1. Spirit Fanfics >
  2. O Príncipe de Daegu >
  3. Caput Quartus

História O Príncipe de Daegu - Caput Quartus


Escrita por: jiho

Notas do Autor


Estou postando esse capítulo meio q na corrida pq tenho que ir fazer a janta efkoilrjdfkn
Mas enfim, boa leitura <3

Capítulo 5 - Caput Quartus


Fanfic / Fanfiction O Príncipe de Daegu - Caput Quartus

Park Jimin

 

 

Foi realmente muito assustador abrir meus olhos naquele momento, era como se minhas pálpebras estivessem pesando mil toneladas e simplesmente não quisessem que eu enxergasse o mundo a minha volta. E, pensando bem, talvez eu realmente não quisesse enxergá-lo. Minha cabeça doía como o inferno ao ritmo em que meus olhos se abriam lentamente, acabando por machucar um pouco minha retina no exato momento em que senti a claridade bater contra meus olhos. Pisquei diversas vezes na tentativa de me situar no local e situação, até finalmente conseguir enxergar direito.

E a visão que me apareceu havia sido bem estranha, na verdade seria até surpreendente se não fosse trágico: era o garoto do vinho. Era trágico porque sabia que ele não estava ali por acaso e que, querendo ou não, eu conseguia me lembrar muito bem dos acontecimentos anteriores. Os flashs vinham na minha mente, mostrando o quão gravada estava cada cena vivida há horas atrás.

 

— Onde estou? — perguntei enquanto ainda tentava focar melhor minha visão pelos lados.

 

E meu coração doeu muito ao lembrar de Shin Hye, ao ver a imagem da minha braço-direito e melhor amiga morrendo bem a minha frente, enquanto eu não podia fazer nada. Isso de certa forma me fazia refletir muito se eu teria de fato capacidade para me tornar um rei. Eu não consegui proteger uma única serva, conseguiria assim proteger todo o meu povo? Era lógico que não!

E aquilo me causava uma raiva que eu não controlava, porque eu me sentia fraco e incapaz de poder proteger aqueles que eu amo. Eu definitivamente amava muito Shin Hye, como uma irmã mais velha que vivia me dando sermões. Não gostava de olhar para o meu lado sentimental, mas quando olhava eu claramente pensava em como poderia seguir vivendo agora sem ela.

Shin Hye era meu escudo e também minha fortaleza, cresceu ao meu lado, esteve comigo em todos os momentos difíceis e dedicou toda a sua vida a me proteger. E no fim morreu por mim. Não, de forma alguma eu conseguia aceitar que ela havia morrido me protegendo, quando na verdade o meu dever deveria ser o de proteger, não de ser protegido. Como iria encarar agora os desafios do meu dia a dia sem Shin Hye do meu lado? Sem suas inseguranças sobre todos a minha volta? Sem suas manias e seu jeito mandão de tentar me ensinar o que é certo e o que é errado? Eu simplesmente não conseguia me enxergar sem ela.

E agora, com a mente completamente atordoada, não conseguia manter nenhum raciocínio em ordem. Nem ao menos raciocinar o porquê daquele servo estar do meu lado. Certo, eu lembrava-se que ele havia me salvo daquilo tudo, que ele havia sacado sua espada e matado o assassino. Pelo menos isso me aliviava, de saber que se eu estava aqui, é porque aquele cretino estava morto. O escravo tinha dito alguma coisa, mas eu sequer prestei atenção, estava tão ocupado tentando recuperar a sensatez que sequer lembrei o que havia perguntado anteriormente.

 

— Você conseguiu derrotar o assassino? — foi o que consegui perguntar, já que estava com a plena certeza de que ele estava morto, mas ainda não podia confirmar.

 

O garoto de repente pareceu ter ficado um pouco atordoado, deixei-me olhar para o seu rosto por alguns segundos e então analisei a face interrogativa e perdida que estava pintada em seu semblante. Minha pergunta não havia sido difícil, era só responder sim ou não e já estava bom. Mas assim como no incidente com o derramamento de vinho, no horário da manhã, ele parecia perdido em seu próprio mundo.

