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História O Paraíso que Espere - O Smoking de Seda


Escrita por: vixen

Notas do Autor


Boa leitura!

Capítulo 7 - O Smoking de Seda


Fanfic / Fanfiction O Paraíso que Espere - O Smoking de Seda

19 de setembro de 1986, sexta-feira.

A igreja nunca esteve tão cheia como no dia de hoje. Pessoas de todas as classes e raças, todos estavam lá com o mesmo intuito: testemunhar a passagem de Andrew e Deanna de solteiro para casado. Algo extremamente importante, e que há muito fora esperado por todos os cinquenta convidados que esperavam sentados nos bancos de madeira da capela, próximos da decoração fina e branca no altar e no tapete vermelho. Obviamente o número de convidados duplicaria após a cerimonia, pois a igreja não comportava tanta gente. Vinte e cinco pessoas na família do noivo e vinte e cinco para a noiva, os outros convidados chegariam após a cerimonia, na festa no galpão, como combinado.

Em frente a porta da igreja, estava James. Seu rosto dava a entender que não havia dormido direito a noite. Seus olhos contornados por uma olheira média, e sua aparência cansada – como sempre, e feliz por estar lá; Sua mente não parava de trabalhar. Pensava a cada instante no sonho que havia tido noite passada. Sonhou como havia sido a primeira vez do menino Kirk com Audrey, como se estivesse dentro do quarto no momento, acompanhando tudo. Que sonho, não?.

Olhou para o lado e lá estava Audrey, trajando um vestido amarelo, como uma gema de ovo, pois era o vestido que Deanna havia ajudado a escolher para as madrinhas. Não conseguia vê-la da mesma maneira. Quando dormiu com ela ano passado, não pensou que pudesse mudar seu conceito, e agora as coisas mudaram. Ela pisou numa área que até então era o seu maior segredo.

Cumprimentava os parentes que entravam pela porta. Cá estavam as primas Daisy, Electra e Evelyn, com quem já havia tido muitos casos no passado. Olhava para o corpo bem formado de Daisy e lembrava-se de como foi ter tido a sua primeira noite de bebedeira e sexo com uma prima desconhecida. Ela estava bonita, com um vestido vermelho muito elegante, como Jessica Rabbit.

 

- James! Quanto tempo! – exclamou ao vê-lo.

 

Ambos se abraçaram com interesse. Daisy agora é um casada, mas a malicia no rosto ainda era evidente. Quando ficaram juntos a primeira vez, tinha quinze anos, podendo jurar que a malicia daquela garota era por tê-lo por perto... e essa ilusão logo foi desmentida. Daisy sempre era assim por natureza; Daisy é uma versão de Audrey, só que mais velha e mais sortuda.

Atrás dela estava um homem negro e de semblante muito forte. Uma pessoa robusta e de verdadeira significância. Richard, o marido de Daisy, um corretor de imóveis famoso e importante em San Francisco e Portland. James também cumprimentou o homem, que não parecia melhorar a cara de jeito nenhum. “É a cara de Daisy atrair homens assim” indagou mentalmente.

Cumprimentou Christian, amigo da família desde os tempos em que morava com os pais, há muitos anos. Christian era caminhoneiro como o seu pai, o que lhe rendia muitas boas histórias ao chegar de viagem nos começos de mês. Ele estava bastante abatido. Era o que acontecia quando um homem ativo decide se aposentar, certo?

Olhando tantos rostos conhecidos, James não parava de pensar como seus pais estariam orgulhosos se vissem isso. Seus parentes só se reuniam em velórios, então aproveita-los não era tão fácil. Nunca sentiu essa vontade de ter sua mãe por perto. Ver seus filhos crescendo era o sonho da mãe Cynthia, que acabou não se realizando. “Deanna está crescida, mãe” pensava.

 

Do outro lado da capela, dentro do quarto, Kirk se arrumava. Prometeu a si mesmo que iria vestir-se como um dos convidados, passando por cima das ordens do Padre Joseph, que dizia que a batina de padre devia ser usada como uniforme. Havia passado por cima de tantas regras do Padre Superior, uma ou outra não faria diferença alguma.

