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História O Plano Perfeito - Foda-se


Escrita por: Koha

Capítulo 4 - Foda-se


O Plano Perfeito

Escrito por Kohana

Capítulo Quatro – Foda-se


Eu estava há cerca de uma hora passeando pela empresa atrás da Ino. Ela disse que era crucial que eu conhecesse todos os funcionários. T-O-D-O-S. E não estava exagerando, porque até então, eu já tinha passado da lanchonete até o RH. E estava tão cansada, que já tinha cogitado tirar meus saltos Prada mais de uma vez.

– Sério, não podemos descansar um pouco? – pergunto, mas já sei a reposta, que exala com fúria dos olhos azuis de Ino. Eu já tinha feito essa pergunta mais de uma vez também.

– Pela enésima vez, não. Não podemos. Você precisa ter mais comprometimento como esposa do CEO dessa empresa, Sakura. Por favor, não me faça repetir isso. – essa última parte ela murmura quando um segurança passa por nós.

Como que para respondê-la, quando ele me olha mais tempo do que deveria – mais por curiosidade, do que qualquer outra coisa – eu aceno e sorrio com falso entusiasmo.

– Olá, sou Sakura Uchiha. – eu tremi no meu novo sobrenome, porque ainda não estava acostumada. Felizmente, ninguém pareceu perceber. – Obrigada pelo trabalho duro.

Ele olha para os lados, acho que receoso sobre eu estar falando com ele mesmo. Por fim, dá um sorriso amarelo e acena, indo embora. Eu olho para Ino, orgulhosa e ela rola os olhos.

– Não seja tão exagerada também. – murmura, aborrecida. – Você só precisa sorrir e acenar, falar é comigo. Para isso que eu sou paga.

Aparentemente, agora eu era uma celebridade e não estou exagerando quando digo que meu nome está rolando por essa enorme empresa todinha. Meu nome não! É mais como quem sou agora. A esposa de Sasuke Uchiha está transitando pelos corredores, cuidado – ouvi alguém murmurar quando passamos pela copa. Ino balançou a cabeça. Eu não sabia o que isso significava, mas achei graça.

Sorrio para um grupo de engravatados que passam por nós, se demorando com seus olhares em mim. Por dentro rolo os olhos. Homens. Não importa se eu sou a mulher do chefão, ainda tinham tempo de avaliar minha comissão de frente.

Uma bela comissão de frente, devo acrescentar.

Eu não era de me gabar, mas eu tinha um corpão para quem teve dois filhos. E eu fiquei enorme quando estava grávida dos dois, o que me deixou perturbada na época – os hormônios. Um dia eu vi uma mulher grávida numa praça, sorrindo enquanto comia um enorme pote de sorvete – eu nunca vi ninguém mais feliz na minha vida. E eu a achei simplesmente magnífica. Tão linda, que a desenhei na parte superior das minhas costas exatamente como a desenhei em meu caderno. E depois disso, nunca consegui me achar feia. Ás vezes sentia falta do meu barrigão.

– Quanto tempo você trabalha para Sasuke? – eu também não estava acostumada a chamá-lo pelo nome, mas ele tinha total razão; era meu marido, afinal.

– Dois anos. – ela responde, cheia de orgulho. – Não é fácil, mas eu não posso reclamar. É o emprego da minha vida.

Ino mudava radicalmente quando o assunto era ela. E eu percebi isso porque ela não falava muito de si mesma, no entanto, quando falava, seu rosto parecia de uma garotinha de cinco anos, empolgada em contar o que ocorreu em seu dia.

– Você deveria ganhar o troféu do ano por isso. – murmuro, mas ela me ouve.

– Se você não pisa no calo dele, dá para suportar. – ela percebe, só então, o que falou e balança a cabeça exasperada. – E eu não devia falar isso para a esposa dele.

– Você diz como se fossemos os melhores amigos do mundo. – é bem do contrário, quase disse. – Na verdade, eu não sei como vou fazer para suportar isso até acabar.

