1. Spirit Fanfics >
  2. O que fazemos nas sombras >
  3. "Vai pra aula!"

História O que fazemos nas sombras - "Vai pra aula!"


Escrita por: Bl4cklight

Capítulo 2 - "Vai pra aula!"


Jimin foi uma ótima e reconfortante companhia pelas ruas escuras de Bram. Enquanto eu pensava sobre voltar para a Coreia e fingir ser um humano, Jimin apenas me acompanhava silencioso e me desviava de qualquer coisa que eu pudesse esbarrar. Seus toques em meu braço, enquanto me direcionavam, eram tão delicados que eu nem mesmo sentia e surpreendiam-me quando reparava que tinha desviado de algum poste. As ruas escuras, porém iluminadas com a pouca luz me deixavam inteiramente melancólico e com um intenso sentimento de solidão. Mesmo que Jimin estivesse ali. Ora!? Quem me garante que eu o verei mais alguma vez além daquela noite? Era uma gentileza enorme da parte dele me conduzir de lá pra cá enquanto eu nem mesmo conversava ou prestava a atenção no mesmo.

— Vamos entrar ali — apontou. — Preciso tirar esse sangue do meu rosto.

A voz de Jimin era aguda e me tirou facilmente dos devaneios em que me adentrava. O bar aos pedaços que entramos estava surpreendentemente cheio. Alguns velhos provavelmente sem família e algumas mulheres conversavam alto em todas as mesas. Assim que entramos, suas atenções foram voltadas para mim e o baixinho ao meu lado. Apenas um homem que que estava atrás do balcão pronunciou-se após algum tempo em silêncio.

What you want? — falou.

I'm sorry — falou Jimin, em um inglês cheio sotaque. — I need go to the bathroom with my friend. Can I?

O homem apenas confirmou e eu segui Jimin até o banheiro do lugar. Como o esperado, o banheiro era extremamente nojento e o moreno pareceu não se importar com aquela pia repulsiva. Lavou seu rosto com uma abundância desnecessária de água. Eu não fiquei o encarando por muito tempo pois achei que soaria meio estranho, então apenas me virei e fiquei olhando para a porta do banheiro por algum tempo.

Surpreendi-me com a presença do moreno na minha frente em uma velocidade absurda. Palavras não saíram da minha boca rapidamente, mesmo que eu quisesse perguntar o que ele estava fazendo. Seus dedos molhados passaram por baixo dos meus olhos e lembrei que ali seus dedos cheios de sangue fizeram o mesmo percurso tempos atrás. Sorri agradecido, recebendo apenas um semblante impassível.

Sutilmente a voz aguda fez-se presente nas ruas escuras por onde andávamos após sairmos do bar, dizendo:

— Vejo que está mais calmo… temos algumas horas até que amanheça. Tem algum lugar pra ficar? — perguntou com a voz baixa.

Sua voz tinha esse tom baixo que consequentemente era desconcertante. Como se toda a sua atenção devesse estar focada nela se não, você perderia palavras extremamente importantes. Eu demorei pra responder, ficando tempo demais olhando em sua boca e me perguntando como uma voz poderia ser tão chamativa.

— Eu não sei ao certo. Talvez meus hyungs estejam bravos comigo por eu ter fugido — falei por fim.

Jimin já olhava para frente naquela hora, e não mais para mim. Seu perfil não esboçada alguma reação.

— Eu posso saber o que aconteceu?

Ponderei um pouco sobre contar para Jimin. Era um problema totalmente meu, nunca gostei que se envolvessem em meus problemas, já que eles são tão bobos e sempre transformavam-se em um bicho de sete cabeças em minha mente. Jimin não repetiu a pergunta e não reclamou sobre minha demora. Seu perfil ainda estava impassível olhando o horizonte. Talvez fosse alguma impressão, mas, as ruas pareciam mais escuras.

— Eu fugi do cara que me transformou em vampiro depois que eu descobri estar na Romênia, e não na Coreia — falei baixo, um pouco constrangido.

— Estrangeiro? Temos bastantes aqui — falou levemente animado.

— Seu coreano é bom. É coreano? — perguntei.

— Sou de Busan — falou simplista.

Achei que Jimin não queria mais conversa, então apenas continuei o seguindo para sei lá a onde. Demorou um certo tempo até que eu me pronunciasse novamente.

— Sabe pra onde estamos indo?

— Vamos até um depósito pegar algumas malas minhas e depois vamos pra casa dos meus amigos. Se preferir, te levo pra casa dos seus hyungs. — Respondeu.

