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História O Príncipe Vagabundo - Capitulo 1


Escrita por: AllieClark

Capítulo 2 - Capitulo 1


{Adrian}

 

   O ser humano tem a incrível capacidade de sobreviver em diferentes situações. Ele se adapta a tudo, inclusive ao caos. Los Angeles parece a cidade dos sonhos, recheada de pontos turísticos e de prédios altíssimos que parecem ter luz própria quando o sol se esconde. Mas aqui onde eu moro, outras coisas acontecem pela noite. Os gringos se iludem com tamanha beleza, mas nunca pisaram no Sul da cidade. Compton é conhecida como o subúrbio de Los Angeles, possui um alto nível de criminalidade e desemprego e já foi classificada como uma das mais perigosas áreas dos Estados Unidos. A violência entre gangues é intensa, elas dominam tudo e tornaram-se tão comum que nem a polícia tenta intervir, mas pra ser sincero, todo mundo sabe que os policiais querem mais que elas se matem entre si e o poupem o trabalho deles. Bom para as gangues, ótimo para os policiais, todo mundo sai ganhando.

   Minha vida é difícil, não é o tipo de vida para os fracos. Não sou bem um trabalhador que rala todo dia para sustentar a família, mas o que me difere deles é algo bem mais perigoso: ando sempre em alerta pra ter certeza que ninguém vai me dar um tiro pelas costas, ou pela frente mesmo. É como ter sempre uma arma apontada e engatilhada na sua direção, esperando qualquer deslize seu pra dar um fim na sua vida, como já vi acontecer com muitos parceiros meus. Se eu tivesse tido uma escolha, nunca teria entrado pra essa vida. Só que não tive. Minha mãe teve câncer quando eu ainda mamava, e talvez ela fosse a única pessoa que impediria que eu caísse nessa armadilha. Só que ela morreu e eu não lembro nada dela. Fui criado nesse mundo, cresci nesse meio, meu pai é o chefe da gangue de Compton, os Hunters, e ele meio que colocou na minha cabeça que eu ia herdar aquele cargo, eu o ouvia falar isso desde que era moleque. Eu era filho único, homem, tinha que honrar o sobrenome que levava. Nunca que ele ia sentir orgulho de mim se eu tivesse seguido meu sonho de fazer faculdade de Engenharia Mecânica. Então, só tive a formatura de segundo grau e ainda agradeci por meu pai não ter me barrado de fazer isso também.

   Mas cara, minha vida não é essa merda toda que eu tô falando. Eu gosto da minha vida, gosto do que faço. Quando não tô fazendo alguma coisa pra gangue, fico na oficina do bairro passando tempo, trabalhando. Do meu lado, como sempre, meus manos firmeza: Nathan e Connor. Passamos por tudo na vida juntos, sempre rindo e zoando das experiências inusitadas. Tudo foi só fortificando nossa amizade e hoje, eles são as pessoas por quem eu daria a minha vida. São dois via/dos chatos e retardados, mas são meus melhores amigos e eu os considero meus irmãos por direito. Essa é a parte boa da minha vida.

   E às vezes, quando estou com sorte, eu a vejo passar. Gosto quando ela tá com o cabelo solto, aquele castanho vivo e amassado pelo dia cansativo bate nas suas costas e sempre me desperta a vontade de tocar. Mas quando ela embola um coque frouxo no alto da cabeça, também fica linda. Destaca sua pele bronzeada e seu rosto delicado. Eu nunca vi uma mulher com traços tão fortes e tão suaves ao mesmo tempo. O rosto dela é uma contradição. Lhe da um ar de menininha e de mulherão. E talvez isso a deixe tão linda. Seus olhos são castanhos, eu nunca os vi muito de perto, mas sei a cor daquele olhar. Ela tem um corpo cheio de curvas desenhadíssimas, tanto que quando ela passa todos os caras que estão no local param e ficam olhando, secando ela sem nem disfarçar. Mas a garota nunca deu brecha pra ninguém. A morena nunca deu confiança pra nenhum cara e olha que alguns já tentaram... Mas ela os ignora e parece não ter medo de nenhum deles, não se sente ameaçada pelas armas na cintura nem intimidada pelas marras de suburbano. Ela é confiante e eu adoro isso nela. Muito corajosa. Mas repele todo mundo. Não tem amigo nenhum no bairro, só fala com quem mora na mesma casa que ela e com Hannah, que também é de sua família. A garota tem algum tipo de sentimento repulsivo pelo pessoal, e isso inclui a mim. Mas de verdade, não me afeta. Eu sei que ela está mais alto do que posso alcançar.

   É por isso que sempre que posso, sento pra ver ela passar. Porque querendo ou não, estar com os meus amigos e ver Bianca passar é a melhor parte dessa vida difícil pra cara/lho que eu levo. E eu não perderia a melhor parte, né.