Eu que não devia dizer isso, pensei, mas já era tarde. A feição dela se tornou de terror. Seu queixo quase chegou ao chão e seus olhos azuis quase saltaram. Espera... isso já é exagero . Penso em dizer alguma coisa, mas uma Smurfete corre em nossa direção, tão ou mais apavorada que Ino.

– Ino... – ela diz, apressada – Acho melhor não entrar lá agora.

Olho para a loira pequenês e me lembro dela. É a secretaria de Sasuke. Eu fiquei alheia a estarmos no andar dele até agora, porque estava empenhada em cumprir o meu dever, que era deixar que todos se acostumassem com a minha imagem. Mas agora que reconheço a recepção, não posso ignorar o tremor que corre a minha espinha todinha.

Eu ia revê-lo de novo.

E eu tinha evitado isso desde que ele disse que não iríamos transar, quatro dias atrás. Também evitei pensar nisso, porque eu realmente fiquei decepcionada. Não tenho problemas em aceitar meus sentimentos, porque sempre fui muito honesta comigo mesma e com os outros. Claro que isso não significa que não me incomoda, porque definitivamente eu deveria estar feliz pelo fato de não termos que transar.

Era uma culpa a menos para carregar nas costas: sexo por dinheiro.

Embora, também, eu queira isso. Não, queria . Pretérito. Se ele não quer, eu não quero em dobro. Não era mulher para ficar mendigando uma transa, ainda que eu fosse passar um ano sem transar.

Exclusividade fazia parte do acordo – até onde eu sabia, só da minha parte. Mas pagando do jeito que ele está, eu que não reclamaria. Depois disso tudo teria dinheiro para pagar uma foda até com o Adam Levine.

Além do mais, era uma mulher de palavra. Iria cumprir todas as minhas tarefas, porque estou sendo paga para ser a esposa troféu, então que se dane! Engoli meu medo e vim até aqui.

Mas não vou mentir, to querendo vomitar ele agora.

– O que houve?

Ela abre a boca, então fecha. Seus olhos castanhos tremulam e ela parece mesmo estar exagerando. Não que eu duvidasse da ocorrência, mas ela parecia ser bem melhor atriz do que eu.

– O senhor Uzumaki... – e parou, e eu tive certeza que ela queria fazer dar um quê de drama na situação. Quando ela colocou a mão no peito, quase gritei “BINGO” – Ele está lá dentro, com o senhor Uchiha. E, nossa, a coisa tá feia.

Eu fiquei pensando sobre como um homem tão sério, tão sutil e inexpressivo como Sasuke tinha uma secretária como aquela. Longe de mim julgar, afinal ele se casou comigo. Mas era no mínimo... estranho.

Uma parte minha se incomodou com isso, mas eu a repeli para longe. Quem sou eu para me importar com quem ele contrata?

– Acho que é melhor não entrarmos, então. – Ino murmura, ainda com aborrecimento antes de se virar. – Vamos, voltamos outra hora.

Mas nem fodendo! Eu precisava que ele assinasse a minha carteira de “missão cumprida”, que era como eu a chamava. Nosso contrato era regido por tarefas que eu teria que cumprir, como um desafio. Se eu não cumprisse, não tinha dinheiro. Era assim que funcionava. E hoje minha tarefa era desfilar pelos corredores da sua empresa e eu cumpri tudinho.

Não perderia cem mil dólares assim, mas nem fodendo com Adam Levine.

– Eu acho que a situação não deve ser tão grave. – digo, com confiança. A miniatura de Barbie Secretária me olha com olhos piscantes, como se só tivesse me notado agora. – Não é como se fossemos demorar também, né? Ele não vai morrer se gastar dois segundos para assin... ver a esposa dele. Me ver.

– Hmm, me desculpa, mas... isso que acabou de dizer, de onde tirou essa ideia?

