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História O Peso da Coroa - Capítulo 22 - Resoluções


Escrita por: LyraRocha

Capítulo 34 - Capítulo 22 - Resoluções


Olhei assustada para aquela informação. As coisas estavam cada vez piores. Estremeci só de pensar em tudo o que poderia acontecer. Mal saímos do quarto e várias vozes estavam dando sugestões do que fazer.

― Majestade, você precisa enviar as tropas para reforçar o exército. Não demorará muito tempo, dentro de um dia eles devem chegar ao castelo. - Marcus disse apressadamente.

― O caminho mais rápido para que o esquadrão chegue a tempo seria pela cidade, mas eu não vou expor o povo a isso. Seria um derramamento de sangue inocente sem fim. – minha mãe afirmou.

― O outro caminho seria apenas pela floresta, mas deve demorar uns dois dias até alcançá-los. - o Sr. Calliagri observou.

Dei uma breve olhada para trás, podendo avistar Kile sentado na cama enquanto nos afastávamos do quarto, sua cabeça estava abaixada entre as pernas e as mãos entre seus cabelos.

Não dava tempo para preocupar com isso agora, teríamos outros problemas para resolver.

― Se eles passarem pela cidade não adianta de nada, eles devastarão tudo o que estiver pela frente. - O Sr. Illéa retrucou.

― Acho que nem ele seria tão baixo assim. - disse minha mãe.

― É uma faca de dois gumes, Majestade. Podemos ir pela cidade, alcançá-los e interceptá-los ali mesmo antes que chegue ao centro ou passamos pela floresta evitando as pessoas, mas se eles já estiverem vindo por dentro, não os alcançaremos e eles chegarão aqui de qualquer maneira. - dessa vez foi o Sr. Calliagri que falou.

Estávamos todos preocupados. Se a Nova Ásia passasse pela cidade muitos morreriam. Se enviássemos os soldados por lá, a batalha aconteceria em pleno seio da população. Mas também não poderíamos trabalhar com "achismos" e crer que eles seriam bonzinhos ao ponto de passar pela floresta.

Fazer o caminho até eles seria lento, pois um exército demanda armamentos, levantar acampamento entre todas outras coisas. Porém poderíamos usar isso a nosso favor.

Fomos para a sala de reunião e acompanhei o traçar de mais algumas estratégias. Um outro soldado chegou anunciando que após desembarcarem, o rei encaminhou o seu exército para a área leste, fazendo-nos suspirar aliviados. Era um sinal que eles passariam pela floresta. Talvez o rei da Nova Ásia tivesse uma ponta de bondade em seu coração, mesmo querendo tomar o nosso reino.

Teríamos mais tempo para pensar e planejar, mas mesmo assim, não tardou e já havíamos enviado um batalhão para poder interceptá-los pelo caminho. Pelas nossas contas alcançaríamos eles ainda dentro da floresta.

No fim do dia estávamos todos exaustos. Minha mãe dispensou o Sr. Calliagri e Sr. Marcus e caminhou até os seus aposentos. Havia sido um dia extremamente turbulento. Uma montanha russa de emoções. Eu via o seu semblante cansado. Optei por deixá-la descansar por hora e não a perturbar com nenhuma conversa. Talvez uma boa noite de sono renovasse a energia de todos.

Eu me sentia da mesma forma. Cansada demais e sugada ao extremo. Passei minha mão entre meus cabelos em um gesto nervoso e minhas unhas já estavam descascadas pela minha irritação. Ao chegar no meu quarto, Katherine estava à minha espera. Abriu os braços e sorriu em forma de conforto.

― Vem aqui, eu sei que você precisa disso. - disse ela me chamando.

Rolei os olhos, em tom de brincadeira, mas cheguei-me até ela e a abracei. Ela acarinhou meus cabelos enquanto eu me aconchegava. Não havíamos conversado após as novidades e era bom ter ela ali comigo.

― Fiquei sabendo do ocorrido hoje. Eu sinto muito, Ash. - disse com pesar.

― Vai dar tudo certo. - tentei ser otimista.

― Eu sei que vai. Eu não tive a oportunidade de falar com você, mas queria parabenizá-la pela sua atitude. Escolher Koddy foi o correto. O Conselho ficou bem satisfeito e creio que ele também. - falou fazendo uma cara maliciosa para mim.

― Para, Kath. - respondi dando-lhe um leve empurrão. - Se eu fosse ele não teria tanta esperança assim. É mais uma conveniência. Uma mão lava a outra. Se bem que esse compromisso é melhor para mim do que para ele.

