“-Se fizer isso por mim, te concederei teu maior desejo”.
“-Sim, farei.”
“ -Qual é o seu desejo?”
“- Meu desejo é...”
“A cada século, há um eclipse Lunar... e junto com ele trás uma possível catástrofe... uma lenda milenar que corre de boca em boca, de livro em livro buscando sua libertação... A Deusa Selene, que brilha com sua suave luz lunar, enviará um salvador, viajante de outro mundo para que possa nos salvar de um futuro desprezível escrito por seu irmão Eos, que nos amaldiçoou com todas suas forças, jogando seu ódio e desprezo no nosso destino...”.
- Você acredita nessa besteira? – Disse com descaso em sua voz aparentando estar entediado com o assunto da amiga, que repetia pela milésima vez a mesma história.
A garota de pele levemente morena e cabelos transtornados em diversas mechas, que de acordo com seu penteado deveriam ser uma só, tinha os olhos brilhantes sob as lentes de seus óculos. Admirava-se no espelho, deixando que as criadas terminassem de arrumar os pequenos detalhes.
Hora jogavam um tecido por cima do ombro, hora o passavam pela cintura, algumas tentavam arrumar o cabelo sem solução, enquanto outras tentavam a manter parada para fazer a maquiagem.
- Como não acreditar, Levi? – Disse se virando rapidamente, mantendo os punhos fechados na frente do corpo com um olhar sonhador – Não seria incrível? Um viajante de outro mundo!
- Não há nada em nenhum livro ou pergaminho que relata sobre algo assim já ter acontecido. – dizia sem prestar atenção na amiga, tentava a todo custo se manter concentrado em seu pequeno trabalho artesanal.
Pintava suavemente a superfície de uma pequena caixa vermelha com formato emoldurado, desenhava pequenas rosas com um tom claro, deixando que os caules se entrelaçassem divertidamente uns nos outros.
- Mas a crença na profecia não é suficiente? Já comemoram o eclipse com um baile há milênios! – estava indignada com a atitude do príncipe e sua falta de interesse.
Ele poderia ao menos olha-la enquanto conversam!
Suspirou. A pior parte era que já se acostumara com a atitude do amigo há muito tempo. Não havia muitas coisas que prendiam sua atenção e interesse, exceto seu hobbie.
- Levi, não nos acha sortudos? – perguntou casualmente, conseguindo por um segundo prender a atenção do menor, que terminara sua pintura delicada, e a observava agora. Hanji voltou ao espelho novamente permitindo que as criadas continuassem com seu trabalho. – Sabe, não são muitas pessoas que vivem mais de cem anos para participar do baile duas vezes. Então devíamos nos sentir sortudos, já que nós poderemos pelo menos uma vez.
- Sim, talvez. – disse sem muita emoção. Por um lado à amiga estava certa, o baile em comemoração ao eclipse acontecia apenas uma vez a cada sem anos, junto com o eclipse, era a maior comemoração dos três reinos, onde todos se juntavam para comemorar, sabe-se lá o quê, afinal, além do próprio eclipse nada mais havia, o tal “viajante’ nunca aparecera antes, quem dirá agora.
E seria melhor de ele não aparecesse, porque iria significar que algo ruim iria acontecer ao seu mundo, não entendia como conseguiam comemorar algo assim! Sua expressão foi se fechando de acordo com seus pensamentos, afinal todos esses milhares de anos que se assaram foram em paz porque esse tal viajante não veio certo?
- Oh, Levi – ouviu Hanji lhe tirar de seus devaneios -, por favor, comemore mais, não fique com essa cara emburrada! Você é o príncipe, não é? Deveria ser um exemplo! – Disse se virando novamente, mas sendo impedida no meio do trajeto pelas empregadas que a colocaram parada novamente.
Levi bufou, não tinha muito que fazer discutir com Hanji era impossível! Começara a guardar seus objetos de trabalho, sons ocos foram ouvidos ecoando pela sala, chamando a atenção de todos para a porta, onde um criado posava perfeitamente anunciando que o baile logo começaria.
oOo
Na casa humilde, no andar acima de um restaurante, pessoas comemoravam com diversos pratos, e muitos sorrisos, a chegada do evento mais esperado do século iria ser logo! Não que pudessem comparecer no castelo e fazer parte do baile, mas apenas ali com quem gostavam era o suficiente.
