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História O Peso da Coroa - Capítulo 19 - Decisões


Escrita por: LyraRocha

Notas do Autor


Faltam 6 capítulos para o fim...

Escrevi ouvindo Boyce Avenue - Dare To Believe.
Beijo

Capítulo 30 - Capítulo 19 - Decisões


Fanfic / Fanfiction O Peso da Coroa - Capítulo 19 - Decisões

Uma semana. Sete dias de sofrimento. 168 horas sem Thomas. 10.080 minutos tentando evitá-lo por todos os cantos. 604.800 segundos tendo que aguentar Annyelle Travics desfilar de um lado para o outro pelo castelo.

No primeiro dia, quando deixei o quarto de Thomas, apenas chorei. Tranquei-me em meus aposentos o restante da tarde e me esvaziei da dor que sentia por ter aberto mão dele. No segundo dia, as lágrimas ainda caíam, mas eram menos, eu sabia que havia feito a coisa certa. No terceiro, ainda abatida, Katherine me colocou contra a parede me fazendo contar tudo. E quando digo tudo, foi tudo mesmo. Eu estava cansada de levar esse fardo sozinha, então desabafei.

Ela disse que já desconfiava por causa do episódio que eu a larguei. Falou que não era muito fã do Thomas, mas eu pedi para ela que só me confortasse, eu ainda gostava dele, não queria ouvi-la falando mal. Comemos muita torta de morango com chocolate durante este tempo.

Do quarto dia em diante, meus pensamentos foram ocupados por algo muito pior naquele momento. Todos estavam tensos. Já haviam se passado duas semanas sem notícias nenhuma de tio Osten. Se nada mudasse, a guerra seria inevitável. Muita coincidência, não? Primeiro meu pai, depois aquela confusão toda com o Sr. Pervati e, agora meu tio, que foi até lá, estava desaparecido.

Durante este tempo, o Conselho também continuou a me pressionar. O desaparecimento do meu tio alarmou-os ainda mais. Pediram que eu desse o meu parecer até o final da semana. Eu não sabia muito o que fazer. Por um lado eu os entendia, não podemos trabalhar nos “achismos”. Eu jamais imaginaria que meu pai seria assassinado e olha onde estamos. Agora que não teria mais Thomas para segurar minha decisão, talvez eu cedesse mais fácil.

Passados esses dias, estava voltando ao meu quarto com Katherine, após assaltarmos a geladeira novamente. Quando passava pela sala, me deparo com a pessoa que eu menos queria ver no momento.

- Ora, ora, a princesa saiu da masmorra? – disse Annyelle ao me ver. Ela levou a mão a barriga, esfregando na minha cara o motivo dela estar ali.

- Esquece essa garota, Aysha. – sussurrou Kath para mim. Rolei os olhos e continuei caminhando para ignorá-la.

- Isso, foge mesmo. Agora que você perdeu o Thomas para mim pode colocar o rabinho entre as pernas e sair mesmo. Cadê a toda poderosa Aysha Schreave que há uns dias atrás me expulsou daqui? – disse expelindo seu veneno.

Virei-me irada com a sua petulância. Meu sangue ferveu e se eu não soubesse que ela estava grávida, com certeza eu teria baixado toda a classe e voado naquele cabelo oxigenado dela.

- Qual o seu problema comigo, garota? – perguntei colocando minhas mãos na cintura, encarando-a. – Primeiro lugar, eu não perdi o Thomas para você.

- Como não? Que eu saiba vocês não estão juntos mais.  – falou cruzando os braços.

- E não estamos mesmo. Mas você nunca terá o Thomas de verdade, Annyelle. Sabe por que? A única coisa que segura ele a você é o bebê. Você pode ter ele ao seu lado, ele vai ser o pai do seu filho, mas tem algo que você nunca terá. O coração dele é meu e não tem nada que você faça ou fale, qualquer coisa será insuficiente porque isso aqui – disse apontando para o coração – me pertence para sempre.

Virei-me e continuei a andar, mas bem a tempo para ver seu rosto perplexo. Disse o que eu sentia e o que me dava força para continuar de pé. Saber que ele poderia estar com ela, mas não a amava, não ainda pelo menos. Seus olhos, sua mente e coração eram todos meus e isso me fazia respirar ainda aliviada.

Katherine me seguia apressadamente tentando me alcançar. Fechamos a porta do quarto rápido e encostei na parede fechando os olhos pesadamente.