― Por quê? - indagou-me confusa.

― Porque eu tenho um Conselho que está abrandado com essa decisão e ele não tem nada...

― Como não? Ele tem você. - respondeu imediatamente.

― Não exatamente. Eu disse para ele que daria uma chance para que ele pudesse me conquistar, mas sinceramente... no meio de toda essa confusão, acho improvável que isso aconteça.

― Ash...- começou dizer, mas eu a interrompi.

― Kath, é mais do que claro que eu não sou afim dele e nem serei tão cedo. Não tenho tempo para cortejos, estou no meio de um furacão de acontecimentos e a única pessoa que conseguiu me tirar disso agora está com outra. Bom... não exatamente está com ela, mas enfim... Nossa chance foi para o ralo. É bem óbvio que este pseudo-relacionamento está fadado ao fracasso antes mesmo de começar. - fiz a constatação que tanto me assolava. - Após tudo isso passar será a primeira coisa que irei fazer... romper.

― Não, Aysha. Meu Deus, não! Como você pode ser assim? Só pensa em você mesma. - disse irritada comigo. Arregalei os olhos, surpresa com sua reação.

― Como?

― Você acha mesmo que, ainda que passe a confusão, o Conselho irá querer que fique solteira? - disse respirando fundo e controlando seu tom de voz. - Às vezes eu fico tão irritada com você, Ash. Eu tento te entender, juro que tento. Desde pequena sempre foi assim. Do seu próprio jeito. Parece que não entende as necessidades do reino como um todo. Você nem deu uma chance de verdade para o cara e já está falando que vai terminar. Isso sem falar dos sentimentos dele que você irá esmagar...

― Que sentimentos, Katherine? - coloquei as mãos na cintura, nervosa. - Eu nem sei o que ele sente de verdade. Não é como se ele fosse um bobo apaixonado por mim. Ele mal me conhece.

― Mas já te conheceu o suficiente para querer se casar com você. Não é muita coisa?

― O que está acontecendo? - perguntei estranhando suas falas sobre amor. Kath sempre foi tão livre e desimpedida...

Vi seus olhos brilharem para mim e ela abaixou a cabeça levemente.

― Meus pais querem que eu me case. – balbuciou, baixo.

― Oh Kat... – disse com pesar - Quem?

― Um velho gordo. Você tem noção disso? Logo eu? Desculpe não contar antes, eu não queria te encher com meus problemas sendo que você já está com vários deles. Eu não tenho escolha, na verdade, nós da realeza não temos escolhas, Aysha. Fazemos o que é bom para o reino. Meu país está passando por alguns conflitos internos e vou me casar com o líder da oposição para abrandar o furor dos rebeldes. Você não vê como tem sorte? Tem um cara lindo, gentil e gostoso querendo casar com você. Um príncipe de fato. Ele pode não estar apaixonado, mas ele te quer, já é o suficiente e muito mais do que eu vou ter um dia. - completou, triste.

― Não deveria ser assim, Kath. Nossas vidas não deveriam ser controladas dessa forma.

― Não. Mas você abriria mão de tudo sabendo das implicações que isso poderia trazer? - perguntou olhando dentro dos meus olhos.

Pensei um pouco. Lembrei de tudo o que poderia acontecer, as confusões, ataques, revoltas...

― Não, não faria isso. Mas também acharia uma forma de equilíbrio. Eu serei a rainha e não o conselho. Eles não podem achar que podem mandar em todos os meus passos. Eu não serei irresponsável, se é isso que te preocupa, mas também não serei cega e irei por um caminho que não sei aonde vai dar. Já tive exemplos diante dos meus olhos suficientes para saber que isso também não basta.

― Entendo...- murmurou. - Só peço que tenha cuidado e, antes de qualquer decisão, tente. Você não pode saber se o caminho dará errado se não for até lá, não é verdade?

― Sim. Fique tranquila! Eu vou dar tempo e abertura ao Koddy suficiente para ver se é essa decisão que vou tomar até o final. - assenti para ela.

― Fico feliz por isso. - levantou e beijou minha testa. - Vou deixá-la descansar. Boa noite Princess.

― Boa noite Kath.