 

— Ele fugiu… — aquelas palavras foram o suficiente para fazer todo o meu corpo paralisar por inteiro.

 

Como ele poderia ter fugido? Como poderia não ter morrido e ainda deixado nós dois vivermos depois de tudo o que ele fez. Aquele assassino estava disposto a me matar, por que cargas d’água ele iria fugir depois de se encontrar com um escravo? Não, aquilo não podia ser verdade. Não tinha jeito daquilo ter acontecido, não tinha jeito do maldito assassino que tentou matar a mim e que decapitou Shin Hye na minha frente estar vivo e solto por aí. Shin Hye não morreu eu vão, ela morreu me protegendo. Ela foi nobre até o fim e por isso nem enterrada como os outros escravos ela deveria ser.

Lembrava-se bem das regras dos reinos. Os escravos eram considerados “inferiores” e por conta disso eram apenas enterrados, não sepulcrados. Shin Hye merecia o sepulcro, merecia o melhor por simplesmente ter feito o melhor quando estava em vida. Não era justo ela ter morrido assim por minha causa, assim como também não era justo simplesmente enterrá-la num mar de ossos.

Mas o fato é que eu não fazia ideia de quanto tempo fiquei desmaiado, não sabia se ela já havia sido enterrada ou se sequer foram ver o corpo dela jogado em meio a floresta. Queria me despedir dela pela última vez, velar seu corpo e lhe desejar uma boa passagem ao mundo dos mortos.

 

— Já enterraram? — perguntei ignorando qualquer coisa que o garoto tivesse dito anteriormente, se é que havia realmente dito alguma coisa.

— O quê?

— Shin Hye. — respondi e então suspirei pesado.

 

Aquilo estava me machucando tanto, a tristeza dentro de mim era tanta que era difícil segurar. Mas eu não podia chorar, Shin Hye realmente odiava quando eu ficava sentimental demais e vivia me dizendo que pessoas fortes nunca choram. Então eu não poderia chorar por ela, porque eu tinha que ser forte por ela.

 

— Eu queria que ela fosse sepulcrada e não enterrada… — falei um pouco avoado, perdido em memórias com a garota, querendo a todo momento que nossos momentos voltassem e que isso tudo fosse só um pesadelo.

— Pelo que eu sei, escravos não podem ser sepulcrados. Nós estamos no mesmo nível dos cavalos e animais domésticos.

 

E então uma raiva absurda tomou conta do meu peito quando ouvi aquilo. Como o garoto ousava se rebaixar tanto assim? Na verdade eu não me importava se ele se achasse um lixo, nem o conhecia, mas ele não estava falando apenas de si, estava falando dos escravos em geral. E realmente Shin Hye não merecia ser rebaixada assim. Não, Shin Hye era mais nobre até do que eu, não chegava nem perto de ser comparada com um animal. Aquilo me deixava doido apenas de pensar. Ser humano! Era isso que ela era, é isso que esse garoto a minha frente é e é isso o que eu sou. O que nos difere?

 

— E realmente, qual a diferença entre você e um cavalo? — o meu tom saiu um pouco mais rude do que eu esperava, mas eu realmente estava puto com aquela linha de pensamento daquele escravo.

 

Sentei-me na cama e então pude sentir meu corpo inteiro doer, principalmente a minha cabeça que latejava como nunca, em uma intensidade tão forte que cheguei a achar que iria explodir. Eu não queria parecer rude para o garoto, até porque eu odiava toda essa maneira arrogante no qual os nobres tratam seus escravos, mas o momento me deixava completamente impossibilitado de tentar qualquer gentileza naquele momento.

E o pior era me fazer refletir sobre a diferença entre humanos e animais, quando eu deveria estar apenas focado em matar aquele assassino desgraçado que deveria estar vagando por aí completamente impune. Foda-se a droga dos animais.

 

— Você é exatamente igual a um cavalo, assim como eu sou exatamente igual a você. Todos nós respiramos, bebemos, comemos, dormimos e vivemos sobre o mesmo planeta. O que me faz tão diferente de você?