Observava-se novamente em frente ao espelho, como fez noite passada. A calça jeans rasgada no joelho estava muito bem escondida. Havia tomado um banho e passado bastante perfume para esconder o cheiro de bebida e maconha impregnado nas roupas – tinha medo de por para lavar e alguém descobrir que cheiro era aquele.

Estava elegante, não bonito. Pensou se devia ou não prender o cabelo, e optou pela segunda opção, ficava feio de cabelo preso. Odiava vê-los preso. Não sentia-se tão bonito como ontem, quando ousou vestir-se como um rebelde. Estava vestido como um convidado e, ao mesmo tempo, como o padre-mirim que era. O que ele faria agora? Ajudaria os convidados? Assistia o casório ou ficava ao lado do Padre Joseph durante a cerimonia?. “Droga” pensava, “meus serviços nunca são estipulados com antecedência”.

Enquanto observava seu reflexo no espelho, começou a lembrar-se das musicas estranhas que o James ouvia no carro antes de leva-lo para a sua casa. Como era mesmo o nome daquela banda? Não conseguia lembrar. Se Kirk lembrasse da camisa branca que James usou na primeira vez que se viram, possivelmente saberia que banda estava tocando na sua cabeça agora. Abotoava os botões pequenos da camisa e cantarolava musicas sobre assassinato daquele punk rock de New Jersey. Sensação estranha. Muito estranha.

James havia lhe trazido para casa antes das sete horas da manhã, hora que o Padre Joseph geralmente acordava. No carro tocava as mesmas musicas que cantarolava. Os olhares estavam cansados e James parecia morrer a qualquer momento de tanto sono. Percebeu que não acordava cedo com tanta frequência. Sentia tanto sono que passou pela Golden Gate em pleno trânsito da manhã sem perceber, sexta-feira agitada.

Quando Kirk chegou a igreja, desceu do carro e agradeceu pela carona, indo em direção ao seu quarto antes que alguém percebesse algo. Subiu até a sua janela, abriu-a e entrou para dentro do quarto, deitando na cama automaticamente e esperando o Padre Joseph chama-lo como sempre fazia durante a manhã. Desta vez foi diferente, o padre não chamou-o. Kirk deu os ombros, já estava acordado há muito tempo.

Olhou pela janela e viu muitas pessoas entrando na igreja. Viu que James estava na porta abraçando uma mulher bonita com um vestido vermelho e cumprimentando o seu marido com simpatia. Teve uma sensação de que o dia seria longo e tranquilo, animado e interessante – não tanto quanto o dia de ontem.

Desceu as escadas, passou pelo altar e foi até a porta.

 

James apertava a mão direita de um dos amigos de infância quando olhou para o lado e viu o moreno descendo as escadas, com um semblante animado - queria estar tão animado quanto ele. Sentia-se quebrado por dentro e por fora, mesmo sendo três horas da tarde.

 

- Com licença. – diz ele, educadamente para os convidados.

 

Kirk parou no meio do tapete vermelho onde os noivos iam passar daqui uns minutos. James foi até lá, sorrindo.

 

- Você parece estar cansado. – comentou Kirk, rindo.

- Obrigado pela gentileza.

- Também está elegante. Parece ser outra pessoa sem as roupas rasgadas.

 

Kirk parecia confiante. Estava conversando com James como se fossem amigos de longa data, íntimos ou colegas. A noite passada lhe rendeu uma certa vontade e autoestima. O humor de James mudou ao perceber que do dia pra noite o garoto evoluiu no quesito confiança. Não era mais um garoto, e teria que entender.

 

- Melhor sairmos do tapete, parece que estamos casando. – diz James, dando alguns passos pro lado.

 

Kirk achou o comentário gracioso e, de certa forma, tendencioso. Tinha que se acostumar com o jeito duplo-sentido das falas daquele loiro.