— E-eu deveria confiar em você?

Jimin sorriu pela terceira vez naquela noite e o sorriso dele não sairia tão cedo da minha cabeça. O quão ele poderia ser charmoso?

— Pode sim, Jungkook-ah. Eu serei um bom hyung pra você!

Não demorou muito e em poucos passos chegamos ao depósito que Jimin falou. O lugar era sujo e o outro pediu para que eu tomasse cuidado onde pisava. O silêncio entre nós já era comum então não precisei escutar a voz do outro para que entendesse algumas coisas que ele alertava. O cheiro era tão caótico que não consegui sentir nada em específico, e por um momento, pensei não ter enxergado nada naquele escuro constante do lugar. Chegamos em frente a uma porta e Jimin a abriu sem pestanejar. Estava vazio, provavelmente ele não deveria se preocupar com a aparição de qualquer pessoa.

O cômodo era tão pequeno quanto o banheiro da casa dos meus pais. Jimin pegou apenas duas malas que estavam ali e me entregou uma delas. Esta estava bem pesada, devo citar.

— Quando sairmos daqui, você tem que me seguir o mais rápido que puder — falou. Apenas assenti.

O breu do lugar foi substituído pelas luzes fracas da rua e rapidamente estávamos andando escondidos. Jimin fazia rotas absurdas demais, ele provavelmente estava fugindo de alguém. Meu faro estava tão limitado que eu só podia sentir o que estava a menos de três metros. Voltamos para onde nos encontramos pela primeira vez, as ruas já estavam movimentadas naquele horário. Pessoas bêbadas saindo de algumas boates, algumas pessoas andando de lá pra cá fazendo coisas que normalmente eu faria de dia. Jimin começou a andar mais calmo naquele ponto e andávamos no meio daquela gente toda. A luz clara me cegava um pouco e constantemente eu tinha que olhar para o chão e torcer para que ninguém se esbarrasse em mim.

Não vi ao certo qual caminho tomamos, só em algum momento paramos em frente a uma casa enorme e eu vi que eu era a pessoa mais sem sorte do mundo.

— V-você mora aqui? — perguntei, enquanto não éramos atendidos.

— Vou passar uns dias aqui, por quê?

Eu estava de volta à casa dos hyungs.

Yoongi foi quem abriu a porta de entrada e seguiu até onde estávamos. Olhou-me de relance e logo sua atenção estava totalmente focada no moreno ao meu lado. Seu semblante estava impassível e do meu lado, Jimin compartilhava a mesma falta de emoção.

— Fico feliz que tenha o encontrado — Yoongi falou, sua voz grave chamou-me atenção rapidamente. — Sinto muito por não termos lhe avisado um monte de coisas, Jungkook. Entre! Provavelmente os outros querem falar com você.

Assenti, brevemente me despedi de Jimin e fui até a porta de entrada da casa com a respiração levemente entrecortada por antecipação.

Abri a porta mais devagar que eu poderia e na entrada não havia ninguém. Pelos últimos dias em que vivi na casa conheci alguns lugares. Por exemplo: A casa dos hyungs tem dois andares (se descartamos o calabouço. Aliás, calabouço é um andar?). O primeiro andar é bastante normal e moderno. Porém, mesmo que moderno, a sala é toda medieval e com pequenos toques contemporâneos que sutilmente decoravam o cômodo. A cozinha era totalmente moderna e branca, por algum motivo desconhecido. Havia também outras portas que não pude entrar pela falta de tempo; O andar superior tinha um corredor extenso pois a casa era realmente grande. Haviam 7 quartos com suíte em sua maioria. E no corredor, havia também um banheiro que quebrava totalmente o tema do lugar. Os únicos quartos que entrei foram o do Yoongi, que não consegui enxergar nada, o reserva para vampiros novatos e o que foi considerado meu. Este último não tinha nenhum detalhe muito chamativo. Era apenas normal e branco.

O cômodo em que eu estava naquele momento, era uma espécie de salinha de entrada. Era todo azul escuro e tinha uns sapatos de um lado e do outro um balde cheio de guarda-chuvas. Na parede, havia alguns casacos grandes pendurados. Apenas uma porta estava ali, e quando tenteia abrir, a mesma encontrava-se trancada.

Dei pequenas batidas envergonhadas. Hoseok foi quem me atendeu, e ele sorria.

