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História O Peso da Coroa - Capítulo 25 - Fim


Escrita por: LyraRocha

Notas do Autor


Gente, não sei nem o que dizer, vou deixar para as notas finais e na postagem dos agradecimentos depois!
beijos e boa leitura

Capítulo 39 - Capítulo 25 - Fim


Koddy passou a mão pela gola da sua blusa, ajeitando-a, esticou o pescoço para um lado e para o outro e, em seguida, voltou a me fitar, nem parecia que havia acabado de tirar a vida de uma pessoa.

― Voltemos ao nosso assunto. – com o indicador tocou o meu queixo e sorriu para mim. ― Você aceita ser a minha dama? Vamos juntos reinar essa potência maravilhosa. Fique ao meu lado, me satisfaça e não terá o que temer, princesa. – terminou o pedido segurando o meu rosto com ambas as mãos e com a sua face bem próxima da minha.

― Acho que não, garoto. Largue a arma. – A voz de Marcus soou atrás de nós, juntamente com o som do gatilho da arma. O cano gelado encostava na nuca exposta de Koddy, fazendo com que ele erguesse as duas mãos em sinal de rendição e jogasse a sua arma para longe. ― Mudanças de planos! Um Illéa salvando a nação de um golpe de Estado é muito mais tentador. Já posso até ver as notícias... "A princesa apaixonou-se pelo príncipe da Noruécia, que planejava um golpe de Estado; A rainha está morta; Illéa nunca esteve tão vulnerável; A nação precisa de um novo comandante". Quem melhor para reinar agora do que a pessoa que salvou o povo e, ainda por cima, possui a linhagem real no seu sangue? Além disso, resolverei o problema da Nova Ásia e serei declarado como o salvador da nação. O meu plano saiu melhor do o que planejado. Para que ter apenas um cargo se eu posso ter tudo? Eu não poderia ter imaginado melhor... Toda essa confusão só me fez adiantar mais ainda os meus planos. Obrigada por isso, princesinha.

― Nós tínhamos um acordo! – Koddy rosnou com as mãos erguidas.

― Sim! Mas da mesma forma que você tentou mudá-lo agora, eu tinha meus próprios planos internos. Vocês, garotos, são novos e se acham muito espertos. Eu trabalho neste plano há anos para que não tenha erros. Eu aguentei aquela rainha por anos a fim de me aproximar o suficiente e agir da melhor forma. Acha mesmo que eu me submeteria a um rapazote como você ou mesmo essa garotinha aí que ludibriou o meu filho? Jamais! Acabou rapaz!

Marcus levantou mais arma e atirou na cabeça de Koddy, fazendo respingar sangue por todo o lado e o corpo dele cair aos meus pés. O rosto de Marcus tinha um sorriso insano que, junto com as manchas de sangue na sua face, tornava-o ainda mais macabro.

― Você é louco! Um assassino a sangue frio! Matou todas essas pessoas e ainda não se importa com seu filho morto aqui no chão! – gritei em pânico, traumatizada. Marcus olhou por um breve momento para o corpo de Thomas e, por um segundo, pensei ter visto seus olhos marejarem, mas logo ele voltou a olhar para mim, seriamente.

― Meu filho foi um fraco! Ele só precisava te iludir e jogá-la fora, mas nem isso conseguiu fazer. Eu cuidei desse moleque com a minha vida, eu depositei toda a minha fé nele, achei mesmo que poderia me ser útil algum dia, mas ele tinha que se apaixonar por você! – encostou o cano frio da sua arma ensanguentada em minha testa. ― A mãe dele era outra fraca. Logo que descobriu os meus intentos em relação ao poder, quis ir embora e levar o meu filho, mas eu não deixei. A ameacei dizendo que, caso ela fugisse com ele, eu mataria os dois. Não pense que não o amo... eu quis ficar com ele, eu cuidei dele.

― Você é doente! – disse trêmula.

― Posso até ser, mas esse doente aqui – apontou para si mesmo ― agora vai matar você! – falou empurrando o cano da sua arma com mais força contra mim.

Fechei os olhos esperando a morte vir. Agora seria a minha vez. Dizem que quando estamos preste a morrer nossa vida passa diante dos nossos olhos, mas, naquele instante, eu não conseguia pensar em nada, só sentia a dor por tudo que havia ouvido, por um coração partido e por tantas perdas. As lágrimas desciam e eu já podia ouvir o silêncio do fim.

― PARE! – Uma voz bradou na sala, fazendo com que eu abrisse meus olhos e Marcus olhasse para trás. Não sorri porque estava em choque e sentindo a onda do desespero ainda, mas meu coração saltitava em alívio com a presença do homem que entrava caminhando até nós com uma espingarda em suas mãos e mais dois outros atrás dele.

Meu tio Osten vinha manquejando, seu corpo tinha um sangue seco, os braços cobertos de terra e, no seu rosto, havia umas manchas roxas espalhadas e leves inchaços. Atrás dele estava Kile, também com uma arma em mãos, e o Sr. Calliagri, acompanhado de alguns soldados em seu encalço.

― Você não está morto? – Marcus perguntou, atônito.

― Você tentou, mas sinto em dizer que não conseguiu. – Tio Osten respondeu de forma debochada para ele, mesmo todo machucado.

― Tio, você está vivo! - exclamei contente.

― Sim, pequena! Quando voltava da Nova Ásia, meu carro foi cercado por alguns homens pagos pelo Marcus Illéa. – cuspiu suas palavras. ― Eles fizeram questão de dizer quem era o mandante antes de me acertarem o último golpe. Fiquei desacordado por dias, mas uma senhora me encontrou e cuidou de mim até que eu voltasse a consciência. Assim que consegui levantar, vim direto para o castelo avisar, estávamos a procura dele até encontrarmos vocês aqui. – meu tio explicou.

― Afaste-se ou eu atiro na garota! – Marcus gritou para eles, puxando-me para seu lado e encostando o cano da sua arma em minha têmpora.

