Quando Thomas chegou no dia anterior e encontrou eu e Louise em silêncio, mas felizes, logo me abraçou com força, seu perfume me fazendo inspirar profundamente. Tocou minha bochecha e me tirou do chão com alegria, deu alguns rodopios e finalmente me pôs no chão, selando sua felicidade com um beijo em minha boca.
Ouvimos um pigarreio de Louise e nos afastamos com timidez.
━Meus parabéns meu filho. -ela falou seriamente e o abraçou
Fiquei de canto, os observando enquanto por dentro um sentimento bom, feliz me dominava. Ele merecia tanto aquele prêmio! E parecia que tudo estava nos eixos novamente.
━Obrigado mãe. -Thomas murmurou e lhe deu um beijo na bochecha
━Seu pai estaria tão feliz.
E então ela recomeçou a chorar. Thomas a abraçou com ternura e eu os olhei com carinho, gostando daquele momento mãe e filho, apesar de Louise não gostar muito de mim.
Caminhei em silêncio para fora da sala quando dei de cara com Margot no corredor. Um pouco de delineador preto escorria pelas bochechas e ela parecia emocionada. Margot chorando me deixou surpreso.
━Ele ganhou Damien! O Nobel! -falou, a voz um pouco entrecortada
━Eu sei! Não é incrível? É tudo que ele merece e mais um pouco. -sorri
━Eu nem acredito Damien, parece um sonho. Thomas foi o melhor presidente a passar por essa casa. -ela secou os olhos- E você sabe o que esse prêmio significa?
━Hmm… Que Thomas é um homem incrível? -franzi o cenho, não entendendo a pergunta
━Também! Significa que vocês serão deixados de lado e o sentimento patriotista vai prevalecer sobre qualquer outra coisa. Ou seja, todos vão amar o fato de Thomas ter ganho um Nobel, inclusive os conservadores e vão celebrar isso, esquecendo do relacionamento de vocês.
━Então eles não nos odeiam mais?
━Claro que odeiam! -ela parecia um pouco alterada e me perguntei se tinha bebido algo- Mas o sentimento de orgulho é maior do que o preconceito deles. Um Nobel para o presidente dos Estados Unidos!
Eu assenti, mas por dentro eu tinha vontade de rir. Ela estava muito engraçada daquele jeito, gesticulando como se estivesse bêbada. Mas eu sabia que era apenas emoção.
━Margot, nós vamos para a França semana que vem? -perguntei com receio, tentando tirá-la daquele transe emocional
━Tudo indica que sim, ainda mais depois desse Nobel! -me deu um tapa no ombro de brincadeira
Fiz uma careta e assenti enquanto ela passava por mim e entrava na sala em que Thomas estava. Quase a impedi de interromper um momento íntimo entre mãe e filho, mas resolvi que Margot também merecia comemorar um pouco com Thomas.
Era Margot quem nos colocava nos eixos e quem nos dava opiniões de fora. Se não fosse ela o que seria de nós?
______
No quarto, já era noite e Thomas não conseguia conter a felicidade nem o sorriso.
━Dá pra acreditar Damien? -ele perguntou enquanto tirava o terno
━Dá sim, você mereceu isso. -sorri com sinceridade
━Eu nunca teria conseguido sem você. Foi você quem me disse para fazer aquilo, é a você que eu sou grato. -de repente pareceu sério
Suspirei resignado. Eu estava sentado na cama enquanto ele tirava a roupa. Pensei naquilo quase como um strip-tease particular, ri baixinho e depois me controlei ao ver a curiosidade no rosto dele.
━Sabe Damien, daqui pra frente, não importa muito o que aconteça comigo, eu acho que já alcancei grandes objetivos na vida.
A calça enfim foi para o chão e agora estava só de cueca. O puxei para perto e enterrei minha cabeça em sua barriga, gostando do cheiro e da textura da pele. Thomas me abraçou e riu.
━Você mereceu tudo isso Thomas. Eu espero que as coisas melhorem daqui pra frente. -murmurei, minha respiração de encontro a sua pele
Ele segurou meu rosto com delicadeza e me afastou, abaixando-se para ficar na minha altura.
━Só vão melhorar. E não ligue para Margot quando ela diz que você não pode fazer nada para o governo, você pode sim.
━Ela só não pode saber, ou ela mata nós dois. -murmurei e ele sorriu
━Não, ela é mais compreensiva do que você imagina. -beijou minha bochecha rapidamente
Nos deitamos na cama embaixo das cobertas, um sentimento de realização e felicidade nos enchendo o peito. Me aninhei em seu peito e ele logo me abraçou.
Me sentia seguro em seus braços, de saber que tudo estava em paz, ao menos entre nós. Mesmo que no fundo eu tivesse medo daquele vídeo vazar ou algo mais acontecer, eu acreditava que tudo ia dar certo.
Fechei os olhos e respirei fundo, uma sensação gostosa de relaxamento me invadindo. Eu estava confortável de um jeito que nunca havia estado antes.
Lembrei então da presença de Louise, horas atrás na sala de estar e não pude deixar de perguntar com curiosidade:
━O que Louise queria?
━Ah, dizer o quanto eu dou orgulho para ela e bla bla bla. -revirou os olhos sorrindo
━Ela te ama. Infelizmente não gosta de mim, eu aceito isso porque eu também não gosto dela. Mas é sua mãe e você é o único filho dela. Vocês tem que se ver mais seguidamente Thomas… Ela deve se sentir excluída da sua vida. -resmunguei a última parte
━Uau, tudo bem, já que agora você é meu conselheiro particular vou acatar tudo o que disser. -ele riu. E eu sabia que acataria.
━Boa ideia, vou me tornar o conselheiro oficial do governo, o que acha? -arqueei as sobrancelhas em tom de brincadeira
━Acho ótimo. Eu adoraria te ver me dando vários conselhos… -riu sugestivamente
Pela primeira vez eu estava otimista e queria desesperadamente me manter esperançoso.
O anel que ele me dera reluzia em meu dedo em contraste com a luz. Era o símbolo do nosso amor, e uma esperança para o futuro. Olhando-o ali, tão concreto, tão vivo, eu podia sentir que ficaríamos juntos por muito tempo.
Contudo, algumas dúvidas ainda assolavam minha mente. Ainda faltava menos de 2 anos para o mandato de Thomas terminar. Eu não sabia se ele iria se reeleger e não sabia se estaria disposto a enfrentar tanto tempo no poder…
Aquelas ideias e pensamentos inundavam minha mente, que já estava preocupada o bastante com o vídeo, mas o quarto permanecia silencioso, apenas nossas respirações eram ouvidas.
Levantei a cabeça para observar Thomas e sorri ao constatar que ele também sorria. Acabamos nos encarando diretamente por longos segundos. Recebi um beijo na testa enquanto seus dedos se embrenhavam pelos meus cabelos, numa carícia lenta e gostosa.
━Quando eu te beijei pela primeira vez nada mais importou para mim. Só importava você. Não ligava se eu perdesse a presidência por isso. Passei anos me controlando e regulando…
━Thomas você não estava pensando racionalmente. -revirei os olhos enquanto sorria
━Hmm… Admito que não. -ele riu, seu peito estremecendo abaixo de mim- Eu quis abrir mão de tudo para ficar com você. -confessou
Eu sabia que Thomas havia tido uma fase inconsequente, me levando para jantar e querendo a todo custo que eu ficasse com ele sem ter um plano caso alguém descobrisse sobre nós…
━Seu esforço para ser presidente não teria valido nada se você tivesse feito isso.
━O problema é que eu nunca pensei na hipótese de governar e ter você ao meu lado. Ao menos não no início. Essa hipótese sempre foi irracional. No início eu pensei que teria que escolher entre a presidência e você. E eu estava louco para viver um pouco, mesmo quando eu recém havia chegado ao topo.