***

No outro dia, após o café, passei pela sala e pude ver Thomas sentado no sofá ao lado de Annyelle. Sua expressão era fechada, como sempre quando eu via os dois juntos. Ela gesticulava e virava para ele enquanto conversava, tentando atrair a sua atenção, mas ele parecia cada vez mais impaciente. Fiquei os observando por um tempo como uma maldita masoquista. Doía vê-lo, passar por ele todos os dias e não poder tê-lo. Eu só não sentia mais porque eu percebia que ele sofria, assim como eu. Não sei como em algum momento eu pude duvidar da sua fidelidade a mim sendo que, mesmo separados, ele continuava a não dar abertura para Annyelle. Eu precisava seguir em frente e ele também. Essa tortura não faria bem a nenhum de nós dois.

Em certo momento, vi a loira pegar a mão dele e puxar em direção a sua barriga. Prendi a respiração naquele instante, mas soltei o ar ao observar a repulsa no olhar de Thomas. Ele puxou sua mão, irritado, antes mesmo de tocá-la. Fechou ainda mais a sua expressão, levantou do sofá nervoso e partiu em direção a saída.

Era estranho a sensação que isso me trazia. Eu me via satisfeita com aquilo, mas, ao mesmo tempo, ficava revoltada com sua atitude. Ele não poderia fazer isso com o seu filho. Tudo bem ele detestar a Annyelle, mas a criança não teria culpa de nada.

Com esse pensamento, andei em disparada até alcançá-lo. Cheguei lá fora e vi ele de costas, uma mão na testa e outro na cintura. Só pelos seus gestos eu via o quanto ele estava nervoso. Dei um leve puxão em seu braço, fazendo-o olhar para mim. Sua expressão era de surpresa, arqueou a sobrancelha, mas logo sua feição suavizou e uma leve inclinação em sua boca se fez ao me olhar.

― Aysha...

― Isso não pode continuar assim! - ralhei para ele, interrompendo qualquer pensamento positivo que ele tivesse sobre aquele encontro.

Ele franziu o cenho um pouco, sem entender, mas depois deu um passo em frente, chegando mais perto de mim e tocou a minha bochecha.

― Achei que você nunca diria isso... - respondeu passando seu dedo levemente pela maçã do meu rosto. O calafrio que senti com seu toque me fez perder os meus sentidos, não consegui nem pensar na frase que havia dito. - Essa distância foi você mesma que colocou entre a gente, Aysha. Fico feliz que realmente tenha entendido que não podemos mais ficar separados. - terminou de dizer e abriu um sorriso esperançoso para mim.

Balancei a cabeça em negativa ao que havia dito. Espalmei minhas mãos em seu tórax, afastando-o de mim.

― Você está entendendo errado, não é isso que estou dizendo. - tentei soar firme, mesmo vacilando em minhas palavras. Ele estava ali, bem em minha frente, cheio de esperança e, mais uma vez, eu o enxotava.

Seu sorriso murchou no mesmo instante, seu maxilar se contraiu e ele cruzou os braços em um sinal de auto proteção.

― Do que está falando então?

― Sobre Annyelle. Você não pode continuar negando o seu papel de pai. Eu vi a cena na sala, Thomas. - esclareci para ele.

Ele bufou raivoso e soltou os seus braços erguendo até a cabeça, dando leve puxões em seus cabelos.

― Quantas vezes eu preciso te dizer que não acredito nela para que você possa me dar uma chance de novo?

― Thomas... Você sabe que não podemos.

― Por quê? Me diz! Se amanhã ela confessa que tudo isso não passou de uma farsa o que você irá fazer? Vai me dizer que não podemos também? Eu só queria que você esperasse, Aysha. Vamos descobrir se aquela garota está mentindo ou não, é só isso que precisamos saber. - pediu para mim, deu um passo para mais perto, pegou minhas duas mãos e uniu-as com as dele em um gesto de súplica.

― O reino não pode esperar, Thomas. Eu tenho responsabilidades para assumir, não posso fugir delas. - respondi olhando no fundo dos seus olhos.

Eu não podia esperar 9 meses para saber se aquilo era verdade ou não. O caos estava instalado agora. A Nova Ásia não iria esperar, muito menos o Conselho ou o povo. Eu deveria agir pensando no hoje e não no amanhã.

― E sua responsabilidade será com aquele príncipe engomado e perfeitinho? Você não sabe aonde está se enfiando, Aysha.

Senti uma pequena raiva se alastrar em mim. Eu já tinha pressão o suficiente e sabia o que tinha que fazer, não queria o ciúme dele ainda me colocando dúvidas.

― E você sabe? - cruzei os braços e arqueei as sobrancelhas.

― O suficiente para afirmar que seu lugar é comigo e não com ele.