— A diferença está no fato de que eu levo chibatadas nas costas e acordo desnorteado pelo pós-desmaio no meio de uma grama, tendo que usar folhas para curar minhas dores; enquanto você acorda numa cama macia sendo vigiado e cuidado por alguém. A diferença está nos restos de alimentos e ossos secos que eu como na minha única refeição do dia; enquanto você come um banquete e joga tudo fora depois. Não seja hipócrita, nós não somos iguais.

Então acabei por arregalar minimamente os meus olhos, surpreso pela resposta afiada que me foi dada. Obviamente ele não estava me xingando, ou pelo menos eu não levei aquilo como um xingamento. Mas ainda assim me pareceu tão áspero que quase me matou de pena por eu saber que ele estava sendo sincero. Os escravos eram muito maltratados, comiam pouco e trabalhavam muito mais do que os seus próprios corpos podiam suportar. Não me surpreenderia se achasse diversos cortes e cicatrizes na pele do garoto tão jovem.

Mas o problema não foi realmente pela língua afiada do garoto, mas sim pela a sua semelhança com Shin Hye. A maneira com a qual ele parecia não baixar a cabeça mesmo ao conversar com o próprio príncipe, o olhar determinado do garoto que ao mesmo tempo esboçava medo e insegurança. Não conseguia entender ao certo, mas ele parecia ter um gênio forte, o que me lembrava muito rapidamente de Shin Hye. E droga, ela me daria muitas saudades.

Eu definitivamente tinha que matar o desgraçado daquele assassino.

— Você disse que o duque está preparando uma equipe para capturar o culpado pelo ocorrido, não é? Por que ele pediu para você ficar cuidando de mim? — a pergunta saiu tão automática que até eu me surpreendi.

Verdade, eu ainda não tinha tentando encaixar os pontos e pensar no porquê daquele garoto estar ali comigo, e não um médico ou empregado superior. E bem, eu acho que eu até fazia ideia da resposta daquela pergunta, principalmente pelo fato de ter visto o garoto parecer ter ficado extremamente sem graça. Eu só não queria ouvir a resposta e ter certeza dos meus pensamentos.


 

— O duque me escalou como seu braço-direito.


 

E então suspirei, fundo e cansado. Eu já esperava por isso, só não queria acreditar. Eu não queria que Shin Hye fosse substituída, mas sabia que era impossível conseguir viver sem um braço-direito. Mas o pior é que tinha sido escalado alguém que eu sequer conhecia, um escravo que vi só uma vez e que, pelo que eu julgava, era novo ainda neste castelo. Vi ele intervir com sua espada durante a briga com o assassino, mas será que ele sabe mesmo lutar bem? Céus, eu nem sabia quem aquele garoto era e não fazia ideia das suas habilidades.

Eu confio muito em Jin, mas porque ele escolheu justamente o garoto do vinho para ser o meu braço-direito? Me pareceu uma escolha tão aleatória, como se ele tivesse pego um qualquer para simplesmente ter alguém naquele posto.

Mas se Jin havia decretado aquilo, então com certeza teria alguma vantagem. Ele não iria escalar alguém para que eu me tornasse um alvo fácil de morrer, não é? Lembro o quão cuidadoso ele tinha sido ao treinar Shin Hye para que ela se tornasse minha braço-direito, então provavelmente havia algo nesse garoto do vinho que pudesse impedir que mais catástrofes como a de mais cedo viessem a acontecer.

— Se o duque te escalou é porque confiou em você, então por mim tudo bem.


 

Decidi por dar de ombros. Seria melhor não contestar o duque e seus planos de proteção. Eu confiava nele como se fosse o irmão mais velho que eu nunca tive e ele sempre tentava me proteger a todo o custo. Se Jin confiava naquele escravo, então eu também deveria confiar.


 

.

.

.