━Realmente, você não estava sendo lógico.
━Fico feliz por tudo ter dado certo. Não sabemos o futuro, mas eu acredito que ele será bom para nós. Já construímos um legado Damien, ninguém vai apagar isso da história.
Ele estava falando mais que o normal. Era o que um prêmio Nobel fazia, dava esperança e crença num amanhã melhor, e não era só conosco. Eu podia notar um sentimento fervoroso e intenso nascendo no coração de cada estadunidense. Um sentimento de poder, de invencibilidade, de paixão e coragem. E tudo graças a Thomas. A determinação dele inspirava à todos.
Até eu estava me sentindo um pouco fora de órbita, fora da realidade, como se tudo fosse um sonho, com dificuldade para me ajustar.
━Fico feliz só de estar ao seu lado. -murmurei
Enfim ele me beijou. Seus olhos azuis percorreram todo meu rosto enquanto seus dedos puxavam meu queixo para cima. Nossos lábios se tocaram com gentileza e suavidade, saboreando o gosto um do outro.
Ele sorriu entre o beijo, ambas as mãos no meu cabelo, seu polegar acariciando minha bochecha enquanto me beijava com vontade.
Dei um suspiro, meu corpo estremecendo com seu toque.
━Vamos lembrar para sempre esse dia. -sussurrei em seu ouvido
______
Não sabíamos, no dia anterior, que o dia seguinte sim é que seria inesquecível. Acordamos com o mundo de cabeça para baixo.
Pelos corredores da Casa Branca era possível ouvir exclamações de espanto enquanto inúmeros olhos procuravam ávidos uma tela, qualquer tela em que estivesse passando as notícias bombásticas de que todos estavam falando.
Logo que ligamos a TV fomos bombardeados com as notícias que nos deixaram boquiabertos.
Chris estava morto. Era a primeira notícia chocante que conseguimos saber.
E o fato de que a foto dele e nome completo apareciam em letras enormes em todos canais foi estranho para nós.
Ninguém sabia quem era o assassino.
E a informação de que Chris estava morto só estava sendo noticiada porque a PNPA não era mais uma organização secreta.
As notícias era caóticas, todos tentavam explicar quem era Chris, ou o que era a PNPA. Ninguém sabia de nada, todos estavam tão em choque quanto eu e Thomas, que ainda tentávamos digerir aquelas informações. Estava difícil até de reagir à elas!
Haviam descoberto o plano na PNPA que visava me matar. Mike me contara sobre isso e eu dormira apavorado, com medo e em pânico, e só de saber que o mundo inteiro agora sabia daquilo me dava uma sensação estranha. Também descobriram provas de que a organização possuía vários documentos secretos e estava tentando obstruir a justiça, comprometendo a integridade do país.
Além disso, alguém havia matado Chris e ligado anonimamente para o serviço secreto, indicando onde era a base da PNPA. Agora todos agentes que trabalharam lá estavam sendo presos por traição.
Na televisão algumas imagens de homens sendo algemados e colocados em viaturas policiais apareciam, bem como a foto de Chris ao lado.
Eu não sabia se devia ficar feliz com aquela notícia. Só de saber que semanas atrás Chris estava fazendo panquecas para mim e Jess me dava arrepios. E então meus pensamentos se voltaram para Jess… Ela devia estar sofrendo. E era hora de contar tudo. Não sabia como ela iria reagir, mas não podia mais esconder aquelas coisas.
______
Na sala eu, Margot e Thomas estávamos reunidos em frente a televisão, chocados demais para falar qualquer coisa.
A voz da jornalista tomava conta da sala, e até alguns seguranças espiavam para ver nossa reação.
“O corpo de um jovem, Chris Ward, foi encontrado carbonizado em um carro. Tudo poderia não passar disso, um homicídio, mas o FBI encontrou vários arquivos secretos e confidenciais, inclusive da CIA, na casa de Chris, após receber uma ligação anônima.
Além disso foram encontradas diretrizes que mostram um plano para assassinar Damien Novak, atual companheiro do presidente Thomas Klint. As razões para isso, ou de onde partiu esse plano ainda não estão claras.
Contudo, a polícia não conseguiu identificar o possível responsável pelo assassinato de Chris. Tudo indica que a pessoa que o matou trabalha na PNPA, uma organização secreta e ilegal mantida dentro do governo por décadas, e que tinha o objetivo de defender a nação de escândalos a qualquer preço. Essa organização também foi desmascarada junto com sua morte, através de uma ligação anônima.
Ele era um agente secreto há seis anos, já havia inclusive trabalhado como segurança de presidentes anteriores. Com todas as evidências o FBI conseguiu concluir que os documentos que possuía eram da CIA e jamais deveriam ser divulgados.”
Notei que Margot abafava um riso com a mão e a olhei como se fosse louca. Não era hora para achar aquilo tudo engraçado, era?
━Você não entende? Isso é ótimo para nós.
━Algumas vezes temos que parar de pensar apenas no que é bom para nós. -ralhei com ela
━Fiquem quietos! -Thomas falou alto
Me sobressaltei e encarei a TV novamente, com medo de que tivessem descoberto algo ruim, ou até mesmo o vídeo meu e de Thomas. Porém respirei aliviado. Se tivessem achado não iriam falar nada mesmo, afinal seria traição e o FBI trabalhava a favor de nós também.
A mulher na tela continuou, suas palavras agora eram fortes e intensas.
“Isso tudo ainda é um choque para a população, que não sabe direito como reagir ou em quem acreditar. O fato é: Chris planejava trair a pátria a qual jurou lealdade, um crime de traição. Ao que tudo indica, a PNPA considerava Damien um riso ao país e por isso queriam eliminá-lo.
Ninguém tem o direito de violar a privacidade do Presidente, é um crime acima de todos os outros. Ele é a autoridade e deve ser respeitado como tal.
Alguns podem não gostar de Thomas, por causa de Damien, em sua maior parte, mas não podemos permitir que organizações como a PNPA existam e ponham em risco os Estados Unidos. Devemos nos unir e exigir que todos agentes que trabalhavam para ela sejam processados por traição.
Se essa organização foi descoberta só agora, vocês podem imaginar o que eles já fizeram em todo esse tempo que existiram? De acordo com informações recentes ela existe há mais de dez anos! Uma década se intrometendo no governo, mandando e desmandando sem ninguém saber. São um bando de criminosos, isso sim!
Esperamos uma declaração da Casa Branca.”
Alguns arrepios passaram pelo meu corpo, meus pelos se eriçaram ao pensar em Mike. Será que ele havia feito tudo aquilo?
Peguei meu celular, suando frio e disquei o número que ele me dera apenas para emergências. Afastei-me de Thomas e Margot, que pareciam extremamente compenetrados no noticiário.
Fechei os olhos enquanto o bipe de chamada continuava, torcendo para que ele atendesse. Mordi o lábio diversas vezes, a ansiedade e nervosismo tomando conta de mim.
Quando ouvi um barulho de chamada, uma estática fraca em meus ouvidos apertei mais o celular em minhas mãos, desesperado para ouvir sua voz.
━Mike?!
━Oi D. -ele parecia cansado e ofegante
━Onde você está?
━Na Casa Branca.
━Aqui?! -arregalei os olhos
━Sim, vim me despedir de você.
━Despedir? -eu estava confuso
━Não podemos falar sobre isso pelo telefone.
Logo uma batida na porta foi ouvida e um segurança entrou.
━Mike Port está aqui, devo deixá-lo entrar?
Thomas franziu o cenho, olhou para Margot e dela para mim, ainda confuso.
━Sim -falou um pouco hesitante- Margot, faça um relatório sobre os últimos acontecimentos para mim e escreva uma declaração para a imprensa.
