Minha mão desliza pelo corpo retirando qualquer resquício de amassado e viro-me de costas pro espelho olhando meu corpo e meu bumbum. Estou me sentindo incrivelmente sexy. A bunda empinada e redonda marca bem a saia lápis cinza a minha cintura. Uma fenda discreta do lado direito mostra aproximadamente um palmo da minha coxa esquerda bem torneada. Não frequentava acadêmia, já frequentei no passado. Hoje, com meu tempo de trabalho e o que passo fazendo coisa extra em meu apartamento não me sobra muito. Então tenho que escolher entre duas horas de lazer no dia ou ir levantar peso e fazer agachamento. Para minha sorte nunca tive tendência para engordar, então minha alimentação quase sempre saudável é suficiente.
Minha blusa ensacada é branca sem mangas e de seda. Justa e simples, mas que caía muito bem em meu busto e dava atenção ao meu colo. O que fecha meu visual é o blazer do mesmo conjunto da saia que cai por cima dos meus ombros sem realmente vesti-lo. Giro o relógio folheado em ouro no pulso e seus ponteiros indicam que eu estou pontual, como sempre. Não deixo a desejar quando o assunto é minha carreira profissional, porém, apesar de saber fazer meu trabalho, sempre tive vontade de jogar tudo pelos ares e seguir com a carreira que almejei desde a infância.
Há um colar dourado de cordão fino adornando meu pescoço magro e caindo com exuberância em minha clavícula levemente exposta e que aos meus olhos eram um charme. Eu era um charme. Um cordão de tamanho menor fazia par com o relógio em meu pulso.
Não estou usando brincos, na verdade não creio que combine com meu visual — embora eu tenha certeza de que minha querida amiga Ino irá discordar —. Meus cabelos que chegam facilmente na cintura estão presos num rabo de cabalo alto e pranchado, dando a eles uma simetria invejável. O penteado é modesto e fácil de fazer. E minha maquiagem? Bom, não que eu realmente precise, mas fiz questão de marcar o nude em meus lábios com uma simples pincelar do delineador.
Estou para matar, tenho plena consciência disso.
Casualmente não costumo usar roupas assim para trabalhar, mas hoje irei entrevistar uma das renomadas empresas de empreendimentos de Nova York. A jovem que acabara de tomar posse era a filha de uma dos antigos donos. Ambos que passaram a sucessão dos cargos para seus filhos ainda na faixa dos vinte e tantos anos e é claro que todos querem saber a respeito do assunto.
Caminho em direção à saída de meu apartamento, passando pelo sofá e pegando minha pasta com os documentos de trabalho e minha bolsa. As chaves do meu carro giram em meu dedo indicador enquanto aguardo o elevador chegar a garagem. O cubículo de metal está vazio e eu permaneço olhando para o chão enquanto penso nos problemas da vida.
Na noite passada transei como sempre quis, libertando-me de maneira vulgar para um homem que nunca havia visto e que provavelmente nunca mais verei. Ele se denominou Neji, mas certamente isso seria meu nome fictício para trabalho. Posso sentir sem pressa os hormônios liberados pelo meu duplo orgasmo atravessarem meu organismo e me darem essa leveza. Em todo meu quase inexistente conhecimento sobre sexo bom, uma trepada violenta, nunca imaginei que poderia vir a acontecer comigo as maravilhas que as pessoas afirmam com veemência sentir. Agora eu sei. Agora eu posso exigir e caminhar pelos trilhos do meu bel prazer. Se o cara tá fazendo errado ou me desestimulando eu caio fora, não estou afim de aturar criança na cama. Não tô grávida pra dar leite. Eu quero um cara experiente, eu quero um homem.
Como aquele foi.