Respirei fundo. Era difícil. Estávamos terminados, mas os laços do nosso coração ainda eram intensos. Parecia que estávamos ligados por várias teias. Eu tentava cortá-las, mas sempre tinha outra que nos atrelava. E ali estava eu, diante dele, querendo só continuar enlaçada, mas precisava romper mais uma de novo, até que estivéssemos desligados de vez.

― Você precisa seguir em frente... Você vai aprender viver sem mim - falei meio vacilante.

Os ombros de Thomas caíram derrotado. Ele sabia que seria uma batalha perdida.

― Eu consigo viver sem você, Aysha, será uma vida de merda, mas eu posso sobreviver, o problema é... eu não quero viver sem você. Há uma grande diferença nisso. - aproximou-se mais, beijou minha bochecha e saiu.

***

Resolvi me enfiar nos assuntos reais para poder ocupar a minha cabeça. Ela já estava doendo de tantas coisas para se resolver. Fui até o escritório da minha mãe e encontrei apenas o Sr. Evan Calliagri, Chefe da Guarda, juntamente com a Ministra de Segurança. Ambos estavam com um mapa sobre a mesa e discutiam sobre alguns métodos que eu não entendia. Optei ficar ali e tentar ajudar de alguma forma. Sem perceber, havíamos passados horas discutindo estratégias e o que poderíamos fazer para amenizar o ataque.

― E esse ponto aqui, Sr. Calliagri? - perguntei apontando para uma região do mapa que mostrava a mata menos densa.

― Se tudo der certo conseguimos encontrá-los aqui. Eles estão mais avançados que nós, pois fomos pegos repentinamente. Além disso, até conseguirmos juntar as tropas e prepará-las para encontrá-los gastamos um tempo precioso. Pelo nosso cálculo esse é o melhor local para o combate. - respondeu me explicando.

― E tem mais, princesa, nosso caminho é lento devido aos canhões e catapultas. - a ministra completou.

― Mas esse local ainda é muito próximo ao castelo, em pouco tempo eles chegariam aqui, não? - indaguei.

― Está certa, Alteza. Porém é o campo mais aberto que temos e quando chegarem estaremos preparados.

Fiquei pensativa ponderando se realmente era um bom plano. Apesar da proximidade, tínhamos mais chance de ganhar ali, mas se perdermos também, logo o castelo seria tomado.

Ficamos por mais algum tempo discutindo alguns pormenores quando Lily entrou afoita na sala.

― Princesa Aysha, estava a sua procura em todo castelo! - exclamou ofegante.

― O que foi, Lily? - levantei-me e a indaguei preocupada.

Ela engoliu em seco e vi uma certa hesitação em começar a dizer, respirou fundo e, após alguns segundos, finalmente tomou coragem.

― Princesa, a sua mãe está no hospital!

― O quê? – exclamei, mas ouvi as vozes das outras pessoas na sala perguntarem a mesma coisa.

― O Sr. Woodwork achou-a desacordada e ferida no chão do quarto da rainha.

Apressei os meus passos e fui correndo até a ala hospitalar, precisava vê-la, precisava saber que estava bem. Minhas pernas vacilavam a cada passo, eu tinha medo do que ia encontrar. A imagem da morte do meu pai veio como um raio em minha cabeça, eu não poderia perder mais ninguém.

Ao chegar lá comecei chamar qualquer pessoa que pudesse me indicar onde ela estava, logo uma enfermeira me encaminhou a ala de urgência, ela estava em cirurgia. Quando me aproximava, vi Kile sentado em uma cadeira, desolado. Os olhos irritantemente vermelhos, os cabelos desgrenhados e parte da sua roupa suja de sangue. Seu rosto estava manchado pelas lágrimas, ele passava o dorso da mão tentando enxugá-las, inutilmente.

Parei em frente a ele sem conseguir perguntar o que tinha acontecido, meus olhos encheram-se de água e, inesperadamente, ele levantou-se e me abraçou. Chorei silenciosamente em seu ombro sem nem mesmo saber o que houve. Quando me acalmei, afastei-me um pouco e pude perceber que ele também chorava comigo.

― O que aconteceu com ela? - perguntei com uma voz trêmula, tentando enxugar as lágrimas.

― Eu fui procurá-la em seu quarto para a gente conversar... Quando cheguei... - ele fez uma pausa e pigarreou tentando controlar a sua voz e emoção. - Quando cheguei ela estava caída, desmaiada e ferida. Ela estava respirando, então peguei ela em meus braços e trouxe direto para cá.

― Ela está muito mal? - perguntei com medo.

― Ainda não sabemos. - respondeu fungando. - Os médicos a levaram direto para cirurgia, parece que perdeu muito sangue.

