— E então, Lewis, esse filme sai hoje ainda? – perguntou Raphael impaciente enquanto remexia no travesseiro de Simon. O latino estava deitado na cama do rapaz, vestindo um dos pijamas de Simon, ao mesmo tempo em que o mesmo estava tentando achar um filme no notebook.
Quando o mais novo sugeriu ir ver um filme, ele havia pensado em ir ao cinema, porém, Santiago disse que em meio a todo aquele clima que estava tomando o Submundo do Brooklyn, não seria a opção mais segura de divertimento. O Daylighter então disse para irem ao armazém e assistirem algo no computador dele, já que a ideia era afastar Raphael do Dumont pelo menos até a noite seguinte. O moreno concordou, todavia Simon estava demorando uma década para encontrar o filme que havia falado, algo como Star Trek ou algo assim.
— Eu to tentando, mas acho que coloquei o Star Wars em um pendrive pra liberar espaço e acabei deixando na casa da minha mãe. – o garoto estava realmente nervoso por não achar o filme. – Acho que vamos ter que ver outro...
Raphael xingou em sua língua natal e jogou a cabeça para trás, bufando logo em seguida. Por que não ficaram no hotel? Era tão mais simples. Eles dormiriam por algumas horas, Raphael voltaria a estudar as propostas falhas de Alec e depois voltaria para Lewis até dar a hora de amanhecer. Mas não, tinha de se deixar a convencer pelo o outro.
— O que você acha de Harry Potter?
— Harry Potter?
— Sim. É a história de um garoto que sobreviveu ao...
— Ao ataque de bruxo poderoso que matou seus pais, mas ele conseguiu sair com uma pequena cicatriz e depois foi morar com seus tios que são trouxas. – interrompeu Raphael, recebendo um olhar espantado do companheiro. – Sim, eu assisto alguns filmes de vez em quando Lewis, ou você acha que eu não tenho dias entediantes? Pode ser eu gosto da saga.
— Okay... – respondeu o garoto, ainda espantado pelo gosto e conhecimento do mais velho. – Desde o primeiro?
Santiago assentiu e abraçou o vampiro, depois que ele deu play e deitou na sua frente. Quem os visse agora, acharia que seria apenas mais um casal normal assistindo um filme e aproveitando o tempo livre.
— Só uma dúvida. – Simon voltara a falar. – Você é de qual casa?
— Sonserina, Lewis. E você?
— Lufa-Lufa.
— Previsível. Agora, podemos voltar a prestar atenção no filme?
Simon sorriu e se aconchegou mais no abraço do moreno. Finalmente havia encontrado algo em comum além de ambos serem vampiros. Quem diria que Raphael teria uma pequena veia nerd? Será que fora efeito colateral das vezes em que ele tomara seu sangue? Não sabia, mas Santiago abrira uma porta para seu mundo nerd e Lewis não deixaria que ele fechasse.
— Simon, por que está sorrindo deste jeito? – questionou o outro.
— Nada amor, olha lá a parte em que o Harry sai do armário.
-
Simon acordou ouvindo alguém bater insistentemente no portão. O garoto retirou o braço de Raphael de cima de si e se levantou sem abrir os olhos. Haviam assistido os cinco primeiros filmes da saga, um atrás do outro e no meio do sexto, Ralph pegou no sono e já começava a amanhecer. Ou seja, não dormira quase nada.
Coçou a cabeça, bagunçando ainda mais o cabelo e bocejou antes de coçar os olhos várias vezes para que eles acordassem de vez. A batida voltou e agora mais forte o despertando do transe sonâmbulo em que se encontrava. Xingando quem quer que fosse, ele foi até o portão de metal e o abriu, tendo uma grande surpresa.
Na sua frente estava uma garota um pouco mais baixa que ele, com cabelos castanhos e olhos claros. Vestia um vestido curto verde e com estampa de losangos brancos, seu semblante era de poucos amigos e ela segurava um papel em suas mãos que Simon não conseguia ver o que era.
— R-Rebecca? – perguntou surpreso, o nervosismo já começava a se instalar dentro de si. O que ela estava fazendo ali?Como descobrira? – Que surpresa boa! O que faz aqui, querida irmã?
Simon forçou um sorriso visivelmente nervoso, enquanto avançava um passo para fora, a fim de impedir a visão do interior do local atrás de si.
— Precisamos conversar irmãozinho. – respondeu a mais velha – Será que eu posso entrar nesse... Armazém?