Ela assentiu, sorrindo e saiu pela porta quase saltitando. Eu ainda não me acostumara com aquela Margot animada, então me resignei a encará-la enquanto saía pela porta.
Logo Mike entrou. Eu pisquei várias vezes, sem acreditar que ele estava mesmo ali na minha frente. O mesmo Mike de sempre, bonito, alto. Só que com alguns arranhões no rosto.
Corri para abraçá-lo. Assim que me encostei nele seus braços se fecharam a minha volta, enterrou o rosto no meu ombro, e fechou os olhos com força… Respirei fundo gostando do corpo dele de encontro ao meu.
Ele se afastou, mas segurou meu rosto com as mãos gentilmente, os olhos percorrendo toda minha face, não querendo perder nenhum detalhe.
Toquei os arranhões em sua testa, alguns cicatrizados, outros ainda úmidos e fechei os olhos.
━Por que você sumiu? -perguntei num murmúrio baixo
━Eu tive que ir, seria perigoso ficar perto de você.
Ficamos em silêncio, então ele me abraçou novamente. Enterrei meu rosto em seu peito e deixei algumas lágrimas escorrerem. Toda a preocupação e carinho que eu sentia por Mike transbordando de meus olhos.
Ele estava um pouco suado, mas não liguei. Não podia ligar para aquilo quando eu não o via há dias e havia até pensado no pior.
━Mas agora eu estou aqui certo? -se afastou e sorriu
Os olhos pretos brilhavam com intensidade, o sorriso largo no rosto tentava me animar enquanto limpava minhas lágrimas.
Lembrei então que Thomas permanecia na sala, calado, apenas nos observando. O olhei com hesitação, e o peguei nos olhando seriamente, os braços cruzados.
━Olá Thomas -Mike sorriu e o cumprimentou com a cabeça
A última conversa entre eles terminara de um jeito… Estranho e constrangedor e eu esperava que essa fosse diferente, afinal, estávamos todos no mesmo barco ali, se ajudando.
━Mike -assentiu
Puxei Mike pela mão para sentar no sofá e sentei-me ao seu lado, ávido por saber por que ele estava ali e o que havia feito.
Thomas sentou-se de frente para nós, a televisão agora no mudo. Imagens de um carro carbonizado e fotos de Chris não paravam de passar. Logo o rosto de Jess me veio a mente. Temi por ela e torci para estar bem, anotando mentalmente que deveria ligar assim que possível para lhe dar um pouco de conforto.
━Eu disse que ia tomar conta de tudo. -ele sorriu, apertando carinhosamente minha mão
Thomas não parecia muito feliz com aquela proximidade, porque nos encarava seriamente, um olhar penetrante e intenso, cheio de significados. Contudo, eu esperava que ele entendesse o quanto Mike significava para mim… A razão de eu tratá-lo com tanto carinho.
━Você disse isso? Tomar conta do quê? -Thomas franziu o cenho
━De Chris. Ele tinha um plano para matar Damien.
Thomas me encarou, vendo que eu não havia reagido com surpresa, as sobrancelhas arqueadas.
━Você sabia disso Damien?
Engoli em seco e olhei com desespero para Mike. Ele assentiu, entendendo meu drama.
━Eu disse para ele não te contar.
━Ah, mesmo? -um sorriso maldoso estampou o rosto dele
━Porque se ele te contasse você ia meter os pés pelas mãos tentando pegar Chris e prendê-lo, e teria uma grande chance dele fugir, ou pior, completar o plano dele. Deles. -Mike tinha uma expressão irritada
━Você não confia em mim Damien?
Fiquei angustiado e mordi os lábios com nervosismo. Aquilo não era uma briga entre ele e Mike, e Thomas precisava entender o porquê eu havia feito aquilo…
━Confio, claro que confio. -fechei os olhos e respirei fundo, escolhendo as próximas palavras com cuidado- Mas Mike me pediu para que confiasse nele, e ele conhece a PNPA melhor do que nós, então achei melhor fazer o que me pediu.
━Não é a melhor hora pra vocês terem uma DR. -Mike revirou os olhos
A porta, felizmente estava fechada. Só estavam eu, Mike e Thomas ali.
Thomas permaneceu em silêncio, sem me olhar. E aquilo doeu, mais do que imaginei. Parecia irritado, uma expressão de poucos amigos no rosto.
Entretanto eu não tinha tempo para ficar chateado, porque meu coração estava acelerado de ansiedade, eu estava ávido por saber o que Mike estava fazendo ali, embora eu já tivesse um palpite de que tinha a ver com Chris.
━Foi você que fez tudo aquilo Mike? -tomei coragem para perguntar
━Sim.
Aquela resposta me fez sentir um arrepio intenso na espinha. Eu já sabia que Mike diria “sim”, porque era verdade e porque ele parecia triste. Fiquei preocupado e me senti um pouco culpado. Em parte eu tinha culpa, era por minha causa que ele havia feito aquilo.
━Não me sinto feliz com isso, nunca me senti. É algo com o que vou ter que lidar todo o resto da minha vida. Mas agora vocês estão livres. -sorriu com tristeza
E um silêncio desconfortável voltou a recair sobre nós. Também era um clima de tensão e apreensão. Thomas não falava nada, apenas nos encarava com seriedade. Eu estava nervoso. Nervoso porque não havia contado nada a Thomas e ele estava chateado, e por saber o que Mike havia feito, por mim.
━Não tive outra opção. Eu só espero que o FBI não chegue até mim. -olhou significativamente para Thomas
━O que está sugerindo? -ele apertou os olhos, ainda mais irritado
━Já que eu deixei o caminho livre para vocês espero não ser punido por ter trabalhado na PNPA, ou por ter matado Chris.
Matado Chris. Aquelas palavras me chocaram. O encarei com um pouco de pavor, mas ele permaneceu calmo, sustentando o olhar de Thomas.
A verdade, de que Mike já havia assassinado pessoas antes, a mando da PNPA caiu sobre mim. Aquelas mãos que sempre me tocaram com carinho já foram responsáveis por várias mortes. Só de pensar naquilo meu estômago embrulhou.
Não sabia como encará-lo dali para frente. Claro que eu ainda nutria um carinho imenso por ele… Mas saber da realidade, de tudo que havia feito ainda me deixava nervoso.
Eu precisava de um tempo para pensar. Como ele podia falar tão tranquilamente sobre Chris? Sorri amargamente, eu sabia a resposta. Ele fora treinado para isso.
━Ninguém irá atrás de você. -Thomas finalmente disse, com pouca vontade
━Obrigado.
Mike me olhou, os orbes negros intensos estudando meu rosto. Pareceu triste por uns minutos, mas depois sorriu gentilmente para mim. E ali estava o Mike que eu amava.
━Você parece surpreso. Desculpe Damien. Eu me culpo todos os dias por ter feito tudo o que eu fiz.
━Você… -mordi o lábio com hesitação- Você fez isso por mim não é? Chris?
━Era a única saída… -ele murmurou- Me desculpe Damien, nunca quis te deixar chateado ou chocado com o que eu faço. Por isso sempre escondi de você. Mas essa é a realidade, eu já estou acostumado com ela, não gosto e espero nunca mais fazer ninguém sofrer. -notei que as palavras saiam com dificuldade- Foi uma libertação pessoal também. Eu não preciso mais trabalhar na PNPA, posso finalmente viver.
E naquele momento eu percebi o quanto os dois eram parecidos. Thomas, que permaneceu a vida inteira preso aos livros, ao estudo, e Mike, que ficou preso em algo que nunca quis, numa organização que lhe transformou completamente.
━Então fez isso por você também?
Ele permaneceu em silêncio, a cabeça baixa, olhando para os próprios pés.
━Fico feliz que você tenha finalmente se libertado Mike. -murmurei e acariciei suas costas- Obrigado por nos deixar livres também.