Assenti com a cabeça e sentei-me na cadeira a espera de alguma notícia por parte dos médicos. Meu coração batia acelerado, com medo, eu orava para que tudo ficasse bem com ela.

Não demorou muito, o Dr. Mitrick chegou trazendo notícias. Kile e eu levantamos ao mesmo tempo, assustados e cheios de expectativas. Cruzei meus dedos na direção do meu peito e mordi os lábios ansiosa.

― Podem ficar tranquilos, a rainha está fora de perigo. - foi notório o som do alívio saindo por nossas bocas - Mas nem tudo é bom. - o doutor completou, para nossa frustração.

― O que quer dizer, doutor?

― Fizemos uma cirurgia para estancar o sangramento, mas o pior não foi isso. Ela sofreu uma pancada na cabeça que resultou em um inchaço leve. Ela está desacordada ainda, só poderemos saber mais detalhes quando ela acordar. Mas por ser pequeno o inchaço, as nossas expectativas são positivas.

― Que bom doutor, muito obrigado. - Kile estendeu sua mão para o médico.

― Não tem o que agradecer. Quando tiver mais informações eu os aviso. Qual de vocês ficará com ela no quarto?

Kile e eu no entreolhamos, eu gostaria de ficar, mas vi a súplica nos olhos dele quando me fitou, ele não queria me pedir algo do tipo, porém era notório que ele queria estar ali com ela. Não tive como negar e eu sei que minha mãe ficaria feliz de vê-lo ali quando acordasse. Além disso, com ela no hospital, eu deveria cuidar das coisas por aqui.

― Se você quiser pode ficar. - tentei facilitar sua vida. - Eu vou ter muita coisa para resolver devido a nossa situação. Eu vou vê-la agora e você pode dormir aí essa noite. Tudo bem? - perguntei como se não soubesse que era essa sua intenção.

― Claro. Muito obrigado, princesa. - respondeu abrindo um pequeno sorriso.

Assim que liberado, entrei no quarto e pude ver a minha mãe. Ela estava com a pele mais pálida e com uns tubos e conectores que iam até algumas máquinas que eu não conhecia bem. Sentei ao seu lado, peguei a sua mão e fiz pequenos movimentos em círculos ali.

― Eu preciso de você, mãe. - comecei dizendo e passei a mão por seus cabelos. - Eu ainda não estou pronta para cuidar do reino sozinha, tenho tanto a aprender... Você precisa ficar boa logo. Eu não posso perder você também. - enxuguei uma lágrima que escorria. - Eu sei que tivemos nossas desavenças e que não pôde contar muito comigo, mas eu prometo que vou fazer de tudo para te ajudar, mãe. Você não precisa levar os fardos sozinha... não mais. Acorde logo, creio que terá uma surpresa quando abrir seus olhos. - dei um leve sorriso, beijei sua testa e me retirei.

Caminhei pensativa até a saída, esbarrando em Kile, que parecia ansioso para poder entrar logo.

― Ela é toda sua agora. - dei um pequeno sorriso para ele.

Kile balançou a cabeça e começou a andar em direção do corredor que levava até o quarto. Antes que ele sumisse, chamei-o para dar meu último recado.

― Kile!

― Sim? - olhou para trás me fitando.

― Cuida bem dela!

― Pode confiar em mim. - respondeu firme e com um olhar amigável. Em seguida virou-se novamente e voltou a caminhar, até sumir pelos corredores hospitalares.

***

Entrei no quarto da minha mãe como forma de conforto. Não sabia muito bem se estar ali melhoria ou pioraria o meu interior, só senti que era o lugar certo para mim naquele momento. Só quando sentei em sua cama que eu consegui associar os últimos fatos. Com ela desacordada, eu deveria tomar todas as decisões, o reino estava em minhas mãos. Para piorar a história, tinha um grande exército da Nova Ásia vindo em direção ao castelo e um psicopata a solto na minha casa. Quando isso ia acabar?

Será que eu seria capaz de dar conta de tudo isso?

Se eu ao menos tivesse Thomas ao meu lado... Não, ele está fora de cogitação agora. Não posso pedir isso a ele, de qualquer forma, ele confundiria as coisas.

O problema é que eu não sabia mais em quem confiar. Isso não era obra da Nova Ásia, pelo menos não o que vinha acontecendo dentro do castelo, a não ser que eles tenham espiões aqui dentro, aí tudo se explicaria. Caso contrário, alguém aqui está tramando há muito tempo e eu preciso descobrir isso antes que a próxima vítima seja fatal.

