História O Plano - Segunda-feira

   No meu colégio havia um professor chamado Kim Taehyung. Ele era diferente do que você usualmente chama de "professor": era desajeitado, muitas vezes estava com o cabelo bagunçado, tinha uns papos nada a ver e sempre levava bronca dos superiores por causa seu jeito " descontraído " demais - e o mesmo não parecia ligar muito para os sermões. Esse já era o meu último ano e as únicas vezes que tínhamos nos falado foram quando ele me cobrava atenção na aula ou para fazer alguma tarefa. Na verdade, eu não tinha falado com muitas pessoas daqui nesses anos, mas o professor me despertava algo.
   Eu estava apaixonado.
   Apaixonado e desesperado, pois não bastando ser o meu último ano escolar, ainda me mudaria da cidade em alguns dias. Nunca mais o veria novamente. Com isso em mente, montei um plano, decidido a não ser só mais um aluno para ele.
   Era segunda de manhã e eu havia acordado mais cedo que o normal. Já me encontrava na escola antes mesmo do portão terminar de abrir - não tenho que falar da cara confusa do funcionário que o abria ao me ver passar tão cedo por ali. Digamos que eu havia feito o meu dever de casa e sabia que o professor Taehyung ficaria encarregado de cuidar da papelada na sala do professores essa semana como um tipo de punição. 
   Sem ao menos parar em minha sala para deixar as minhas coisas, fui direto para onde eu sabia que ele estaria. Ao me pôr em frente à sala, abri a porta mais rápida e animadamente do que deveria, recebendo um pulo assustado do moreno, que deixou os papéis em suas mãos caírem aos seus pés. 
   - Jeon?! - ele me olhou surpreso por alguns segundos, logo se abaixando para refazer a pilha. - Ai, meu Deus! Que susto! 
   Fiquei desconcertado por um breve momento, indo ajudá-lo a arrumar a bagunça em silêncio. Tudo o que se ouvia por ali eram os barulhos que ecoavam pela sala conforme pegávamos os papéis, mas em breve paços e conversas surgiriam pelo corredor, então tinha que me apressar.
   - Desculpe... - falei baixo, quando já estávamos prestes a nos levantar. - Não era minha intenção fazer essa bagunça logo de manhã.
   - Você me ajudou a arrumar, então tudo bem. Precisa de algo? - perguntou, enquanto se levantava vagarosamente.
   E foi nesse momento que saquei meu celular do bolso já abrindo a câmera, o puxei pela gola de sua camisa e o beijei. Mesmo que a essa altura eu já tivesse 18 anos, aquele ainda era o meu primeiro beijo. Com certeza não iria recuar agora.
   Ouvi novamente o som de papel caindo e de supetão nossos lábios se separaram. Olhei nos olhos do homem à minha frente e ele parecia abismado, me encarando em choque; mas isso não importava, porque eu já tinha o que queria.
   - O que você tá fazendo? Por que fez isso?
   - É bem simples, professor, e não pretendo demorar em explicações. - falei e virei o aparelho em minhas mãos para ele, tendo cuidado de manter uma distância segura. - Amanhã, toda a escola terá essa foto. Isso provavelmente vai arruinar a sua carreira, certo? - nesse momento, seus olhos começavam a mostrar pânico.
   - Por que você tá fazendo isso?! - disse exasperado, porém paralisado em seu lugar.
   - Você não me deixou terminar. - bloqueei o  celular, colocando-o em meu bolso. - Essa foto estará no celular de todo mundo... A não ser que concorde com a minha proposta.
   - Q-que... Proposta? - gaguejou confuso.
   - Nos próximos dias, toda manhã você vai me dar um beijo. - falei, tentando soar impassivo. 
   - Isso é um absurdo! Você é meu aluno!
   - Não tô te pedindo muita coisa, são só beijos.
   - "Só beijos", não vou fazer isso!
   - Ah, então talvez eu deva mandar a foto para o e-mail da direção agora mesmo... - ameacei, já colocando a mão em meu bolso.
   - Não, não, não! Por favor, não! - levantou as mãos em tom de súplica e parei para observá-lo. Ele abaixou os braços, cerrando o punho e soltou um suspiro pesado e cansado, de olhos fechados. - Tudo bem. Mas você tem que apagar essa foto na minha frente depois!
   - Você tem a minha palavra. - me virei em direção à porta, já ouvindo o som de alunos.
   Sabia que nesse momento eu deveria estar parecendo o vilão de alguma história para o professor Taehyung e, sinceramente, não me importava. Não mais.