Após o meu segundo orgasmo o tempo esgotou e a energia do quarto foi cessada. Era uma espécie de sistema presente para que os caras não passassem mais tempo do que deveriam com suas clientes. E começa a contar a partir do momento em que você entra no cômodo. Afinal eles tem que continuar gerando lucro, não é? Mesmo com aquele ar de durões e afirmativa de que transam com quem querem, eles não passam de meros peões nas mãos dos cafetões. Fiquei levemente pensativa se o meu garoto de programa havia se demorado comigo no salão de maneira de proposital. Era obvio que eu não ia pagar por mais tempo. Eu vivo bem de vida, rica não sou.
Mas a transa acabou, o tempo cessou e eu fui embora. Chamando um táxi no meio da madrugada pra não precisar ir atrás dos meus amigos e ouvi-los perguntando sobre meu sexo. Porra, é o meu sexo. Vou contá-los se me der na telha. Caí na cama exausta sentindo ainda a lerdeza dos orgasmos. Porém o dia amanheceu, meu horário de acordar bateu e quem desceu daquela cama foi a mulher que todos conheciam, Mitsashi Tenten politicamente correta e que seguia à risca as regras.
Sou formada em Jornalismo e trabalho NY:News!, uma das principais revistas do estado. A empresa se divide em vários pontos como: NY:Famous!; NY:NewsS&F!; NY:Facts! e etc. Minha área é advocacia jornalística e trabalho no último setor citado.
Pisquei levantando a cabeça e ajeitando a postura quando as portas do elevador se abriram. O som do meu salto podia ser ouvido ecoando pelo estacionamento ainda cheio de carros, vazio de pessoas, não era tão tarde assim e eu só precisava estar na empresa às 08:00hrs. Passos cuidadosamente trabalhados até o meu veículo estacionado. De longe conseguia ver a imagem dos cabelos tingidos da minha colega de trabalho e vizinha de prédio. Haruno Sakura estava vestida de maneira não tão formal como eu, mas apresentável sim. Voltou sua atenção para mim ao ouvir o som dos saltos e ficou me olhando com aqueles olhos verdes aguardando minha chegada.
Já próxima o suficiente num único movimento joguei a chave do carro que estava na minha mão em sua direção, a Haruno arregalou os olhos e pegou-a de maneira estabanada como pôde.
— Mas que porr... — ela praguejou pela forma que a abordei, me olhando com o cenho franzido.
— Você dirige! — as palavras saíram junto de um riso discreto, girei os calcanhares piscando para ela e seguindo para o lado do passageiro.
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Distraída e pensando em nada, continuo a brincar com as unhas enquanto observo a manhã cheia de minha cidade. Meus olhos vagueiam sem rumo fixo dentre os passantes na calçada e os carros que de vez em sempre passam entre nós. Sakura era um terror no trânsito e eu tenho minhas sérias suspeitas dela ter feito suborno para conseguir retirar essa carteira recém-feita. Todavia, incrivelmente isso não tira a paz interior que sinto comigo mesma. Há algo de belo em ter amor próprio, é como se o caos do mundo não pudesse te afetar. Pisco os olhos girando o pescoço, posso ouvir a mulher de cabelos rosados tagarelar ao meu lado sobre vários assuntos e apenas me concentro em ouvir. Tirando um tempo para mim mesma.
Estico meu braço para buscar no porta-luvas e alcançar meu crachá em seu interior. Observo com uma sobrancelha arqueada o meu nome e algumas informações úteis no objeto. Ergui os olhos mirando da esquerda pra direita e me percebi já estar chegando à NY:News!
Hora do trabalho.
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Anotações, perguntas, bloco de notas, caneta, gravador e todos os outros materiais necessários e impresso. Sou muito competente com o que faço. Giro um pouco na cadeira apoiando o cotovelo em um dos braços, minhas pernas cruzadas e meu cenho franzido após o aviso de meu chefe. Pegue leve. Ele disse. Retirava e colocava a tampa da caneta em minhas mãos sem me dar conta do tique.
