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História O Passado Sempre Volta - Dia de inverno


Escrita por: BananaArt

Notas do Autor


Minha antiga conta foi excluída por imagem impróprias -_-
to repostando tudo aos poucos -_-

Capítulo 1 - Dia de inverno


- Esse é Shimaki Aki, tem sua idade, é filho da cozinheira. - Meu irmão comentava, mostrando o garoto pequeno com o sorriso tímido no rosto. Pisquei algumas vezes, normalmente não poderia ter contato com outras crianças, como minha família tinha posse de várias propriedades poderiam tentar algo contra mim, estávamos em uma dessas casas no interior no momento, iria começar a estudar ainda naquela primavera. Meu irmão tinha que estudar tranquilamente para o vestibular, então precisava de um espaço privado e o interior foi a melhor opção, enquanto cuidava de mim. Por isso meus pais não estavam ali, apareciam as vezes, mas ambos eram ocupados demais para se preocupar.
- Oi, sou Matsumoto Yuki. - Digo me aproximando, era empolgante poder brincar com outro garoto.
- Vão estudar na mesma escola. - Meu irmão, Jun dizia de forma mais tranquila ao ver minha reação, pois era protetor e não gostava que ficasse sozinho.
- Prazer Yuki. - O menino falou calmamente. Tinha uma cautela estranha no Aki que não consegui explicar.

A partir daquele dia não desgrudei mais do Aki, viramos amigos, exploramos os arredores e ele me mostrou várias coisas novas e interessantes.
Começamos a estudar na mesma escola e não nos separamos mais. Aki sempre me ouvia e fazia alguns comentários, brincávamos muito juntos, contudo, na época não entendia algumas de suas expressões e amarguras. As vezes ele aparecia com marcas no corpo, roxas, quando perguntava sempre desconversava. O pai do Aki não trabalhava, porque não poderia, foi a única coisa que ouvi na época.

- Porque não tem animais de estimação? Não posso ter porque meus pais disseram que tenho alergia. - Comento desanimado enquanto andávamos na beira da lagoa que agora estava secando, porém o meio ainda era fundo.
- Meus animais acabam morrendo.. - O menino não disse mais nada depois disso. Pensei que o garoto estava triste e não queria falar sobre assunto, no entanto, não vi o sorriso escondido se formando no seu rosto.

Durante a primavera brincamos bastante. Não fui na casa dele nenhuma vez. Percebi que Aki era muito inteligente nos deveres e tarefas da escola e respondia tudo, mas era incrivelmente sozinho, com exceção da minha presença, parecia que as outras crianças não gostavam dele. Me sentia mau por isso, queria que Aki se desse bem com todos, como me dava.

- O que houve? - Ouvi a mãe de Aki comentar com a professora.
- Vimos o Aki maltratando o cachorro da escola. - A sensei falava com pesar na voz.
Não pude ouvir muito, pois meu irmão havia me chamado.

Durante o verão era muito quente, mas passamos também o tempo juntos, tomando sorvete, quebrando melancias e indo para festivais. Até as férias de verão que viajamos para a praia junto com meu irmão. 
Aki conheceu meus pais, ambos gostaram muito dele e o trataram como filho. Queria que o menino fosse meu irmão, seria bem mais divertido. Parecíamos uma família. Mas o garoto ainda me encarava de forma estranha, não entendia, quando perguntava, Aki dizia que não era nada. Era estranho.

- Eu não entendo, como você consegue ser tão feliz Yuki? - Enquanto estávamos fazendo a lição, Aki me indagou, além de estar me ensinando, pois o menino só tirava notas excelentes. 
- Ah, eu tenho o Aki e meu irmão, então acho que tá tudo bem. - Digo inocente, não entendo aquela pergunta. Aki não era feliz? - Tem algo que possa fazer para te alegrar?
- Não. - Aki respondeu. Mas voltou o olhar na minha direção. - Vamos tomar banho na piscina?
- Eu não sei nadar Aki. - Comento com um bico, encarando o caderno.
- Te ensino, podemos ir, não é? - Em vez de esperar minha o menino se levantou, estendendo a mão. Dificilmente contrariava qualquer ordem que o maior dizia.
- Tá. - Acabo aceitando.

No entanto, antes que pensássemos em nadar meu irmão nos chamou para lanchar e não deixou entrarmos na piscina depois. Aki parecia frustrado.
- Yuki como sou mais velho que você sempre tem que me obedecer, ok? - Essa era uma frase que Aki costumava dizer as vezes. - Seja obediente. Prefiro assim.
Apenas concordei já que o mesmo era meu amigo, não queria fazer nada que o deixasse frustrado e triste, além disso sempre fui ensinado a respeitar os mais velhos, mesmo que Aki tivesse apenas alguns meses de diferença.