― Marcus, acabou. Você está cercado, não há nada que possa fazer. Seu plano falhou. - Kile disse firme para ele.

― E o que você está fazendo aqui, seu imbecil? Você deveria estar longe do castelo, em vez de estragar os meus planos! – Marcus gritou, parecia alucinado.

― Osten me encontrou quando eu estava à procura de Aysha a fim de avisar que a mãe dela acordou. – falou Kile com um sorriso triunfal. Ele queria mostrar para Marcus que o plano dele havia falhado de várias formas.

Sorri também com a notícia, fazendo-me brevemente esquecer a situação em que eu estava.

― Marcus, abaixe a arma. Fim do jogo! Acabou. – Kile repetiu.

Eu sentia a respiração dele, era forte e ofegante, ele olhava para todos os lados, sabia que não teria saída. Ainda que me matasse, era o fim para ele.

― Você nunca vai ter nada aqui, Marcus. Você é só um homem mesquinho e vazio, sedento pelo poder, porém agora, é somente um nada em nossa frente. Poderia ter ido longe, mas buscou o caminho cego e conseguiu se destruir sozinho. Nunca alcançará os seus desejos porque, para pessoas gananciosas e egoístas, pode demorar algum tempo, mas a justiça vem e ela mesma te lança em um poço de merda, que é onde você vai viver a vida toda a partir de hoje. – meu tio disse, humilhando-o. Senti todo o corpo de Marcus se retesar ao meu lado e um grunhido raivoso saiu pela sua boca. Com raiva, ele me empurrou para o lado, jogando-me no chão e virou para atirar no meu tio, alavancado pelo ódio que sentia das palavras dele.

Rapidamente, em reflexo, o Sr. Calliagri atirou, acertando o ombro de Marcus, impedindo-o assim que efetuasse o tiro com precisão e fazendo com que cambaleasse, caindo no chão em seguida. O tiro que ele deu acertou apenas um quadro do lado direito, para a sorte do meu tio.

Logo os soldados correram e desarmaram Marcus, que gritava e xingava para que o soltasse. Assim que o prenderam, eu me levantei e joguei-me nos braços do meu tio, chorando copiosamente.

― Calma, pequena. Está tudo bem agora! – afagou meus cabelos e apertou-me mais firme em seus braços, consolando-me.

― Thomas... – falei lembrando-me dele e soltando-me dos braços do meu tio para correr em sua direção.

Fui impedida pelo Sr. Calliagri, que segurou-me pelos ombros, puxando-me para longe. Eu retrucava, precisava vê-lo, eu queria chegar até ele.

― Kile já foi chamar a equipe médica. – Sr. Calliagri informou-me. Olhei para o rapaz que teve o meu coração por um tempo e sua imagem ao chão, vazia, me dava náuseas. A equipe médica logo chegou, mas a minha atenção foi desviada quando um guarda chamou-me.

― Majestade, olha quem encontramos fugindo do castelo. – um soldado trazia Annyelle sendo arrastada aos prantos. Ela se debatia e gritava que não tinha culpa e que não sabia de nada.

― Aysha! – ela me chamava chorando. ― Me perdoa! Eu não sabia, eu juro para você que não tinha noção do intento do Marcus. – o soldado a jogou ajoelhada aos meus pés. Ela ficou de cabeça baixa, as lágrimas caindo tempestuosamente ao chão. ― Eu não tenho ninguém, sou órfã, eu nunca soube o que era o amor, a única pessoa que me dava alguma atenção era o Thomas e eu não queria o perder. Eu só fiz isso tudo por ele. O Marcus me prometeu que se eu fizesse o que ele me pedisse, o Thomas ficaria comigo... Mas eu não sabia do seu pai, Aysha. Eu juro pela minha vida. Eu sou uma pessoa horrível, eu sei, mas Aysha, quando eu liguei os fatos naquele dia do baile, eu o confrontei, mas ele me ameaçou, eu tive tanto medo... Se ele fez o que fez com o rei, o que faria comigo que não tenho importância alguma? – falava em meio aos soluços, levantando um pouco seus olhos para mim.

Senti pena dela. Não que eu achasse seus atos fossem justificáveis ou estivesse a perdoando, mas Annyelle era vazia. Fez de tudo para conseguir o amor de alguém como se o amor fosse algo que pudesse ser extorquido a força. Nada adiantou, pois ela estava sozinha novamente no fim.

Eu acreditava nela, Marcus já havia dito. O que ela fez havia sido crucial, mas ela foi mais uma enganada no meio dessa rede de destruição. Toda a mentira que ela disse depois foi crucial para o meu primeiro término com Thomas, mas não era isso que me afastaria dele hoje. Thomas havia errado comigo de uma maneira muito mais profunda e Annyelle não tinha nada a ver com isso.

Olhei em volta, observando todas aquelas pessoas que me analisavam e esperavam para ver qual atitude eu tomaria. Respirei fundo tentando me recuperar e parecer equilibrada e, no final, lancei um olhar firme para ela.

― Eu não vou prendê-la, Annyelle. – ela soltou sua respiração e começou chorar alto, aliviada. ― Porém, você está banida de Angeles. Nunca mais poderá chegar nem perto desse castelo. Irá para Bankston e ficará lá para o resto da sua vida, eu terei soldados suficientes para te vigiar e garantir que jamais saia de lá. – ordenei.

Ela não tentou me retrucar, nem interpelar. Ela sabia que eu estava sendo condescendente. Eu poderia prendê-la por ter participado de tal ato, mesmo que de forma indireta, mas eu não faria isso.

― Guardas, podem a escoltar para longe daqui.

― Obrigada, Aysha. – Os guardas a levantaram e começaram a arrastar para longe de mim. Antes de perdê-la de vista, ela virou-se e me olhou, querendo falar alguma coisa. Ela pareceu hesitar, mas, no último segundo, tomou coragem para dizer. ― Eu nunca deveria ter separado vocês dois. O Thomas te ama, perdoe ele.