Carla descera as escadas, indo em direção ao pequeno salão, onde seus conhecidos e amigos comemoravam a chegada do eclipse, depositou os pratos que segurava sobre a mesa, chamando a atenção de todos os presentes no salão. Sendo seguida por seu filho único Eren, que também trazia alguns pratos em sua mão e braços, equilibrando tudo habilidosamente, coisa que anos de pratica como servente do restaurante da sua mãe lhe traziam.
O cheiro dos pratos delicadamente preparados invadiam sem permissão as narinas de todos, que automaticamente se esqueciam do que faziam enquanto mais e mais vizinhos chegavam à vila era pequena, onde todos se conheciam, encontrava-se ao sul das muralhas de sina, que serviam para proteger o reino de possíveis invasões.
Mikasa recebia os diversos novos clientes com um sorriso brilhante e envolvente, que deixava todos encantados, Sasha guiava todos até as mesas, e Grisha os servia, enquanto Eren preparava mais pratos na cozinha com ajuda da mãe que lhe ensinara tudo que sabia sobre culinária.
A música começava a tocar e alguns se levantavam para acompanhar o ritmo, todos animados, até Jean, o Fazendeiro do local que ajudava Carla com os ingredientes, chamara Mikasa para dançar, que recusava com a desculpa de que estava em serviço, deixando o moreno com desanimado, sendo consolado por tapinhas nas costas por Bertholdt.
Sasha, ao contrario de Mikasa aceitou o pedido de Connie, esquecendo-se completamente do trabalho, todos comemoravam e dançavam como se o amanhã não fosse chegar, e isso contagiava Eren, que segurava o impulso de dançar, até queria dançar entre todos, mas sempre fora muito tímido e isso o prendia ao seu cantinho.
- Eren, venha aqui – pode ouvir sua mãe lhe chamar a atenção, a olhou vendo que com um sorriso secava um prato usando um pano -, pode ir lá se divertir com seus amigos, eu posso cuidar das coisas por aqui. – sorriu gentil.
- Não, posso ficar e te ajudar. – sorriu também para a mãe, não queria ir para a festa, estava satisfeito apenas em olhar, mesmo se fosse ficaria sentado, não tinha coragem de dançar entre todos.
A mãe o olhou compreensivo, e voltou ao forno à lenha para verificar a comida, Eren foi até os pratos de madeira pegando o pano, iria continuar a limpar os pratos, isso se repentinamente, algo em seu subconsciente não lhe espetasse.
Havia algo errado, mas não sabia o que, seus movimentos repentinamente pararam e não tinha mais controle sob si mesmo.
“41423”
Uma mensagem apareceu em sua mente, não sabia o que era exatamente, mas era importante, disso sabia, e precisava sair dali, rápido.
O prato cedeu em sua mão, fazendo um barulho seco de queda no chão, o que Carla ouviu foi um baque surdo, sua mãe o olhou assustada com o barulho repentino.
- Eren, está... – foi bruscamente cortada com um empurrão do filho, seu peso foi em direção a mesa onde preparava os alimentos, logo indo ao chão -, Eren! – Tentou protestar, colocando a mão na mesa para tentar se levantar, sem querer puxou uma faca com as pontas dos dedos que veio junto a mais um escorregão, deixando a faca rasgar a pele de sua mão. – Eren! – gritou mais uma vez sem sucesso, o moreno já havia saído.
Mikasa ouvira alguma coisa na direção da cozinha, teria ido iria verificar se Eren não aparecesse estranhamente, andando pelo meio do salão, em direção à porta, ouviu Carla chama-lo com um grito preocupado.
Entrou assustada na cozinha e viu a “mãe” no chão, com a mão ensanguentada. Sem dizer uma palavra correu até a mulher, que lhe agarrou, a gola do uniforme firmemente.
- Vá atrás dele – disse com a voz determinada, não entendia o que estava acontecendo, muito menos por que Eren a empurrara, mas conhecia seu filho, e tinha alguma coisa errada!