- Ash, você está bem? – perguntou Katherine, preocupada.

Abri os olhos lentamente encontrando-a em minha frente com as mãos cruzadas, em expectativa com minha resposta.

- Acho que sim. – suspirei.

- Olha, eu sei que não gosta que eu fale isso, mas eu ainda acho que você deu atenção para o cara errado. Tá bom que ele é lindo, gostoso e tudo mais, mas ele é filho do Illéa, não é? Você sempre me falou das implicâncias do pai dele com sua mãe e agora você se envolve logo com o filho dele? Enquanto isso tem outro cara lindo de morrer atrás de você e você não dá nem chance. E agora está assim, para baixo.

Rolei os olhos para Kath. Se Thomas e Koddy fossem nomes de equipes adversárias, ela claramente torcia para o Team Koddy. E não era de hoje, desde o baile que ela tentava dar uma de cupido.

- Amiga, eu falo a verdade. Mas a vida é sua, tudo bem, você que sabe. – disse erguendo as mãos em sinal de rendição quando viu minha careta. – Olha só, senta aqui na cama. Vamos conversar como princesas adultas agora. – disse sentando-se e dando um tapinha para que eu sentasse ao seu lado.

Fiz o que me pediu, já imaginando que eu não ia gostar nada daquela conversa.

- Veja bem, não vai demorar muito e você terá que tomar uma decisão. O Conselho está de olho em você e eu creio que quanto mais você demorar, menos credibilidade terá. Eu sei que você nunca quis governar, nem nada disso, mas Aysha, ou você rói ou larga o osso.

- Não é isso, Kath. Eu não sou mais assim. As coisas que aconteceram me fizeram ter uma nova perspectiva. Passei alguns dias trabalhando e eu me senti importante, sabe? Como se de alguma forma estivesse em meu sangue fazer aquilo, por mais que eu não esteja 100% preparada. – falei e ela arregalou os olhos. Arqueei a sobrancelha sem entender a sua surpresa.

- Olha isso, Princess resolveu assumir a sua posição? – perguntou reprimindo um sorriso.

- Larga de ser boba, Kath. Eu falo sério. Eu quero ser uma boa rainha um dia, assim como a minha mãe. – falei pensando no quanto eu queria que tivesse orgulho de mim e no quanto eu me arrependia de não ter tomado um rumo antes.

- Então Ash... Mais um motivo para o que vou te dizer agora. Pessoas como nós não podem perder muito tempo para sonhar acordada. Você ainda teve muita sorte nessa vida, pois sua mãe te deixou livre para fazer o que bem entendia. Mas para a maioria de nós não é assim. Não fazemos o que queremos, nem mesmo casamos por amor. Não quer dizer que ele não possa vir com o tempo, mas pensamos primeiro no que é melhor para o reino. E, por isso, acho que você deve seguir a proposta do Conselho. É isso o que se espera de uma princesa. Você tem um reino e tanto aqui, queria eu ter isso tudo.

- E o que você acha que devo fazer, Kath? Aceitar casar-me com qualquer desconhecido para poder provar as pessoas que posso reinar? – retruquei irritada.

- Não qualquer um, você conhece o Koddy. – soltou.

- Eu não aguento mais isso. – coloquei as mãos em meu rosto, frustrada. – Não sei se consigo. – confessei.

- Se você não se acha apta suficiente para tomar esta decisão, talvez eles estejam certos e você não esteja pronta para reinar.

- Não é isso, Kath. Você não entende. – resmunguei.

- Entendo mais do que imagina. Eu aceitaria se fosse você. Olhe aquele cara, Princess... por Deus, como você pode dizer não?

Joguei-me na cama, chateada. Eu sabia o que ela queria dizer, mas era difícil para mim tomar essa decisão. Isso não significava que eu seria uma péssima rainha. Tomar decisões difíceis fazia parte, porém não se resumia só a isso.

Odiava a desconfiança das pessoas sobre mim. Eu poderia não estar acostumada, mas eu não era tão avoada assim. Eu tinha noção de política, eu estudava, era uma boa aluna na faculdade. Nunca nem tinha faltado aulas, essa temporada era a primeira vez por causa do que estava acontecendo no castelo.

Respirei fundo, eu precisava decidir o que fazer, por mais que aquilo fosse contra tudo o que acreditei para minha vida. Mas se era necessário para que provasse que eu era digna para assumir a coroa, assim o faria.