Fiquei parada absorvendo aquelas palavras, eu não queria pensar no amor dele por mim naquele momento, eu não conseguia distinguir isso. Eu estava em cacos e com a cabeça frenética, amor era tudo o que eu queria eliminar de mim.

― Aysha, agora precisamos de você, Majestade. Precisa ser forte. – Sr. Calliagri pediu, entrando em minha frente e fitando seriamente os meus olhos, mas, ao mesmo tempo, consolativo. Enxuguei minhas lágrimas e ergui a cabeça, querendo saber o que ele estava dizendo. Eu era a rainha, precisava estar estável, mesmo que as imagens das mortes que vi viessem como flashs na minha mente.

― A Nova Ásia está chegando e essa é uma luta insana. Eles não tiveram culpa de nada e muitos morrerão se não agirmos agora.

― Onde eles estão? – perguntei, tentando me recompor.

― Já estão quase no ponto de encontro. Naquele local da floresta que conversamos mais cedo e te mostrei no mapa

― Ok! – falei firme. ― Selem meu cavalo e convoquem alguns soldados para irem comigo. – falei saindo da sala rapidamente. Corri em direção da cozinha sendo seguida pelo Sr. Calliagri e o meu tio.

― O que você vai fazer, Aysha? – Tio Osten me perguntou.

― Eu sou a rainha e eu vou consertar essa bagunça. – disse puxando um pano branco que estava em uma estante e uma vassoura de dentro da dispensa. Desenrosquei o cabo da madeira que ligava as cerdas do objeto e amarrei as duas pontas do pano nele. Montei uma bandeira mal feita, mas que serviria para o que eu queria.

― Majestade, os cavalos estão prontos! – um soldado chegou avisando.

― Rainha Aysha, irei com você, mas antes você precisa disto. – Sr. Calliagri afirmou e ergueu a coroa, que eu não sabia em qual momento eu tinha perdido, mas ele a encontrou e a colocava em minha cabeça.

Meu tio observou-me e eu percebi um lampejo de orgulho passar por seus olhos.

― Se cuide, pequena. – me deu um abraço que transmitia a força que eu precisava para fazer o que estava em minha mente.

― Vamos! – chamei as pessoas que iriam comigo.

A adrenalina tomava conta de todo o meu ser, eu me preparava para algo surreal, mas não poderia pensar. Precisava juntar toda a minha força para fazer o que devia ser feito. Era o que minha mãe faria, era o que ela tinha lutado por tanto tempo. Eu provaria que não era somente uma princesa mimada. Se assim eu a fosse, deixaria várias pessoas morrerem sem nem me importar, mas, pelo contrário, ainda que estivesse com o coração vacilante, eu iria até o centro da guerra e daria um jeito de pará-la.

Subi em meu cavalo, sendo acompanhada pelos soldados e Sr. Calliagri. Começamos a correr em disparada em direção de onde sabíamos que haveria a carnificina. Eu cavalgava com o protótipo de bandeira erguido em meu braço esquerdo. Minha cabeça latejava com a dor da pancada que eu havia recebido no nariz mais cedo, mas eu precisava ser forte. O vento balançava meus cabelos e o cavalo trotava em disparada pelo meio da floresta, desviando dos galhos baixos de algumas árvores.

― Só mais um pouco, Majestade. É logo ali na frente. – Um soldado gritou para mim.

― Mais rápido! – gritei para eles, balançando a rédea da minha égua e fazendo com que ela corresse em uma velocidade maior ainda.

Não sabia quanto tempo havia passado, mas logo avistei dois grandes exércitos que logo se chocariam, bati um pouco o pé, fazendo com que Preciosa disparasse na frente de todos, ergui a bandeira e comecei a correr entre os dois batalhões!

― PAREM TODOS AGORA!!! – Gritei, disparando em frente a eles, o que fez com que todos parassem assustados.

Rodeei por toda linha de batalha até voltar e parar em frente ao rei da Nova Ásia, o Sr. Pervarti.

― O que significa isso? – ele perguntou apontando uma espada para mim.

― Isso sou eu declarando paz e rendição! – afirmei para ele sem pestanejar.

― Estão se entregando? – perguntou desconfiado.

― Não exatamente, Majestade. Ambos fomos vítimas de uma armação enfadonha de um conselheiro de Illéa. – falei começando a explicar. Falei sobre o que Marcus havia feito, sobre o punhal, as pessoas que ele matou, tudo. Sr. Pervarti parecia pasmo, ao mesmo tempo que ficava irado por ter sido usado. ― Graças a Deus descobrimos a tempo, antes que mais mortes acontecessem. Agora estou aqui, humildemente, para reconhecer o nosso erro ao pensarmos que vocês teriam algo a ver com isso. As provas contra vocês foram plantadas e fomos todos manipulados para este momento.

― E você pensa que só as suas desculpas serão suficientes? Vocês me desonraram!! – cuspiu com raiva.

― Sr. Pervarti, logo a frente temos uma grande emboscada contra vocês. Preparamos nossos melhores guerreiros e temos nossas melhores armas para combatê-los. Ainda que você passasse por nós, há soldados rodeando todo o castelo. É isso mesmo o que você quer? Colocar seus homens em risco por causa de um orgulho? Muitos são filhos, irmãos, pais e maridos. Como vai explicar para a família de cada um deles que lutaram por uma causa infundada? Para manter o ego do seu rei? Poderia ter lutado com ferro e fogo, mas estou aqui reconhecendo o nosso erro e pedindo uma trégua. Essa guerra não é para ser nossa. – falei e desci do meu cavalo, sendo acompanhada por ele, que fez o mesmo.

Afinquei a bandeira ao chão e estendi minha mão a ele, então percebi que todos os meus homens me rodearem por trás, protegendo-me e guardando-me caso ele respondesse o contrário.

― O que me diz, Sr. Pervarti? Aceita o meu pedido de paz? – estendi minha mão para ele, que me olhava sem expressão.