Eu não sei o porquê de estar sorrindo tão convencida quando olho para Ino, mas ela também não parece tão diferente. Ela limpa a garganta, fingindo um profissionalismo exagerado para encobrir o seu deleite.


– Ora, ela não acabou de dizer? É a esposa dele, a nova senhora Uchiha.

A coitada fica branca. Quase que eu sinto pena dela. Quase. Porque, no momento seguinte, ela está me olhando toda arrogante, de cima abaixo, como se tivesse conferindo a mercadoria. Eu arqueio uma sobrancelha para a petulância dela. Eu sei que não sou porra nenhuma na vida de Sasuke, mas ela não sabe.

– Eu não sabia que Sasuke tinha uma esposa. – Sasuke? Eu mal conseguia falar o nome dele sem achar estranho! E era a porcaria de um esposa de mentira, pelo menos mais do que uma secretaria.

– E eu não sabia que ele devia satisfação da vida dele para suas secretarias. – digo, ríspida, mas logo me repreendo. Eu não deveria me irritar com isso. – Mas tudo bem. Acontece, né? Também, nos casamos tão depressa. Esse negócio de paixão á primeira vista que as pessoas falam.

Digo a mim mesma que estou assim porque odeio ser rebaixada. Não importa o que eu seja, ninguém pisa em mim. Ninguém tem o direito de se achar superior a ninguém – principalmente a mim. Eu sou confiante o suficiente para não deixar que isso ocorra.

– Ino, podemos ir logo? Estou cansada. – faço uma expressão de exasperação, abanando minha mão para a pequena polegar. Ela se afasta. – E não precisa me anunciar. Ele sabe da minha visita.

E sabe mesmo. Ele ordenou que eu viesse. Então eu definitivamente não vou arredar o pé daqui até ele assinar a maldita carteira. Mas isso na teoria era bem fácil. Quando cheguei a porta, travei.

– Ah, nem vem! – Ino cruza os braços, com um sorriso de escárnio – Depois do show que você deu, você vai.


– Mas ela bem que mereceu, né? Você viu como ela me olhou. – inflo as bochechas, irritada. Ela acena, fazendo uma expressão do tipo "certo, certo... ela bem que mereceu mesmo". — Só queria que fosse mais fácil na prática do que na teoria. 


– De qualquer forma, quem vai levar a culpa é você mesmo, então não me importo. – ela avança alguns passos, me olhando com os olhos estreitos. – Você vai entrar aí nem que eu chute essa sua bela bunda.

– Você acha a minha bunda bonita?

O inacreditável acontece: Ino cora. Seu rosto fica da cor dos seus brincos e ela abre a boca várias vezes, mas não diz nada. Com essa imagem me deixando um pouco mais leve, eu rio e empurro a porta.

– ...Eu não consigo acreditar que você foi capaz de se casar com a porra de uma prostituta de merda!

E eu quis dar meia volta assim que entrei. Ino parou bem atrás de mim, porque eu não sou capaz de prosseguir. Mas também não consigo e não posso voltar. Assim que as palavras foram cuspidas com um grito forte, o escritório ficou silencioso e dois pares de olhos vieram em minha direção.

Naruto. – Ino murmura escandalizada atrás de mim.

Sasuke está sentado atrás de sua mesa, com as mãos juntas e os cotovelos apoiados no vidro. Por um momento, ele parece surpreso. Seus olhos expressaram isso. Mas logo parecia tão indiferente como sempre e, talvez – só talvez – tivesse algum quê de satisfação nisso tudo.

Enquanto o outro, que parecia um vulcão de raiva quando entramos, agora está confuso me avaliando – me avaliando mesmo, ainda que claramente surpreso.

– Você...? Você é a garota da máquina de café, né? – sua voz está arrastada e meio rouca, porque ele estava gritando.

Ino parece travada atrás de mim, enquanto eu cravo meus olhos nele com toda a força que tive sempre – porque aquela não era a primeira vez que eu era ofendida assim.

Foda-se.