No outono não poderíamos nos ver com constância, pois Aki teria que ir ao psicólogo, o que era estranho. Quando perguntei ao meu irmão ele só disse que era necessário, queria entender. Aki não estava bem para ir no médico?
Meu amigo parecia mais calado e distante agora, as marcas roxas ficavam mais evidentes conforme o tempo passava, até que um dia Aki apareceu com o braço quebrado em casa. Não entendi bem, mas meu irmão interferiu quando isso ocorreu.

- Aki. - Lembro de abraçar o garoto, chorei muito quando soube que quem fazia aquilo era o pai dele, a qual foi preso imediatamente. Aki não me abraçou de volta e nem chorou.
- Não chora Yuki. - Disse apenas isso, foi quando solucei muito e chorei mais ainda, pois mesmo que ele não demonstrasse sentir dor, ainda parecia doloroso.

Descobri que Aki de fato não chorou quando quebrou o braço ou mesmo demonstrava dor quando o pai lhe batia, ouvi a conversa do meu irmão sobre isso. Foi quando pensei o quanto Aki era corajoso e incrível.

No inverno foi quando tudo se complicou, Aki começou a me mandar fazer coisas estranhas. Como ficar parado enquanto tocava no meu corpo, sempre no peito e nas costas, como suas mãos eram geladas aquilo fazia cócegas, achei estranho, mas não impedi, porque sabia que ele não me faria mau, além disso, sempre tomávamos banho juntos.

Próximo do fim do inverno, depois das provas, Aki queria passear.
- Não vão longe, depois levo algo para vocês comerem. - Meu irmão dizia voltando a atenção ao caderno de exercícios, as provas estavam perto.

Andamos pela floresta próxima, não nos distanciamos muito, até chegar no lago congelado.
- Vem, vamos pisar no gelo. - Aki começou a caminhar pelo lago. Aquilo me deixou inseguro, com uma sensação ruim.
- Eu tô com medo. - Sussurrei, contudo, mesmo assim fui.
- Bom menino. - Aki sorriu de forma estranha e tocou na minha mão.
- Sabe, Yuki combina com neve, não é?

- Sim, meu aniversário é no inverno. - Comento, encarando meus pés. Voltando o olhar na direção do meu amigo, que parecia pensativo.
- É injusto Yuki. Que você tenha todas essas coisas, que tenha um irmão mais velho legal, que sempre vá estudar nas melhores escolas, que tenha todo seu futuro garantido mesmo sendo tão burro... Mesmo que minha inteligência seja acima da média, vou acabar em um emprego medíocre.

- Aki...- Fiquei encarando o menino sem entender o que ele queria dizer, Aki nunca falou daquele jeito comigo, mas até hoje me lembro das suas palavras.
- Ora, seus pais te mimando tanto que você não entende nada, né? Eu te odeio tanto Yuki, odeio tanto...- Começo a sentir as lágrimas se formando.
Aki dizia isso com um sorriso no rosto, não era uma brincadeira...
- Meu pai me bateu tanto...e você sorria todos os dias, sem se preocupar com nada. Eu quero sua vida. - Aki finalmente mudou a expressão para raiva. - Mas pra isso você não pode existir.

Se aproximou de mim e empurrou meu corpo com força, não esperei por aquilo, cai para trás, deslizando pelo gelo, até ouvir o barulho de algo quebrar. Encarei a superfície, notando quebrar. A última coisa que vi foi o sorriso do meu melhor amigo.
A água gelada significava a morte, senti todos meus ossos doerem tanto, puxei a respiração com força, meus pulmões pareciam partir, quase quebrar como vidro.

Apaguei sentindo as mãos do meu irmão me envolverem. Iria morrer, foi a única coisa que pensei.
Por alguns meses fiquei dormindo, é o que eles chamam de coma. Acordei na primavera, próximo do dia que conheci Aki, estava com medo dele, do seu sorriso. Acordei gritando por lembrar disso... Das palavras, de tudo.

Foram longos meses de psicólogo. Voltei para Tokyo, não poderia ficar no interior, não depois do que ocorreu, só depois de muito tempo perguntei ao meu irmão o que havia ocorrido com Aki. O menino havia sido internado, com diagnóstico de psicopatia, poderia ser revertido, não era tarde, ainda éramos crianças.

Aki torturava seus animais antes de matar. Por vezes ele acordava de madrugada, caminhava até a cozinha, pegando a faca mais afiada com intuito de enfiar no pescoço do pai, mas normalmente desistia.

Aquelas histórias me deixaram ainda mais temeroso. Meus pais me afastariam de tudo a ver com ele, não queriam alguém assim próximo de mim. Por vez, não queria mais ninguém perto de mim além da minha família. Sem Aki, sem amigos.
Estudei longos anos em casa, só fui voltar a frequentar o colégio no ensino médio, que é onde estou agora, no meu segundo ano. Tentei esquecer, mas, ainda tinham lembranças boas e preciosas daqueles dias, talvez, só talvez eu pudesse ter feito algo por ele... Mas, era tarde demais. Agora só tinha que viver minha vida.

 



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