Eu precisava de ajuda, tanto quanto precisava de uma distração. Minha cabeça estava a mil e parecia que eu iria explodir a qualquer momento.

― Posso entrar? - ouvi uma voz perguntar, abrindo uma fresta na porta do quarto. Olhei em sua direção e vi que era Koddy.

― Claro - permiti.

Ele caminhou até mim e parou em minha frente, com cuidado sentou-se ao meu lado e segurou a minha mão.

― Fiquei sabendo o que aconteceu, eu lamento muito, Aysha.

― Não se preocupe. O médico disse que ela está bem, logo vai se recuperar. - tentei parecer firme e positiva.

― Mesmo assim, imagino como deve estar sendo difícil esse acontecimento, ainda mais em meio a esse caos. - reforçou alisando a minha mão. - Creio que as coisas vão recair para você e quero que saiba que eu estou aqui, afinal... estamos noivos, né!?

― Sim... - murmurei, ainda não me acostumando com isso, era bem surreal para mim.

― Aysha. - falou baixinho chamando minha atenção, com a ponta do dedo tocou o meu rosto me obrigando a fitar os seus olhos. - Eu falo sério quando eu digo que estou aqui ao seu lado. Você vai precisar de alguém agora e eu quero ser esse alguém para você. Ou melhor... eu quero deixar de ser um alguém qualquer para ser o único em seus pensamentos.

Dito isso, inclinou-se em direção do meu rosto, entreabrindo seus lábios e rapidamente minha boca foi tomada pela dele. Pensei em empurrá-lo e negá-lo, mas logo lembrei que eu havia prometido que tentaria com ele e tinha dito a Kath que eu o daria uma chance de verdade. Fechei os meus olhos e tentei ser levada por aquele beijo, mas era frio. Não que o beijo em si fosse ruim, não era, Koddy beijava bem, eu sentia os seus lábios nos meus, mas não era a mesma coisa. Faltava o calor e a paixão. Era apenas algo mecânico e vazio.

Suas mãos se ergueram para me tocar e aprofundar aquele beijo, mas eu não podia deixar isso acontecer. Pelo menos não agora. Aquilo parecia tão errado. Beijar Koddy Neguesí só me deu mais certeza que ele nunca alcançaria o meu coração. Nem uma faísca sequer surgiu. Poderia ser porque meu coração já estava ocupado ou devido as preocupações que eu tinha em mente, mas, definitivamente, uma coisa era certa, Koddy e eu nunca formaríamos um "nós".

Afastei-me com delicadeza, tentando não parecer rude, soltei minha mão da dele e abaixei os olhos.

― Desculpe. - murmurei.

― Não precisa se desculpar, você me prometeu tentar e está fazendo isso. Aos poucos a gente vai se entender... - abriu um sorriso como se eu nem o tivesse o recusado.

Não quis dizer nada, não seria fria o bastante para dizer o que pensava sobre a gente, na verdade, nem poderia. Até passar essa bagunça eu teria que ficar com Koddy, mesmo já tendo certeza que essa história teria um ponto final.

Ele levantou um pouco desajeitado e foi em direção a penteadeira da minha mãe, que ficava em frente a cama que estávamos sentados. Ele parou para olhar um porta-retrato que estava lá em cima, pegou-o e levou até a altura dos seus olhos.

― Vocês formavam uma bela família. - constatou.

― Sim. - levantei-me também, andei até ele e estendi a mão para que me desse a foto para que eu pudesse observá-la. Ele me entregou e pude notar que era uma que estavam meus pais e eu. Meu pai estava sorridente com o braço enlaçando a cintura da minha mãe, ele fazia cócegas nela e ela estava com uma leve careta devido as gargalhadas. Eu estava sentada ao lado deles com um sorriso contido. A foto era meio espontânea, mas era a preferida do meu pai por causa das risadas que ele conseguiu tirar dela nesse dia.

Virei o porta-retrato para tirar a foto da moldura e olhá-la melhor e notei que havia um pedaço de papel preso atrás dela. Retirei com cuidado, ele estava bem dobrado e com um selo que impedia que o papel se abrisse. Analisei cautelosamente aquilo, temendo ser mais um bilhete ameaçador, mas meus olhos lacrimejaram quando reconheci uma letra que dizia: Para minha amada Eadlyn, minha querida filha Aysha e meu eterno amigo Kile. Era a grafia do meu pai.

― Aysha, o que você tem? - Koddy perguntou para mim ao notar que fiquei em silêncio por algum tempo e que meus olhos lacrimejavam.