 

- Nunca vi a igreja tão cheia quanto hoje. – disse Kirk, olhando para o lado. – Conhece tanta gente assim?

- Isso é muito pouco. O resto vai estar no salão de festas após a cerimonia.

- E onde está o Andrew?

 

James franziu o cenho e começou a procurar seu cunhado por trás dos ombros do moreno, como se tivesse perdido-o de vista.

 

- Estava aqui há pouco tempo...

- Onde está a sua família? – perguntou Kirk, inocentemente.

 

James fez uma careta não muito amistosa, mordendo o lábio inferior.

 

- Desculpe. –  Kirk cerra o punho.

- Tudo bem, onde quer que estejam devem estar bem. – James fez uma pausa breve antes de continuar. – Aqueles bancos ali são para os meus parentes, mas cá entre nós, não são meus familiares.

- Parente não é família. – redige Kirk.

- Absolutamente. Não é muito bom olhar para a cara dos meus primos metidos e das minhas primas que eu já fiquei. Dá um certo desconforto.

 

Kirk riu daquela afirmação.

 

- De qualquer forma, quem convidou eles foi Deanna. – continua ele. – Quer dar uma volta?

 

Kirk deu os ombros. Ultimamente suas respostas eram feitas com sinais e expressões próprias, sem palavras, só ações.

Andando lentamente pelo gramado ao lado da igreja, James olhava o seu relógio para que o tempo não passasse tão rápido. Kirk andava a sua direita, percebendo a preocupação. Quem começou o assunto foi o loiro.

 

- Se eu fosse me casar, não chamaria nem metade do povo que está ai. E você?

- Eu o que?

- Você perguntou onde está a minha família. Posso perguntar onde está a sua também?

 

Kirk também franziu o cenho, mas franziu tentando se lembrar. Não sabia onde seus pais estavam. A última vez que viu sua mãe ela dizia que se mudaria para Daly City com o seu pai. Dizia que ia deixa-lo, mas nunca fazia cumprir-se suas palavras. Sua irmã estava saindo com um garoto da faculdade e eles se preparavam para morar juntos. Era só isso que lembrava de sua família.

 

- Acho que estão em Daly City, ou sei lá... – responde ele.

- Ainda vê eles?

- Não...

 

Kirk recobrou a sua memoria e lembrou do último telefonema que recebeu de sua mãe, no começo do ano. Ela estava bem, aparentemente. Sofria tanto que conseguia relevar tudo com grande facilidade. Não sentia saudades dela, mas agora, sentiu uma vontade frenética de vê-la.

 

- Eu vim pra cá e não vi mais eles. – termina a fala.

- Eles devem estar orgulhosos de saber que o filho está “nos caminhos de Deus”. – diz James. Havia algo irônico na fala dele, mesmo não querendo ser irônico, e sim sendo verdadeiro.

- Acho que sim...

- Quer dizer, meus pais queriam que eu fosse religioso ou coisa parecida. Meu pai dava aulas na escola dominical e minha mãe cantava, então o meu futuro seria parecido.

 

Kirk sorriu com simpatia, entendendo o ponto dele.

 

- Você fez um comentário sobre mim ontem, posso fazer o mesmo? – perguntou James, sentando-se em uma pequena mureta que dividia o terreno da igreja com uma casa.

- Pode. – respondeu Kirk, sentando ao seu lado.

- Pensando bem, melhor esquecer.

 

Kirk franziu o cenho novamente.

 

- Como assim? Você pode comentar o que quiser.

- Não. Lembra que eu disse que sou meio grosso? É isso que tenho medo.

- Tem medo de ser grosso?

- Muito.

- Bem, comente o que quiser, depois eu digo se está sendo grosso ou não.

 

Seus olhos se entreolharam, em sintonia. Kirk tivera seu primeiro contato com a imensidão azul que eram os olhos do loiro, e parecia maravilhado com tanta beleza. James percebeu que os olhos do moreno eram tão escuros que mal tinha uma cor predominante, não sabia se eram negros ou castanhos, só sabia que a janela de sua alma estava muito bem fechada.