— Jeon Jungkook! Que susto. Achei que você poderia ter morrido! — falou, levemente dramático.

Eu não soube o que falar na hora então apenas me limitei a lhe dar um sorriso. Logo, ele continuou:

— Seokjin está lá embaixo. Você deveria ir conversa e com ele e dizer que voltou.

Hoseok abriu passagem para que eu entrasse e após ver mais um sorriso do mais velho, segui até o já conhecido calabouço.

Na última sala do lugar, onde anteriormente permaneci ali tentando sugar um sangue humano pela primeira vez, Seokjin estava calmamente bebendo sangue em um copo enquanto uma garota agonizava em sua frente. Eu realmente pensei em descartar a ideia de conversar com o loiro naquele momento e atrasar um pouco. Um momento onde ninguém estivesse agonizando, que tal?

— Voltou… — falou. — Estive preocupado.

— Peço perdão por ter saído daquela forma. Eu fui bastante imprudente, desculpe-me!

Seokjin estava na ponta da grande mesa sentado e aquela cena me parecia daqueles filmes sobre máfia. Eu não cheguei perto do outro vampiro e mantive-me curvado por alguns segundos antes de escutar seu sorriso doce. Não há palavras para dizer o quão aliviado me senti por vê-lo dar aquele sorriso. Seus lábios avermelhados pelo sangue, a forma como o mesmo segurava aquela taça e como estava sentado na cadeira deixava-o extremamente aterrorizador.

— Eu imaginei que você se assustaria e eu fui bastante ingênuo achando que aquela informação era irrelevante na sua vida. Eu que deveria pedir perdão por ter estragado sua vida — curvou-se ainda sentado. — Sente-se — ordenou, apontando para uma cadeira na outra ponta da mesa.

— Eu não me sinto tão mal por ter me transformado em vampiro. Apenas… — suspirei — sinto-me muito mal pelos meus pais. Não sei explicar, só… não me parece certo, entende?

— A relação com seus pais era boa?

O momento seguinte em silêncio que se passou, só me foi sufocante pelo som do coração da única humana na sala estar parando aos poucos.

— Foi boa até um certo ponto. Tenho memórias ótimas, mas… fomos nos afastando por um tempo. Nos tornamos apenas um casal e um morador qualquer naquela casa.

— Sinto muito por isso — pareceu sincero.

Ficamos em silêncio por mais um momento. Seokjin acabara seu vinho e passou a observar seus próprios braços cruzados sob a mesa.

— Eu fui bastante imprudente — falou desapontado.

— Aquele dia eu fui muito idiota por ter saído de casa. Foi um efeito borboleta e você não é o único errado da história, hyung.

— O que tinha acontecido? — dessa vez o loiro me olhava.

— Meu pai trai minha mãe sempre, e não é a primeira vez que eu saí de casa naquele horário porque não me sentia bem com algo. Aliás, sempre que acontece qualquer coisinha eu tenho essa mania de sair. Eu vi meus pais se pegando e acabei saindo de casa.

— Não me fez muito sentido… — falou com o semblante confuso.

— Meu pai tinha levado uma mulher pra casa e a noite estava fazendo ceninha com a minha mãe. Ela também trai ele e parece que eles sabem sobre essas coisas mas… ah! Eu não os entendo.

— Que problemáticos. — Sorriu. — Você que voltar pra Coreia?

Ponderei um pouco sobre aquela pergunta e me perguntei seriamente. Eu queria?

Sim, eu queria!

Assenti para Seokjin.

— Escolhe qualquer pessoa no calabouço — ordenou.

Olhei-o um pouco confuso mas, fiz o que me foi pedido. Todos estavam dormindo e escolhi uma pessoa qualquer, me perguntando como iria tirar aquela mulher velha dali. Sim, escolhi uma velhinha já que não senti coragem de acabar com a vida nova de alguém. Eu iria voltar pra casa, iria achar um jeito de pegar sangue de hospitais e não depender de matar pessoas. Seria muito melhor pra mim.

— Sabe como sair daí? — perguntei para a senhora que parecia ter seus cinquenta anos.

A senhora parecia entender meu coreano e sorriu antes de apertar um botão na parede ao seu lado e abrir a cela. Pedi para que a mesma me acompanhasse e assim ela o fez.

Quando voltei até a sala, pedi para que ela se sentasse na cadeira das vítimas que agora encontrava-se vazia e ela não desobedeceu, parecia já entender qual era seu destino. Fiz um baixo pedido de desculpas. Seokjin estava um pouco atrás de mim observando-nos atentamente. Ele chegou próximo a mulher e, com olhos vermelhos, falou:

— Não se mexa para nada além de respirar.