― Koddy... Você poderia me deixar sozinha um pouco? Eu... eu preciso de um tempo para colocar minha cabeça no lugar. - pedi sem dizer o real motivo. Queria ter espaço para ler aquela carta.

Assim que ele saiu, comecei abrir com cuidado o selo e pude constatar que realmente era uma carta do meu pai. Franzi as sobrancelhas sem entender muito bem e, então, comecei a ler.

Olá,

Achei por bem iniciar essa carta dizendo que não estou louco, ela é sim para essas três pessoas que eu escrevi do lado de fora. Espero que quando terminarem de ler possam me entender e me perdoar. Se estão lendo este conteúdo é porque eu estou bem longe ou posso não estar mais aqui em vida. Só espero que tenham achado a carta a tempo de poder compreender o motivo por trás de tudo isso.

Primeiramente queria me explicar para a minha querida Eadlyn.

Amor,

Não fique brava comigo por não estar mais aí, eu precisei partir. O seu coração não é meu, eu sempre soube disso, mesmo quando nos casamos. Tentamos dar certo mediante as circunstâncias da época e você, como a pessoa justa que é, fez de tudo para me fazer feliz, assim como eu tentei fazer o mesmo por você. Eu agradeço por isso. Fico feliz por ter lhe ajudado nas suas feridas, por ter trazido um sorriso quando você chorava e, mais ainda, por ter me dado uma filha no qual amei com todas as minhas forças.

Tudo na vida tem uma hora de iniciar e de acabar. É o ciclo. Olha para fora, veja o jardim... A semente jogada na terra, brota e nasce. Forma uma planta que no devido tempo dá o seu fruto. Ao final dos dias, ela murcha e morre. Isso acontece porque tudo tem um tempo determinado na vida e o nosso tempo acabou.

Eu sei que você, ao ler, vai ficar muito brava comigo, mas eu também sei que vai me entender, porque nós sempre nos compreendemos.

Você sabe, tanto quanto eu, que eu já não era suficiente para fazer por você o que precisava. Chegou a hora de ir embora.

Eu não sei em qual circunstância vocês estão lendo essa carta, se estou vivo, estou bem longe daqui. Posso estar morto também devido as ameaças que recebi... seja qual for a opção, não se entristeça. Eu fui feliz com você. Não duvide disso. Mas agora não podemos mais. Quando a corda está preste a se romper não adianta mais forçar, se não tudo pode desabar. Fico contente de ter tomado essa decisão enquanto estávamos bem e enquanto o amor reinava em nossos corações.

Foi por isso que agi dessa maneira. Ninguém sabe, mas eu que chamei Kile para o castelo. Eu coloquei o convite dele em meio aos outros que a Aysha iria enviar.

Não se aborreça. Foi para o seu próprio bem.

Ele é a pessoa certa para você daqui em diante.

Ele sempre esteve no seu coração, você nunca deixou de amá-lo e tenho fé que no coração dele ainda há o mesmo sentimento de tempos atrás.

Não ache que é fácil para mim dizer ou fazer essas coisas, Eadlyn. Mas eu seria hipócrita se prendesse você a mim quando sei que não posso mais te fazer feliz e eu daria tudo para ver um sorriso genuíno nos seus olhos novamente. Sinto falta da garota livre e destemida que não carrega um fardo nas costas e que não foi engolida pelas aflições da vida.

Agora é a sua chance, sorria para a vida, Eadlyn. Não deixe as circunstâncias vedarem os seus olhos, escolha ser feliz, você mais do que ninguém merece essa segunda chance. Eu sempre vou te amar e é por esse amor que eu te deixo livre daqui em diante e dou minha bênção para vocês.

Aysha...

Minha pequena garotinha. Você sempre será uma menininha aos meus olhos. Minha maior dor será te deixar, mas não quero que isso seja uma despedida. Eu não estarei longe, só não vou estar mais no castelo. Você poderá sempre me ver, minha pequena. E mesmo que o pior aconteça, eu sempre estarei zelando por você. Nossos corações estarão eternamente unidos e cada vez que você fechar os olhos poderá sentir o meu calor com você.

Você agora é uma mulher e logo terá que tomar decisões importantes na vida. Nesses momentos espero que lembre de cada conselho que eu te dei. Nos nossos caminhos há diversos obstáculos, às vezes conseguimos pulá-los e outras vezes tropeçamos. Não deixe que nenhum deles a impeça de chegar ao destino final. As feridas fazem parte da nossa jornada, mas sempre há o tempo da cura. Nunca se esqueça de erguer a cabeça e ser forte, você é uma campeã, você pode tudo, basta querer. Eu te amo.