Encarei Thomas, agora ele parecia perdido, o olhar pousado em nós dois, a boca apertada, meio sem jeito diante da nossa intimidade.
━O que vai fazer agora Mike? -Thomas perguntou desconfortavelmente, mudando o assunto daquela conversa
━Me mudar.
━Mudar?! -me sobressaltei
Eu nem ao menos sabia onde ele morava de verdade…
━Sim, para outro país. Ao menos até tudo isso passar.
Quanto tempo demoraria? Eu não sabia dizer. E não queria saber também. Tinha medo da resposta. Não queria Mike longe, não quando ele havia me deixado preocupado todo esse tempo sem aparecer nem dar notícias.
Ainda mais agora. Preferia tê-lo perto, para que ninguém o achasse, do que o ter longe. Mas Thomas daria um jeito para que ninguém o encontrasse, disso eu sabia. Ele podia implicar com Mike e não gostar do nosso relacionamento, mas jamais mentiria sobre isso ou me faria sofrer desse jeito.
━Vou providenciar suas passagens e hospedagem. -Thomas falou decidido, o que me surpreendeu
━Por quanto tempo você vai ficar longe Mike?
━Um ano ou dois… Talvez mais.
Arregalei os olhos, espantado. Por um lado seria bom ficar um pouco longe dele, para resolver tudo com Thomas, me dedicar apenas a ajudar seu governo e tentar ser o primeiro-cavalheiro que o país merecia. Por outro lado eu sentiria saudades demais.
O resto da tarde Thomas passou resolvendo qualquer problema que impedisse a ida de Mike para fora. Ele resolveu tudo. Mike iria num helicóptero oficial, escoltado por seguranças e desembarcaria no Caribe em menos de 18 horas. Ficaria numa casa afastada e teria seguranças 24 horas.
Tudo isso foi muito fácil de conseguir, Thomas podia fazer isso sem que ninguém perguntasse nada. Os presidentes anteriores também tiveram seus segredos não questionados.
E a hora da despedida aproximou-se com rapidez. A tarde foi melancólica e eu a aproveitei para ficar perto de Mike o máximo possível. Comemos algumas mini tortinhas que eu adorava, vimos alguns filmes na sala e conversamos como se ainda fôssemos namorados. Sem a parte dos beijos, claro.
━Então você vai para o Caribe -ri baixinho, minha cabeça encostada em seu ombro, aproveitando os últimos momentos
━Vou aproveitar para ficar bronzeado. -riu da própria piada
━Vou sentir sua falta Mike. -suspirei, as palavras saindo sem dificuldade
━Eu também D. -beijou o topo da minha cabeça
Nos assustamos com a entrada repentina de Thomas, que passara várias horas fora, ajeitando tudo. Quando nos viu tão próximos me encarou seriamente, as sobrancelhas unidas.
━Já está tudo pronto. O helicóptero sai daqui uma hora.
Ficou parado nos encarando. Eu me afastei de Mike com hesitação e me recostei no sofá, fechando os olhos e tentando não chorar, para não magoar Thomas e não deixar Mike preocupado.
━Obrigado Thomas -Mike falou
Os dois se encararam por longos segundos, um analisando o outro, ponderando se poderiam ser amigos, talvez? Eu queria tanto que eles fossem amigos… Mas também podia notar o ciúmes enorme que Thomas sentia de Mike.
━É o mínimo que posso fazer. Obrigado pelo que fez por Damien. -seus olhos desviaram-se para o relógio no pulso- Acho melhor você se encaminhar até o helicóptero, o serviço secreto te levará até lá.
━Ah, tudo bem. -sorriu com um pouquinho de tristeza e virou-se para mim- Eu vou mas eu prometo que volto ok? Não vai se ver livre de mim tão cedo. -sorriu tentando novamente me animar
O abracei pelo pescoço e deitei meu rosto em seu ombro, o apertando com força, um abraço forte e intenso. Suas mãos percorreram minhas costas numa carícia lenta, depois os dedos se embrenharam em meus cabelos, puxando com delicadeza alguns fios, os arrumando para trás.
Quando enfim nos separamos meus olhos estavam cheios d’água. Mike era muito importante para ir embora desse jeito… Ao mesmo tempo eu revi os pontos negativos e positivos daquela ida dele ao Caribe.
Os pontos negativos eram a saudade e a distância. Os pontos positivos eram colocar minha cabeça no lugar e focar-me apenas no meu trabalho daqui pra frente. Mas a saudade doeria demais, eu sabia.
━Eu te amo D. -sussurrou em meu ouvido somente para eu ouvir. Pude perceber que ele sorria lindamente enquanto me falava aquilo
E me emocionei ainda mais. Algumas lágrimas escorreram, não consegui segurar. Beijei sua bochecha e segurei seu rosto com carinho.
━Só prometa que não vai se meter em outra organização secreta no Caribe -murmurei, rindo e chorando ao mesmo tempo
━Prometo. -Mike riu
━E que vai conversar comigo todo dia.
A expressão em seu rosto ficou um pouco tensa, e Thomas logo se intrometeu um pouco sem jeito, explicando.
━Ele não poderá manter qualquer contato conosco por internet ou celular, podem ser rastreados. -engoliu em seco e ao ver minha cara de pavor acrescentou: -Mas ele pode te enviar cartas!
Mike riu.
━Vou enviar cartas, pela primeira vez na vida, só por sua causa Damien. -beijou minha testa rapidamente
Levantamos do sofá e nos abraçamos uma última vez. Inspirei profundamente seu cheiro, toquei sua camiseta com força, a apertei entre os dedos, querendo gravar a sensação na minha memória. E enfim nos despedimos.
━Tchau D., você vai ver que vai passar mais rápido do que imagina. Daqui a pouco eu vou estar aqui de novo, deixando Thomas preocupado.
━Preocupado?! -ele exclamou
Eu ri porque Mike falou como se Thomas não estivesse ali, e continuou do mesmo jeito. Era a maneira dele de provocá-lo.
━Já imaginou se eu volto e você decide ficar comigo e deixar ele de lado? -arqueou as sobrancelhas, me olhando diretamente
━Ei! Isso não iria acontecer, não é Damien? -Thomas perguntou, um pouco alarmado
━Tchau Mike, boa viagem, escreva assim que puder ok? -me inclinei e lhe dei um beijo na bochecha
━Não se envolva com mais nenhum presidente, não terei tempo de te salvar de outro.
E assim ele encaminhou-se para a porta, Thomas resmungando alguma coisa ao seu lado. Os dois caminharam lado a lado para fora, discutindo algo que aos meus olhos pareceu engraçada.
Thomas parecia irritado e Mike apenas ria. Consegui ouvir algumas palavras, mas não o bastante para desvendar toda conversa.
━Eu menti sabe, eu nunca dei nenhum apelido para Damien. -ouvi uma risada alta
E logo depois, ouvi mais baixinho:
━Obrigado por tudo Mike.
As lágrimas caíram em abundância dessa vez. Não fiz questão de controlá-las.
______
A dor de cabeça me atacou com força assim que Mike saiu. Thomas ainda não havia voltado e resolvi fazer algo importante: ligar para Jess.
Disquei seu número rapidamente e coloquei o celular no ouvido. O barulho fazia minha cabeça latejar, mas aguentei sem resmungar.
━Oi? -sua voz estava fraca, quase falha
━Jess? -mordi o lábio- Você está bem?
━Ah Damien… -ouvi alguns soluços e pude notar que ela estava chorando- Só de saber que é minha culpa, ele ter chegado tão perto de você. E… Agora, e-eu não sei mais…
━Jess, calma! Nada disso é sua culpa.
Respirei fundo, pensando se devia contar para ela que eu já sabia sobre Chris há algum tempo e não havia falado nada, ou deixar como estava. Minha cabeça doía e eu não conseguia raciocinar direito.