 

- Eu não acho que você goste de ser padre ou estudar aqui.- começou. - Acho que faz porque essa é a segunda opção que lhe deram na vida e você agarrou achando que fosse o melhor a ser feito. Entendi algo ontem em você que me deixou curioso. Percebi que você nunca tivea ficado tão feliz como quando estava conosco, e isso me pareceu decepcionante.

 

Kirk cerrou o punho, sentindo o comentário lhe pegando pela jugular. Sentiu uma vontade súbita de chorar, mas controlou-se, balançando a cabeça lentamente.

 

- Desculpe. – disse James, vendo sua expressão.

- Tudo bem.

 

Ambos ficaram quietos. Kirk repassou o que havia ouvido e percebeu que o loiro não havia lhe dito nenhuma mentira. Não podia dar esse gosto a ele. Tinha que mostrar o contrario. Sua vida era boa.

 

- Já está na hora! – disse Audrey, correndo pelo gramado.

 

                                                                                              [...]

 

A cerimonia foi muito bonita.

Como de costume, Andrew ficou em frente ao altar próximo ao padre, esperando sua esposa chegar. Demorou, é claro, noivas que não demoram não fazem jus ao nome. James se comprometeu de leva-la até o altar. Kirk estava ao lado do padre, sentado atrás do altar, tentando não ser visto.

O silencio se instalou na igreja quando uma das madrinhas passou pela porta dizendo:

 

- A NOIVA CHEGOU.

 

Todos viraram-se para trás, fitando a porta. O Mustang de James parou em frente a enorme escadaria. “Que casamento é esse que não tem limusine?” pensou Kirk. Ao contrario do luxo de um carro atual, Deanna desceu do carro dele, elegante e alegre, sendo ajudada pelo loiro a andar corretamente com os saltos altos. Subiram as escadas de braço dados, como pai e filha geralmente fazem num casamento.

O vestido de Deanna era algo muito interessante. Fazia o estilo Maria Antonieta, com bordados rosas e algumas flores de mentira na saia. Parecia uma princesa dos tempos medievais, como se um unicórnio fosse ovaciona-la até o altar. Estava muito bem maquiada e os cabelos presos com uma trança e com cachos perfeitamente feitos nas pontas. Não usava véu. Disse que não usaria porque só virgens usam véu. Dispensou o acessório colocando uma pequena coroa de flores rosa, lilás e azul bebe, que combinava perfeitamente com os detalhes do vestido.

Andrew ficou surpresa ao vê-la. Não estava presente quando Deanna comprou o vestido na loja mais bonita de San Francisco. Lembra até hoje do dia.

 

- Como assim, não posso ver o vestido? – pergunta, ao vê-la chegar em casa.

- É tradição. Os noivos não veem o vestido da noiva antes do casamento.

- E se for algo feio?

- Não é algo feio. Você vai gostar.

- E eu terei que esperar até o casamento para ver?

 

Deanna fez uma careta. Fazia muitas caretas ao ser contrariada; A preocupação do marido era estupida.

Subindo as escadas da igreja ovacionada pelos olhares dos seus parentes mais próximos, sentia que hoje o dia seria dela. Estava orgulhosa ao ver o seu irmão vestido da forma mais elegante possível, como se conseguisse dar um tempo na rebeldia precoce dele. James vestia um smoking mais bonito que o de seu marido. Vendo o pequeno vulto de Andrew aparecendo enquanto subia as escadas, pensou: “não acredito que ele escolheu esse smoking”, e mordeu o lábio inferior, evitando rir. Seu marido usava um smoking de cor prata, brilhoso, parecendo uma embalagem de chiclete.

Os irmãos passaram juntos pelo tapete vermelho, pisando em algumas pétalas de rosa pelo chão. Deanna sorria para os seus parentes e continha a emoção. James só olhava para frente. Era tão acostumado a ser o centro das atenções, mas dessa vez era diferente. Ser visto em cima de um palco tocando guitarra e cantando é diferente de ser visto de smoking carregando sua irmã até o altar. Sentia que o momento seria marcante, só não sabia porquê.