Escuto uma voz estridente e olho por sob o ombro uma loira escandalosa adentrar o escritório que dividia com mais duas pessoas. Continuo observando a aproximação da mulher e os seus longos cabelos de fios claros balançarem de um lado para o outro num rabo de cavalo que lembrava o meu.
— E então, Tenten, como foi? — em seus olhos uma animação sem igual mirar-me e se abaixar, sentando nos próprios calcanhares e apoiando as mãos em minhas coxas.
— Esquece Ino, ela não vai falar. — uma outra loira de cabelos soltos e óculos com armação vermelha apareceu atrás da Yamanaka que no mesmo instante jogou a cabeça pra trás. Sabaku No Temari nos interceptou saindo de sua mesa e escorregando em sua cadeira giratória enquanto nos fitava. Ela era uma das quais eu dividia minha parte do trabalho. Na verdade ela ficava mais com a parte virtual, já a mim com a escrita. — Pelo menos não agora. — seus braços cruzados e a boca torcida numa expressão de insatisfação e deboche davam um certo charme aos cabelos curtos e rebeldes que caíam na altura dos ombros, seu óculos na ponta do nariz lhe dava um ar de intelectual e sua fala demonstrava que já havia abordado-me sobre o tema.
Isso é trabalho, meninas. Não o spa de conversas triviais e atualização do conteúdo erótico.
Ino ainda estava olhando pra ela quando jogou novamente a cabeça pra frente e pude ver aquela determinação que fazia parte de si quando estava impulsionada a descobrir algo. E ela realmente descobria, a loira trabalhava na parte de fofocas, moda e mundo das celebridades de nossa revista. Tinha um jeito ímpar para convencer e conseguir suas fontes, mas não comigo.
— Estou indo para minha entrevista. Tenha um bom dia, Ino. — falei me levantando e pegando o que havia separado anteriormente sob minha mesa de trabalho. Averiguo o relógio em meu pulso, tenho quarenta minutos para me apresentar no hall da empresa em questão. Suspiro fechando os olhos ao ouvir a loira começar a protestar, mas não posso deixar de permitir um riso sapeca escapar de meus lábios diante de suas insinuações e suposições sob o que teria ou não acontecido. Ah Ino, você não tem ideia... Certamente, estou em trabalho exercendo minha função, mas minha vadia interior me acompanha onde quer que eu vá.
— Ah! — exclama de braços cruzados quando viro-me em sua direção e com a bolsa pendurada em meu braço e a pasta em mãos. Um sorriso de canto permeia meus lábios e sei que instiguei ainda mais a curiosidade da minha querida amiga. — Mas você não vai escapar mesmo! — reafirmou com o dedo enriste o que disse para a Sabaku segundos antes. Passo a língua pelos lábios sentindo a textura do batom nude e pisco os cílios dando o primeiro passo.
— Não!? Então por que você não começa dizendo quem era o cara ruivo que você estava lá toda animadinha? — indago passando por ela e vi seus olhos esverdeados se arregalarem completamente. — Me pareceu muito o irmão da Temari... — joguei como quem não quer nada já chamando o elevador.
— Como é que é!? — escuto a voz da Sabaku soar grave e notoriamente irritada.
— N-Não é nada disso, Tema... — Ino desesperou-se diante dos pensamentos que a mais velha estava tendo. Todos nós sabíamos que não devíamos pisar no calo da mulher que tinha mais garra que muito homem por aí. Olho por sob o ombro e vi os olhos de Ino me queimarem, pisquei para ela e adentrei o cubículo de metal vendo a Sabaku se levantar querendo respostas.
Ajeitei a bolsa em meu ombro e sorri mostrando os dentes diante da cena cômica das duas loiras e minhas amigas, a medida que as portas do elevador iam se fechando.
***
Sentada em uma das várias cadeiras da sala de espera, permaneço de pernas cruzadas sem demonstrar algum tipo de nervosismo ou ansiedade. Pois não estou. Vivo disso desde antes de me formar na faculdade, quando ainda era estagiária. Aguardo paciente minha hora de ser recebida, sei que cheguei dez minutos mais cedo e no mundo dos negócios um único segundo é importante e preservado até se findar.