Caminhou até mim e senti meus homens segurarem suas espadas para ficarem em posição, porém, estendi a mão para eles pedindo calma. O rei da Nova Ásia parou em minha frente e me encarou, não desviei do seu olhar e sustentei aquela conexão intensa até o momento que ele pegou sua espada vagarosamente e passou pela sua mão, tirando um filete de sangue e me estendendo. Uma curvatura pequena se fez na linha da minha boca e repeti o mesmo gesto que ele, sentindo o ardor do corte que cometi. Estendi minha mão e apertei a dele, selando assim o nosso acordo.

― Você me surpreendeu, garota! – um sorriso que eu nunca havia visto em seu rosto se fez e eu só pude sorrir também agradecida.

― Fico feliz em poder surpreendê-lo positivamente!

― Não é qualquer pessoa que consegue reconhecer os seus erros e eu admiro pessoas corajosas assim como você, nos mostra que nem tudo está perdido. – Virou para trás, encarando os soldados e bradou ― Homens, descansar, voltaremos para casa!

Os gritos do exército eram ensurdecedores, todos comemoravam o fim da guerra, mesmo que ela não tivesse chegado a começar, de fato.

― Se não puderem voltar agora, o senhor e os seus homens são bem vindos para repousar em Illéa. – falei para ele

― Não. Nós voltaremos. Como você mesma disse, todos aqui têm famílias e estão desesperados esperando por notícias, acamparemos para descansarmos e logo retornaremos. Creio que você também tem muitas coisas para resolver no castelo. - acrescentou olhando-me de baixo para cima, notando minhas vestimentas sujas de sangue e amassadas.

― Sim, eu preciso voltar. – assenti para ele, pensando em tudo que teria que lidar.

― Vai-te em paz, Rainha Aysha! Será um prazer tê-la como aliada. Mande melhoras para a sua mãe. – falou com pesar.

― Obrigada, Sr. Pervarti. – agradeci e deixei alguns homens para ajudá-los enquanto ainda estivessem em nossa terra. Em seguida, dei meia volta e parti em direção ao castelo novamente, pronta para tentar arrumar o restante da bagunça que havia deixado para trás.

                                                                                                   ***

Quando cheguei no palácio, ao descer do cavalo, era como se todo o cansaço e a exaustão dos últimos momentos estivessem me consumido de uma vez só. A adrenalina caiu e eu não pude resistir, tudo escureceu e senti meu corpo desfalecer, porém fui aparada por dois braços e a última coisa que eu vi foi o Sr. Calliagri chamando a equipe médica para mim.

Ao acordar, percebi que estava na ala hospitalar. Olhei para lado e vi o meu tio ao meu lado. Tentei cumprimentá-lo, mas eu sentia todo o meu corpo doer.

― Que bom que acordou, minha boneca. – falou tio Osten estendendo a mão e afagando meus cabelos. ― Ficamos preocupados. Sua mãe está em tempo de levantar daquela cama e vir aqui te ver. – disse rindo.

― Como ela está? – perguntei esfregando meus olhos, que ainda estavam meio pregados.

― Está bem. Kile está com ela. Eu estava lá mais cedo, mas me parece que ele tinha algo para mostrar para Eady, então deixei os dois a sós.

Lembrei-me logo da carta do meu pai, com certeza era isso que ele ia entregar para ela, já que na confusão não deve ter tido tempo. Realmente eles precisariam de um tempo sozinhos e ela necessitaria digerir tudo isso.

― Ela já sabe o que houve?

― Sim. Já passei todos os relatos. Ela está arrasada, Ash. Primeiro por ter dado espaço para que o Marcus ficasse tão próximo, segundo, porque ela e Elza são grandes amigas, ela tinha Katherine como uma segunda filha, jamais imaginaria. A rainha italiana está aos prantos, eu mesmo dei a notícia.

― Imagino. – falei sentindo o gosto amargo da lembrança da traição. – Para mim foi um golpe bem duro também, tio. Eu cresci com Katherine e tinha ela como uma irmã. Isso só nos mostra o quanto não podemos confiar no ser humano. Ninguém tem o poder de sondar o coração de ninguém e as pessoas só nos mostram aquilo que elas querem nos deixar ver. Acho que nunca mais conseguirei confiar em nenhuma pessoa durante toda a minha vida. Todos em quem confiei me traíram e me machucaram da pior forma. – falei lembrando-me de Thomas.

― Não diga isso. Você confia em mim e eu nunca te decepcionei.

― Mas você é meu tio. – interpelei.

― Mas sou um ser humano, sujeito a erros como qualquer outra pessoa. O Marcus era pai do Thomas e nem por isso ele protegeu o filho. A vida é assim Aysha, cheia de altos e baixos, acertos e erros. As pessoas sempre vão nos ferir de alguma maneira, o segredo da vida é descobrir como passar por tudo isso.

Sorri para ele, por isso eu o amava tanto. Meu tio tinha uma positividade contagiante. Eu poderia estar completamente despedaçada, mas as suas palavras sempre traziam algo vivo para dentro de mim.

― Obrigada, tio.

― Não precisa agradecer! – inclinou-se e beijou minha testa. ― Sei que você terá que lidar com muita coisa ainda quando sair dessa cama, mas, por hora, descanse. O médico te dará alta logo.

Assenti com a cabeça, sem querer pensar no tumulto que eu havia deixado lá fora. Enquanto eu estivesse ali dentro, eu teria um tempo para unir minhas forças novamente.

Quando meu tio começou a sair pela porta, resolvi perguntar algo que estava apertando o meu coração e martelava em minha cabeça desde o momento em que eu acordei e reforçou-se quando meu tio tocou o seu nome, porém, ao mesmo tempo, eu tinha medo de saber a resposta.

― Tio Osten... Ele... o Thomas... – tentei perguntar, meio gaguejando.

― Está vivo. Pura sorte. Ele perdeu muito sangue, quase que não conseguiu sobreviver, teve uma parada cardiorrespiratória e precisou de muitas transfusões. Foi feito uma cirurgia para retirada das balas e agora ele está em observação. Me parece que está fora de risco, porém ainda não acordou.