Se Lewis pudesse respirar, muito provavelmente estaria sem ar ou hiperventilando. Na sua cabeça palavras como “Não”, “Merda” e outras que não seriam educadas de ser ditas em voz alta, circulavam em um tornado desesperador. Ele não podia de forma alguma deixar que a irmã entrasse, não quando tinha um vampiro latino deitado na sua cama e sem camisa.
— S-Sabe o que é Becky? É que ta uma bagunça lá dentro! Tem muito... Lixo e... E ratos... Grandes ratos, bem gordos e com dentes gigantescos... Eu não entraria, na verdade estava até saindo, só vim pegar algumas coisas...
— E por que está sem camisa e de cueca? – interrompeu Rebecca, fazendo o garoto olhar para o próprio corpo. Ele estava com tanto sono quando levantou, que nem reparou que só vestia um samba canção.
— Ah é porquê...
Mas antes que pudesse terminar de inventar alguma desculpa, a voz de Santiago surgiu atrás de si, o incriminando.
— O que está fazendo ai fora, vampirinho? – perguntou o vampiro mais velho alheio a situação, aparecendo atrás de Simon. Tentava permanecer nas sombras, evitando a luz solar.
Se houve algum momento em que Simon quis desaparecer ou morrer, esse momento era esse. Sua irmã estava chocada. Os olhos arregalados, junto com a boca aberta em um “ó” inaudível, revelavam que ela já havia juntado as peças na sua cabeça, assim como um mais um são dois.
— Acho que realmente precisamos conversar. – disse o mais novo do trio por fim, dando espaço para que a garota pudesse passar.
Rebecca deu um passo hesitante para frente e encarou Raphael de cima em baixo, para logo em seguida fitar seu irmão. A confusão e o choque ainda eram visíveis em seus olhos claros. Era mesmo aquilo que ela estava entendendo? Simon estava se relacionando com aquele rapaz? Mas... Simon era hétero, não era? Com essas e outras dúvidas na cabeça, a garota adentrou o local.
— Simon, o que...
— Agora não Santiago. – cortou a fala, entrando logo em seguida.
Raphael ficou sem entender nada, apenas fechou o portão e seguiu os outros dois. Afinal de contas, quem era aquela garota?
Do lado de dentro, todos se sentaram em uma mesinha de carretel que havia por ali. Lewis tinha encontrado o objeto no dia em que se mudara de vez para ali e decidiu fazer uma mesa com ele com a ajuda do Pinterest. Havia banquinhos, onde se sentaram e uma toalha vermelha cobria a parte de cima da mesa.
O silêncio se instalou. Ninguém tinha a iniciativa de começar diálogo algum. Simon por medo da reação da irmã a tudo aquilo, Raphael por não está entendendo nada e Rebecca por não saber como proceder naquela situação. Em sua cabeça, ela sempre imaginou que seu irmãozinho se casaria com Clarissa Fray ou até mesmo Maureen, já que a menina demonstrava fortes interesses em Simon, mas ao que parece seu irmão tinha outros planos e esses envolvia um rapaz mais velho, mexicano e com um belo corpo, por sinal.
— Então... Alguém pode me dizer o que está acontecendo? – perguntou Raphael, quebrando o gelo e atraindo olhares dos dois Lewis para si.
— Hã... Raphael está é minha irmã Rebecca, ela é artista em Nova Jersey e vem para casa alguns dias. – esclareceu Simon. – Rebecca esse é o Raphael.
— Prazer... – disse Santiago só agora entendendo tudo. A menina apenas o encarou e balançou a cabeça lentamente, respondendo o cumprimento e se virando para o irmão.
— Vocês... Estão juntos?
— S-Sim...
— Há quanto tempo?
— Há algumas semanas.
— Entendi... – A voz de Rebecca saia delicada e baixa, como se pensasse em cada palavra que dizia ou se pisasse em ovos. Aquilo realmente estava acontecendo, Simon realmente era gay e estava se relacionando com o cara de semblante de poucos amigos ao seu lado. – Como... Como foi que isso tudo aconteceu?