Mikasa correu até Grisha explicando brevemente que Carla se machucara na cozinha, onde o homem foi procurar, a garota correu em direção à porta, mas era tarde, não havia nenhum sinal do moreno.
oOo
No enorme salão de danças, as luzes do candelabro iluminavam bem, mas não tiravam a beleza da lua, que era visível do jardim aberto fora do castelo, onde Levi estava. Pensava qual seria seu próximo trabalho, não que precisasse, afinal era um príncipe, mas isso era especial.
Era seu hobbie, que apenas aqueles que frequentavam o castelo conheciam. Levi gostava de caixas de música, conhecera sobre isso na primeira vez em que saíra do castelo na companhia de Hanji, há muito tempo.
Estudou sobre e agora tem como hobbie fazer caixas de músicas decoradas. Gostava de criar acordes e de escolher o formato da caixa, assim também como gostava de passar horas se dedicando ao seu passa tempo.
Não podia fazer isso por muitas vezes dentro do castelo sem o rei o mandasse para uma aula, ou algum compromisso.
Suspirou pela centésima vez, queria fazer algo interessante, já fora um sacrifício escapar dos duques e dos seus guardas reais e das pessoas interessadas em seu futuro trono.
Era o príncipe herdeiro, e isso fazia com que todos os três reinos, duques e tudo quanto é tipo de pessoa de alta sociedade o cercassem de pedidos de casamento com segundas intenções!
Isso o irritava profundamente, não se interessava em casamentos, e nem relacionamento nenhum, mas todos são muito insistentes e irritantes, principalmente seu pai que insistia em marcar um novo jantar com outras famílias mensalmente, para ver se ele se interessava em alguma das filhas de seus convidados.
Perdido em pensamentos, ouvindo o som dos grilos da floresta próxima, teria continuado se duas mãos não se envolvessem em seus ombros o abraçando como se quisesse o sufocar.
- Você está com uma cara assustadora! – dizia a voz divertida atrás de si, rindo, podia identificar a voz em qualquer lugar, era Farlan, seu irmão.
- O Rei está chamando Príncipe Herdeiro. – dizia outra voz brincalhona, era Isabel sua prima adotada pela sua mãe.
Farlan e Isabel eram os únicos, além de Hanji, que sabia onde Levi se escondia para fugir de compromissos, isso quando não estava na cidade, sabe-se lá fazendo o quê.
Soltou-se do abraço do irmão, e seguiu até o salão onde viu o Rei, seu pai sentado em seu trono rindo com alguma conversa que fazia com o homem a sua frente. Seguiu até o rei, que parecia ter notado sua presença, e o olhou se curvar a sua frente.
- Queria me ver, Majestade? – perguntou formalmente como era requerida em situações como essa, o homem o olhou frio.
- Sim, essa jovem dama chama-se Petra – disse permitindo que Levi levasse sua atenção à garota que se escondia atrás do homem com quem o rei conversava Levi não a havia notado ali -, quero que a acompanhe esta noite. - disse como se não fosse nada.
- sim, Majestade. – se curvou novamente, seu pai estava lhe empurrando outra mulher com a desculpa de que estava na idade de casar, olhou sua mãe disfarçadamente e ela lhe retribuiu o olhar de desculpa como se tivesse tentado impedir.
Mesmo sendo a Rainha a palavra do Rei estava acima da sua, formalmente Levi caminhou até a garota e lhe ofereceu a mão, que timidamente a garota aceitou, beijou sua mão sobre a luva que escondia a pele clara da menina que parecia ter uns 18 anos.
A garota corou até a raiz do cabelo com o ato, e Levi a olhou nos olhos repentinamente se lembrando daquele garçom do estabelecimento onde Hanji o levava frequentemente em suas fugas. Lembrava-se perfeitamente o tom corado do rapaz quando derrubou suco em si, mas não se lembra do nome.
Esquecendo-se disso, Levi guiou a garota até o centro do salão, onde a música começou a tocar lenta, segurou a cintura fina e aproximou seus corpos deixando a garota mais vermelha ainda, qualquer tomate teria inveja dela agora.
Guiou a garota lentamente pelo salão, enquanto todos se focavam apenas nos dois dançando, a coreografia ensaiada que todos conheciam, mas ainda ficavam de boca aberta, por algum motivo.
Levi guiava a menina com maestria deixando que ela permanecesse leve em seus braços, sem soltar sua mão a rodopiava pelo salão e a garota parecia em um doce sonho com uma leveza e conforto que faria qualquer uma querer estar no seu lugar.