Seokjin pegou uma caneta e fez dois pontinhos no pescoço da mulher. A mesma permanecia parada.

— Morda-a na onde está marcado. Apenas sugue todo o sangue, ok?

Fiz o que o mais velho pediu e, ao sentir as veias da mulher sendo perfurada, ao escutar o som do coração dela fazendo esforço para continuar batendo e o líquido vermelho correndo pelas veias me deixou em estado de êxtase. O gosto era tão diferente das outras vezes que o senti. Fechei meus olhos.

Os gosto metálico misturado com toda uma energia vital que era indiscutivelmente intrínseca.

Pareceram horas em que me deleitei com aquele momento porém, sei que não se passaram menos do que cinco minutos. Seokjin ainda estava de pé nos olhando quando o corpo da recém falecida deu seu último ato de vida. O fraco batimento de seu coração.

O olhei sorrindo feliz e ele devolveu um sorriso orgulhoso.

— Seu eu, de toda minha vida, pudesse escolher um momento pra voltar, seria para a primeira vez em que suguei todo o sangue da minha primeira vítima. A primeira vez é sempre melhor! — falou, ainda sorrindo. — Parabéns, Jungkook, você tornou-se oficialmente um vampiro.

Olhei para a mulher morta em minha frente e lhe baguncei os cabelos brancos. Orgulhoso e feliz.

— Podemos comprar sua passagem amanhã, se quiser — falou. Seu tom divertido ainda não saíra.

— Quero! Obrigada, hyung. — Logo o abracei.

Subimos de volta para a sala e pela frecha da cortina da sala percebi que estava amanhecendo. Seokjin disse que minhas roupas estavam no meu quarto e que eu poderia levá-las para a Coreia, como um presente. O agradeci e ele seguiu para o quarto que compartilhava con Namjoon.

Eu não sabia o que fazer naquela hora e então, fui em direção ao meu quarto — que logo não seria meu — e arrumei as roupas em uma mala empoeirada que estava debaixo da cama. Pude ver que o sol já clareava lá fora pela fresta da janela levemente aberta quando terminei a mala.

— Yoongi! Seu imprestável, temos que procurá-lo. — Uma voz falou.

A voz parecia distante e era de Jimin. Aproximei-me da porta e não escutei o barulho de seus passos. Fui até a janela e, mesmo queimando meus olhos (literalmente), os vi no gramado embaixo do sol sem reclamar por queimar. Saia fumaça de seus corpos expostos por camisas pretas sem manga.

— Eu sei! — Yoongi finalmente disse. — Mas…

— Tem que ter prioridades! O idiota do seu namorado ou o Taehyung? — Jimin perguntou, irritado. Yoongi rosnou.

— Farei o que for possível — Yoongi respondeu prontamente, pisando duro em direção a casa. Jimin apenas o seguiu segundos depois.

Fechei rapidamente a fresta da cortina e pedi umas dez vezes para que a queimadura parasse de doer. Se eu orar eu vou queimar?

Minutos depois, resolvi ir me deitar. Eu iria embora em breve, não deveria me preocupar com seus problemas.

Já era uma nova noite, não mais do que 8:00 p.m e eu esperava Seokjin terminar de se arrumar, já com a malas pronta e na sala sentado no sofá. Eu roía as unhas por uma costumeira antecipação. Estávamos sozinhos na casa desde que eu tinha acordado e Seokjin disse que os hyungs estavam cuidando de algumas coisas, porém, me mandaram abraços e boa sorte. Minha passagem já tinha sido reservada por telefone e só nos faltava ir pagá-la.

Quando o loiro desceu as escadas correndo e pronto para sair, fomos tão rápido até a porta que me senti arrependido de não me despedir devidamente da casa. Seokjin chamou um táxi já que ele não queria andar e, entre o hyung cantarolando baixo alguma música e um pouco de trânsito, chegamos no aeroporto, este era de tamanho médio. Muitas pessoas dormiam por ali, provavelmente esperando seus vôos ou alguém chegar.

Ao pegarmos minha passagem, Seokjin hipnotizou a mulher para que eu não precisasse de passaporte e logo a moça avisou a todos os responsáveis pelo meu vôo que “Jeon Jungkook não precisava de passaporte”.