━Ah D.! Só de pensar que eu namorei um… um assassino. Estão dizendo que ele é um assassino, assim como todos que trabalharam naquela organização. Mas, mesmo assim sinto pena pelo jeito como ele morreu, sou uma pessoa má por sentir pena de um criminoso?
━Não! Claro que não, pelo contrário, você é a pessoa mais incrível que eu conheço. -sorri ao afirmar aquilo- Não se preocupe comigo, eu estou bem, é isso que importa.
━Ele foi na sua casa, podia ter te matado lá mesmo! Não consigo não me sentir culpada. -outros soluços foram ouvidos. Fechei os olhos tentando permanecer calmo
━Jess, você se livrou de um problema, pense desse jeito É meio frio dizer isso, mas é a verdade. Não chore por ele, Chris apenas te usou para chegar até mim. -engoli em seco, a verdade doeria nela, mas precisava ser dita
━Eu não suspeitei de nada, ele estava sempre perguntando sobre você…
Eu estava pensando no que falar em seguida quando Thomas entrou na sala e ficou me encarando com curiosidade, querendo saber com quem eu falava.
━Olha, Jess, eu não posso imaginar o quão difícil está sendo, e você vai sentir isso por muito tempo ainda. Mas eu não quero que fique chorando pelos cantos certo? Você precisa vir passar uns dias aqui na Casa Branca comigo e Thomas, nós vamos te animar ok? -ela riu
━Já estou até melhor depois desse convite! Obrigada D., eu te amo ok? Te ligo outro dia, agora preciso colocar a cabeça no lugar.
━Tchau, te amo também, se cuida.
Desliguei o celular e fiquei olhando para ele por longos minutos. Até Thomas sentar ao meu lado e pegá-lo de minhas mãos. Ele parecia cansado, olheiras não muito profundas abaixo dos olhos, a pele pálida. Mas tinha um sorriso fraco no rosto.
━Não gosto do jeito como você fica perto de Mike.
Aquelas palavras me pegaram de surpresa. Analisei seu rosto, me perguntando se ele estava irritado, mas parecia calmo, um olhar vago, perdido.
━Thomas…
━Só estou te dizendo como eu me sinto. -pegou minha mão e apertou carinhosamente- Sinto ciúmes da cumplicidade de vocês, do jeito como ele fala com você, da intimidade que existe entre vocês… -suspirou
━Eu estou com você Thomas. Eu amo Mike, mas de um jeito diferente, ele é uma parte da minha vida. -sorri gentilmente e cobri sua mão com a minha
━Eu sei, mas mesmo assim. Às vezes eu queria ser mais como Mike para você.
Franzi o cenho. Thomas estava admitindo que tinha uma certa inveja de Mike? Ele, o presidente dos Estados Unidos? Arqueei as sobrancelhas com curiosidade.
━Como assim? -perguntei
━Ele parece ser uma pessoa divertida, engraçada… -seus lábios se apertaram numa linha fina
Então esse era o problema? Thomas achava que não era bom o bastante para mim? Revirei os olhos. Eu achava que não era bom o bastante para ele.
━Thomas pode parar. Você é presidente, não pode ficar tendo essas crises de ciúmes e autoestima. Você é outra pessoa, diferente de Mike e eu gosto de você desse jeito. Eu te amo. -murmurei
━Não estou falando com você como presidente! -ele franziu o cenho, irritado e eu me encolhi, arrependendo-me de ter dito aquilo- Estou conversando como seu namorado. E como seu namorado eu posso ter essas crises.
Respirei fundo. Ele estava irritado, e eu sabia o motivo: Mike. Ele sentia mais ciúmes do que admitia. Largou minhas mãos e levantou-se.
━Vou para o Salão Oval, quando Mike chegar ao Caribe eu te aviso.
Senti-me novamente triste e irritado ao mesmo tempo.
━Pare de fazer isso! -exclamei com raiva- Agora podemos finalmente ficar juntos sem nenhum empecilho e você arranja Mike como um problema. Mike foi embora, agora somos só eu e você. -falei num tom alto
Ele virou-se, a expressão um pouco alterada e irritada.
━Por que enquanto ele estava aqui era eu, você e ele?
E então saiu rapidamente. Thomas não queria discutir, sabia que estava de cabeça quente. E eu também. Nós dois tínhamos estresse acumulado, de dias sem saber o que seria da nossa relação… E depois PNPA, Mike, o vídeo, planos para me matar… Agora Chris.
Eu entendia porque estávamos brigando, era porque nossos problemas finalmente explodiram. Não era algo bom, mas eu sabia que ia melhorar, Thomas não era uma pessoa de ficar com raiva por muito tempo.
Fechei os olhos e me aninhei no sofá, a tristeza inevitavelmente me invadindo.
___ALGUNS DIAS DEPOIS___
“Os pedidos de renúncia de Thomas Klint foram substituídos por gritos que pedem justiça para os Estados Unidos. A culpa toda recai sobre a PNPA. Seus membros estão sendo processados e julgados por traição. Ao que tudo indica a organização secreta que operou durante 10 anos no país é responsável por comprometer a integridade da justiça.
O plano para matar Damien Novak pegou todos de surpresa e foi a principal chave para essa mudança de atitude das pessoas. Vários que estavam contra esse relacionamento agora o aprovam, dizendo que eles precisam ficar juntos e mostrar para a PNPA que o país é soberano e que a constituição não será violada por ninguém sem que haja consequências.
A PNPA violou nossa constituição e merece todo ódio que tem recebido do povo americano.
É uma mudança difícil de entender, mas tentaremos explicar: todos antes estavam contra Damien, mas no momento em que uma organização secreta ameaça o governo, todos se unem contra essa organização, porque a soberania nacional deve ser respeitada e traições devem ser julgadas. O país está acima do presidente, a honra dos americanos sempre foi mais forte do que qualquer presidente.
O apoio ao Presidente Klint vem de todos os lugares do mundo. E ninguém se esqueceu do Nobel que ele conquistou.
Podemos dizer que de uma tragédia (ou não, dependendo do ponto de vista) nasceu um sentimento muito maior, patriota e orgulhoso, não só do presidente, mas orgulho de todos nós.
Parece que finalmente tudo vai se estabilizar novamente. O governo Klint, marcado por estabilidade no início, a terá restaurada brevemente. Merecemos isso e devemos à Thomas um governo tão intenso e forte.
Os Estados Unidos estão em boas mãos.”
Meus olhos percorreram o jornal com rapidez e logo encontraram a foto que eu queria: minha e de Thomas, lado a lado, seu braço sobre meu ombro e a outra mão acenando para o público. Nossos anéis reluziam nos dedos.
Levantei os olhos para a televisão e aumentei o volume ao ver Thomas falando, uma entrevista gravada dias atrás. Sua barba crescera e, como presente por um ótimo governo, Margot permitiu que ele a mantivesse.
━Primeiro eu gostaria de agradecer por todo apoio que temos recebido. Sem a ajuda e o apoio do povo americano nós não conseguiríamos ter enfrentado tudo isso. As notícias chegaram para nós rapidamente, não entendemos nada a princípio, mas conforme o FBI foi clareando tudo ficamos horrorizados com tamanha maldade e afronta. De uma organização de existiu por décadas sem que ninguém soubesse e que ainda armava golpes e planos pelas costas do presidente, não só eu, mas os que vieram antes de mim. Foi uma afronta ao país, a cada um que confia no governo. Eles queriam o poder, mas esqueceram-se que as instituições dos Estados Unidos funcionam muito bem.
“Aliás, obrigado ao FBI pelo brilhante trabalho de investigação. À CIA pela ajuda em identificar documentos e arquivá-los novamente. Assim sendo, venho aqui dizer que ninguém sairá impune desse crime de traição. Todos serão julgados de acordo com a lei. Obrigado pelo tempo de vocês.”