O nome chamativo da empresa se firmava com maestria no alto da sala cheia de troféus, títulos e reconhecimentos. Hyuuga Enterprises, Inc e todos os seus méritos ali, preenchendo uma das paredes brancas da sala de em que me encontrava, como se convidasse a todos os visitantes, negociadores e etc, a ver os feitos dos gêmeos fundadores e antigos donos do lugar.
O local era aconchegante e demonstrava com clareza todo o Império da família que se reergueu dos cacos, literalmente. Com o papel da história em mãos, analiso mais uma vez o trecho onde um dos antigos donos conta sobre seu passado:
"Era meado da década de 40, mais precisamente início de 1946 quando nosso pai imigrou de Hiroshima para uma cidade pequena no estado de Washington, conhecida como Bellevue. Havíamos sobrevivido por pouco da bomba que quase dizimou nossa cidade e que levou nossa mãe. Éramos só nós três, sem dinheiro e sem condições, lutando pela vida. Meu pai, meu irmão mais novo e eu. Lembro-me de que todos os dias, com apenas cinco anos ele saía de casa e eu ficava para cuidar de Hizashi. Ele buscava emprego, qualquer coisa, mas era difícil. Sofremos demais e nossa sorte fora o fato de não termos traços orientais, então podíamos passar facilmente por moradores de ruas. Aos sete começamos a ir pras ruas com ele, o pai estava debilitado por conta dos resquícios deixados pela inalação do teor radioativo. Ele já não era mais o mesmo e futuramente nós também sofreríamos um pouco com isso. Nós juntávamos lixo e vendíamos para uma loja reciclável, era complicado porque tínhamos que conseguir mais de dois ou três quilos diariamente, já que eles pagavam uma merreca por peso. Mas era o que tínhamos para não morrer de fome ou cair no mundo do crime.
Aos treze anos ficamos órfãos e tivemos que lidar com um problema ainda maior, as pessoas. Ninguém se importava em ver duas crianças jogadas ao relento, passando fome e sofrendo vários tipos de abusos. Cheguei próximo de assassinar um bêbado que tentou violentar meu irmão. Éramos nós contra o mundo. Com o ocorrido fui parar na polícia e descobri que o sujeito fazia parte de uma gangue e era perigoso. Tivemos que fugir outra vez e partimos de Bellevue, após dias e meses pegando carona e andando no meio da estrada, descemos mais o mapa e chegamos Herderson. No distrito de Nevada, próximo à Las Vegas.
Com quinze anos conseguimos um emprego numa sapataria simples. Eu concertava, ele polia. Não pagava muito, mas era o suficiente até então. O senhor dono do local gostava de nós e até nos matriculou para estudarmos durante a manhã numa escolha próxima e durante a tarde íamos trabalhar. Ele praticamente nos adotou. Era solitário e ficou comovido com nossa história. Pausamos aí por nove anos..."
Estava distraída lendo aquele relato outra vez, mas assim que ouvi meu nome ser pronunciado pela secretária, ergui meus olhos e a mirei. A morena me sorria e apontou para uma grande porta de madeira polida de maneira educada.
— Pode entrar, senhorita. A senhorita Hyuuga irá recebê-la. — assenti num movimento sutil de cabeça e confirmei. Pegando o resto de minhas coisas e levantando para caminhar na direção indicada.
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Confesso que estou tentando controlar minha surpresa interior por estar diante da pessoa a minha frente. Sentada na poltrona de frente à grande mesa de vidro, vejo aquele tom de olhos incolores do qual eu jurei nunca mais ver iguais.