Claro que ver a caçula se casando é um verdadeiro orgulho, mas sua cabeça estava no mundo da lua, e sabia o motivo. Andando lentamente entre a igreja com a mão direita envolto à mão esquerda de sua irmã, seu olhar foi de encontro ao do filipino, sentando longe do altar, atrás onde o Padre esperava a noiva. Ele não parecia estar tímido. Na verdade, o garoto nem estava olhando para ele neste momento. Observava a janela espelhada e colorida do outro lado da capela, onde refletia uma luz forte de começo de tarde.

“Fiz algo de errado” pensou, olhando o garoto, “com certeza fiz”. Sentiu-se mal por imaginar ter ferido a moral daquele garoto. É tão fácil dizer as coisas pros outros, não? Devia parar de ser tão intrometido.

Ao deixar Deanna no altar com a maquiagem totalmente borrada de emoção, foi para o lado esquerdo, no lugar dos padrinhos. Viu que Lars, Cliff, Mark e Seth não foram convidados para ser padrinhos do casamento dele. Franziu o cenho. Os cinco passaram por tanta coisa juntos, porque não chamar eles para testemunhar esse momento tão agradável? Andrew não parecia ser tão esnobe. Ao lado do loiro havia quatro homens. Não conhecia nenhum deles e só havia visto um há alguns meses atrás.

Audrey estava no lado direito do altar, do lado da noiva. Havia também quatro mulheres do lado dela, e James conhecia todas. Era ruim estar próximo de garotas que jurou nunca mais ver na vida. As amigas de infância de sua irmã eram suas amantes favoritas, e todas estavam presentes, vendo-o de smoking, parecendo uma pessoa normal.

A musica cessou.

 

- Estamos todos aqui reunidos para testemunhar o momento mais feliz da vida deste jovem casal. – começou o padre com altivez.

 

Neste momento James não ouviu mais nada. Sua atenção fora tomada, afinal, só estava lá para ouvir o “pode beijar a noiva”. Virou-se para o lado direito e viu todos os convidados emocionados. Seus parentes olhavam fixamente para o altar, alegres e, de certa forma, orgulhosos. James nunca desejou ter a companhia de Lars e Cliff como naquele segundo. Se estivessem lá, iria sentir-se mais seguro de si.

 

                                                                                             [...]

 

Se James entendesse algo sobre casamentos, diria que a cerimonia foi realmente emocionante, mas só indagou um “legal” após os noivos se beijarem.

Todos os convidados se encontravam no enorme galpão que, com muito esforço, parecia ser extremamente luxuoso e bonito, como se não fosse aquele salão empoeirado, com teias de aranha e cheiro de mofo. A equipe de decoração novamente lhe deixou surpreso. Todos os convidados tinham suas mesas reservadas e com um número. O lugar era absurdamente branco e havia alguns detalhes em lilás, como um aniversario de quinze anos. Era decorado com flores e panos brancos em toda parte, como nas mesas, cadeiras, na parede e até na porta de entrada. Havia garçons passando a cada momento para ver se todos os copos de vinho estavam cheios, e se não estivessem, enxeriam-nos rapidamente. Tinha um pequeno palco no canto do lugar com algumas caixas de som no volume alto, para deixar os convidados a vontade.

 

- Como foi a cerimonia? – perguntou Lars, enchendo o copo de vinho até o fim.

- Foi boa. – respondeu James, pegando a garrafa do garçom. – Não acredito que não convidaram vocês pra serem padrinhos.

- Ignore, James. – comenta Cliff. – Cá entre nós, seriamos péssimos padrinhos.

- Eu não aguentaria ficar vinte minutos olhando pro smoking intergaláctico do Andrew. – diz Lars.

 

James riu.

 

- Ele tem um péssimo gosto pra roupa. – diz James.