 

Os sons das batidas na porta ecoaram por todo quarto, fazendo-me despertar do sono em que me encontrava. Os olhos cansados abriam-se lentamente ao que ouvia o som da porta se abrindo e por um momento cogitei a ideia de xingar Shin Hye por ter aparecido mais cedo do que o habitual. Mas aí eu lembrei que não tinha como ser a Shin Hye, e então meu coração novamente se apertou.

Bufei baixo completamente sem ânimo enquanto levantava meu dorso e me colocava sendo à cama, coçando mansamente os olhos enquanto finalmente focava o olhar para ver quem me acordava. E para a minha surpresa, não havia sido o meu mais novo braço-direito.

— Eu não queria te acordar tão cedo, mas eu cheguei agora e a única companhia que eu poderia ter é a dos escravos e, cá entre nós, não me sinto muito confortável falando com eles. — a voz um pouco estridente soava alta por todo quarto, atiçando um pouco a minha dor de cabeça que continuava presente. — Sabia que você não ia estar acordado ainda, Aurora, mas tive que te acordar para dizer: CHEGUEI! — gritou ainda mais alto, fazendo-me grunhir baixo.

— Aish, para de gritar! Eu tô quase morrendo de dor de cabeça, Hoseok! — disse demonstrando estar bravo, mas logo minha expressão vacilou e acabei por rir baixinho. Realmente não conseguia ficar sério quando tinha Jung Hoseok perto a mim.

Hoseok é meu amigo de infância e também meu primo. Minha tia constantemente vem ao nosso reino para visitar nossa família, eles moram muito longe, mas ainda assim todo ano faziam questão de passar semanas conosco. E isso acontecia desde criança, quando Hoseok e eu compartilhávamos nossos brinquedos e saíamos correndo por aí brincando.

O Jung era extremamente brincalhão, era filho do rei da província de Incheon, porém não era o herdeiro do trono, já que possuía um irmão mais velho. Era engraçado o fato de eu nunca ter visto Hoseok triste ou mal por algo, ele sempre mantinha um sorriso no rosto e piadas extremamente ruins na ponta da língua. E era por isso que adorava suas visitas, porque não importando em que momento viesse, sempre me fazia me sentir melhor, o que eu realmente precisava agora.

— Já falei pra você beber menos vinho! — disse e então negou com a cabeça. — Aliás, eu soube do que aconteceu… Eu sinto muito, primo. Eu iria vir só daqui há um mês, mas recebi uma carta ontem à noite me contando sobre o ocorrido, então fiz questão de vir mais cedo.

— Não precisava ter feito tudo isso só para me ver. — disse e então lhe enviei um sorriso pequeno. Na verdade ele sabia o quanto eu precisava dele em um momento difícil como este.

— Não seja idiota! Eu estou aqui para te animar… E também para tomar um chá, estou morrendo de vontades de provar as ervas daqui. O clima de Incheon não é bom para cultivar marcelas. — reclamou fazendo uma cara melancólica, como se aquilo fosse um tremendo drama em sua vida.

Acabei por apenas concordar com sua ideia de tomar um chá e então me levantei, logo notando que já haviam duas escravas esperando para que eu acordasse e pudessem me ajudar com as tarefas matinais.

.

.

.

Hoseok e eu caminhávamos tranquilamente pela grama verde do jardim, indo em direção a uma pequena mesinha de rua, afim de tomarmos nosso chá ao ar livre. Eu gostava bastante de ficar em contato com o sol, pois ele realmente significava muito para mim. Senti-me até um pouco triste por ter me esquecido completamente de ter acompanhado o seu nascer, como eu fazia em todas as manhãs. Mas tudo bem, o que importava é que ele estava lá, aquecendo os corpos do meu futuro povo e clareando todo o reino, mostrando as diversas cores da flora bonita do castelo.

— Então, isso pode parecer um pouco indelicado… Mas você já escolheu seu novo braço-direito? — Hoseok perguntou enquanto se sentava em uma das cadeiras de madeira da mesinha decorada.

— Eu não escolhi, mas Seokjin arranjou um para mim. Talvez seja temporário, eu ainda não falei com o hyung sobre isso.