 

***

 

Com o coração na mão e os dedos gélidos, bati à porta na minha frente. Eu precisava conversar com ele. Mais cedo havíamos nos encontrado pelo corredor e ele disse que necessitava me falar algo importante. Não sabia se estaria preparada para aquele encontro, mas precisava ser forte.

Após algumas batidas, Koddy abriu a porta com um sorriso largo no rosto. Estendeu sua mão para mim, me conduzindo para dentro do seu aposento. Guiou-me até um pequeno sofá que ficava perto da janela, sentando-se ao meu lado, sem largar minha mão.

- Não esperava que viesse. – disse contido.

- Mas foi você mesmo que me chamou.

- Sim, eu sei. Mas achei que não atenderia o meu pedido. – respondeu cuidadosamente.

- E por que não? – perguntei intrigada.

- Porque sempre que eu tento me aproximar você se afasta de alguma forma. – falou com um semblante entristecido.

Senti-me mal por deixar tão claro a minha indisposição para ele, Koddy não merecia isso. Ele era bom para mim, educado e gentil, eu deveria ser melhor para ele também, ainda mais agora.

- Desculpe-me. – disse sincera. -  As coisas estão atribuladas para mim, Koddy. Tem sido difícil pensar em qualquer outro acontecimento, mas agora estou aqui. – abri um pequeno sorriso, vendo seus olhos brilharem em minha direção.

- Que bom! Acho que, então, posso dizer o motivo para ter lhe chamado aqui. – disse e assenti com a cabeça para que continuasse. – Quero lhe propor um acordo.

Olhei para ele intrigada, porém já imaginando o que poderia ser.

- Não é segredo para ninguém o meu interesse em você, Aysha – continuou a dizer.  – Eu sou louco por você desde o primeiro dia que te vi, linda, naquele baile. Você era a pessoa mais bela da noite e foi impossível desviar o meu olhar do seu. Fui hipnotizado, há algo em você que me atrai, eu não consigo me afastar. – começou a deslizar o polegar sobre o dorso da minha mão.

Abaixei a cabeça constrangida com suas palavras. Eu sabia que ele estava interessado, mas o jeito que ele falava parecia muito mais fundo do que eu achava.

- Não vou colocá-la contra a parede pedindo que se case comigo, Ash. Eu disse na reunião e volto a repetir, não quero isso de você. Não dessa forma. Se um dia você realmente quiser aceitar um pedido real de casamento meu, quero que seja de boa e livre vontade. Porém... – parou a frase e suspirou profundamente, tomando coragem para continuar.

- Porém? – repeti dando-lhe força para prosseguir.

- Então... Eu não vou cobrar de você nada disso, mas eu queria que me permitisse tentar. – soltou.

Franzi as sobrancelhas tentando entender aonde ele queria chegar com aquilo.

- Explique-se melhor.

- O Conselho está te pressionando, Ash. Eu sei que de uma forma ou de outra, no final, terá que casar com alguém. Eles estão ouriçados com tudo o que está acontecendo, não te darão mais tempo. Eu não te colocarei contra parede para que me escolha, mas você poderia me permitir tentar te conquistar. Eu sei que não tem sentimentos por mim, mas isso não quer dizer que não possa vir a tê-los.  Eu só peço que tente... Se no final de tudo você perceber que não tenho chances, que é impossível, tudo bem, mas eu queria o benefício da dúvida.

- Koddy... eu não sei. Confesso que para mim seria tentador a proposta, resolveriam os meus problemas, mas não quero que você sofra no final, iludido com algo que pode não dar certo.

- Aysha... como vai saber que não vai dar certo se não tentar?

Queria dizer a ele que meu coração, apesar de despedaçado, já estava preenchido. Meus olhos começaram a arder e eu pisquei algumas vezes para desviar qualquer resquício de lágrimas que quisesse sair.

Koddy percebeu meu desconforto e ergueu minha mão, levando até sua boca e depositou um beijo ali.

- Vamos Ash. Me dê essa chance. Eu te ajudo com o Conselho e você só precisa me dizer sim. Depois que passar toda essa bagunça, se você ainda assim não me quiser mais, eu vou entender – insistiu novamente com olhos esperançosos.