– Também conhecida como a porra de uma prostituta de merda. – me obriguei a andar em sua direção, estendendo a mão até ele com um sorriso. – Prazer, sou a senhora Uchiha.

Ele está atônito. Vendo isso, recolho a minha mão com um balançar de ombros.

Não olho para Sasuke, mas o vejo de canto de olho. Por algum motivo, ele parece estar se divertindo, enquanto o senhor Uzumaki – que só agora eu me lembrava como o homem atencioso que, com certeza, ele não era – estava atônito, quase trocando a cor bronzeada de sua pele pela de um papel.

Ok, pelo menos ele estava arrependido. E tentou se explicar, mas eu levantei uma mão – a mesma que levantei para cumprimentá-lo –, o calando.

– Não gaste saliva comigo, senhor Uzumaki. Eu não mereço tanto. – sorrio, mas estou fervendo. Fervendo de ódio. Já disse o quanto odeio ser rebaixada? Pois então, o que quero fazer agora não está nem perto do que fiz aquela miniatura de secretaria. – Eu só estou aqui porque gosto de cumprir meus deveres e sempre espero o mesmo de quem deve fazer isso também.

Dessa vez, olho para Sasuke. Era a primeira vez que o via depois de quatro dias – depois que ele me humilhou no corredor, minha consciência grita de volta. Droga, não pense nisso! Ele parece igualmente irresistível, mas um pouco menos cansado. Seu olhar vagueia em mim e ele está sério, mas eu posso ver o resquício de um sorriso insinuado.

Não me importo. Quero gritar para que ele e essa marra de homem incógnita vão para o inferno. Ao invés disso, firmo o passo até sua mesa e paro em sua frente. Continuo olhando-o enquanto abro a minha bolsa e pego a carteira que ele me deu. Ele, por outro lado, caminha com seus olhos por todo o meu corpo e volta, até parar em meus seios.

Eu quero sorrir agora. Sabia que o vestido escolhido –  um azul Royal que deixava meus seios bem maiores e estava colado em minha cintura –  me deixaria divina. Embora isso, ele era um conjunto mais escritório que me fazia querer beijar Ino pela boa escolha.

– Assine, por favor, querido. – falo lentamente a ultima palavra, me inclinando um pouco para pegar uma caneta em seu porta-cartões como a boa prostituta de merda que eu era.

Sim, eu estava fodida de raiva.

–  An... Sakura, eu não... –  ouço a voz do senhor Uzumaki. Oh, então ele sabe sim meu nome. –  Me desculpa. Não queria te ofender, embora tenha feito. Só estou... surpreso.

– Também estou. – digo, sentindo a minha garganta fechar. Continuo olhando para Sasuke, mesmo falando com o senhor Uzumaki.

– É que... porra! – ele não parece incomodado em ser tão expressivo. – Isso não é do seu feitio, cara! Casar com uma... ah! Merda.

Inalo todo o ar que posso, mas não me permito mostrar a eles o quanto isso está me quebrando por dentro.

– Você não é o tipo dele. – agora, eu quis rir. Sério? É a melhor desculpa que ele tem?

– Não se preocupe, senhor Uzumaki. Meu marido já deixou muuuuuito claro que eu não sou o tipo dele. – dessa vez, Sasuke me encara sério e eu, como a boa filha da puta que sou, sorrio. – Felizmente homens frios também não fazem meu estilo. Eu gosto de homens quentes.

E foda-se. Eu sabia que me corroeria mais tarde, me lamentando por isso. Mas foda-se de novo. Não importa que eu seja mesmo o brinquedo de Sasuke Uchiha, a marionete que ele usaria para sabe se lá o que. Eu ainda tinha um orgulho e um restante de dignidade – então foda-se pela terceira vez.

Quando ele assinou, eu sorri com um agradecimento fingido e sai rebolando de seu escritório, bem certa de que ambos – se não os três – estavam secando a minha bunda.

É isso aí, idiotas.