Observei a seriedade com que ele falou e sorri. Thomas estava mais sério que o habitual e a situação exigia isso. Sua barba também lhe dava ares imponentes e elegantes.
Nossa viagem para a França aconteceria amanhã e eu estava nervoso, afinal, seria meu primeiro compromisso como primeiro-cavalheiro, oficialmente. A parte difícil ficaria com Thomas, de oficializar acordos e fazer negócios.
Podíamos finalmente respirar aliviados. Nossas vidas poderiam seguir como queríamos, lado a lado, sem intromissões.
Nós ainda não havíamos falado daquela briga de dias atrás. E eu ainda ficava nervoso por isso, apesar do comportamento de Thomas ter voltado ao normal. Achava que ele ainda estava chateado pelo jeito como eu havia ficado com Mike no dia em que foi embora.
Mike também não havia me escrito nada. Gostaria de dizer que não estava preocupado, mas eu era uma pessoa preocupada por natureza. Porém eu confiava em Thomas e sabia que se algo tivesse acontecido ele também ficaria arrasado.
Ouvi uma batida na porta do quarto e me levantei rapidamente. Era apenas Oliver.
━Senhor, seus familiares estão na sala de refeições.
Franzi o cenho com curiosidade.
━Ahh tá, já estou indo. -murmurei
Esperei ele fechar a porta para vestir a primeira roupa que encontrei. Uma calça jeans e uma camiseta de mangas curtas. E um tênis. Era ótimo me ver livre do terno que eu usava para ir trabalhar.
Saí do quarto e caminhei até a sala de refeições. Todos estavam ali. Margot, Thomas, Lilith, minha mãe, meu pai… Assim que me viram sorriram com felicidade.
━Damien! -minha mãe praticamente pulou no meu pescoço
A abracei com carinho e logo depois meu pai, que se mostrava bem mais receptivo do que da última vez.
━No início foi meio chocante, mas estou feliz que tudo esteja dando certo. -ele murmurou em meu ouvido
Lilith contentou-se em apenas acenar para mim. Correspondi, até ver que ao seu lado estava um rapaz, que parecia tenso e ansioso. Tinha cabelos loiros como os meus, mas os olhos eram castanho claros. Ela sorriu nervosamente.
━Esse é o Isaac. Meu namorado.
Agradeci por eles serem quase da mesma idade. Isaac levantou-se e me cumprimentou com um aperto de mão. Estreitei os olhos, tentando parecer ameaçador.
━Eu vou investigar toda sua vida e se você for um agente secreto nem pense em namorar minha irmã.
Todos riram e eu finalmente relaxei minha expressão. Eles achavam que eu estava mentindo… Depois de Chris e Mike eu agora teria o dobro de cuidado com qualquer pessoa que entrasse na minha vida.
Sentei-me ao lado de Thomas e ele me deu um beijo rápido no rosto, sua barba roçando em minha bochecha levemente. Alguns arrepios percorreram meu corpo, afinal, ele ficava ainda mais lindo daquele jeito.
━Você os chamou aqui? -perguntei baixinho sorrindo
━Já que vamos para a França amanhã, imaginei que você gostaria de se despedir. -apertou minha perna por baixo da mesa e eu sorri
━Obrigado.
━E… Isso aqui chegou para você.
Thomas tirou um envelope do bolso do paletó e me entregou. O peguei e examinei com lentidão, até me dar conta do que era.
━Chegou hoje de manhã.
Aproveitei que todos estavam entretidos com as comidas que eram servidas e saí de fininho para o corredor ler aquela carta tão esperada. Meu coração pulava de ansiedade e alegria. Rasguei a parte de cima sem me importar com o envelope.
Tirei o papel de dentro com rapidez e comecei a ler no mesmo ritmo. Era uma carta impressa, nada escrito a mão, mas pelas palavras eu sabia que era de Mike.
“Oi D.!
Tudo bem por aqui no Caribe, muito sol, areia e mar. Estou fazendo judô, acredita? Em uma escola aqui perto de casa. E que casa. Eu pensei que Thomas fosse me colocar num hotel, ou numa casinha de madeira na beira do mar, mas não, ele me colocou numa casa enorme de praia, luxuosa. Então, obrigado ao seu namorado.
Espero que você esteja bem, estou com saudades. É inevitável lembrar do nosso namoro e de como foi conturbado. Se eu pudesse voltar atrás faria tudo diferente, pra começar nunca teria sido um agente secreto. No entanto, quando penso nisso lembro que se não fosse pelo meu trabalho secreto eu jamais teria conhecido você. E se não fosse por Thomas nós nunca teríamos namorado. Estranho né?
Passo alguns dias lendo na praia, tomando sucos e me exercitando. Não fiz nenhuma amizade até agora, e acho que seria arriscado demais. Mas a vida aqui é boa.
Tenho a impressão que nunca “falei” tanto com você como o quanto estou escrevendo aqui. É a solidão que me faz te dizer esse monte de coisas! Mas estou feliz, finalmente livre. Infelizmente longe de você.
E quero dizer que você deve ficar ao lado de Thomas, porque ele é uma pessoa incrível. Além disso você está mais seguro com ele do que jamais estaria comigo. Não me dói dizer isso porque é verdade, e ele sabe disso.
Tenho que ir agora. Para qualquer lugar que eu vá tenho 2 seguranças para me seguir. Antigamente eu era o segurança.
Obrigado por ler, eu te amo, M.P.”
Sorri largamente ao terminar a leitura. Não chorei, fiquei apenas extasiado, alegre de ter notícias dele.
Ouvi a porta atrás de mim bater e Thomas logo estava ao meu lado, as mãos no bolso, os olhos azuis me analisando com curiosidade.
Ficamos em silêncio por vários minutos, eu sorrindo feito um idiota. Até lembrar do quanto eu o amava, a pessoa que estava ao meu lado ali. Então atirei meus braços em seu pescoço e o puxei para mim, abraçando-o com força, apertando seus ombros com meus dedos, querendo sentir todo seu corpo em mim.
━Eu te amo Thomas… -murmurei e enterrei meu rosto em seu ombro- Tanto, eu te amo tanto. Você é incrível sabia? -beijei seu pescoço- Obrigado por tudo.
Senti suas mãos acariciarem minhas costas com lentidão, um carinho delicado e leve. Ele riu baixinho, seu peito estremecendo abaixo de mim e logo me abraçou de volta, as mãos unidas atrás de minha cintura, sua bochecha grudada na minha, os olhos fechados, nossos narizes se tocando, numa dança lenta.
━Ele te mandou dizer isso? -ele riu baixinho
Lhe belisquei na cintura e franzi o cenho.
━Claro que não, idiota! Mike também te acha incrível sabia? Está escrito aqui. Acho que ele também queria ser um pouco como você. -suspirei voltando a abraçá-lo
━Aquele dia, em que brigamos… Eu estava sendo irracional. Não sei o que me deu Damien, era uma mistura de tristeza por te ver daquele jeito com Mike e felicidade por estarmos finalmente livres.
━Eu sei, não se preocupe. -me inclinei e beijei seus lábios suavemente- Eram muitas emoções em um dia só.
━Você me perdoa?
━Não há o que perdoar. -sorri
━Ótimo, não queria ter dito aquelas coisas…
Ficamos alguns minutos nos acariciando e nos beijando, nos mexendo como se estivéssemos dançando uma música lenta, nossos narizes encostados, assim como nossas bochechas, abraçados com carinho.
━Vamos voltar para a sala? -ele interrompeu meus pensamentos
━Sim. -suspirei e me afastei dele- Preciso conhecer direitinho esse Isaac, já imaginou se a gente descobre que ele trabalha pra outra organização secreta?