Seokjin e eu escolhemos um lugar para ficar e o hyung insistiu em esperar o avião comigo. Reclamei apenas duas vezes, achando que seria inconveniente  esperar por duas horas, mas, de fato não discordava em ter a companhia do mais velho.

Depois de algumas conversas sobre coisas que não tinham nada a ver com vampiros ou coisas do tipo, perguntei ao hyung se ele tinha um celular para que eu desse um sinal de vida aos meus pais. Prontamente ele sacou um IPhone rosa de seu bolso e me entregou, alertando que eu deveria por o DDD coreano.

Foram três longuíssimas chamadas.

— Alô? — minha mãe atendeu, com voz de sono.

— Mãe, sou eu! — falei feliz, com o coração totalmente aquecido.

— Jungkook? Ah… — parecia decepcionada.

— Aconteceu algo? — preocupei-me.

— Não. Você não deveria estar na escola? Aish… desligue esse celular, garoto — falou brava.

— Sobre isso… não sentiu minha falta esses dias?

— E eu deveria?

Suspirei cansado. Espero que ela tenha acabado de acordar ou algo do tipo.

— Estou bem longe de casa, preciso falar com você e com o papai. Queria pedir mil desculpas por…

— Ah, Jungkook — interrompeu-me, irritada. — Pelo amor de deus, esse blá blá blá todo é bem desnecessário. Vai pra aula!

— Mãe, nem é período de aula, agora. O qu-

— Eu não me importo. — Desligou.

Eu fiquei um bom tempo petrificado com o celular ainda na orelha, boca levemente aberta e olhos arregalados. Seokjin tinha ido fazer alguma coisa e me dado privacidade com os meus pais.

Quando ele voltou, eu estava sentado no mesmo lugar e o devolvi o celular. Ele viu minha expressão desesperançada e me perguntou o motivo. Pensei seriamente antes de responder:

— Não, hyung, não é nada.

Não seria nada conveniente eu ter gritado pra ir embora e depois dizer “gastei seu dinheiro atoa com passagens, não quero mais porque minha mãe é muito má”. Eu respirei fundo e pensei que tudo seria bem melhor quando eu chegasse na Coreia. Mesmo que eu fosse ser solitário. Mesmo que eu tivesse que aprender tudo sozinho. Mesmo quando meus pais morressem. Mesmo quando eu acabar matando alguém.

Aish.

A primeira chamada para o meu vôo soou por todos os cantos do aeroporto. Seokjin me olhou com a simpatia costumeira e estendeu a mão para que eu o acompanhasse até a fila que estava se formando no portão seis.

— Mais uma vez, te peço milhões de desculpas pelo ocorrido — falou. — Sinto que tem algo te incomodando… tem certeza que não quer falar? É agora ou nunca.

Minha boca abriu e fechou umas três vezes.

— Jungkook, me fale a verdade — seus olhos vermelhos e voz autoritária ordenaram.

— Eu não quero voltar.

As palavras saíram da minha boca sem que eu pudesse ao menos pensar. E, droga, me senti péssimo.

— Por quê? — seus olhos já não estavam vermelhos.

— Sinto que meus pais não sentem minha falta e que eu preciso aprender muita coisa.

Seokjin não fez nada além de me puxar daquela fila e se dirigir até um táxi vazio comigo em seu encalço.

— Isso é ótimo! — falou após dar o endereço para o taxista.

— H-hyung, não vai ser muito inconveniente da minha parte ficar lá? — perguntei baixo.

— Aquela casa é gigante, não existe problema nenhum. Você precisa aprender milhares de coisas e existem milhares de caçadores que podem te matar só por estar respirando. Você precisa de nós, Jungkook!

Pude reconhecer que ao fundo do estabelecimento, em som ambiente, tocava I’ll Try Anything Once. O café drasticamente mudou o ar do aeroporto, trazendo consigo a música agradável, o clima quente e o sentimento leve. Seokjin me acompanhava no chá que admitiu ser viciado.

— Desde quando os hyungs estão procurando pelo Taehyung? — perguntei.

O mais velho esteve me explicando sobre a jornada longa que os outros adentraram pelo garoto de nome comum na Coreia do Sul.

Quando fui mordido, nada de muito especial motivou-os. Por culpa de uma bala estranha que Seokjin levou, o mesmo teve um surto por estar sem sangue humano e acabou que ele não conseguiu se controlar. Seokjin admitiu que ultimamente, seus dois vícios são: aquele chá que bebíamos e o sangue humano.