Felizmente, achei um banheiro. E porra, ele era maior que meu apartamento. Não, meu antigo apartamento, me lembro. Assim que fecho as portas, não me importo: tiro os sapatos e os jogo para debaixo da pia. Estou tremendo, minhas pernas estão fracas e, no reflexo, eu consigo ver claramente toda a minha aflição.

Não que eu não estivesse sentindo ela em todo meu corpo.

Tem uma prateleira de várias coisas, que eu olho por cima. E alguns pufs no canto inferior, em formato redondos. Bem, pelo menos ninguém pode falar que Sasuke é muquirana. Eu me jogo contra um deles, olhando para o teto. A porta se abre e uma moça bem alta, de cabelos escuros e franja estilo colegial, entra.

– Oh... espero não estar incomodando. – ela diz, me olhando com apreensão enquanto vai até o espelho. – Dia difícil?


Bem contraditório, não?

Eu não quero falar com ela. Eu não sou dessas mulheres que ficam de fofoquinha no banheiro. Penso até em ser sincera e jogar um “não me leve a mal, mas fica quietinha enquanto eu rumino as desgraças da minha vida?” mas quando a olho bem, considerando mesmo fazer isso, vejo que seus olhos estão molhados e ela tenta disfarçar isso com corretivo – mas não está passando do jeito certo.

– Para nós duas, tô vendo. – digo, me levantando. – Você está passando da forma errada. Desse jeito vai parecer que deram um soco na sua cara.

Ela ri – realmente ri – do que falo, e parece realmente honesta. Me passa o tubinho de corretivo mas eu não o pego. Olhando-a bem, é bem bonita. Tem a pele clara, os olhos de um tom quase pérola de tão claros e o cabelo liso – mas não, não sabe se vestir. Está usando um vestido azul com flores amarelas e verdes – a própria bandeira do Brasil –  de gola role e mangas cumpridas que vai até os seus joelhos.

Será que ela consultou Sasuke para se vestir?

– Você não está com calor? – pergunto e ela se olha, visto que eu a encarava. Quando volta a me olhar, tem um rubor nas bochechas que a deixa adorável como uma garota de quinze anos flertando com o capitão do time de basquete.

Ai, Deus!

– Bem, huum... não. Um pouco. Mas eu sempre me vesti assim. Não gosto de mostrar muito o corpo.

Como que para dizer exatamente a forma que não gostava de se vestir, ela me olha, mas sem querer, porque logo tenta consertar. – Belas tatuagens.

– Obrigada. – digo, indo até a minha bolsa e pegando minha necesserie. – Vem cá, quantos anos você tem?

– Vinte e quatro.

– Sério? Você se veste como uma garota de quinze anos. Não! – olho para ela, que parece estupefata. – Você age como uma garota de quinze anos, mas se veste como uma velha de cem.

Como que muito surpresa – como assim? Alguém precisava ter dito isso a ela antes – ela se olha de cima abaixo, horrorizada com a minha constatação. Estou pronta para ouvi-la me mandar pastar, quando ela me surpreende colocando a mão na boca e rindo com força.

– É serio? – ela se volta para seu reflexo. – Bem, eu... todos sempre diziam que eu estava tão... elegante. – ela testa a palavra, mas, graças a Deus, constata por ela mesmo que não é uma boa palavra para descrever seu figurino. – Ah, minha nossa, estou me sentindo horrível agora.

– Calma. – murmuro, me aproximando dela com uma pontada de culpa. – Também não sou profissional no assunto. Só estou te dando um conselho amigo, você precisa fazer umas compras. E, definitivamente, longe dessas pessoas que elogiaram esse vestido.

Ela parece mesmo se divertir, ainda que esteja horrorizada por, só agora, constatar o que eu disse. Sim, ela também pode ver. Mas caramba, porque só agora?

– Minha mãe morreu alguns anos atrás. – diz, com um sorriso fraco. Não parece estar chateada pela lembrança. – Eu comecei a usar as roupas dela, porque achava bonito nela. Mas eu tinha, o que? Dez anos quando pensava isso? Bem, isso. Quando comecei, minha babá dizia que eu estava igualzinha a ela e, depois disso, não parei mais.