Soltei o ar aliviada. Eu tinha tanto medo, apesar de tudo. Independentemente do que ele havia feito, eu não queria a sua morte.

Meu tio retirou-se do quarto, deixando-me a sós com meus pensamentos. Tentei descansar mais um pouco. Quando eu saísse dali, eu teria que enfrentar todos os meus temores. A realidade cairia aos meus pés e todas as dores voltariam à tona. Por hora, eu queria apenas dormir e pensar que tudo o que havia acontecido, seria apenas um pesadelo.

No outro dia, despertei com os raios solares no meu quarto, sentia minhas forças renovadas, apesar de tudo. Não estava com tantas dores e, por mais incrível que pareça, mesmo com os ocorridos, não tive problemas para dormir, o cansaço havia batido em mim por completo. O médico havia me dado alta e me dado uma notícia que muito me interessava. Thomas havia acordado durante a madrugada e já poderia receber visitas agora pela manhã, apesar de não poder se esforçar muito. Eu não poderia esperar. Além de querer ver se ele estava bem com meus próprios olhos, precisava dar um ponto final de vez em tudo o que nos rodeava.

Bati na porta do seu quarto e ouvi ele murmurar um "entra", dando-me permissão para adentrar no local.

― Aysha! – Thomas exclamou surpreso ao me ver.

Ele estava apenas de calça, com uma grande faixa enrolada em sua cintura até a altura do peito. Seu tom de pele estava pálido e uma agulha furava a sua veia, transfundindo o sangue que estava em uma bolsa. Caminhei até ele e sentei-me em uma cadeira que ficava ao lado da cama. Respirei fundo e fitei-o com intensidade. Olhamos um para o outro, sem conseguirmos dizer nada. Eu não sabia nem como começar. Eu estava triste, magoada, dilacerada, queria xingá-lo e, se pudesse, até bateria nele, porém ele estava muito debilitado para que eu fizesse tal coisa. Além disso, o fato dele ter entrado em frente a uma bala para me proteger, pesava a minha consciência e eu ficava em uma luta interna sobre como agir ali diante dele. Pigarreei e resolvi começar pelo mais fácil.

― Obrigada por me salvar. – agradeci interrompendo aquele momento de silêncio eterno.

― Você não precisa agradecer, Aysha. Não é como se você me devesse nada, pelo contrário... – deixou morrer a frase. Seu tom de voz era fraco, parte porque ainda estava um pouco mal e outra porque parecia envergonhado diante de mim.

Fiquei em silêncio. Era difícil pronunciar qualquer coisa. As lembranças do dia anterior, as verdades que o seu pai jogou na minha cara, a forma com que eu me iludi, tudo latejava em minha cabeça. Thomas percebeu que eu estava pensativa e resolveu tomar a frente dessa vez.

― Ash... – começou a dizer, mas corrigiu-se quando me viu franzir o rosto. – Aysha, eu sinto tanto por ter te magoado. De todas as coisas desse mundo, se eu pudesse voltar atrás, se eu soubesse antes, ou mesmo tivesse imaginado... Eu não queria te ferir.

― Mas feriu. Da pior forma possível. Eu te entreguei meu coração, Thomas, e você pisou nele como se fosse nada. Você me usou para alcançar os objetivos do seu pai, tem noção do quão enojada eu estou?

― Eu compreendo e não tiro a sua razão. Mas eu realmente me apaixonei por você, Aysha. Eu não menti sobre isso.

― Mas se isso não tivesse acontecido você teria me usado e me descartado como um ninguém. O seu único erro foi ter gostado de mim, isso é, se você realmente gostou, não é?

― Não diga isso. Não se engane com as palavras do meu pai, as coisas não foram exatamente da forma que ele disse. Eu me coloquei em frente a uma bala por você, Aysha, eu morreria por você. Por que eu faria isso se não te amasse? Não duvide dos meus sentimentos. Duvide de qualquer coisa, menos do que eu sinto.

― Eu não sei mais em que acreditar...

― O que você quer que eu faça para compensar tudo o que te causei? Peça-me qualquer coisa, eu só preciso que acredite em mim! – seus olhos suplicaram em minha direção.

― Eu quero a verdade. – olhei profundamente para ele. ― Toda a verdade, desde o início.

Foi então que ele me contou, passo a passo. Falou de como o seu pai me vigiava, quando ele sugeriu o plano pela primeira vez, os momentos armados para que pudéssemos estar juntos, das vezes que me bisbilhotou de longe. Contou-me de quando tentou sair daquilo e seu pai o pressionou, como ele fingiu que estava fazendo segundo seu pai mandava, porém não estava. Falou-me de quando teve certeza dos seus sentimentos e quando disse que me amava pela primeira vez.

Com o tempo e as desconfianças, seu pai acabou mandando que ele se afastasse de mim, porém ele recusou-se. O veredito final foi quando nos viu voltar do piquenique. Não é à toa que, não muito tempo depois, a Annyelle apareceu com a dita gravidez. Era a forma que Marcus havia encontrado para nos afastar.

Depois da primeira ameaça disfarçada, seu pai começou a ser mais incisivo, não permitindo que ele contasse qualquer coisa sobre o envolvimento no golpe. Thomas vivia entre a cruz e a espada, querendo poder expor tudo, mas com medo do que Marcus poderia fazer contra mim, já que o homem que ele conhecia, estava cada vez mais distante. Eu via o pesar que ele sentia toda vez que tocava o nome dele. Era como uma criança que acaba de descobrir que o papai Noel não existe. Tudo que ele imaginava, toda a ilusão do super-pai, mesmo que tarde, ruiu.

Cada coisa que ele falava era como uma facada no meu coração. Saber que fui enganada, que o que eu achava que era um amor tão inesperado, na verdade, havia sido, de início, premeditado, com todas as armas possíveis para que eu caísse na teia. E o pior de tudo... Eu olhava para ele e via o quanto ele sofria também, sua voz carregava dor e martírio, mas isso não mudava os fatos. Saber que Thomas passou a gostar de mim de verdade não alterava o passado. Era uma ferida grande demais. Mesmo que ele achasse no início que estava certo, nada fazia abrandar a minha dor.