Seokjin e Namjoon estavam na Coreia para tentar descobrir sobre alguns caçadores novos que estavam há uns meses no pé do Yoongi e seus companheiros. Hoseok foi apenas para ficar com o namorado. Como Namjoon tem alguns amigos caçadores e esses guardam um ódio do loirinho, teve que resolver esse pequeno assunto. Seokjin e Namjoon tem casas em varias partes do mundo e estavam na Coreia quando tudo aconteceu. Taehyung e Yoongi estavam indo até a casa dos casal apenas para descansar e na noite seguinte, enquanto Seokjin e Taehyung foram procurar corpos para o mais novo, ambos foram atacados por balas de atiradores desconhecidos. Taehyung foi o mais debilitado e Seokjin ficou apenas tendo uma abstinência de sangue humano. Quando não deram mais pra segurar a vontade do mais velho por sangue, trancaram o mesmo dentro de um quarto, e nesse mesmo dia, Taehyung sumiu. Seokjin foi atrás dele e os dois acabaram se descontrolando. Quando Namjoon nos encontrou, estávamos os três desacordados naquela rua. Trouxeram-nos para a Romênia o mais rápido que puderam e Taehyung acabou sumindo poir Bram.  

— Desde que ele sumiu, praticamente — respondeu.

Seokjin necessitava de sangue humano para se manter são desde então. Era literalmente um vício. Como uma droga. Uma droga que Seokjin insistia ser a melhor coisa do mundo. Ele dizia estar invencível.

— Você acha que hoje eles conseguem?

Como se respondendo minha pergunta, o celular do mais tocou uma música característica da marca. O visor indicava que Namjoon era a pessoa quem ligava. Seokjin não escondeu o suspiro aliviado antes de entender o aparelho.

A ligação durou alguns segundos e eu pude ouvir perfeitamente o que Namjoon falava graças a minha audição de vampiro. Foi apenas uma frase avisando que o encontraram e que já estavam em casa. Seokjin apenas assentiu e logo desligou o telefone com um sorriso no rosto.

Não demorou mais do que dez minutos e já estávamos na mansão. Seokjin abriu a porta com uma velocidade absurda e subiu correndo para um dos quartos, subindo as escadas em dois em dois degraus. Deixei minha mala na sala mesmo e, após encostar a porta, segui pelo mesmo caminho que o hyung.

Por algum motivo, o cheiro do Taehyung me fez ficar em transe, quase não consegui me segurar e fui correndo provar pelo menos uma gota do sangue do garoto. A pele dele era um pouco mais escura do que a de todos ali e eu achava que era pela sujeira. A roupa que o garoto usava estava completamente empoeirada e durante seu sono, ressonava baixinho. Seokjin e Hoseok eram os únicos que se encontravam naquele quarto acompanhando o garoto e o observando minuciosamente. Seokjin praguejou baixinho e acariciou os cabelos do garoto. Seu olhar era totalmente fraternal e me peguei imaginando que Seokjin era com certeza o pai daquele lugar.

— Onde os outros estão? — perguntou, com a voz baixa.

— No QG, vai lá — o outro respondeu.

Seokjin saiu do quarto sem ao menos olhar pra trás e antes que eu percebesse, o som de seus passos não puderam mais serem ouvidos. O coração do Taehyung ainda batia e eu me perguntava quando eu iria poder arrancar aquele órgão de dentro do garoto. Me assustei com o pensamento.

— Você também ta sentindo uma vontade gritante de sugar todo o sangue do Taehyung? — o garoto perguntou com o cenho levemente franzido. Assenti. — Merda. Eu ia pedir que você ficasse vigiando ele porque eu acho que não aguento mais. Desculpa Tae — direcionou-se para o humano —, mas, eu te comeria agora.

Tive que rir da afobação do mais velho e ele pareceu não se importar.

— O que vão fazer com ele? — perguntei.

— Eles estão resolvendo. Espero que nada muito alarmante.

Assentiu levemente e continuei encarando o garoto. Tentei pensar em qualquer outra coisa que não envolvesse sangue e por um minuto, pareceu dar certo. Hoseok também fazia o mesmo esforço, e imaginei que Taehyung estava com algo muito esquisito.

Antes que eu pudesse pronunciar meus pensamentos a respeito do garoto, os outros quatro hyungs apareceram pela porta. Dois deles estavam com olhares apreensivos. Jimin estava com olhar de ódio. Yoongi com a aura assustadora.

E sem mais nem menos, Yoongi foi em direção ao humano que dormia e o mordeu.