Kile...

Talvez você esteja surpreso com tudo isso, mas se Eadlyn já explicou o passado e agora está lendo isto aqui, você deve estar entendendo.

Peço perdão por cada ano que se passou e que você talvez pensou que eu havia sido um amigo infiel. Eu não roubei a Eadlyn de você, como agora deve entender. Eu sempre assisti e respeitei o amor dos dois e, é por essas lembranças, que acredito que o seu coração deve palpitar por essa mulher maravilhosa que ela é até os dias de hoje.

Nessa confiança eu pedi para que voltasse. Sim, fui eu que te fiz retornar ao castelo.

Eis que lhe entrego o que eu tenho de mais precioso, estou confiando o meu coração a você, pois aonde estão as minhas garotas é ali que habita o meu coração. E agora, peço que cuide bem delas. Chegou o tempo de eu sair para que você possa entrar no caminho da Eadlyn novamente. Ela precisa de você e eu espero que possa ser tudo aquilo que ela necessite.

A vida passa muito rápido para ficarmos guardando mágoas um dos outros. Deixe o que passou no passado e veja a oportunidade que o mundo está te dando hoje. Você e a Eadlyn sempre foram dois cabeças duras, mas atendam um último pedido meu: não percam tempo. Se é para sonhar? Que sonhem. Se é para perdoar? Se perdoem. E se é para amar? Se amem. Caminhem, unam-se e descompliquem-se. Vocês só precisam deixar cair por terra as armaduras para descobrir que o remédio que precisam está um no outro.

Vocês têm a minha bênção!

Isso era tudo o que queria dizer... Poderia passar horas aqui me explicando ou falando do meu amor ou dos meus motivos, mas creio que isso é o suficiente.

Vivam!

Adeus

Com amor...

Eikko

Quando terminei de ler as lágrimas banhavam o meu rosto. Li e reli várias vezes, decorando cada palavrinha que o meu pai havia escrito ali. Ao mesmo tempo que o coração comprimia com a saudade e eu achava que nunca poderia superar, eu sabia que devia me levantar...por ele.

Olhei no espelho vendo as maçãs do meu rosto inundadas pelo choro e os olhos inchados e vermelhos. Passei minha mão enxugando e fui em direção das outras pessoas que precisavam daquela carta tanto quanto eu.

Bati na porta do quarto do hospital sendo recepcionada por Kile que estranhou a minha volta.

― Olá, princesa. Você mudou de ideia e resolveu ficar?

― Não, Kile. Fique tranquilo. Como ela está? – perguntei.

― Nada mudou ainda, mas os médicos passaram agorinha e dizem que a recuperação é boa, logo ela estará bem. - explicou dando um pequeno sorriso. - Quer entrar?

― Não, preciso resolver outras coisas agora. Vim para entregar-lhe isso. - estendi a carta para ele. - Quando minha mãe acordar peça para ela leia também.

Ele pegou a carta curioso e começou a abrir.

― Não leia agora, espere que eu saia. Acho que você precisará de um tempo para assimilar as coisas depois disso. Acredito que isso possa resolver parte dos nossos problemas. - falei esperançosa. - Agora tenho que ir.

― Claro. Tudo bem. Tchau, Aysha.

― Tchau, Kile. - despedi-me e fui embora.

Saí do hospital e fui consertar um pedaço da minha vida que estava fora do lugar. Como meu pai disse, eu não podia me deixar vencer pelos obstáculos e, pela primeira vez, eu quis mesmo passar por eles, independente do que estava para acontecer. Não teria bilhete, guerra, conselho ou gravidez que iria me parar naquele instante. Eu havia encontrado alguém que tinha feito meu coração se abrir e eu não podia ignorá-lo. Eu havia postergado o suficiente, mas depois do momento com Koddy, eu sabia... Eu sabia que ninguém ocuparia o lugar que ele havia tomado em mim. Eu amava Thomas Illéa e eu o queria e o teria de volta em minha vida. 


Notas Finais


AÊÊ! Saiu o capítulo 22. A cada momento que passa fica mais difícil escrever porque está acabando. Agora só 3 e o epílogo! Segurem os forninhos para o próximo, pois teremos inúmeras revelações.

Vai rolar uma brincadeira no face valendo atualização adiantada então quem não está no grupo o link ta ai embaixo.

https://www.facebook.com/groups/1004676362936847/

Beijos e até


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