Tudo passou por minha mente como um filme. As lembranças de tudo que sabia sobre minha mãe, os sacrifícios que havia feito pelo povo, o casamento com meu pai por causa das pressões populares, tudo nebulou a minha cabeça. Recordei-me das pessoas que achavam que eu não me importava com nada e, de fato, antes era assim. A morte do meu pai. As confusões posteriores. Parte disso agora dependeria de mim e eu não podia jogar mais uma coisa nas costas da minha mãe. Era chegada a minha vez.

E por que eu estava tão reticente? Não era isso que eu estava indo fazer ali de qualquer forma? Eu já havia colocado na cabeça que escolher Koddy seria a melhor opção no momento, ainda mais após a conversa com Kat. Ele deixou tudo mais fácil, fazendo, o próprio, a proposta. Eu não poderia pestanejar.

Respirei fundo e fitei meu olhar no dele, que aguardava minha resposta.

- Tudo bem. Eu aceito.

Vi seu sorriso se alargar como se tivesse ganhado um prêmio Em um súbito percebi seu rosto se aproximar do meu rapidamente e, em um reflexo, espalmei minhas mãos eu seu peitoral.

- Vamos com calma, ok? – falei atordoada.

- Oh, sim, desculpe – respondeu constrangido se afastando novamente.

Koddy parecia muito feliz, enquanto eu, tentava disfarçar minha insegurança com alguns sorrisos tímidos. Combinamos de anunciar nosso relacionamento no jantar de mais tarde. Pegaria todos de surpresa, mas era melhor fazer isso logo de uma só vez. Igual curativo em machucado, arranque logo em uma só puxada e será uma dor só.

Após fechar com ele todos os detalhes, despedi-me com a desculpa que precisaria me arrumar e me preparar para mais tarde.

 

***

Era chegada a hora. Estávamos todos posicionados à mesa. Minha mãe na ponta, comigo ao seu lado. À esquerda estava Koddy, Katherine e o Sr. Calliagri. À minha frente, Marcus posiciona-se ali com Thomas em seu lado direito. Annyelle, sentindo-se parte de alguma coisa, achou-se na liberdade de sentar-se ao lado de Thomas. Por último, na outra ponta da mesa, o Sr. Kile Woodwork.

- Antes de começarmos a refeição, gostaria de fazer um comunicado a vocês. – minha mãe puxou a fala, atraindo a nossa atenção. – Sei que aqui não seria o melhor momento, mas não poderia esperar mais, tendo em vista que faz pouco tempo que chegou uma carta da Nova Ásia para nós.

Fitei-a com expectativa, ansiosa para saber algo sobre o paradeiro do meu tio Osten, ou alguma pista que nos levasse até ele.

- A Nova Ásia declarou guerra contra nós. – soltou ela fazendo-nos arregalar os olhos surpresos. Só ouvia-se as reações espantadas da mesa. – De nada adiantou a nossa cautela, eles mesmos deram o primeiro passo. O Sr. Pervati disse que se sentiu ultrajado com nossas desconfianças em relação ao meu irmão e, em suas palavras, “Se é guerra que queremos, então é ela que teremos”.

- Mas isso é um absurdo! – Exclamou o Sr. Calliagri.

- Isso só prova o quão culpados eles são. Ele acabou de se entregar. Achou no desaparecimento do Osten a desculpa perfeita para duelar conosco. – disse Sr. Marcus.

- Mãe, não podemos remediar isso? – perguntei.

- Não, agora devemos nos preparar para o pior. – respondeu-me tranquilamente, apesar de saber que ela estava preocupada. Minha mãe conseguia isso, soar normal mesmo nas piores situações.

Um silêncio agonizante pairou sobre nós. O temor do que poderia vir adiante assombrava a maioria dos olhos ali. Talvez não tanto os mais velhos, pois eles já estavam mais habituados a lidar com isso, mas eu, particularmente, estava apavorada.

Olhei para Koddy ao meu lado e ele pôs sua mão levemente sobre a minha assentindo com a cabeça para dizer que era a hora. Pude sentir o olhar confuso de Thomas sobre nós, mas não ergui a cabeça para fitá-lo. Acho que se eu olhasse para ele, perderia toda a coragem no momento.

Entrelacei nossos dedos, já dando uma prévia do que eu falaria e fiquei em pé, sendo acompanhada por ele.

- Gostaria de aproveitar a oportunidade também para fazer um anúncio. Koddy e eu decidimos oficializar nossa união. Percebi o quão importante é para o futuro do meu povo que eu me case com alguém – disse olhando agora para o Sr. Calliagri. – Por isso, resolvi selar um acordo com o príncipe da Noruécia, Koddy Neguesí.