A garota estava visivelmente nervosa diante de minha presença. As bochechas rosadas, os cabelos azulados presos num coque alto e mal feito. A franja que cobria toda sua testa. As mãos dadas em frente ao corpo e repousadas na mesa de vidro estavam trêmulas. Ela trajava uma blusa listrada sem mangas e o busto marcava bem os seios fartos. Todavia, dentre tudo o que mais me chamou atenção fora seus olhos. Incolores como o garoto de programa com quem havia passado a noite. Não demonstrei surpresa ou interesse, minha confusão se formou dentro de mim e por lá ficou. Não costumava agir de maneira impulsiva. Oras, várias pessoas poderiam ter aqueles olhos. Eram comuns como os meus ou os de qualquer um. Mentira. Minha consciência gritava, parecia que eu havia me metido na maior encrenca da minha vida. Entretanto permaneci impassível aos olhos alheios, vulgo o perolado diante de mim.
Hyuuga Hinata me deixou perplexa em descobrir que tinha já seus vinte e oito anos. Essa menina na minha frente aparenta ser mais nova que eu. O que é isso?
— Então, senhorita Hyuuga... Pretendo começar a entrevista se não for incômodo, sim? — questionei com as pernas cruzadas e os papeis em mãos. Em meu rosto um óculos de grau de armação preta e lentes transparentes adornava meus olhos. Os quais usava apenas no trabalho. O gravador estava devidamente colocado a uma distância de ambas que nossa voz não se perdesse.
— Ah! O quê? OH... S-Sim. Por favor... — a garota estava distraída e visivelmente nervosa. Pisquei discretamente lendo alguma das perguntas.
— Bom, é de conhecimento público que a senhorita nunca quis suceder seu pai, Hyuuga Hiashi, na liderança parcial da empresa. O que a fez mudar de ideia? — vi seus olhos me fitarem com certa intensidade. A garota piscou algumas vezes e levou a mão na boca, pigarreando como se buscasse a própria voz. Notei mais uma vez as mãos alvas tremerem enquanto ela ajeitava a franja espalhada por sua testa.
— É... Bom... — começou mirando a mesa de vidro enquanto sua mente parecia processar uma resposta plausível. Me forcei para não franzir o cenho diante de sua forma de agir, qual o problema na pergunta para deixá-la tão desconcertada? — Eu... — olhou para os lados e abaixei o olhar discretamente, vendo através do vidro da mesa suas pernas mexerem nervosamente. No âmago senti uma pontada de dó da mesma, não devia ser fácil para ela se expressar. Entretanto, trabalhando agora onde estava, isso se tornaria cada vez mais frequente. — Eu sempre quis isso... — disse me olhando com um notório medo no olhar. Dessa vez não consegui impedir meu cenho de franzir levemente. Em todas as entrevistas dadas pelo pai dela, ele sempre afirmava que não era da vontade dela seguir esse caminho.
Desviei meu olhar novamente para folha. Não conseguia pensar na proporção de fofocas que isso poderia dar. Mas decidi prosseguir, infelizmente não tinha tempo para perder:
— Seu pai, quando diretor, era um dos melhores empreendedores da empresa. Seu irmão cuidava da parte interna e distribuía o lucro para as novas filiais. O cargo se inverteu e agora a senhorita toma posse do cargo de seu tio, enquanto o filho do mesmo é quem empreende os negócios. Como se vê tocando pra frente e decidindo qual filial merece mais ou menos investimentos? — indaguei. Meu tom era de completo entrosamento e um leve desinteresse, não demonstraria estar desesperada para obter as informações como vários jornalistas faziam. Sabia me portar.
Por outro lado a garota piscou atônita diante das palavras que pareciam ter embaralhado ainda mais sua mente. Suspirei discretamente aguardando a resposta. Não podia voltar para o trabalho de mãos vazias, se isso continuasse por mais algum tempo, iria pedir permissão para que a jovem passasse a entrevista para seu primo. O qual também havia tomado posse do título recentemente, e torcer para ele ser mais desenrolado que ela.