— E quem é? Ele não deveria estar com você agora? — perguntou confuso.

— Deveria, mas você me tirou da cama mais cedo, provavelmente o coitado deve ter ido ao meu quarto no horário certo e eu não estava lá, agora ele deve estar me procurando desesperado. — disse e então acabei rindo anasalado.

— Qual o nome dele?

— Pelo que me lembro, a chefe dos escravos havia chamado ele de Jeon Jeongguk. — expliquei, lembrando-me perfeitamente do acidente com o vinho que o escravo havia provocado. — Ele me sujou todo de vinho na primeira vez que o vi. — falei rindo ao lembrar da afobação do garoto. — Ele estava com tanto medo, como se eu fosse espancá-lo ou coisa do tipo.

— Você sabe que provavelmente ele foi espancado mesmo, né? — perguntou, fazendo qualquer esboço de sorriso presente no meu rosto sumir, dando espaço a uma expressão interrogativa que tentava entender o que o meu amigo queria dizer com aquilo. — Você pode não ter batido nele, mas ele com certeza deve ter apanhado por ter cometido uma falha.

— Espera, está me dizendo que ele deve ter apanhado por ter derrubado vinho em mim? — perguntei abismado e então acabei estalando a língua no céu da boca, inconformado com aquilo. — Por que caralhos ele deveria ser punido por um acidente?

— Porque ele é um escravo e escravos não podem cometer acidentes. — respondeu e então suspirou. — Eu digo isso porque tive a infelicidade de ver um escravo do meu castelo morrer por ter tropeçado durante uma reverência perto aos seus superiores. A vida deles é tão insignificante que nem se defendem desses castigos absurdos.

— Ei, espera. Eles não são insignificantes, ele só não tem como se proteger. Sei lá, eles não têm ninguém para ajudá-los e sabem que se resistirem a alguma punição, ela irá piorar três vezes mais. Deve ser realmente muito triste ser um escravo.

— Bem, eu nunca vi nenhum escravo reclamando… As vezes eu acho que eles nem tem sentimentos, sabe? Você sabe o que dizem, eles não são como nós. — explicou, enquanto cruzava suas pernas.

Aquilo me deixava zangado, mesmo que fosse o Hoseok quem falasse. Poxa, qual era a grande diferença entre escravo e nobre? Eu realmente não conseguia entender porque essa divisão era tão grande. Seria realmente muito bom se todos tivéssemos os mesmos privilégios e trabalhássemos de igual para igual. Eu odiava o sistema de trabalho organizado pelos reinos, mesmo que soubesse que era por causa dele que conseguíamos manter o castelo em ordem.

— Com licença. — a voz baixa e um pouco amuada ecoou por trás de mim, fazendo-me virar lentamente.

E logo que minha cabeça inclinou-se para trás, pude dar de cara com as orbes negras e de expressão extremamente infantis me olhando. Jungkook era realmente muito bonito, mesmo que estivesse usando roupas tão gastas, como todos os outros escravos usavam. Em suas mãos havia uma bandeja com xícaras de chá decoradas, que exalavam a fumaça característica da bebida quente que deveria ter sido recém servida.

— Peço desculpas pelo atraso, não me falaram que você não estaria no quarto. — o garoto desculpou-se enquanto largava a bandeja em cima da mesa. — Err… Majestade. — tentou ajeitar para que parecesse mais formal.

Aquilo fez Hoseok rir um pouco, já que realmente era engraçada a dificuldade do Jeon em tentar tratar bem um superior. Isso era algo que eu já havia notado desde ontem, quando ele me chamou de hipócrita. Mas de alguma forma, eu achava aquilo uma gracinha.

— Pode me chamar de Jimin. Eu acho irritante ter o pensamento de que alguém que vai ficar o resto dos dias do meu lado continue me chamando de majestade. — disse tentando parecer um pouco sério e, ao mesmo tempo, amigável. — Você que fez o chá?

— Tudo bem… Jimin. — disse e então sorriu. — Quem fez o chá foram as outras escravas, a Senhora Linhee me disse que você estava aqui e então eu poupei as pernas dela e trouxe o chá como um favor. — explicou e então eu assenti.