Eu tenho plena certeza que tenho muita culpa por tudo o que aconteceu no castelo. Talvez se eu agisse diferente e fosse uma boa referência de princesa para as pessoas, Thomas nunca tivesse aceitado esse plano maluco e, assim, as coisas seriam diferentes.

Passei a mão pelo meu rosto e pude sentir as lágrimas que haviam caído. Eu me sentia impotente e destruída. A traição dele e de Katherine era muito para que eu pudesse lidar.

― Pegue aqui – estendeu um pedaço de papel para mim. Abri e vi vários nomes escritos neles. ― São pessoas envolvidas com o meu pai – Thomas esclareceu-me. ― Eu encontrei nas coisas dele e foi a chave para a nossa briga, a que você presenciou no meu quarto. Com isso vocês poderão prender todos que de alguma forma se envolveram com ele. Será uma investigação minuciosa, mas conhecendo meu pai, metódico do jeito que é, deve estar tudo aí para, caso ele caísse, pudesse levar todos com ele.

Balancei a cabeça assentindo e observando vários nomes ali, uns conhecidos e outros não.

― Eu posso ter ocultado para você o plano do meu pai e premeditado nosso encontro, mas cada momento que eu tive com você foi real. Eu nunca fingi nada, nem na primeira vez que nos vimos. Desde que comecei te observar, o seu sorriso e seus cabelos cor de mel não saiam da minha cabeça. A nossa dança na boate, você sabe tanto quanto eu que tivemos uma conexão intensa ali. Eu não te enganei, Aysha. Se eu quisesse mesmo fazer o que meu pai queria, eu teria te machucado de alguma forma, ao invés de ter tentado recuperar tantas vezes o que a gente tinha. Eu estava pronto para enfrentar o que fosse por você... Enfrentaria até o meu pai, se fosse possível, se eu soubesse que estaria segura. – falava enquanto eu engolia em seco diante de toda a sua versão do que havia acontecido. ― Eu já havia dito a ele que estava fora do plano. Eu descobri que meu pai estava longe de ser a pessoa que eu pensava ao passar dos dias. Claro que eu não imaginava que ele seria tão inescrupuloso, mas eu comecei ter a noção de que ele era pior do que eu supunha quando ele te ameaçou. – disse respirando fundo. ― Aysha, de todas as coisas que eu já tive medo na minha vida, nada se compara ao que eu senti quando achei que ia te perder. Jamais conseguiria viver em um mundo em que você não existisse mais. Eu entendo se, depois de tudo, você não me quiser de volta. Não quero aceitar, porém te compreendo. – terminou e enxugou uma lágrima que escorria por seus olhos vermelhos.

Não sei explicar, mas eu sabia que, realmente, ele me amava. Cada poro do seu corpo gritava o meu nome, mas... não dava. Não depois de tudo o que aconteceu. Eu não conseguiria passar por cima disso como se nada tivesse acontecido. Meu coração sangrava por dentro e meu corpo expelia em lágrimas a dor que eu sentia. Lentamente, ergui minhas mãos até atrás do meu pescoço, abrindo o feixe do cordão que eu usava. Retirei-o e olhei uma última vez o presente que Thomas havia me dado, o colar da sua mãe. Estendi, com os olhos marejados, o utensilio até a mão dele, no qual ele abriu a palma para pegar e fechou ao sentir o frio do ouro tocar a sua pele.

― Eu te amo, Thomas. Mas... eu sinto muito. – falei a frase que ele nunca havia ouvido sair da minha boca. Aquele momento jamais seria uma boa hora para eu dizer tais palavras, mas eu não queria sair daquele quarto com alguma pendência. E se era para fechar o ciclo, eu precisava que ele soubesse, mesmo em meio a tudo e apesar de tudo, que eu o amava.

Ele fechou os olhos e suas lágrimas desceram com mais intensidade, deixando seus longos cílios molhados. Apertava o cordão com força, os nós dos seus dedos chegavam estar esbranquiçados, mas não tentou me fazer repensar, ele compreendia a minha decisão.

― Eu perdoo você. – falei enxugando o meu rosto. ― Mas nós não podemos ficar juntos. Não há mais chances para nós dois. A confiança é como um disco que, quando arranhado, não toca mais do mesmo jeito. As coisas que aconteceram... não dá para reatar. Desculpe. – terminei me levantando, pronta para sair dali. Eu não aguentaria nem mais um segundo vendo ele tão desolado quanto eu. Sentia o quarto e tudo ao redor me sufocando.

Ele abriu os olhos lentamente, olhando-me pela última vez. Inclinei-me sobre ele na cama e selei nossos lábios, sentindo o gosto salgado das nossas lágrimas misturadas. Afastei-me e virei sem nem me despedir. Temia que se o fitasse novamente, eu desistisse da minha decisão. Cada passo que eu me afastava dele, as migalhas do meu coração eram deixadas pelo caminho. Estava acabado.

Encostei-me no corredor do lado de fora do quarto e cai arrastando minhas costas pelo frio da parede, até sentar-me no chão, com minhas perdas dobradas e encolhidas. Chorei. Sofri. Minha alma estava quebrada e eu nunca imaginava como o amor podia doer tanto. Minha vida estava ao avesso e era duro saber que aquilo que você acredita se esvai como o pó.

Quando eu sentia que não havia mais lágrimas para debulhar, pude experimentar um alívio. Enxuguei cada uma delas e esperei um tempo ali, mesmo sabendo que muitos poderiam me ver naquele estado, eu não me importava. Assim que meu momento de lamento se atenuou, eu me levantei e fui em direção a outra pessoa que merecia a minha atenção. Ela deveria estar muito preocupada comigo, eu precisava vê-la.

Ao chegar em frente do seu quarto hospitalar, vi uma enfermeira que acabava de sair de lá. Aproveitei-me para perguntar como minha mãe estava, antes de encará-la.

