Despedida de solteiro. – diz James para ao homem.

 

O segurança pegou uma pequena prancheta em cima da mesinha pequena em frente, deu uma breve lida e perguntou:

 

- Andrew e amigos?

- Sim.

- Podem entrar.

 

O mesmo homem pôs a prancheta na mesinha, abrindo a grade de entrada ao lugar, as mesmas grades de tecido que vemos nos cinemas de shopping. Entraram todos juntos, um por um, em fila indiana. O último foi Andrew, que graças a caminhada, suou feito porco.

Novamente os olhos de Kirk foram fuzilados pela imensidão de luzes a sua frente. Não tinha muita gente no local, afinal, ainda eram oito e meia. Andando lentamente, percebeu que aquilo era uma boate de strip-tease. Nunca entrou em uma boate assim, mas sabia que se tratava, pois a cada canto havia uma barra de ferro sustentada pela plataforma de azulejo, e ao lado dessa plataforma, cadeiras e mesas, para que os clientes curtissem a dança de alguma moça.

A musica era alta, e as mulheres, – com exceção de Audrey – seminuas. Todas com corpos magros, pequenos, com algumas cicatrizes, algumas tatuagens e, até mesmo, dinheiro entre as roupas. Kirk podia fazer uma lista de coisas que nunca tivera visto antes, como uma boate de strip-tease, musica contemporânea e uma mulher nua. As mulheres não estavam nuas, mas se preparavam para estar.

 

- Quantos anos você tem? – perguntou Audrey, cutucando seu braço direito.

- Dezessete. – responde ele, envergonhado, coçando a cabeça.

- Não parece.

 

O moreno arregalou os olhos, impressionado com tantos elogios saídos da boca daquela garota. Kirk não podia negar, ela realmente é atraente, só não era o que precisava naquela noite - nem mesmo ele sabia o que precisava naquela noite.

 

- Vou te falar, Lars, - diz Andrew, abraçando o amigo. – você sabe escolher salões para festa.

- Era isso ou o meu apartamento. – respondeu Lars.

- Dá no mesmo. – indagou Cliff, rindo.

- Certo, onde a festa começa? – perguntou Seth, um dos roadies.

 

Antes que alguém pudesse responder, surge uma mulher loira, extremamente alta, de pernas magras e sorriso aberto.

 

- Bem vindos ao Malibu. Vocês são os primeiros a ter sua festa no dia.

- Só vai ter a gente aqui? – perguntou Mark.

- Com certeza não. – responde a moça, dando os ombros. – Vocês irão dividir o lugar com outra despedida de solteiro.

- Então a parte oeste é nossa e a leste é deles? – pergunta Lars, animado.

- Isso mesmo.

- Ótimo.

 

Sem ouvir o que a moça continuou a dizer, Lars foi até a parte esquerda da boate, procurando algo que pudesse distrai-lo. A loira apenas disse “aproveitem”, avisando que se precisarem de algo era só chamar.

Kirk tremia como vara naquele lugar. Estava sendo observado por muitas mulheres que mal conseguia andar. Por um simples momento, imaginou que teria sido melhor ter ficado com o Padre Joseph na Central, onde só seria observado por homens barbados, não mulheres atraentes.

Os oito amigos sentaram-se em uma mesa, onde todos os tipos de bebidas alcoólicas esperavam por eles. Kirk se sentou entre Mark e Audrey, espremendo-se na parte da parede, de frente para todas as plataformas de pole-dance do outro lado.

 

- Beba. – disse Mark, servindo um pequeno copo com uma bebida de cor marrom. – Vai te esquentar.

- O que é isso? – perguntou Kirk, fitando o pequeno copo.

- Tequila.

- A gente não toma isso com limão e sal? – perguntou ele, mostrando que tinha algum conhecimento sobre o México.

- Com certeza, mas não vamos fazer aquelas gracinhas parar de dançar pra trazer limão e sal, certo?

 

Kirk deu os ombros, pegando o copo com o dedo indicador e o polegar. Encarou a bebida com nojo, sentindo medo do que ia fazer. Ao olhar com mais precisão o copo, pensou ter visto o rosto do Padre Superior ali, deixando-o assustado.

 

- Primeiro porre, garoto? – perguntou Cliff, ascendendo um cigarro.

- Acho que sim.

- Então aproveite.

 

Dito isso, o moreno sentiu uma força vinda de um lugar desconhecido. Bebeu o copo em menos de segundos, engolido o liquido com dificuldade. A bebida não queria descer, mas fez força para que fosse de uma vez. Quando desceu, pode degustar o gosto do álcool na boca, pela segunda vez na vida. A primeira foi na sua segunda comunhão, quando ao invés de tomar suco de uva, bebeu vinho seco.

Seus olhos lacrimejaram, mas manteve-se integro, assim como chegou.