- Se eu não conhecesse vocês, diria que você era noivo de Deanna quando entraram na igreja juntos. – comenta Mark, atacando os aperitivos.

- Estou tão elegante assim?

- Absolutamente. – responde Seth.

- Você não faz o meu tipo, - comentou Lars. - mas está bonito.

“Credo” pensou ele, rindo automaticamente. A sexualidade de James podia ser diferente, mas não combinava com aquele dinamarquês magricelo. Lars era o último da fila.

 

- James, - diz Audrey, puxando-o pela mão. – Tá na hora de tirar as fotos.

 

O loiro deu os ombros enquanto seus amigos viam-no sendo puxado no meio do salão pela garota de vestido cor-de-ovo.

Deanna e Andrew estavam atrás de uma parede branca, sorrindo abertamente para os flashes que saiam das câmeras a sua frente. O dia era deles, e aproveitavam-no com vontade. Tiraram fotos com diversas pessoas e esperavam com anseio a hora de cortarem o bolo.

 

- Vem, James. – disse Deanna, a princesa do dia.

 

James parou ao lado de sua irmã, entrelaçando seu braço direito no braço esquerdo dela. Sabia que ele era o único a tirar esta foto com sua irmã, afinal, era a única família que ela teve – até agora. Deanna era muito mais baixa que ele, além de ter alguns quilinhos a mais, mas ele sabia que ela era a mulher mais bonita daquele lugar. Não estava vulgar ou chamativa, e, de certa forma, parecia formosa com aquela coroa de flores e o cabelo preso com uma trança.

Teresa estava ao lado deles. A matriarca da família tinha que marcar presença. Teresa era uma mulher muito elegante, e tinha direito. Foi uma boa mãe cuidando de dois filhos sozinha, sem um pai presente. Ver o filho Andrew, o caçula, casar foi o orgulho de sua vida. Podia morrer em paz. A mulher trajava um vestido cinza muito justo que ia até os joelhos, como se fosse a primeira dama da corte.

Audrey veio ao lado da mãe e juntou-se a família, abrindo um enorme sorriso para a foto.

James sentiu o flash da foto invadindo seus olhos. Sentir aquela forte luz na retina não fez muito bem a ele, que estava com os males da ressaca desde que acordou. Ao acabar a foto, levou seus dedos nos olhos e fez uma careta. Sentiu alguém abraçando-o forte e viu que era Deanna, retribuiu o abraço.

 

- Quando vai ser você, James? – pergunta ela.

 

Pergunta difícil de ser respondida com rapidez. Mordeu o lábio inferior e pensou na primeira pessoa que passou pela sua cabeça: Kirk. Por que estaria pensando nele? Quanta estupidez.

 

- Eu não sirvo pra isso. – respondeu ele, sorrindo.

- Quero ver você sentindo o mesmo que estou sentindo agora. – diz ela, fazendo uma breve pausa. – Mamãe estaria orgulhosa.

- Com certeza.

 

O abraço cessou com uma olhada alegre dos irmãos.

 

- Quando vai cortar o bolo? – pergunta ele, olhando por cima dos ombros da irmã, observando a movimentação que estava do lado de fora do salão.

- Daqui a pouco. Você vai estar presente, não vai?

- Prometo que vou. Beba um pouco de vinho e aproveite.

- James, você sabe que eu não bebo.

- Bem, hoje é o seu dia, deguste um pouco.

 

A irmã sorriu. James beijou-a no rosto e foi em direção a porta de saída, olhando a movimentação do lado de fora.

A equipe de decoração estava entrando e saindo da igreja com as decorações do casamento em mãos, pondo-as num caminhão. James achou aquilo engraçado. Tanto trabalho pra usar uma decoração fajuta por vinte minutos. Por que eles não pegavam aquelas decorações e colocavam no salão, para enfeitar de forma mais chamativa? Não sabia. O salão estava incrivelmente decorado, mas daria pra utilizar aqueles mármores caros, certo?