Guardei a carta em meu bolso da calça. Ele riu e me puxou pela mão para dentro da sala, nossos dedos entrelaçados. Margot falava animadamente, sua voz acima da de todos.
Seus cabelos estavam compridos já, e ela continuava enérgica e decidida como sempre.
━Eles deixaram uma entrevista gravada, vai ao ar enquanto estiverem na França. E vão ficar no Hôtel de Marigny, conhecer o presidente. Mas claro que não é só festa, Thomas terá compromissos com a imprensa e enquanto isso Damien vai ter minha ajuda para formar uma imagem boa aos olhos dos franceses e dos americanos que ficarão aqui assistindo. Ou seja, seu filho está em boas mãos! -ela bateu palmas, sorrindo com animação
Thomas fez uma careta ao ouvi-la falar tão rapidamente, e sentou-se ao meu lado novamente. Comecei a comer minha comida com vontade, a fome fazia meu estômago roncar.
━Sem camarão hoje? -perguntei num murmúrio
━Sem camarão hoje. -ele riu e me beijou na bochecha
Pude ver Lilith conversando animadamente com Isaac. O garoto parecia um tanto perdido e com medo, mas eu entendia, eu já estivera no lugar dele um dia, visitando a Casa Branca, conhecendo o Presidente… Ri só de me lembrar. Naquela época eu não sabia de metade do que me aconteceria comigo.
Minha mãe puxou uma conversa com Thomas sobre as refeições ali na residência oficial e meu pai conversava animadamente com Margot sobre política.
A carta de Mike estava em meu bolso. Em meu dedo o anel me lembrava onde eu estava e o que seria dali para frente.
Finalmente eu estava em paz. Mas continuava nervoso, claro, com a França.
______
Na França fomos recebidos com entusiasmo e curiosidade. Descemos do avião lado a lado, acenando.
Era inverno, portanto vestimos os melhores casacos de pele que Margot comprou e encaramos com sorrisos e simpatia a multidão que nos aguardava.
O presidente nos cumprimentou e logo depois a primeira dama. Ela logo pegou meu braço e me conduziu para dentro do Hôtel de Marigny, onde se hospedavam as personalidades que faziam visita de estado à França.
Thomas apertou a mão do presidente francês e vários flashes quase nos cegaram. Eles sorriram um para o outro e trocaram algumas cortesias, assim como palavras de agradecimento, para logo nos seguirem para o Hotel.
Thomas passou o dia conversando com o presidente enquanto eu arriscava algumas palavras em francês com a primeira-dama. Ela era simpática e me serviu chá e bolo enquanto me mostrava os aposentos em que ficaríamos. Eram quartos suntuosos e clássicos. Eu me sentiria um rei dormindo ali.
Nossa tarde passou rapidamente, já que o lugar era imenso e havia muitas coisas para ver, como quadros, documentos históricos e etc… Margot, eu imaginei, estava preparando alguma coisa para mim, já que estava trancada no quarto.
Quando lhe perguntei se não seria um pouco rude da parte dela ficar no quarto apenas revirou os olhos e disse:
━Claro que não, nós somos amigos de Thomas.
━Não deixa de ser rude! -protestei
━Ok Damien, é você que tem que ficar zanzando por aí do lado da primeira-dama, eu sou só assessora de Thomas, então ninguém liga muito se eu ficar aqui. Entendeu?
Assenti como se ela fosse minha mãe, explicando algo óbvio para mim.
Imaginei como Thomas devia estar se saindo… Ele sabia falar francês, afinal sua família era parte francesa.
Achei que seria um dia chato, mas foi melhor do que imaginei. Comi brioches e conversei animadamente com a primeira-dama.
Quando chegou a noite Thomas apareceu ao lado do presidente, conversando animadamente em francês. Eu adorei vê-lo falar daquela maneira.
Thomas falando francês e com aquela barba era algo que estava me deixando animado. Logo que me viu ele acenou e aproximou-se.
━Podemos ir para o quarto agora.
━Sim, estou cansado.
Ele conversou mais algumas palavras com o presidente e eles assentiram sorrindo. Nos despedimos e fomos guiados até o nosso quarto por um segurança.
━Merci. -murmurei timidamente
Assim que a porta fechou meus lábios foram atacados com volúpia por sua boca. A barba roçava em mim, pinicava, causando alguns arrepios, mas eu gostava da sensação.
Suas mãos percorreram minha cintura, apertaram meu quadril e desceram para minhas nádegas, apertando-as com vontade, o que me fez soltar um gemido de surpresa um tanto alto. Thomas cobriu minha boca com sua mão e riu.
━Cuidado, aqui não tem isolamento acústico. -falou em tom de brincadeira
Tirei sua mão da minha boca e o beijei, o incentivando a abrir os lábios para que eu pudesse inserir minha língua ali. Quando nossas línguas se tocaram se envolveram rapidamente, a saliva se misturando. Logo depois senti seus dentes puxando meus lábios com suavidade, o bastante para me fazer estremecer.
━Ah Thomas, você não pode tirar nunca essa barba. -falei ofegante, dando-lhe um selinho
━Se ela te deixa desse jeito eu não vou tirar mesmo. -arqueou as sobrancelhas
Senti meu rosto esquentar e imaginei o quão vermelho eu não estaria. Apoiei minhas mãos em sua nuca e respirei fundo.
━E te ver falando francês me deixou desse jeito também. -murmurei desviando o olhar para o chão
━É mesmo? Si vous voulez, je peux parler français avec vous.
Ele sussurrou em meu ouvido e um arrepio gostoso percorreu meu corpo. Sorri e o beijei novamente, meus lábios esfregando-se nos seus, abrindo-se para ele, sentindo sua língua me explorar com prazer. Gemi baixinho entre o beijo, ao sentir outra mordida no meu lábio inferior.
━Tudo passou tão rápido, parece que foi ontem que estávamos naquela sala, que você me convidou para aquele jantar. -sussurrei enquanto ele abria meu casaco
━Eu sei, e em tão pouco tempo tantas coisas aconteceram… -ele riu
━Já disse várias vezes, mas estou feliz de estar com você. -acariciei sua bochecha com meus dedos, a pele estava fria por causa da temperatura
━Eu nunca estive tão feliz antes. -sorriu largamente, os dentes quase reluzindo, os olhos brilhando, intensos, azuis
━Vamos assistir nossa entrevista? -arqueei as sobrancelhas
Thomas franziu o cenho como se eu o tivesse decepcionado. Eu ri, sabendo bem o que ele queria fazer na verdade.
━Vamos Thomas, é minha primeira vez na França! -dei um soco de brincadeira em seu braço
Ele resmungou mas aceitou, ligando a televisão e o ar condicionado do quarto.
Sentei-me na beirada da cama e ele sentou ao meu lado, me puxando para me encostar em seu peito. Suspirei e me aninhei ali, sentindo seu perfume gostoso em mim.
Na tela a entrevista que havíamos gravado começava. Minha primeira entrevista.
______
Acordamos de um sono gostoso e profundo. Thomas acabou dormindo na metade da exibição e eu assisti até o final.
Gostei de como apareci ao seu lado, um pouco tímido e reservado, e notei como meus olhos brilhavam ao olhar para ele, nossos anéis reluzindo na TV.
Uma hora Thomas apertou minha mão e a beijou com carinho, a câmera focou em meu rosto, completamente vermelho de vergonha. A entrevistadora riu da minha timidez e nos perguntou mais sobre o anel, sobre o futuro… E pela primeira vez eu falei sem gaguejar.
━Eu quero o melhor para o país. E juro trabalhar para propiciar somentes coisas boas para o povo americano. Quero fazer muito, tenho muitas ideias e só preciso de ajuda e de acolhimento. E pretendo continuar ao lado de Thomas sempre.