 

- O garoto é forte. – comentou Lars, rindo.

- Com certeza é. – concordou James, do outro lado da mesa.

 

Kirk, que havia apagado James de sua cabeça durante os vinte minutos passados, corou lentamente, vendo que tudo estava ocorrendo bem. Só tomou uma dose, só olhou para os seios de uma garota e só murmurou um palavrão durante o dia, estava se saindo melhor do que imaginava.

Até agora.

 

                                                                                                                                       [...]

 

Passaram-se duas horas que estavam ali. Kirk foi induzido a tomar metade de uma garrafa de vodca e outra de champanhe. Uma mulher morena, de seios fartos e pernas longas dançava em cima da mesa, e Kirk só percebeu isso depois que saiu de um transe quase permanente, depois da última dose forte tomada.

Cliff, que acabou se sentando ao seu lado após Mark ir ao banheiro, tirou um baseado do bolso, ascendeu e entregou para o garoto.

 

- Não, não posso. – diz o filipino.

- Lembra o que eu disse quando se sentou ai? – perguntou Cliff, o ruivo de nariz grande e uma barbicha estranha. – Aproveite.

 

Observou o cigarro entre os longos dedos do homem, deu os ombros pela terceira vez no dia e permitiu-se sentir algo mais profundo do que as bebidas postas na mesa. Pôs na boca e começou a ouvir as instruções de Cliff.

 

- Você puxa, segura, deixa, depois de um tempo, solta. Tome cuidado pra não puxar muito.

 

Kirk não ouviu a última parte. Pôs aquele cigarro fedido na boca, puxou com as forças que ainda lhe restavam, deixou e ficou alguns segundos com a fumaça entre os pulmões, até soltar. Como todo iniciante, tossiu fortemente ao sentir a fumaça pulsando entre a garganta. Seus olhos se encheram de lágrimas, e o gosto ruim permaneceu por lá durante um bom tempo.

 

- É normal que isso aconteça na primeira vez. – comentou Cliff, tragando o mesmo cigarro.

- Eu quero mais. – diz Kirk, convicto.

- Tudo bem, garoto. Pode ficar com esse.

 

Tragou o cigarro por inteiro, e dessa vez, não teve dificuldades. Percebeu que mesmo sendo ruim, o gosto era agradável. Sua cabeça não estava latejando como antes e sua visão voltou ao normal, percebendo diversas cores surgindo na pista de dança do outro lado da boate.

Ria como um idiota, mas não percebia. Tudo que serviam pra ele, bebia como água. Bebeu cerveja, vodca, champanhe, tequila, tônica e até vinho tinto, pois era o que as mulheres serviam durante a noite.

Sua cabeça girava, e estava acordado como nunca. A ansiedade foi embora, os sentimentos ruins não permaneceram, só a embriaguez e a insanidade momentânea.

A mulher que dançava em cima da mesa instigava-o incessantemente. Kirk era o único que estava presente naquele lugar que não havia lhe observado com malicia. Não se sentia excitado como os outros caras, nem mesmo percebia a dança que ela fazia, só queria curtir a musica e ouvir as conversas. Num momento rápido, a garota desceu da mesa e puxou Seth pelo braço, sorrindo e levando-o para outro lugar. Os amigos dele receberam isso com muito grito, como se alguém do grupo tivesse se dado bem.

Agora eram somente sete na mesa. Audrey cheirava cocaína ao seu lado. De todas as drogas que podia imaginar, essa era a última que ele não experimentaria.

 

- Que tal fazermos uma brincadeira? – propôs Lars, levantando uma garrafa de cerveja vazia.

- Que tipo de brincadeira? – perguntou Andrew, aconchegando-se na cadeira.

- Verdade ou consequência.

- Eu topo. – diz Mark, tomando uma das garrafas de champanhe.

- Também topo. – confirma Audrey, olhando para Kirk com um sorriso intenso. – Que tal?

- Bem... ok. – Kirk dá os ombros.

- Se vocês insistem. – comenta James, também dando os ombros, com um senso de humor inabalável.

- Quem começa? – pergunta Andrew.

- Você é o noivo, você começa. – responde Cliff.

 

Lars entrega a garrafa para Andrew, e o mesmo gira instantaneamente, com força. Kirk ficou tonto com os giros que o vidro dava em cima da mesa, como se nunca cessasse. Quando parou, o bico pontava para Andrew e a parte de três da garrafa apontou para James. Todos naquela mesa começaram a dar uivos engraçados, como animais.

 

- AGORA EU QUERO VER! – exclamou Lars, rindo.

- Verdade ou consequência? – pergunta James, cruzando os braços.

- Consequência. – responde Andrew.

- Esse cuzão tá com medo. – comenta Mark.