Notava-se de longe o nervosismo e a falta de reação da Hyuuga. Não era culpa dela, eu via em seus olhos e em seus pequenos atos que ela estava tentando. Mas parecia ser uma missão impossível conseguir uma conversa bem estruturada sobre o tema. Será que ela não sabia como proceder diante dessa situação? Será que eu estava sendo rude demais com a forma de falar? Não, eu estava exercendo meu trabalho, não tinha culpa se ela não conseguia exercer o dela. Porém, por outro lado meu lado mais humano viu nessa garota um pouco da Tenten de anos atrás, e eu me compadeci da situação da mesma.
— Senhorita, pode responder minhas perguntas de maneira informal, se preferir. — falei, notando sua confusão em seus intensos olhos perolados que piscavam me fitando. — Me comprometo em fazer a edição e passar tudo a limpo quando for digitalizar. — completei e seu cenho se franziu.
— E-Eu não... — novamente pigarreou, tentando passar confiança em suas palavras. Me atrevi a interrompe-la, tempo era dinheiro.
— Não se preocupe, não irei deturpar suas palavras. Apenas colocá-las de modo formal, senhorita. — completei e ela mais uma vez me fitou, porém agora com não mais nervosismo ou desconfiança. Seus olhos brancos demonstravam confusão, como se não esperasse algo assim da minha parte. O que foi? Pelos céus, eu não sou a reencarnação do mal.
— Obrigada. — ela sorriu de uma maneira gentil e que foi impossível da minha parte não sorrir discretamente de volta e assentir. Não era como se ela não soubesse ser profissional, mas ela ainda estava entrando naquele mundo e começando a caminhar com os próprios pés. Não seria nada demais ajudar a menina.
No âmago, a mesma trazia uma leveza consigo embora fosse notório que havia um mundo caindo em suas costas. Um dia, há um certo tempo, também já fui assim.
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Foi incrível como a entrevista fluiu mais tranquila da parte dela. A senhorita Hyuuga, ou Hinata — como insistia para que eu a chamasse —, conseguia falar sem gaguejar e me olhava com um brilho nos olhos. Surpreendi-me com tantas revelações, ela falou sobre tantas coisas e deu tantos detalhes que me perguntava quantas folhas aquela entrevista daria. E eu estava numa bela enrascada quanto à isso. Embora houvesse prometido a ela não torcer suas palavras, também não poderia divulgar a entrevista pela metade. Seria como dar meia informação. Mas havia um limite para o quanto eu poderia falar sobre.
— Então a senhorita afirma que sempre quis liderar os negócios de seu pai e que sempre o acompanhou para isso? — questiono com o cenho franzido após suas revelações.
— Hinata, por favor, me chame de Hinata. — pediu mais uma vez, mas mantive-me em silêncio, ela suspirou prosseguindo: — Sim, desde pequena acompanhei os passos de meu pai e me interessava pelo que ele fazia. Papai e eu mantínhamos um certo laço apesar do jeito que todos os veem, ele é uma boa pessoa. Mas esse medo nasceu em mim após várias festas de negócios e dias que passei aqui, não me sentia mais capaz de assumir toda essa responsabilidade... — seus olhos baixaram e vi aquele brilho sumir por alguns instantes. Espantei-me, então ela se sentia incapaz? Um incômodo se formou dentro de mim com a ideia. — ...A verdade é que papai e meu tio possuem mentes brilhantes. Eles nunca pararam mesmo com o passado que os cercam. — pisquei um pouco atônita. Realmente, é muito estômago para alguém sofrer um bombardeio catastrófico e ainda ter coragem para ir para a região do país que lhe causou isso. — Eu... — vi sua voz falhar e novamente me concentrei em mirá-la. Hinata, ou melhor, a senhorita Hyuuga estava cabisbaixa e parecia que um nó e formava em sua garanta e a impedia de continuar. Fiquei em silêncio respeitando seu momento, o tempo custava caro, mas não valia os sentimentos das pessoas. Eu ainda sou humana e sobre a entrevista já tenho um bom material. — Eu tive medo de não conseguir chegar aqui e fazer direito... Acabar colocando tudo o que eles conseguiram a perder. — olhou de canto e suspirei ao ter minhas suspeitas confirmadas. Ela não acreditava em si mesma. — Foi uma surpresa para papai quando cheguei e disse que queria me tornar sua sucessora na empresa juntamente com o... — nesse momento alguém bate a porta e ambas olhamos na direção da mesma que havia sido aberta. A mesma mulher morena de antes e a qual seria sua secretária apareceu informando que só tínhamos mais cinco minutos. Ela controlava e ajudava a senhorita Hyuuga nos horários, a própria Hyuuga me confidenciou isso no passar da entrevista.