O vampiro mais novo travou. Não havia mentira pronta para salvá-lo daquela pergunta, já que ele nunca precisou responder isso para ninguém. Todos já conheciam a história dos dois e ele não tinha como contar a verdade para sua irmã, já que ela nem sabia que ele era um vampiro. Ele não podia falar: “Então Becky, eu conheci o Raphael quando ele me seqüestrou enquanto eu estava com Clary em busca de uma entrada para uma cidade macabra feita de ossos. Ele me levou para a toca dos vampiros, pois é ele é um, eu me transformei e com o tempo acabamos nos aproximando.”, ele ainda lembrava da vez em que a garota encontrou sua garrafa de sangue e surtou. Sua sorte é que Santiago havia percebido isso e começou a contar uma história com tanta convicção que, se Simon não soubesse que era mentira, teria acreditado cegamente.
— Eu encontrei o Simon durante uma noite em que eu decidi dar uma volta. Ele estava tocando em algum lugar que eu não consigo me lembrar agora. Quando eu o vi, fiquei impressionado não só com o seu talento, mas também com o jeito... Único dele. No momento em que ele recolhia os instrumentos, eu me aproximei e perguntei se ele não precisava de um empresário. Ele aceitou e depois de alguns shows, certa noite, ficamos em um quarto de hotel sozinhos e acabou acontecendo.
Durante toda a enrolação de Raphael, o mesmo sorria e segurava as mãos de Simon, como se aquilo realmente tivesse acontecido e ele lembrasse com felicidade. Lewis apenas concordava, tentando não estragar a atuação do companheiro. O desgraçado realmente sabia mentir.
Rebecca que até então tinha escutado tudo com bastante atenção, parecia bastante convencida de aquela era a versão verdadeira. A garota o olhava de vez em quando, conforme o outro contava história. Depois de alguns segundos, enquanto tentava entender tudo que acabara de ouvir, Rebecca perguntou:
— Mamãe sabe disso?
— Ela conhece Raphael, sabe que ele é meu empresário, mas... Não ainda não contei. – admitiu.
— Espero que uma hora consiga e que você seja feliz. Acho bom que cuide bem dele Raphael, por que já aviso, não vai ser nada fácil. – disse Becky, tirando um sorriso de alívio do garoto e levando um soco falso.
— Pode deixar. – prometeu Raphael, sorrindo para a cunhada que ficou um pouco vermelha.
— Mas Simon, eu vim aqui por que precisamos conversar sobre isso. – a garota colocou o papel que o irmão vira mais cedo, e agora ele havia percebido do que se tratava. Era um envelope com o selo da faculdade em que ele cursava contabilidade. – Acho deve saber o que é.
— Minha carta de Hogwarts? – brincou, mas não surtiu efeito. Pelo contrário a cara feia de Becky só piorou. Ele pegou a carta e abriu. Era um comunicado que a sua matrícula havia sido cancelada devido ao grande número de faltas, impossibilitando que ele conseguisse acompanhar a turma.
— O que tem a me dizer?
— Becky, você sabe que eu nunca quis ser contador, e além do mais a minha carreira como artista está dando certo. Eu não nasci para aqueles números e sim para as notas musicais.
— Mas Simon, mamãe queria tanto...
— Mas eu não quero. Desculpe Becky, mas eu não quero mais fazer isso. – disse por fim, finalmente tomando uma posição para separar sua antiga vida da nova.
Rebecca sabia que Simon não mudaria de ideia e que agora era esse o caminho que ele iria seguir. Ela encarou Raphael e perguntou:
— Você acha que ele realmente tem futuro?
— Acho.
— Então espero que dê o seu melhor Simon.
Ela se levantou e os outros dois a acompanharam. Becky abraçou Simon e beijou sua bochecha, desejando lhe boa sorte, ela repetiu o gesto com Raphael, mas em vez de boa sorte disse que era pra ele ficar de olho em seu irmãozinho. Contudo, Simon ainda estava com uma dúvida na cabeça. Como ela havia descoberto onde estava?
— Eu rastreei seu celular já que não atendia. – respondeu a artista depois que o menino lhe perguntou. – Não é o único que sabe um pouco de tecnologia.
O celular de Simon estava morto, ele havia esquecido o carregador no Dummont e só se dera conta quando foram dormir. Rebecca já estava no portão, quando girou nos calcanhares para falar mais alguma coisa.
— Me diz uma coisa... Por que vampirinho? – perguntou a garota.
— Digamos que é algo particular. – respondeu Raphael com uma piscadela.
O rosto de Rebecca ficou vermelho e a garota apressou o passo em direção ao carro dizendo que realmente tinha de ir. Santiago riu com gosto, enquanto Simon batia em seu ombro morrendo de vergonha do que a irmã poderia ter pensado.
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