Nenhuma pergunta bombástica, porque nós mesmos havíamos escolhido as perguntas. Ela perguntou como havíamos nos conhecido e Thomas disse que se apaixonara por mim ao me ver apresentando um trabalho. E não era mentira, mas depois disse que foi assim que nos conhecemos, e não era verdade.
Sorri ao lembrar da entrevista. Peguei meu celular, que estava vibrando e sorri ao ver que Jess mandara uma mensagem. Após a morte de Chris ela passou alguns dias isolada, sem falar com ninguém, mas finalmente voltara a ser minha amiga de sempre.
“D.! Todos estão falando de você! A maioria das pessoas te amam! E te acham um querido, sabia? Estão dizendo que você é muito simpático, bonito, fofo e carismático. Seu rostinho está na capa de umas 200 revistas acho.”
Logo depois havia uma mensagem de Lilith.
“Você é a pessoa mais famosa do mundo. Várias reportagens sobre você passam na televisão a toda hora. Todos estão comemorando o relacionamento de você e estão perguntando quando vão ter filhos. DAMIEN EU QUERO SER TIA OUVIU?”
Gargalhei tanto com aquela mensagem que acordei Thomas. Ele me olhou como se estivesse em outro mundo e tentou se situar rapidamente.
━Sim, estamos na França, você dormiu e eu tive que tirar sua roupa ontem. Não que eu não tenha gostado. -me inclinei e lhe beijei na boca
━Aconteceu algo?
━Não, acho que o país me ama. Não a França, os Estados Unidos. -acrescentei rapidamente, sentindo uma felicidade imensa
Abri a internet e pesquisei meu nome no Google. mais de 3 milhões de resultados. Arregalei os olhos, um pouco alegre e ao mesmo tempo espantado.
Passei os olhos sobre algumas manchetes.
“Damien Novak conquista americanos em entrevista.”
“Eles são o casal mais famoso do mundo: Thomas e Damien.”
“Como a imagem de Damien foi formada, e porque ele está sendo tão bem quisto pelos americanos?”
“Carisma e humildade são características de Damien Novak.”
Eu ri lendo cada uma delas. Parecia algo escrito sobre outra pessoa, não eu. E além disso só havia sido eu mesmo naquela entrevista…
Então li a manchete que me fez pensar seriamente, um assunto que eu tentava evitar ao máximo.
“Thomas seguirá para um segundo mandato com Damien ao lado?”
Fiquei olhando a tela do celular por vários minutos, ponderando qual seria a resposta de Thomas. Ele agora me encarava de lado, um braço atrás da cabeça, a curiosidade estampada em seus olhos. Quando percebeu que eu estava olhando para a tela há longos minutos franziu o cenho e sorriu.
━Quer me perguntar algo? -apertei os lábios e tomei coragem
━Você vai se candidatar novamente?
Não desviamos os olhos um do outro, ficamos nos analisando profundamente. Seus olhos azuis intensos, mais escuros que o habitual.
━Eu não sei. -murmurou um pouco chateado- Quero saber como é viver com você sem ser presidente. O que acha?
━Eu… -pensei um pouco- Não faço ideia.
Ficamos em silêncio, pensando em todas hipóteses, em como seria nossa vida se ele não fosse presidente.
━Tenho medo das mudanças. -murmurei baixinho
━Eu preferiria viver em paz, sossegado com você em alguma casa na praia.
━No Caribe? -perguntei de brincadeira
━Não Damien! Porque nos mudaríamos para perto do seu ex-namorado?! -franziu o cenho indignado
━Eu sei, estou brincando. -ri e lhe beijei rapidamente
━É o que eu imagino para nós, uma casa grande de dois andares na praia, um cachorro e uma vida tranquila.
━Um cachorro? Qual raça? -sorri largamente
━A que você quiser. -beijou minha testa
Rolei a página no celular e ri ao ler a última manchete. Mostrei o celular para Thomas.
“Quando teremos o bebê da América? Damien e Thomas pensam em adoção?”
━Você quer ter filhos Damien?
Eu pensei que ele fosse rir, mas estava sério, me encarando com curiosidade. Fiquei nervoso de repente.
━Nunca pensei sobre isso. -franzi o cenho- Lilith certamente quer ser tia. -ele finalmente sorriu- Mas, pensar em educar outro ser humano, conviver anos com ele… Não sei, me dá medo.
━Eu quero ter filhos… -falou baixinho, olhando para o teto
Me apoiei em seu peito e deixei o celular na cômoda ao lado.
━Mesmo? -arqueei as sobrancelhas- Posso mudar de ideia por você. -sorri com carinho
━Mais tarde vemos isso, ainda temos mais um ano e meio pela frente. -sorriu
━E talvez mais quatro anos? Quem sabe… - o provoquei
━Não sei se estou pronto para tanto desgaste. -resmungou fechando os olhos
━Nem eu… -suspirei com sinceridade
━Já imaginou se você se candidatasse? Eu teria umas férias.
━Você nem é louco Thomas. Nem pense nisso. Prefiro o seu plano de ir morar numa casa na praia.
Me ajeitei em cima dele, abraçando-o pela cintura.
Nós não sabíamos o que o futuro nos reservaria, mas aprendendo com nosso passado podíamos ter a certeza que ele não seria pior. Tudo tendia a melhorar, e iria, porque nós estávamos juntos, fortes e nos amávamos. E confiávamos um no outro.
━Voltaremos amanhã?
━Sim, de volta a Casa Branca.
━Ótimo, porque eu tenho vários programas em que pensei.
━Sociais?
━Claro né Thomas! -revirei os olhos- E quero que você os veja e diga o que acha. Estou ansioso.
━Todos já te amam, desse jeito eles vão te idolatrar. Margot está mais disposta a aceitar opiniões. Conversei com ela sobre seu papel no governo, ela agora acha que quanto mais você for visto em público e fizer caridade melhor. -riu baixinho
━Só quero deixar um legado…Fazer algo útil, bom para as pessoas. FIco feliz que ela tenha mudado de ideia.
Suspirei. Thomas me abraçou e beijou meu pescoço. Fez uma massagem gostosa em meus ombros, depois beijou-me na boca com delicadeza, nossos lábios se tocando sem muita pressão, com suavidade, movendo-se um sobre o outro.
━Temos tempo de sobra. -sussurrou em meu ouvido
___MESES DEPOIS___
━Eu já agradeci muito por ter ganho esse prêmio. Mas obrigado à Damien. Muitos não sabem, mas a ideia de ceder territórios foi dele. Sei que todos estão saturados de Israel e Rússia, um conflito que já acabou há meses, mas eu preciso tocar nesse assunto porque foi ele que me levou à estar aqui, em Oslo essa noite, recebendo esse prêmio. Não sei se eu merecia ganhar algo por fazer meu trabalho como presidente, mas estou feliz de ter ganho, quem não estaria? É como ganhar uma estrela dourada quando se é criança. Obrigado à todos, ao povo americano que tem me apoiado, à todas instituições dos Estados Unidos, juntos somos mais fortes. Obrigado!
Assim que ele desceu do palco as pessoas se levantaram e aplaudiram, eu inclusive. E assim que Thomas chegou perto de mim segurou meu rosto com as duas mãos e beijou-me lentamente, para todos verem, nossa imagem passando no telão.
Todos a nossa volta gritaram e aplaudiram com mais força. Sua barba ainda estava intacta, e ainda me fazia dar alguns suspiros de paixão.
Meu rosto estava quente de timidez por ter tantos olhos em cima de nós, mas disfarcei bem, segurando sua mão e acenando para a plateia.
Nossos olhares se encontraram, acima dos gritos, acima das palmas, acima do prêmio e brilharam com intensidade, um fervor gigante. E eu vi nitidamente que tudo aquilo era amor.
Não sabia se ia durar para sempre, mas tinha certeza que duraria muito.
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