― Ela está ótima, Majestade. Um pouco abalada emocionalmente, mas em excelente recuperação. O Sr. Kile acabou de entrar.

― Ele não passou a noite com ela? – perguntei, estranhando ela ter estado só em meio a essa confusão.

― Não. Pelo que ele disse, sua mãe queria um tempo sozinha. – chegou mais perto e sussurrou o restante para que ninguém ouvisse. ― Não sei se devo contar, mas como você é filha... Quando eu entrei hoje cedo, ela chorava e tinha um papel em mãos.

― Ah sim. – Respondi entendendo o motivo da minha mãe querer refletir sozinha, ela precisava de um momento a sós mesmo. ― Obrigada por me contar. – Agradeci e ela despediu-se, voltando ao seu trabalho.

Dei alguns passos até a porta que estava entreaberta e observei minha mãe sentada na cama, ela olhava para Kile, que estava na cadeira sentado ao seu lado, inclinado em sua direção. Sei que podia ter entrado e ir logo falar com ela, mas a minha mente, curiosa com a intensidade do olhar entre eles, fez com que eu estancasse os meus pés e quisesse assistir, ao invés de interromper o momento que eu sei que eles precisavam ter.

― Eu ainda não consigo acreditar no que ele fez. – ouvi a voz da minha mãe dizer em um suspiro. A mão de Kile se arrastou até a dela, a segurando com firmeza.

― Eu te entendo, também me surpreendi ao ler. Eu não esperaria, mas... eu o entendo. – ele falou, fitando-a novamente. ― Quando a gente ama, deixamos a pessoa seguir, seja qual for a escolha que ela faça.

― Foi o que fez por mim um dia? – ela perguntou, mas soou mais como uma afirmação. Ela sabia que ele havia a deixado e não voltou para ela, pois achava que ela tinha escolhido o meu pai.

Ele balançou a cabeça e pareceu parar para pensar em algo. Alisou o dorso da mão dela com o polegar e levou a mão até a boca, depositando um beijo.

― Eady, nós podemos passar o resto dos nossos dias lembrando de coisas que nos machucaram ou olhando para trás. Podemos remoer tudo o que aconteceu e viver na desconfiança do que virá pela frente, mas eu não quero isso. Eu já perdi tempo o suficiente e eu não quero jogar fora o que a vida ainda reserva adiante. Sonhar, perdoar e amar. Foram essas as três coisas que o Erik pediu e, Eadlyn, eu só posso fazer isso se for com você. – falou ainda com a mão dela em frente a sua boca.

― Kile... – ela começou a falar, mas ele estendeu a mão, interrompendo-a.

― Só... me deixa tentar concluir antes que possa falar qualquer coisa. – pediu e ela concordou. ― As coisas não foram como planejamos, na verdade, nada em nossa vida saiu como pretendíamos. Um beijo para as câmeras, lembra? Uma mão lavaria a outra, era o que queríamos na época. Tínhamos planos opostos para a vida e jamais pensaríamos que algo tão profundo nasceria dentro de nós. Mas como uma chuva de verão, um sentimento novo nasceu e eu soube que eu estava perdido, completamente perdido pela princesa durona que colocava medo em todos os selecionados – riu em meio às lembranças ― Quando você me mandou embora, um pedaço de mim ficou contigo. Eu deixei meu coração para trás com você aquele dia, Eadlyn, e agora... Eu não estou aqui para pedi-lo de volta, eu venho para implorar para que me dê o seu... – terminou, fazendo com que uma lágrima descesse nos olhos da minha mãe, emocionada.

― Você não pode me pedir algo que já tem... – sussurrou em meio ao choro e o puxou para si, dando-lhe um abraço apertado.

― Você não sabe como é bom ouvir isso. – falou abaixando a cabeça no ombro dela e passando a mão em suas costas ― Eu amo tanto você, Eadlyn. Eu não consigo acreditar que há uma possibilidade para nós. Parece surreal. – falou embargado, levantou a cabeça, mirou os seus olhos e tocou o seu rosto.

― Não é uma possibilidade, Kile. É uma certeza! Eu amo você! Eu sinto que um ciclo sombrio da minha vida finalmente se fechou. Ter você comigo é o começo de uma nova fase. – abriu um sorriso largo para ele, fazendo o rir também.

Era tão leve e puro. Era contagiante. O momento que um olhava para o outro transmitia o quanto aquele sentimento era genuíno. O peso que estava nas costas da minha mãe caía e dava lugar a uma mulher nova e transformada. Ela não tinha mais o que temer, ela poderia viver tudo aquilo que as sombras do passado não a permitiram.

― Eu nunca mais vou te deixar, Eadlyn. Você sabe disso, não é? – ela balançou a cabeça em afirmativo. ― Eu não posso sobreviver nem mais um segundo longe de você. Você não sabe do medo que eu tive de te perder pela segunda vez... – sussurrou aproximando seu rosto do dela. ― Case-se comigo, Eadlyn. Eu sei que você não pode agora e tudo mais, mas eu só preciso de uma resposta. Não precisa ser hoje, ou amanhã, nem depois. Eu só preciso que diga sim para que eu possa ter a certeza que ficaremos juntos para sempre de uma vez por todas.

O sorriso dela se alargou ainda mais e ela terminou de fechar o espaço entre eles, selando os seus lábios. Era um beijo de carinho e ternura, misturado as lágrimas de alegria que ambos derramavam em seu rosto. Toquei o meu rosto e vi que eu também me emocionava. Um sentimento de alegria e satisfação, diferente do que eu já tive um dia. Eu me sentia feliz com aquilo e, do fundo do meu coração, eu sabia que meu pai estava contente também e era o que me deixava mais tranquila e satisfeita.

― Isso responde o seu pedido? – ela perguntou em meio uma pequena risada ao se afastar dele. Ele balançou a cabeça com um sorriso largo no rosto e voltou a beijá-la, tocando seu rosto com carinho.