— Beba o chá antes. — Hoseok disse em um tom autoritário, cortando completamente o clima amigável.

Olhei para ele interrogativo, tentando entender o porquê dele ter dado aquela ordem ao escravo. Olhei para o chá e então notei que ele parecia estar um pouco mais avermelhado do que de costume e então arqueei minhas sobrancelhas, logo vendo que Jungkook pareceu ter ficado um pouco nervoso.

— Me desculpe, o que você disse? — Jungkook perguntou enquanto piscava diversas vezes.

— Beba o chá antes. Ele está com uma cor estranha e já está servido, o que normalmente só é feito quando já se está na mesa. — o Jung explicou com sua feição extremamente inexpressiva.

— Está insinuando que ele envenenou? — perguntei surpreso e então Hoseok apenas lançou-me um olhar duvidoso.

— Eu não sei, mas podemos descobrir se ele beber o chá antes de nós. — respondeu enquanto cruzava seus braços, logo olhando com desdém para o Jeon que parecia extremamente inquieto. — Qual o problema?

Pude ver Jungkook engolir em seco e então pegar uma das xícaras, suas mãos pareciam estar um pouco trêmulas e sua feição não parecia estar nada boa. E então percebi o quão suspeito aquilo parecia. E se realmente ele tivesse envenenado aquilo?

Não parecia ser do feitio dele fazer aquele tipo de coisa, principalmente comigo que não lhe fiz nada de errado. Ele não parecia ser o tipo de cara que queria me ver morto, até porque ele havia me salvado ontem mesmo de um assassinato, não fazia sentido algum se tentasse me matar agora. Mas não podia negar, todos os seus movimentos pareciam extremamente suspeitos.

Então os lábios finos do escravo chocaram-se levemente contra a xícara, virando-a lentamente enquanto bebia o líquido dentro com velocidade. Deveria estar muito quente, ele não podia beber tão rápido. Mas como se não se importasse com a temperatura, ele apenas bebeu aquilo rapidamente e fez uma pequena careta ao fim.

— Desculpa, eu não gosto de chá. — disse largando a xícara vazia em cima da mesa. — Mais alguma acusação contra mim pra que eu possa provar o contrário? — perguntou em um tom um pouco provocador enquanto lançava o olhar para Hoseok.

O Jung fez uma cara extremamente feia, surpreso com a audácia nas palavras do escravo. E aquilo me fez rir alto. Tinha que admitir, adorava a língua afiada de Jungkook, ele parecia não ter papas na língua nem para se comunicar com um superior. Ele não agia como os outros escravos e, aliás, nem se parecia com os escravos. Ele tinha uma aparência nobre, o que novamente o fazia ser parecido com Shin Hye.

— Esse é Jungkook, o braço-direito que lhe falei. — disse fazendo Hoseok focar-se em mim, tentando amenizar o clima ruim que havia se formado ali. — E esse é Hoseok, meu primo e príncipe de Incheon. — disse olhando para Jungkook dessa vez.

— É um prazer lhe conhecer. — o Jeon disse fazendo uma curta reverência.

— Eu sei. — o Jung respondeu dando de ombros e então levou a mão até a sua xícara de chá e bebericando a bebida quente.

Jungkook fez uma cara de poucos amigos, todavia permaneceu quieto. Era óbvio, ele não poderia se impor a ninguém de uma classe superior a dele, mesmo que ele fizesse isso indiretamente quando respondia de maneira afiada. Mas aquilo de certa maneira me fazia gostar dele, ele não baixava a cabeça e parecia possuir uma personalidade forte. Nós provavelmente iríamos nos dar bem.

 

— Por que o Duque Seokjin te escolheu como braço-direito? — Hoseok perguntou, sendo um pouco indelicado outra vez. — Você sabe lutar?

— Sim, eu salvei o príncipe do assassino. — Jungkook falou e logo soltou um suspiro pesado. — Não sei ao certo do porquê de ter escolhido a mim como braço-direito, mas possivelmente porque precisava de alguém em cima da hora e não sabia a quem mais confiar.