Simples assim.

Hoseok e eu olhamos para ele como se ele tivesse sete cabeças. Jimin saiu do quarto assim que o som de uma veia sendo perfurada soou. Namjoon e Seokjin fecharam os olhos. Hoseok ainda o olhava incrédulo.

Foi bastante rápido quando Yoongi tirou a boca do pescoço do garoto e, impaciente, o olhou.

Taehyung não teve nenhuma reação.

E assim se passaram os dias seguintes: com Taehyung ainda dormindo e os outros agindo normalmente.

O plano era: transformar Taehyung em vampiro de novo, porém, não pareceu uma tarefa tão fácil. Jimin foi o único que discordou da ideia, por isso quase nem falava com os outros além do Hoseok.

Enquanto esperavam Taehyung ter alguma reação, os hyungs se empenharam a me ensinar coisas para sobreviver como um vampiro. Não foi necessário que Seokjin dissesse o porquê da minha volta e eles nem se preocupavam com eu ainda estar lá. Isso fez com que eu me sentisse em casa, por mais que estivesse na Romênia.

Namjoon ordenou que todos os moradores daquela casa me ajudassem com algo porque, para ele, eu era extremamente fraco e bocó. Eu até ia reclamar, só que Yoongi fez questão de concordar falando sobre eu não conseguir desviar de uma pedra. E, agradeço infinitamente Seokjin por me defender e relembrar sobre todas as coisas idiotas que os garotos cometeram.

E tudo isso fez, pela primeira vez, eu me sentir em uma família.

Seokjin e Namjoon eram indiscutivelmente os pais. Eles só serviam para reclamar do barulho e dar sermões.

Hoseok e Yoongi eram algum tipo de irmãos incestuosos que não acabavam com o fogo. Mesmo que Yoongi fosse bastante sério, ele não podia chegar perto do namorado que tudo viraria bagunça.

Jimin nem sempre estava presente, então imagino-o sendo o irmão antissocial que toda as famílias tem.

E por mais estranho que possa parecer, me acostumar com a mudança de horário, com pessoas novas, com um país novo, com a falta de necessidade de comer o tempo todo e todas as coisas que ser um vampiro me trouxeram, pareceram certas e fáceis demais de se acostumar.

Quem era a família Jeon, mesmo?

Naquela noite, eu não estava cansado então fiquei até depois do amanhecer na sala jogando The Sims 3. Sim, os hyungs tinham The Sims e diziam amar controlar os humanos nos jogos e na vida real.

Constantemente eu escutava Jimin gritando em um cômodo que ficava além da cozinha. Apenas quando ele parou de gritar e demorou tempo demais para sair de lá que eu me senti levemente preocupado. Contei até dez, só pra dar tempo dele sair e então, fui até o cômodo.

Segundo Seokjin, não escutamos o que os outros fazem em alguns cômodos pois Yoongi fez questão de colocar alguns interceptores que alguns caçadores usam para que nenhum vampiro saibam o que eles estão fazendo nos seus esconderijos. Nem me perguntem como ele encontrou isso.

Abri a porta e agradeci por ela não estar trancada. A casa estava bem escura pelas cortinas grossas que encontravam-se fechadas e, aparentemente, aquele cômodo não tinha janelas, estava totalmente escuro. E, novamente, eu não conseguia enxergar nada. Perguntei baixinho pelo hyung e pedi aos deuses que ele me escutasse, mas, não pareceu ter efeito. Fiz um esforço maior para enxergar naquela escuridão e, tentando me concentrar no cheiro do Jimin. Consegui encontrá-lo.

Jimin estava acordado mas não parecia bem jogado no chão daquele jeito. Mesmo que com uns baixos “estou bem, Jungkook”, fiz um esforço tremendo para arrastá-lo para fora do cômodo e olhar seu rosto. Jimin parecia emburrado e o levei até seu próprio quarto. Ele deveria descansar.

— Jungkook! Eu sou um vampiro, não um humano qualquer — reclamou quando chegamos em seu quarto.

— Então por que tava jogado?

— Você não consegue nem enxergar. Como sabe se eu não estava meditando ou algo do tipo? — sentou-se na cama e cruzou os braços, me desafiando.

Devolvi o olhar do outro levemente magoado pelo descaso. Só porque eu não sou um vampiro forte ele tem que usar aquele tom de descaso? Como resposta, Jimin apenas revirou os olhos.