Olhando para eles ali, eu sabia que era a hora de deixá-la seguir o seu caminho. Eu não teria coragem de passar para ela a coroa novamente, não quando ela estava tão desimpedida e feliz. Era o momento deles viverem e o meu momento de reinar.

Bati à porta, fingindo ter acabado de chegar. Eles separam-se um pouco, constrangidos, mas nem a vergonha conseguia tirar o brilho no rosto de ambos. Minha mãe abriu seus braços para me receber e eu corri para o seu colo, sentindo o seu amparo.

― Estou tão orgulhosa de você! – disse baixinho para mim, enquanto eu a abraçava forte. ― Como você está? – perguntou me analisando, assim que me soltou dos seus braços.

― Vou ficar bem. – dei um sorriso mínimo, mas que mostrava verdade.

― Oh minha filha, você sabe que se eu pudesse passaria tudo por você, te protegeria e não deixaria que nada te ferisse ou magoasse. – falou passando seus dedos no meu rosto carinhosamente.

― Eu sei. Mas você não pode me privar de tudo, mãe. As feridas nos fazem ficar mais fortes, eu vou sobreviver. – tentei sorrir para tranquilizá-la.

― Assim que eu sair desse hospital, vou arrumar essa bagunça. Você não precisa lidar com nada disso mais, ok?

― Não, mãe. Não é o que eu quero. – afirmei para ela, fazendo-a arquear a sobrancelha sem entender aonde eu queria chegar.

― Como assim?

― Por muitos anos você lutou e se doou pelo reino, você deu a vida por todos nós, mas não precisa mais. Chegou o tempo de descansar e ser feliz, sem pesos, sem amarras, só... confie em mim, ok? – falei segurando a sua mão e com a outra estendi até a mão de Kile. ― Eu quero que vocês sejam felizes e possam viver. Vocês têm a minha benção para seguir em frente. – falei olhando para eles dois e, por último, parei o meu olhar para a minha mãe. ― E eu quero a sua benção para que eu possa reinar agora em seu lugar. – pedi e vi seus olhos lacrimejarem.

Passou a mão em meu rosto ternamente, como se tentasse me decifrar.

― Você cresceu tanto... – sussurrou. ― Tem certeza disso? Está pronta?

― Acho que ninguém nasce completamente pronto ou sente-se assim fielmente, mas tenho certeza do que quero e eu sinto que é a hora. Sei que estará ao meu lado se eu precisar, não estou com medo. – falei firme.

― Eu acredito em você. Seu pai estaria muito orgulhoso se pudesse te ver agora. – disse me abraçando novamente e beijando minha bochecha.

― Ele está vendo! – afirmei com convicção. ― E está sorrindo para nós nesse momento. – disse o que eu sentia no meu coração. Eu entendia o que ele quis dizer quando falou que sempre estaria comigo, eu carregava ele no meu interior, cada palavra e conselho, vivo como as labaredas do fogo que arde, e nada nesse mundo apagaria a chama dele em mim.

Estendi os braços tendo um abraço coletivo, Kile passou seus braços em minhas costas, prometendo ser um braço forte sempre que eu precisasse. Senti um grande carinho por ele e eu sabia que ele faria tudo por mim, mesmo não sendo filha biológica dele, mas o amor que sentia pela minha mãe era tão grande, que se estenderia a minha pessoa. Ele não a amava por pedaços, ele amava tudo o que vinha com ela no pacote.

Ali entre eles, eu não me sentia sozinha. Eu não tinha uma alma curada, mas eu tinha pessoas que poderiam me apoiar, me dar um ombro para chorar quando eu precisasse e palavras de incentivo quando eu vacilasse.

Se eu olhasse meses atrás e pensasse na garota que eu costumava ser, jamais diria que estaria na posição de hoje. Mas a vida, com toda a sua emoção, me ensinou a crescer. Eu pegaria cada lição que ela havia me dado e seguiria em frente. Não com uma cabeça baixa ou me escondendo dentro de mim mesma, minha mãe era um exemplo de que isso não adiantaria. Mas eu trilharia o meu caminho, passo a passo, dia após dia, e torceria para o momento que a vida me trouxesse bons frutos novamente.

Corações são quebrados, perdemos pessoas, choramos, odiamos, nos alegramos e amamos. Todos passam por isso algum dia. Eu não seria a única no planeta a viver uma aflição. Mas como meu pai havia me dito, sempre há o tempo da cura, bastava só eu esperar. E, naquele momento, mesmo que tudo estivesse desabando ao meu redor, mesmo que eu tivesse um longo processo para aprender a confiar nas pessoas novamente, ainda que meu coração demorasse a se restaurar... eu sentia esperança.

Eu não sei o dia amanhã, hoje mais do que nunca, eu entendo que não podemos viver uma vida com a ilusão de algo que ainda virá. Penso no momento, vivo o instante. Hoje eu sou a nova rainha de Illéa, o amanhã... vamos aguardar para ver.


Notas Finais


Gente... É com o coração apertadinho que eu posto o último capítulo de O Peso da coroa. Não vou fazer agradecimentos agora porque eu ainda vou fazer um post para isso, mas espero que apesar dos sofrimentos que eu fiz vocês passarem, vocês tenham gostado.
Esse capítulo foi uma montanha-russa. Teve alegrias e tristezas. Espero que tenham entendido a Aysha apesar de tudo. Nós sabemos tudo sobre o Thomas porque lemos o POV dele, mas vejam o lado dela. Muitas pessoas mentiram, ela passou por um evento traumático e a pessoa que ela achava que podia ser o seu apoio, também mentiu para ela. Ela compreendeu e o perdoou, mas não dá para, de um dia para o outro, excluir tudo da cabeça e voltar a namorá-lo assim. A vida é dessa forma, a gente precisa de um tempo para se recuperar!
É isso! Apesar de tudo espero que tenham gostado do final e do nosso casal lindo KIDLYN! <3

AINDA TEM MAIS HISTÓRIA! TEM O EPÍLOGO TRAZENDO FORTES EMOÇÕES!!!


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