Olhei de espreita para minha mãe que parecia chocada com a revelação. Os olhos de Thomas estavam arregalados e o vinco em sua testa era tão profundo, juntamente com sua expressão furiosa que parecia que saltaria da mesa no mesmo instante.

- Sendo assim, Majestade – Koddy tomou a palavra enfiando uma mão dentro do bolso – Gostaria de, em sua presença e na de todos aqui, pedir oficialmente a mão da princesa Aysha em casamento. – virou-se para mim e completou - Aysha, quer se casar comigo? – terminou tirando uma caixinha do bolso e abrindo-a em seguida. Um anel lindíssimo brilhava ali. Engoli em seco. Não esperava um pedido oficial, achei que podíamos falar do nosso acordo para que achassem realmente que estávamos engajados nisso, mas que entre nós dois, longe de tudo, as coisas iriam devagar. Mas aquele anel.... Passava longe da impessoalidade.

Dei um sorriso trêmulo, espero não ter feito uma careta ao invés disso, e ergui minha mão para ele. Com cuidado ele colocou o anel em meu dedo, sem deixar de fitar meus olhos, abaixou-se lentamente e depositou ali um beijo lento.

- Aysha... - minha mãe começou a dizer, mas a interrompi.

- Pedido aceito, Koddy. – forcei um sorriso, sem olhar para lado algum. Ele fechou nosso espaço dando um beijo carinhoso em minha testa.

Todos os olhares estavam sobre nós. Sr. Calliagri parecia satisfeito, assim como Kat que sorriu e piscou para mim. Sr. Kile continha uma sobrancelha um pouco arqueada, mas logo desviou o olhar e começou a comer. Minha mãe me analisava, séria, ela me colocaria contra parede para descobrir o que havia feito eu mudar minha decisão tão de repente, com certeza. Annyelle parecia bem satisfeita por não me ter em seu caminho, aproveitou para colocar uma mão sobre a de Thomas sobre a mesa, mas ele retirou imediatamente olhando-a com uma expressão fuziladora.

Ele voltou seu olhar para mim e, apesar de sério, seu semblante era triste. Tinha umas olheiras embaixo dos seus olhos e parecia cansado. Um misto de sentimentos me alvoroçou. Sentia um gelo em minha barriga com a visão dele para mim. Queria tanto estar com ele, abraçá-lo e fingir que estava tudo bem, mas a realidade não era essa. Eu havia tomado outro caminho e precisava seguir por ele.

O restante do jantar seguiu em silêncio. Ninguém ousava tocar em assunto nenhum. Era como se estivéssemos pisando em cacos de vidros.

Ao terminar, pedi para me retirar, eu precisava de ar. Fui até o jardim espairecer, o cheiro da grama estava no ar e a brisa da noite tocava o meu rosto. Fechei os olhos apreciando o toque da natureza até sentir alguém se postar ao meu lado.

Abri os olhos rapidamente e notei alguém inesperado ali. Ele parecia, assim como eu, frustrado. Seu rosto estava abatido e seus cabelos desgrenhados com ar de cansado.

- Noite difícil? – perguntou-me.

Dei de ombros, não queria falar sobre aquilo. Já estava sendo ruim o suficiente, e eu sabia que teria essa conversa com alguém, não precisava falar também com um desconhecido.

- Não me parece bem também. – constatei.

- É. Não é fácil estar aqui.

- Por que, Sr. Kile? O que torna tudo tão difícil? – perguntei.

Se me respondesse que ele e minha mãe não se acertavam por causa da memória do meu pai, ou do escândalo do povo, eu entenderia, mas parecia que sempre teria algo mais os impedindo.

Eu não fazia questão dos dois juntos, pelo contrário, após a morte do meu pai não seria algo fácil de lidar. Mas... depois que você prova do amor e sabe o quanto dói ter que deixá-lo... começamos ser mais maleáveis. Além disso, depois de tudo o que minha mãe passou... quem eu era para impor alguma coisa a ela?

- Você não entenderia, Aysha. Nem eu mesmo entendo. – falou fitando o luar.

Senti a tristeza em sua voz. Quase senti pena dele, mas um pequeno resquício meu ainda era reticente. Precisava ir me adaptando aos poucos.

- Eu queria ir embora, mas sua mãe me proibiu. Depois do ataque estou preso aqui... Como nos velhos tempos. – resmungou.