Voltei então minha atenção para a mesma e ela me olhava meio perplexa. Sim, fazia quase uma hora desde que havia entrado.
— Bom, acho que isso é tudo. — falei com um meio sorriso demonstrando meu agradecimento pelo seu tempo prestado. Ela continuava me olhando incerta.
— Ah... Por favor, nós mal conversamos e eu falei mais sobre mim do que sobre os negócios da empresa. — ela disse. Isso é verdade. O tempo foi quase todo gasto com o ponto de vista dela, em como ela se sentiu em todos os momentos em que foi posta diante das relações que seria estar na liderança da empresa. Entretanto já havia um bom conteúdo.
— Não há problemas senhorita, tudo o que me prestou de bom grado irá servir como um ótimo embasamento para que as pessoas e seus futuros sócios conheçam-na melhor quando pesquisarem a respeito. — completei levantando e começando a apanhar minhas coisas. Guardei as perguntas, desliguei o gravador e estava terminando de organizar minha pasta. Todavia seu nervosismo era notório, ela parecia culpada por ter tomado todo o meu tempo para falar sobre seus próprios problemas. Que inocência, se ela era um dos núcleos daquele lugar, então tudo o que a levou até ali era de imensa importância.
— Por favor... — ela me pedia de mãos dadas e eu voltei minha atenção para ela.
— Senhorita, creio que em breve começarei a tomar o tempo de outra pessoa para consigo. Não se preocupe com isso, o que tenho será um belo dossiê. — reafirmei já com minha bolsa pendurada no braço esquerdo e a pasta na mão.
— Olha, eu tomei todo seu tempo falando de mim.— disse o que eu já imaginava — E sei que ainda não entendo direito como falar e explicar sobre os negócios da empresa. Mas me permita ao menos leva-la até meu primo e ele lhe explicará tudo. — disse vindo para meu lado e dando as mãos de frente ao corpo. Me olhando de forma suplicante, sorri sem jeito procurando uma forma de negar seu pedido. Precisava voltar para a NY:News! e terminar meu trabalho ou só sairia de lá à noite.
— Não precisa se preocupar...
— Por favor. — seus olhos brilharam diante do pedido e eu não soube o que dizer, mas ainda não estava propensa a aceitar. — Faço questão de pegar um horário agora com ele e então você não vai precisar esperar e pode fazer sua matéria sobre nós dois. É justo e compreensível já que ambos somos os donos daqui. — ela disse abrindo o sorriso ao encontrar a desculpa perfeita. Droga! Acho que abri demais a confiança dela em arriscar suas ideias.
Continuava olhando pra ela perplexa e sem saber exatamente o que dizer. Sentia-me contra a parede. Realmente, a ideia era muito boa, mas o simples pensamento de que eu teria um enorme problema para digitalizar tudo aquilo e ainda uma segunda parte com o outro dono me matava por dentro. Não que eu estivesse fugindo do trabalho, mas até nisso eu precisava moderar, havia limite de palavras nas revistas e o meu limite também. Sorri novamente sem jeito e dando de ombros sem saber o que dizer.
A senhorita Hyuuga se aproximou me segurando pelos ombros e me encaminhando para fora dali.