– Sinto muito. – agora eu estava me sentindo terrivelmente culpada.

– Não, tudo bem. – ela sorri descontraída, olhando-se no reflexo. – Acho que eu queria me lembrar dela, mas não medi o senso de moda. Minha mãe era bem... excêntrica.

– Isso não é ruim. E, pensando por esse lado, é até um gesto bonito. – tentei consertar, porque fiquei tocada com a historia. – Sua mãe era original, e isso não é um defeito.

– Pois é, mas essa não sou eu, então é um problemão. – ela crispa os lábios, fazendo um som de chateação.

– Lógico que não! Uma passeada no shopping com algumas amigas vai te ajudar.

Ela abre a boca, mas não fala. Parece meio constrangida.

– Por que você tem amigas, não é?

– Não. Na verdade, não. Tenho Lana, a minha babá, mas...

– Ah, sua babá? Você tem 24 anos! – eu to chocada com essa menina.

Ela ri, adoravelmente divertida. Realmente, até que ela se encaixa bem no posto de menininha, afinal, era bem espontânea essas reações.

– É forma de dizer. Não é como se ela cuidasse de mim como antes, é mais... uma amiga mesmo.

– Que provavelmente tem uns sessenta anos.

– Como você sabe?

– Você já é bem previsível, senhorita Careta.

Ela me olha, chocada. Bate em meu ombro levemente e eu a olho, surpresa. Só então ela percebe o que fez e começa a se desesperar, mas eu bato em seu ombro de volta, brincando como ela e, logo em seguida, estamos as duas rindo.

– Ah, como isso é divertido. Digo, ter alguém para conversar assim, que me fale essas coisas.

– Vem aqui, vou cobrir esses olhos inchados. – digo, puxando-a para mim e pegando meu corretivo. – Ninguém costuma dizer essas coisas?

– Não mesmo. – ela bufa, com incredulidade. – As pessoas tendem a não serem muito sinceras comigo.

– Isso é péssimo.

– Sim. – ela suspira. – A propósito, sou Hinata Hyuga.

– Sou Sakura. – suspiro, aproveitando que ela não está me olhando para rolar levemente os olhos. – Sakura Uchiha.

E seus olhos se arregalam, assim como eu previa. Ela abre a boca levemente e me olha. – Parente dos Uchiha?

Esposa de Sasuke Uchiha.

– Noossa, eu não sabia que ele havia se casado. Teria mandado um presente.

– Foi algo bem intimo. – digo, torcendo o lábio. Meu casamento devia exigir um novo nome, bem mais apropriado do que “intimo”. Isso era um eufemismo.

Eu termino de cobrir seus olhos inchados e ainda acrescento uma sombra escura para destacar. Isso! Depois do batom vermelho e o blush, a garota parecia outra pessoa – embora seu vestido ainda não fosse a minha visão preferida.

Aos risos – porque Hinata me contou que usou um macacão amarelo com melancias para ir a formatura da irmã – nós saímos do banheiro e eu me sinto incrivelmente mais leve. Eu digo a ela que tenho dois filhos e, muito orgulhosa, mostro as fotos que tenho em meu novo celular — um iPhone 7 que Sasuke fez questão de me dar. Ela fica fascinada e eu, claro, sorrindo feito a mãe babona que sou.

Quando estamos chegando de volta ao escritório, damos de cara com Sasuke e o senhor Uzumaki. Hinata, na mesma hora, retesa e fica pálida – e, honestamente, ambos não pareciam diferente. Mas Hinata, diferente de mim, não estava olhando para Sasuke.

Eu limpo a garganta. – Senhores. – e sorrindo, olho para Hinata, mas ela já parece melhor e esboça um sorriso ao estender a mão para eles. Minto! Ela sequer olhar para o senhor Uzumaki.