Acabei rindo, mesmo não sabendo ao certo o passado dele ali, mas o tom que usou me divertiu.

- Dona Eadlyn sabe ser bem mandona quando quer.

- Eu bem sei disso. – ele riu comigo, fitando-me de lado. – Mas se não fosse essa personalidade dela, jamais teríamos a grande Rainha que temos, não é?

- Sim. Mamãe é maravilhosa. – concordei com ele – Posso te perguntar algo Sr. Kile? Porém peço que não me interprete mal como da outra vez. – pedi relembrando o momento constrangedor que tivemos em nossa primeira conversa.

- Claro, princesa.

- Acho que já ficou claro, mesmo não respondendo antes, que você é solteiro. Caso contrário, já teria falado que queria voltar para a esposa e filhos. Minha pergunta é: Por que? Você é um homem bonito, não consigo imaginar o motivo de não ter se casado mesmo após todos esses anos.

Ele ficou quieto por uns segundos, parecendo ponderar a pergunta, mas logo virou seu rosto para mim e respondeu.

- Por que eu colocaria outra pessoa dentro de um coração já preenchido? – respondeu me fazendo refletir. – Não significa que não tentei. Mas a vida me ensinou que não vale a pena abafar o sol com a peneira. Os raios continuarão lá de qualquer forma. Não é justo com a outra pessoa, então, por fim, foi melhor ficar só.

- Compreendo. – respondi.

Refleti na minha relação com o Koddy. Eu não estava o enganando, ele sabia que eu não o amava, prometi tentar, o que não significaria que no fim ele teria a minha mão. Quando passasse toda essa confusão, se eu ainda achasse que não era o certo, eu o largaria.

- E você? Achei ter percebido seus olhos em outro lugar e não era no príncipe da Noruécia. Tem certeza que isso é o melhor a se fazer? – Kile perguntou.

- O melhor nem sempre é o final feliz. – respondi a ele.

Ele me encarou e vi seu semblante mudar para um olhar de pena. Não queria que sentisse isso. Eu seguiria os passos da minha mãe pelo povo e me tornaria uma rainha grande como ela.

- Não repita nossos erros, Aysha. A felicidade é sempre o melhor. Talvez você consiga as duas coisas. Não desista antes de ter certeza que tentou de tudo.

Assenti com a cabeça meditando em suas palavras. Não queria me explicar ou tentar dissuadi-lo com minhas decisões. Eu precisava fazer isso. Não haviam outras opções e, mesmo que eu não casasse com Koddy, ficar com Thomas estava fora de cogitação.

Ficamos mais algum tempo, calados, refletindo o luar. Depois, despedi-me, retirando-me para os meus aposentos.

Ao entrar no quarto senti uma mão tampar minha boca e um corpo pressionar-me na parede. A mão abafava o grito que havia dado com o susto, meu coração saltitava com medo, mas minha expressão logo passou a ser furiosa quando vi quem havia feito aquilo.

- Fique quieta! – exclamou ele retirando sua mão lentamente.

- O que está fazendo aqui, Thomas? – perguntei nervosa.

- Eu que quero saber. O que você pensa que está fazendo, Aysha? – retrucou nervoso me soltando completamente.

- Eu não te devo explicação mais. Nós terminamos, esqueceu?

Thomas bufou nervoso e passou a mão em seus cabelos como sempre fazia quando estava irritado, preocupado ou ansioso. Encarou-me e colocou seu braço direito apoiado na parede, ao lado da minha cabeça, encurralando-me.

- E o que a gente sente, heim? Terminou também? – assoprou contra mim com um olhar triste.

Não consegui responder. Se eu abrisse a boca seria fraca. Senti o marejar dos meus olhos.

Não posso chorar, seja forte.

- Eu sei que o que você sente. Eu vejo sua pele estremecer toda vez que me aproximo – falou deslizando seu dedo por minha bochecha. – Não adianta negar isso. Seu coração fica tão descompassado quanto o meu quando estamos perto um do outro – desceu seus dedos pelo meu pescoço, passando pelo colo, até repousar em cima da direção do meu coração, podendo sentir o tamborilar do mesmo. – Como você pode nos negar isso, Ash?