Sua expressão era calma e leve, nunca dançara assim antes, ninguém nunca a conduzira tão perfeitamente, a ponto de deixa-la se sentir leve, com se não precisasse nem dos pés no chão para dançar.
A música foi ficando mais lenta, enquanto tudo ia acabando, os aplausos surgiam e logo outra música começara dessa vez com muitos convidados dançando no meio do salão. Levi aproveitara a confusão de cabeças e corpos rebolantes por todo o lado e saíra novamente “abandonando” sua companheira perdida entre os convidados.
Fora até a mesa de aperitivos, se deliciando com algo que não sabia bem o nome, mas sabia era bom. Logo viu a garota se aproximas e tentar ter uma conversa agradável com o príncipe, como seu pai a indicara fazer, sendo duramente ignorada por Levi que não via nada de interessante na conversa.
As horas passavam arrastadas e Levi queria ir embora, voltar até seus aposentos e dormir.
A música parou de soar, o que eu indicava que era quase a hora do eclipse, todos, inclusive sua “acompanhante” seguiram para sacada do castelo que tão enorme quanto o salão, e com certeza cabia a todos, o Rei guiou todos até lá, sendo seguido pela Rainha e seus filhos. Que olharam para Lua.
Uma sombra enorme começara a cobrir parcialmente a face da Lua, que mais parecia se esconder de vergonha com tantas pessoas a observando, lentamente tudo na noite ia escurecendo, o breu só não dominava por causa da luz das estrelas. Logo, toda a Lua estava coberta, pela sombra brincalhona, que assim como veio foi embora.
Todos olhavam em volta como que se algo magico fosse acontecer, ou uma estrela fosse cair na floresta, talvez uma luz enorme, mas não, nada aconteceu.
Não é como se Levi estivesse decepcionado, pelo menos não tanto quanto Hanji que já escorregara completamente para o chão sendo amparada por Erwin, Levi não esperava nada desde o começo e isso o levou a tomar decisão de se retirar, afinal se não tinha viajante, não tinha festa.
Sem barulho entrou no seu quarto, e sem nem mesmo se trocar deitou-se para dormir, não fez muita coisa, mas estava exausto só de ouvir Petra falando a noite toda no seu ouvido. Estava cansado e seus olhos pesavam nada mais importava nesse momento, apenas ele.
oOo
Não sabia onde estava, nem para onde ia. Seus pés o guiavam pelo chão coberto de folhas das arvores, que caíam com a permissão da natureza. Estava escuro e apenas a luz da lua iluminava o local.
Seguia sem muita opção, já que mal podia se controlar e seus sentidos já haviam se perdido há tempos, o impulso de seu instinto o levava para frente seguindo o som da agua corrente, de um lago cristalizado pela luz da lua, que iluminava bem o local.
Era um pequeno bosque, nunca estivera ali antes, mas o lugar o deixava incrivelmente nostálgico, como se já estivesse estado ali, e também o deixava triste, como se o local o lembrasse de coisas ruins que já lhe aconteceram, e por fim o calmava como se as arvores entendessem seus sentimentos e quisessem confortá-lo.
Era estranho como um local onde nunca estivera antes poderiam lhe causar tantas emoções misturadas. Seus olhos estavam nublados, mas isso não o impedia de pegar alguns detalhes do local tão precioso para si. Sem nenhuma falha no manto esmeralda das arvores, o local era simplesmente perfeito.
Continuava andando para o centro do local, a luz da lua guiavam-lhe pelo caminho a que seguir, o centro parecia lhe chamar e o atrair para si, seus olhos foram atraídos para a lua, sorriu terno, feliz com a sensação quente de “missão comprida” em seu peito.
Não sabia explicar seus sentimentos, mas estava satisfeito e feliz, seu peito queimava em alegria com uma sensação gostosa, como o que sentia quando sua mãe fazia sua torta preferida e depois de comer o deixava deixa descansar a cabeça e suas pernas com o toque de sua mão gentil em seus cabelos e ao som da sua voz suave cantando uma canção de ninar queria ficar ali para sempre, no colo da sua mãe, onde a lua pudesse vê-lo.
“Finalmente” pensou, mesmo sem saber exatamente porque se sentia tão completo e feliz naquele dia especial.
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