— Ótimo! — exclamou animada. — Com ele vai ser mais fácil porque ele está mais envolvido nisso que eu. Como eu disse antes, quando eu me desinteressei eu me afastei, então ele poderá te explicar tudo direitinho sobre como funciona e a melhor parte é que ele ficou exatamente com a parte do papai, então como ele tem convivência com o tio ele vai saber te explicar sobre tudo! — a animação dela estava me assustando, confesso. Nem parecia uma entrevista mais, ela falava e me arrastava falando animada como se fôssemos velhas amigas e estivéssemos indo para a praça tomar sorvete e fofocar sobre a vida alheia.
— É... Vai ser ótimo. — eu confirmava levemente assustada pela forma que ela havia me abordado. Enquanto a sentia me levar pelos imensos corredores daquela empresa de primeira linha.
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Nós andamos pelos corredores da empresa chamando mais atenção do que eu gostaria. Os funcionários apesar de curiosos, eram discretos, mas ainda sentia seus olhos me queimarem. Falavam respeitosamente com a senhorita Hyuuga e ela lhes respondia num aceno. Hinata já havia me libertado de suas mãos possessivas e agora caminhávamos calmamente lado a lado, mantendo uma conversa amigável enquanto ela me falava um pouco mais sobre sua trajetória até ali.
Paramos em certo ponto no meio de uma sala que também possuía cadeiras e mais distante uma mesa de trabalho e uma mulher digitando num computador, provavelmente outra sala de espera e aquela seria a secretária do outro dono. A partir dela havia um pequeno corredor vazio e com uma única porta no fim, talvez o lugar de nosso destino. Mirei a mulher que me acompanhava. Após aquele tempo algo me incomodava e eu almejava me expressar, mas sem parecer invasiva. Ainda estava exercendo minha função de trabalho.
— Então, senhorita Hyuuga...
— Hinata. — interrompeu-me e eu fechei a boca numa linha rígida, pensativa. Estava prestes a me intrometer diretamente na vida daquela mulher, mas depois da mesma ter sido tão gentil comigo mesmo que não fosse sua obrigação, me senti na posição de ajuda-la.
— Hinata. — respondi e ela sorriu gentil e agradecida. — Então, Hinata. O que eu gostaria de dizer pra você baseado em tudo o que já me contou... É que, obstáculos sempre existirão! — vi ela piscar com minha fala. — Sempre haverão pessoas e situações que irão contra você. Não abaixe a cabeça pra nenhuma delas, porque você é uma Hyuuga e sua família não chegou até aqui para dar para trás agora. O dom de se superar vive em cada um de nós. — vi suas orbes incolores me olharem perplexas e atentamente. Ela estava com as mãos dadas de frente ao corpo e a boca entreaberta, talvez de surpresa diante de minhas palavras. Sorri de canto passando confiança. — Nunca deixe que os outros te impeçam de fazer algo por medo ou nunca será plenamente feliz. E muito menos que te digam o que é o certo a se fazer, o certo é ser feliz fazendo aquilo que gosta. Mesmo que não esteja dentro dos parâmetros do aceitável. — eu sabia que estava falando pra mim. Ela piscou atônita algumas vezes. Tudo bem, acho que exagerei um pouco. Acho que vi demais nela a antiga eu. A mulher que escondi por baixo dos panos por anos enquanto tentava me identificar com a sociedade hipócrita que estou rodeada. Mas que se dane, eu sabia o que queria e ela também se sentia assim, mesmo que fossem situações diferentes.
Sorriu amável e deu de ombros. Assentindo.
— Vou me lembrar disso, Tenten. — disse e confesso que me senti um pouco incomodada. Estávamos nos tratando pelo primeiro nome, mas isso era trabalho e não uma consulta psicológica sobre o certo e o errado. — Vamos... A sala dele é logo ali! — falou apontando para a única porta do corredor e assenti, novamente assumindo minha postura anterior e deixando para trás a conselheira de vida de uma jovem iniciante.
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