O rosto de Thomas se aproximou do meu, fazendo tocar os nossos narizes. Eu sentia a sua respiração sobre mim. Fechei os olhos, sem forças para lutar contra aquilo. Eu queria tanto que a gente pudesse dar certo. Levantei minha mão direita, toquei seu rosto e pude senti-lo suspirar. Comecei a deslizar meus dedos por toda sua face passando até tocar seus lábios. Como eu sentia falta daqueles lábios! Meu corpo ansiava pelo dele, eu queria saboreá-lo, sentia falta de tudo o que ele me proporcionava.

Não tardou muito e nossos lábios se uniram, juntos no mesmo instante. Não sei quem tomou o primeiro passo, talvez os dois, mas eu não estava preocupada com isso. Sentir o beijo de Thomas novamente era como ir às nuvens e esquecer tudo o que a gente tinha passado. Nossas bocas eclodiam-se em uma só sinfonia, eu sentia o frio, sentia o calor. Arrepiava-me por inteiro ao mesmo tempo em que não sentia nada. Não saberia nunca explicar o que ele me proporcionava.

Ao findar o beijo, ainda com os olhos fechados, arfando, Thomas me abraçou, apertado. Colocou seu rosto em meu pescoço, misturando-se aos fios do meu cabelo.

- Por favor, dê uma chance para nós dois. Podemos dar um jeito nisso. – pediu com a voz trêmula.

- Não posso. – falei engasgada, quase sem voz. – Eu estou dando uma chance ao seu filho. Ele merece uma família feliz, assim como eu tive um dia. – completei sentindo seus braços retesarem em meu corpo.

Mordi meu lábio inferior e fechei os olhos quando senti uma pequena umidade no meu pescoço.

- Eu nunca vou ser feliz sem você – ouvi sua voz embargada.

- Talvez seja, se você tentar... - respondi sentindo uma lágrima escorrer pelo meu rosto.

Criei coragem para erguer minhas mãos e empurrá-lo devagar pelos ombros, afastando-o de mim. Notei seus olhos brilhando, constatando que, realmente, ele havia derramado suas lágrimas em mim.

Ele olhou-me decepcionado. Ficamos nos encarando por um tempo, um magnetismo que não se desfazia.

- Você precisa sair – disse criando coragem.

Thomas suspirou com pesar, balançou a cabeça indignado e saiu do quarto batendo a porta com força. Foi o suficiente para que eu deixasse cair todas as lágrimas que eu havia segurado até ali.

Joguei-me em cima da cama, abraçando meu travesseiro. Dobrei meus joelhos, ficando encolhida enquanto lamentava o meu destino.

Remexi um pouco sobre a cama até sentir algo estranho por debaixo da minha cabeça. Levantei-me enxugando meu rosto e virei-me para encontrar o que era aquilo debaixo de mim. Assustei-me ao ver ali um pequeno pedaço de papel e meu coração descompassou ao notar as palavras tarjadas ali.

“Tic-Tic-Tac. O tempo está correndo e acabando. Sua mãe é um desapontamento, e não confio em você para rainha do país. Tic-Tic-Tac, logo saberá meus próximos passos.”


Notas Finais


É gente... as coisas vão se apertando e o fim está próximo. Mas aguentem que muita água vai rolar.

Eu tenho um grupo no whatsapp para falar das minhas histórias. Eu prometi lá que quando fizesse 8k no wattpad eu postaria uma cena extra no facebook e nós estamos bem perto de bater essa marca. Portanto se você ainda não está no grupo entre e não perca isso. O link segue abaixo.

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Estamos agora com um grupo no Whatsapp. Lá as meninas recebem spoilers extras, discutem teorias, sabem de novidades, etc. Então, caso alguem queira participar, é so deixar o numero que eu adiciono.


VERDADE OU MENTIRA
Para quem não viu ainda, tem um video que eu respondo algumas perguntas da história, está ai embaixo o link.
Comentem no final as suposições de voces. Quais sao as suas teorias?

https://vimeo.com/160842956


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Para quem não sabe ainda, estou com uma história nova TRONO DE SANGUE.
https://socialspirit.com.br/fanfics/historia/fanfiction-originais-trono-de-sangue-5252142

Quem quiser participar do grupo do facebook e receber notícias e spoilers acessem:
https://www.facebook.com/groups/1004676362936847/

Ps.: Voce leitor que gosta da história e que acompanha até aqui, não esqueça de colocar a história nos favoritos pois aí sempre que tiver uma atualização você vai receber a notificação e eu vou poder saber que voce acompanha tambem. <3
A participação de voces é sempre especial e os comentários sempre me inspiram a escrever mais!


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