- Quem aqui é cuzão? – pergunta Andrew, pondo a mão esquerda sobre a mesa.

- Você.

- Então tá bom, seus merdas, eu escolho verdade.

 

Kirk se divertia com a cena, que não podia ficar melhor.

 

- Vai de verdade? Então tá. – diz James, franzindo o cenho. – Você já traiu a minha irmã?

 

Essa pergunta soou muito profunda. Ao som dos gritos animalescos que eram reproduzidos por Lars, Mark e Audrey, Andrew bebeu um gole de tequila e respondeu.

 

- Nunca.

- Nunca?

- Absolutamente.

- Já pensou em trai-la?

- Hey, é só uma pergunta! – diz Lars, pegando a garrafa no meio da mesa. – Agora é você, garoto.

 

O dinamarquês entrega a garrafa de vidro para Kirk, que tremeu. Nem a maior embriaguez conseguia deixa-lo menos envergonhado. O que faria com aquilo? O que perguntaria? E afinal, o que responderia?. Cessou a tremedeira, pôs a garrafa na mesa, fitando os olhos James do outro lado da mesa, e girou o vidro, esperando que parasse em quem ele desejava.

A garrafa parou, mas não em quem ele queria. O bico do vidro apontava para onde ele, e a parte de trás estava para Audrey, que sorriu com graça ao ver que a palavra estava com ela.

 

- Verdade ou consequência? – pergunta a garota, pondo seus dois braços em cima da mesa.

- Verdade.

 

“Uhhhhhhh” era reproduzido pelos amigos sentados naquela mesa. James ficou surpreso com tamanha coragem de escolher aquilo, afinal, sendo o mais desconhecido naquela roda, as perguntas poderiam ser fatais.

 

- Tem certeza? – perguntou Audrey.

- Tenho. – diz ele, engolindo seco a pergunta.

- Certo... – Audrey faz uma pausa. Pensava na melhor pergunta a fazer ao garoto, então soltou uma facada. – Você é virgem?

- Deixa de ser burra, Audrey. – comentou Mark. – O garoto tem dezessete anos, acha que ele é virgem?

 

O comentário do homem fez a espinha de Kirk gelar como o champanhe a sua frente. O que diria? Havia bebido o suficiente para dizer a verdade, mas não podia dizer... ou será que podia?

 

- S-sim. – respondeu, tremulo. Seu cérebro dizia ‘não’, e sua boca reproduziu ‘sim’, sem avisar. Agora não podia reverter a situação, tinha que encarar.

- SERIO? – exclamou Lars.

 

James arregalou os olhos. Nem mesmo ele acreditava nisso. Era mesmo possível? Estava pensando nele desde que aceitou o convite de ir a festa, planejava tanta coisa com ele, e agora, via tudo indo por água abaixo. A primeira vez daquele garoto não podia ser com ele, de jeito nenhum.

 

- Está brincando? – perguntou Andrew, rindo.

- Hey, gente, chega. – diz Audrey. – Não façam ele se sentir mal.

- SORTE A DELE POR TER DITO ISSO PRA GENTE. – exclamou Lars. – HOJE É O DIA QUE TU VAI PERDER ISSO AI, AMIGO!

 

De tudo que podia fazer naquela noite, perder a virgindade não era prioridade - muito menos perder com uma mulher. Não sabia o que fazer. Olhou para os lados e observou aquelas moças parcialmente nuas, dançando nas plataformas e nas barras. Todas eram mulheres, e ele era apenas um garoto. Se tivesse chance com alguma delas, envergonharia.

A expressão de James mudou. A bissexualidade dele podia esperar. Ele devia ter uma mulher, antes de ter um homem. O loiro encarou aquilo como um sinal do destino dizendo: “Ele é um adolescente, não tente nada com ele”.

 

- Qual delas você quer? – perguntou Mark para Kirk, apontando para as garotas.

- Eu vou com ele. – diz Audrey, levantando-se

- Você é mesmo uma piranha, Audrey. – comentou Andrew.

- Fico feliz que saiba. – respondeu ela, olhando para Kirk, estendendo sua mão esquerda, dizendo. – Vamos lá.

 

Kirk estava frio. Queria recusar, mas não poderia. Já havia feito tudo o que um homem faria se estivesse na situação dele, e não poderia recusar um convite como este – não na frente deles. Teve um tempo de vacilo, olhou para James, mordeu o lábio inferior e viu que o mesmo estava olhando para ele.

 

- Vai lá. – diz James, balançando a cabeça.

 

“O que? Isso foi uma aceitação? Não, droga! Eu não quero ela!”.

Se levantou, pegou uma das garrafas de vinho que estava na mesa, segurou a mão de Audrey e ambos seguiram até um lugar reservado, sendo ovacionados pelos urros dos amigos, orgulhosos...

 

CONTINUA


Notas Finais


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