– Hmm, como vai Sasuke? Eu estava me divertindo muito com a sua esposa. – ela diz, agora mais animada e me olha, depois olha para ele. – Acho que arrumei uma grande amiga. Que mulher espetacular você foi arrumar!

Pela forma que ela fala com ele, parecem se conhecer. É uma mistura de formalidade contida – entre empresários, talvez. Porra! Só então eu entendo o que está acontecendo e mal posso conter meu sorriso de vitoria.

– Eu convidei Hinata para sair. – quando digo o nome dela, nem mesmo Sasuke pode esconder a surpresa de tanta informalidade. – Nós iremos fazer umas compras e bater um papo. Espero que não se importe, querido.

Ele percebe o meu tom e em como eu quero – na verdade, preciso – provocá-lo. Se era assim que iríamos jogar até passar um ano, que fosse! Não era tão desagradável.

– De forma alguma. Não poderia deixá-la em melhores mãos. – ele sorri. ELE SORRI. Como assim? Desde quando Sasuke era capaz de sorrir? E ser simpático? Calma, pare o mundo que eu quero descer! – Mas antes eu preciso que você venha a minha sala. Sophie me ligou para conversar a respeito das crianças.

Meu coração pula. Meus filhos... o que aconteceu? Eu começo a tremer e, vendo minha reação, Sasuke se aproxima e coloca a mão em meu braço. – Calma, não é nada demais. – seu sussurro me acalenta, principalmente porque ele parece mesmo preocupado com a minha reação.

Engulo o nó na minha garganta e ignoro a sensação que tive, desviando meu olhar do mar negro que era seus olhos para Hinata, que também parecia levemente preocupada.

– Tudo bem te deixar sozinha por um tempo?

– Sim, claro. Eu espero.

Mas, tanto ela quanto – só agora percebi – o senhor Uzumaki parecem incomodados em ficarem sozinhos no mesmo local. Guardei isso em minha mente, enquanto seguia Sasuke.

Quando entramos no escritório, ele fecha a porta e eu o olho, ansiosa, esperando que ele diga alguma coisa. Ele me olha volta, passando o polegar pela barba áspera e me analisando ainda com aqueles olhos cheios de desejos.

Tremi. Porque, só então, me dei conta do quanto isso me intimidava – e o quanto ele estava mentindo a poucos minutos atrás.

– Não aconteceu nada com os meus filhos, não é?

– Não. – responde, indo em direção a sua mesa e se apoiando nela. – Mas tive medo que você não viesse sem uma força de persuasão.

Força de persuasão? Cretino filho da puta! Eu ando em sua direção, apontando meu dedo indicador em seu rosto.

– Nunca mais use meus filhos como desculpa para qualquer uma das suas merdas, entendeu? – estou irada enquanto fuzilo ele, e ele parece surpreendido por conhecer, finalmente, a minha versão fodida da vida, sendo que, até agora, eu estava sendo boazinha demais. – Eu já não deixei claro que sou a porra do seu brinquedo? Durante um ano, você pode fazer o que quiser comigo. Comigo. Com eles, não.

Minha voz ameaçadora e a forma como o encaro parecem o divertir, então. Ele insinua aquele sorriso, que aparentemente era a única coisa de verdadeiro que ele tinha.

– Eu já entendi. – cruzo os braços contra meu peito, empinando meu nariz. – Você adorou essa coincidência com Hinata, né? Eu notei como você sorriu.

– Está com ciúmes?

– Respeita a minha história, querido. – cuspo, mas ele ainda está se divertindo pela forma que falei. – Eu não sei o que isso é para você, mas não estou disposta a fazer qualquer coisa de errado com aquela menina. Eu te avisei sobre a minha índole, né? Não importa o que você pensa, eu...

– Você pode se acalmar? Não quero nada de você em relação a Hinata. – ele me interfere, agora um tanto sério. – Tudo que você precisa saber é que ela é importante para a minha empresa. E realmente, essa sua amizade com ela me veio a calhar. E muito. – ele parece momentaneamente alegre, mas isso é rápido demais. – Ser amiga dela é tudo o que você precisa fazer, na verdade.

