História O Que é a Vida - Perda de Memória

-Não! –Berro. –Eu preciso ver ela! Eu preciso! Eu... –Minha voz se distancia aos poucos enquanto lágrimas embaçam meu olhar e uma enfermeira segura meus braços para me impedir de continuar.

Há um corte em minha boca, um profundo na minha testa, roxos em todo meu corpo, um corte muito sério em minha perna e um pedaço de vidro cravado no meu omoplata, mas quase não sinto a dor.

-Nós precisamos dar pontos em você... –Fala calmamente a voz da mulher na minha frente. Eu a escuto, mas não consigo entender o que ela fala. É como se houvesse um tinido em meus ouvidos. Caio sentada no chão, com minhas mãos agarrando a roupa da enfermeira. Ela se ajoelha amedrontada ao meu lado. –Você está bem? Está tudo bem?

-Max. –Seu nome já não me parece real. Soa mais como um grunhido.

[...]

Há pontos pretos feitos com linha e agulha marcados por todo meu corpo. Ainda sinto a dor aguda de quando tiraram um pedaço de vidro ensanguentado de mim. Entretanto, sinto-me morta. Talvez eu realmente esteja.

-Chloe Elizabeth Price? –Levanto o olhar. Max!

Corro até ela e a abraço. De início, com força, mas então, com medo de machuca-la, solto um pouco meus braços, mas ainda a seguro, não querendo deixa-la ir. Quando a solto, ela olha quase através de mim.

-O médico me deu seu nome. Ele disse que você está como responsável por mim, segundo este formulário. –Ela me entrega algumas folhas que eu assinei anteriormente. –Ele também disse que você estava comigo quando o acidente aconteceu.

-Isso. –Concordo. –Você está bem? –Toco em seu ombro, mas ela se esquiva.

-Por que você estava comigo? –Ela olha para os pés descalços.

-Eu... –Mas uma mão grande toca meu ombro. É um médico.

-Posso conversar com a senhorita? –Ele pergunta. Assinto com a cabeça e ele me leva para um lugar mais reservado. –Chloe Elizabeth, sinto informar... Max não sabe quem você é. Ela não se lembra de nada do que aconteceu. Se você precisar de qualquer apoio ou...

A voz do médico continua falando, mas já não presto mais atenção. Ela não se lembra de nada do que aconteceu. Max não se lembra de... De mim? Eu a conheço desde os nossos... Sei lá, dez anos? Começo a correr. Não sei para onde. Apenas corro. Sinto dor por todo o meu corpo, mas continuo correndo.

Saio do hospital. Eu não deveria sair de lá, eles querem me internar por pelo menos dois dias, mas continuo correndo. Minhas pernas falham, caio na grama, enquanto lágrimas mornas escorrem pelas minhas bochechas. Ela não se lembra de nada do que aconteceu.