— Sabe ler? — perguntou ignorando completamente a resposta anterior.

— Não, senhor. — o Jung disse e então abaixou sua cabeça um pouco sem graça, enquanto eu podia notar um sorriso ladino percorrer pelo canto dos lábios de Hoseok.

— Sabe usar o arco e flecha? Andar a cavalo? Sabe as regras de ética?

— Não… Senhor. — respondeu mais uma vez.

Hoseok deu uma risada alta incrédulo e então negou com a cabeça, logo lançando-me um olhar estranho no qual não tive questão de prestar atenção. Na verdade estava era surpreso por Jungkook não saber fazer as coisas mais básicas para um homem. Era bom que soubesse lutar, mas ainda assim precisava saber das coisas básicas para ser um braço-direito como o cargo que lhe foi posto.

— Então porque raios você é um braço-direito? Não sabe fazer coisas que eu aprendi com dez anos de idade! — o Jung falou e então riu. — Não entendo o porquê de você ter sido o escolhido para se tornar um braço-direito sendo tão pouco.

— Porque ele tem uma alma nobre. — a voz masculina e um pouco grossa pôde ser ouvida atrás de nós, fazendo com que nós nos virássemos imediatamente, logo dando de cara com o duque que mantinha o característico sorriso largo em seus lábios. — Eu vi Jungkook na cozinha. Em Wonju os homens não cozinham, ele provavelmente nunca tinha tocado em um vegetal se não fosse para comê-lo, antes de chegar aqui. Eu vi ele pedindo ajuda a um dos escravos para entender como se fazia e em dois minutos ele já estava cortando cebolas como um cozinheiro de anos. — Jin explicou ao ritmo em que se aproximava, parando então ao lado de Jungkook e colocando uma das mãos em seus cabelos, logo os bagunçando. — E quando ele apanhou da chefe-escrava Song, ele aguentou muito mais do que escravos malhados e acostumados com penitências aguentariam. Ele só desmaiou depois que já acabaram as chibatadas, um ponto no qual a maioria dos escravos já teria até mesmo morrido. Ele é forte de mente e de corpo, aprende muito rápido e, além disso, se mostrou ter sido extremamente corajoso em defender o príncipe mesmo depois de ver uma guerreira forte ser morta por aquele assassino. Você não acha que esses pontos são o bastante para fazer dele um ótimo braço-direito, Vossa majestade?

 

E então pude ver Jungkook esconder um sorriso largo que queria sair de seus lábios, o que me fez sentir-me estranho por alguns segundos. De certo modo, Jin hyung tinha razão. Se Jungkook era mesmo tudo o que ele havia dito, então com toda certeza poderia me proteger tão bem quanto todos os homens formados daquele castelo.

 

— Mas mesmo assim, não acha que seria melhor tê-lo ensinado pelo menos a ler antes de dar um cargo tão importante como esse? — Hoseok perguntou mais uma vez. — Eu me preocupo com a saúde de Jimin.

 

— A situação era urgente, eu precisava de alguém e ele me parecia a melhor escolha. Mas não se preocupe, eu irei ensinar a ele tudo o que precisa para o cargo. — mais uma vez o duque sorriu, olhando dessa vez para mim. — Você confia em mim, não é? Então confie nele também.


Notas Finais


Espero que tenham gostado, apesar de não ter acontecido nada demais nesse capítulo, é mais pra dar uma visãozinha de alguns dos motivos pro Jungkook ter sido escolhido e tals.
Me digam o que acharam <3
Não esqueçam de adicionar aos favoritos e apertar no botãozinho de seguir autor para ficar ligado na hora que sair um cap ou fic nova. Até mais <33~


Gostou da Fanfic? Compartilhe!

Gostou? Deixe seu Comentário!

Muitos usuários deixam de postar por falta de comentários, estimule o trabalho deles, deixando um comentário.

Para comentar e incentivar o autor, Cadastre-se ou Acesse sua Conta.


Carregando...