Ele inclina sua mão em minha direção e eu franzo o cenho, sem entender. – Me dê sua carteira.

– Para quê? – digo, com cautela. O que ele está tramando?

– Vou assina-la.

– O que? Não, você já assinou hoje.

Ele continua com a mão estendida e deita sua cabeça para o lado, mais uma vez, me olhando de cima abaixo. – Você tinha razão em não querer cobrir seu corpo. Ele realmente fica delicioso nesses vestidos que você usa.

Porra! Como isso foi aleatório! Eu fico embasbacada, enquanto ele se aproxima, ficando tão perto de mim que eu sinto seu cheiro de madeira com algum toque cítrico. Que gostoso... não! Acorda, Sakura! Mas ao me deparar com aquela cicatriz, fico pensando em como ele é lindo com ela e me deixo levar, até que ele tira a minha bolsa de mim e pega a minha carteira de missão cumprida.

Quando ele se afasta, eu saio do transe. E fico muito puta enquanto ele assina, o que é ridículo, quando ele está me dando mais dinheiro.

Mas eu quero gritar! No entanto, quando olho para sua calça, posso ter um vislumbre de uma marca. Uma marcona! Eu não sabia que era capaz de corar, mas aconteceu. E quando o olhei, ele não parecia nenhum pouco constrangido com isso.

Sasuke Uchiha está com uma ereção por minha causa? Ca-ce-te.

– Hmm, bem... não que eu esteja reclamando, mas o que exatamente eu fiz para merecer outra assinatura?

Ele me olha sob a franja, que recai suavemente em sua testa. Seus lábios tencionam enquanto ele assina e, por um momento, enquanto ele aperta a caneta entre seus dedos, eu fico imaginando em como seria ele apertando meus mamilos.

Que ficam duros só de pensar!

– Você se tornou amiga de Hinata Hyuga. – ele diz, me devolvendo a carteira. – E me deixou de pau duro.

Eu to no chão! O quão difícil seria deixar um homem de pau duro? Não era difícil, a não ser que ele fosse doente. Mas não. Isso não. Então, porque seria tão difícil para ele se excitar comigo?

– Bem... – limpo a garganta, evitando olhar para aquela ereção, a cicatriz e, principalmente, aqueles olhos, que pareciam me comer. – É realmente uma pena, não é? Gostaria de ajudar você com isso, mas já que nada me obriga, vou sair para você bater umazinha.

Sorrio, vendo que agora ele está bem sério. Há-há! Meu subconsciente ri, enquanto eu dou uma piscadela para ele e olho, mais uma vez, para aquele formato delicioso em sua calça antes de me virar e ir embora. Realmente, uma pena.

Eu saio desfilando pelo corredor, evitando o olhar irritado da secretária. Quando encontro Hinata, ela está com uma cara de poucos amigos – o que não parece ser diferente com o senhor Uzumaki.

– Está tudo bem? – murmuro. Parece estranho, porque acabamos de nos conhecer, mas gostei mesmo dela.

– Sim, está. Vamos logo?

Eu aceno, meio confusa. Não me dou ao trabalho de me despedir do senhor Uzumaki, embora ele pareça esperar isso – não só de mim, claro.

– É impressão minha, ou...

– Ex-namorado. – ela fala, rápido. – Um grande filha da puta.

Não sabia se estava mais surpresa por ela conseguir falar palavrões ou por ter se envolvido com aquela espécie de homem. Embora, tirando a parte que nos desentendemos, ele não parecia de fato ser um cara filho da puta.

Mas ex-namorados sempre eram filhos da puta. Eu tinha Hino como um belo exemplo.

 


Notas Finais


Acho que é a primeira vez que faço uma atualizado tão rápido. Isso porque eu tenho capítulos prontos e problemas com ansiedade.

But, sorry, não sei quando volto agora ;(


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