Viu o último funcionário da decoração carregando a tapete vermelho, depositando na carga da camionete e fechando-a rapidamente, ligando o motor e indo embora com toda a equipe; Seu trabalho estava feito. “É só isso?” pensou James. Deu passos lentos até a capela e viu o enorme vazio naquele lugar. Tudo voltou ao normal, não havia mais nada branco e vermelho, a não ser os pequenos pedaços de tecido rasgados e as pétalas de rosa que foram usadas para dar caminho a sua irmã no altar.

Entrou dentro do local e estava tudo parcialmente escuro e triste. Os bancos arrastados, os santos virados e alguns lugares sujos com as pegadas da equipe

Um barulho lhe chamou a atenção. Viu um vulto andando lentamente pelo altar, organizando as coisas. Olhou para o lado e viu o interruptor da luz, acendeu. Lá estava Kirk, arrumando as pequenas estatuas de anjos ao lado do confessionário, varrendo simultaneamente.

 

- Quer ajuda? – pergunta James, fazendo eco no local.

 

O garoto virou-se e viu quem estava na porta. Ficou surpreso por ver que o loiro lembrou-se de sua existência, depois de “tanto tempo” sem se verem.

Kirk lembrava no altar, próximo aos padrinhos, elegante como nunca. Não parava de observa-lo. Quando conversaram no jardim há uma atrás, não tinha percebido como ele estava bonito, e vendo-o próximo daqueles homens, percebeu que a sua seriedade fazia parte do pacote. Smoking preto-azulado, que ficava azul marinho quando ficava de encontro com a luz, e foi isso que aconteceu quando ele ficou parado em frente a porta da igreja, após ascender as luz.

 

- Não precisa, obrigado. – respondeu o garoto.

 

James percebeu uma certa frieza em sua resposta. Kirk continuou a varrer o altar, fazia tanto tempo que não fazia isso que os tapetes que puseram lá hoje só pioraram a situação.

O loiro fechou a porta lentamente, sem fazer barulho, observando os movimentos do garoto a todo momento. Começou a dar alguns passos por entre os bancos arrastados e onde estava o tapete vermelho, encostando-se no altar de madeira onde o Padre geralmente faz suas pregações, e continuando a fitar o moreno.

 

- Eu te fiz algo? – perguntou o loiro com um tom de voz diferente.

- Não.

 

Kirk mentiu. A conversa que tiveram no jardim ainda pairava em sua cabeça. Não gostava de deixar as pessoas para baixo, e evitava ao máximo tentar, mas queria muito ter algo em troca. Se tivesse ficado calado, provavelmente aproveitaria a festa do casamento no salão.

 

- Parece que eu fiz.

 

O garoto olhou para ele. James estava com os braços encostados no altar, observando-o. Kirk parou de varrer e retribuiu a fitada naqueles olhos azuis que pareciam estar tristes, e ainda assim, brutos, como sempre foram.

 

- Esqueça. – disse o garoto, voltando a varrer.

 

Percebendo indiferença, James franziu o cenho e cerrou o punho direito. Andou rapidamente até onde o garoto estava e prensou-o contra a parede com força, pegando em seus braços. Kirk ficou assustado.

 

- O que está fazendo? – perguntou ele, vendo o rosto rude do homem perto de si.

 

Sentiu a respiração dele em seu rosto e o loiro encostou o seu lábio contra o dele delicadamente, selando-os docemente. Kirk estava com os olhos arregalados ao sentir a quentura de sua boca, então, James invadiu-a com a língua. Fechou os olhos e deixou-se levar pelo ritmo do beijo. Estava adorando ouvir os estalos que fazia o seu lábio no dele, era algo realmente bonito, como a cena de um filme.

James soltou os braços do moreno contra a parede e levou sua mão direita na nuca de Kirk, sem cessar o beijo. Começou a passar sua mão esquerda no corpo dele por cima da roupa, sentindo que algo estava prestes a acontecer...

 

CONTINUA


Notas Finais


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