 

{Bianca}

 

   Chegar em casa era sempre tão aliviante. Ainda mais quando era sexta feira, o que significava que eu dormiria até tarde no dia seguinte e que tinha vencido mais uma longa semana da combinação cansativa que era trabalhar e estudar. A faculdade de Enfermagem ainda era um sonho e só por isso eu permanecia na luta de levantar tão cedo pra estudar. Na parte da tarde e num pedaço da noite, eu ralava pra caramba numa loja chique no shopping e graças a minha aparência e habilidade, era a melhor vendedora há meses. Isso me rendia muito trabalho, mas eu também era valorizada pelo gerente que vivia querendo me levar pra jantar. E isso eu devia somente a minha aparência.

- Boa noite, pintora de rodapé. – Disse meu irmão mais velho assim que joguei a bolsa em cima do sofá da sala e em seguida, meu corpo.

- Boa noite, Nicholas. – Respondi. Ele ria divertido como um adolescente, o que já não era mais há anos. Só que ele não aceitava aquilo, no auge de seus vinte e cinco anos, ainda queria parecer o moleque de sempre que implicava comigo por eu ser baixinha. – Onde está a mamãe? – Perguntei, olhando por cima do ombro para a cozinha, encontrando o cômodo com a luz apagada. Ele deu de ombros.

- Sabe que sexta-feira eles escravizam ela naquele mercado. – Resmungou, passando as mãos nos fios claros ao se olhar no espelho da sala.

   Meu irmão era bem diferente de mim. Começando pelo seu cabelo, que tinha um tom de castanho claro invejável, seus olhos verdes que eram idênticos ao de papai, seu nariz reto e fino e sua boca de lábios bem delicados. Tudo em Nicholas tinha sido herdado de papai, ele era a cópia fiel em seus traços masculinos e bonitos, coisa que sempre me rendeu visitas das minhas amigas sem motivos evidentes e pedidos incontáveis para que eu as apresentasse a ele.

- Vai sair? – Perguntei, franzindo a testa. Ele se virou pra mim, arrumando a gola da camisa.

- Mas é claro. Ou você achou que eu fosse ficar em casa nessa sexta-feira gostosa? – Nicholas riu, se aproximando de mim. – Eu não trabalhei a semana inteira pra ficar em casa.

- Existe um verbo chamado "descansar". Acho que você devia começar a conjugá-lo. – Debochei, quando ele sentou-se ao meu lado.

- Tu descansas. Eu me divirto. – Nicholas apontou pra mim e depois pra si mesmo, rindo. – Sou fera em português, anã.

- Vai pra onde? – Desviei o assunto.

- Vou pra uma baladinha aí de rico, o tal do clube Lush Lounge. – Ele deu de ombros, arregalei os olhos. – Podemos dizer que a Cloe me prometeu uma noite maravilhosa se eu a levasse até lá. – Nicholas piscou de lado, eu fiz cara de nojo.

   Cloe era a namorada do meu irmão, que me chamava de cunhada com sua voz nasal e morava em Long Beach. Ela era linda, tinha um corpo de dar inveja, uma patricinha de berço, mas como toda mera mortal de sua espécie, tinha se apaixonado perdidamente pelo tipinho de morador de gueto estiloso que meu irmão fazia.

- É longe pra cacete. – Murmurei.

- Nem tanto assim. Vou de metrô, em meia hora estou lá. – Nicholas meteu a mão no bolso, procurando alguma coisa. – Aliás, Cloe pediu que eu comprasse seu ingresso e o da Hannah. Ela queria que vocês fossem.

- Não, sem chance. – Rebati, mas Nicholas já tinha jogado as duas pulseiras rosas fluorescentes em cima de mim.

- Obrigado. – Meu irmão revirou os olhos, ironicamente. – Isso vai me fazer perder um sexo oral maravilhoso, maninha. – Disse, sem o menor pudor ao falar em voz alta sobre coisas sexuais. Ele levantou, pegando a chave em cima da mesa. Um dos dons de Nicholas era não saber medir suas palavras.

- Isso é nojento. – Torci o nariz e ele riu, beijando minha testa.

- Caso mude de ideia, o que eu acho difícil, só me ligar. – Piscou de lado, indo em direção a porta. – Toma cuidado, hein. Te amo, goleira de totó. E não quero você de bobeira na rua.

   Assenti com a cabeça, jogando os pés sobre o sofá. Mas assim que Nicholas saiu, a primeira coisa que fiz foi querer contrariar seu querer. Tirei o salto e calcei o par de chinelos, desmanchei o coque soltando os cabelos morenos  e sorri largamente, era a minha vez de sair.

 



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