— Ta bom, reconheço sua preocupação. Mas, não estou cansado. Juro! — falou, desfazendo a pose autoritária. — Você que deveria ir descansar já que acha isso tão importante.

— Eu não to cansado. — Falei, empinando o nariz ao virar a cabeça para o outro lado. Jimin sorriu.

— Ah… tão criança. — Falou divertido. — Quer assistir alguma coisa? — neguei. — Aish. Você pode até escolher o filme.

— Homem de ferro. — Falei baixo, passando a encarar o chão.

Jimin sorriu.

O fato de eu ter aceitado a sugestão do Jimin teve milhares de significados. Um deles, foi para livrar o tédio que eu possivelmente ficaria ao estar sozinho e outro, para apenas, aproximar-me do mais velho.

Qual é, eu eu poderia contar nos  dedos quantas vezes tivemos uma conversa longa. O total de zero.

Jimin concordou por fim e logo pegou um notebook abaixo de sua cama e pediu para que eu me sentasse ao seu lado. Jimin não fez questão de esconder que estivera entrando em sites macabros demais.

— Deep Web — falou, fechando as abas. — Já ouviu falar?

— Você compra aquelas bonecas humanas? — perguntei assustado.

Jimin gargalhou. É definitivamente concluí que era o som mais agradável que eu ouvira até aquele momento.

— Não, Jungkook. Alguns caçadores tem páginas na deep web, e, eu preciso saber o que eles estão armando.

Assenti por fim e o assunto acabou-se ali. Jimin abriu algum site, daqueles cheios de filmes online, e clicou no primeiro filme do Iron Man.

Jimin pediu para que eu deixasse minhas pernas esticadas e colocou o notebook em nossas pernas, o que fazia com que ficássemos extremamente próximos. Não reclamei da proximadade, não era algo que me perturbava.

Lá pela metade do filme, enquanto eu estava completamente concentrado, Jimin não parecia tão interessado no filme e atrapalhou-me quando disss:

Pelo amor de Dracula, vamos fazer alguma coisa mais legal.

O olhei ofendido e ele pareceu perceber. Quem é o louco que supõe que Iron Man não é legal?

— Iron Man é bastante legal. Não entendi o que quis dizer…

— Namjoon pediu que eu te ajudasse com algo, não é? Eu posso te treinar a lutar, se quiser. Esse filme é horrível — falou, com toda a calma do mundo.

O olhei boquiaberto e respirou fundo para não o xingar. Mamãe sempre disse que eu deveria respeitar que existem pessoas que não gostam de super-heróis.

Por fim, cem por cento contragosto, aceitei.

Jimin pareceu feliz quando desligou o computador e me arrastou até a pequena sala de treino que ele estava anteriormente. Eu nem me preocupei se ele precisava ou não de descanso. Ele parecia bastante animado, afinal.

Pequena não era bem um adjetivo que poderia definir aquela sala. Aquela seria minha segunda vez ali, e após Jimin desligar os interceptores — que além de interromperem a escuta, dificulta a visão —, pude enxergar com clareza.

Parecia mais com uma sala de dança, daquelas com espelho e tudo, porém, era grande o bastante para conter alguns sacos de pancadas e tinha uma mesinha cheia de utensílios que não pude reconhecer.

— Vamos fazer o seguinte — Jimin propôs ao entrar na sala depois de mim. — Quando você conseguir bater no meu rosto — apontou para si —, te ensino o que quiser.

Jimin pareceu ter dado uma missão fácil de mais, e de uma forma um tanto presunçosa, aproximei-me dele e tentei socá-lo. O que obviamente não deu certo, já que ele foi rápido em desviar.

Enquanto eu tentava repetidamente pelo menos encostar no rosto de Jimin, o mesmo me dava algumas dicas de qual postura ter, não ser previsível, mas força, mais para a direita, etc. Jimin não me pareceu cansado e eu estava tão ativo quanto o outro. Entretanto, ainda não conseguia encostar em seu rosto. Jimin me explicou que vampiros não tem limitações, apenas se quiséssemos ou algum fator externo se nosso corpo permitisse. Explicou também que não precisamos nem dormir, mas, acabamos dormindo por ser una forma de estocar energia e o sangue ingerido em nosso corpo. Vampiros novos, como eu, costumam de fato serem bem bocós ou inúteis nas primeiras semanas. Explicava isso ainda enquanto eu tentava o encostar e não estava sendo rude.

Nossa prática foi totalmente interrompida quando Jimin segurou meu punho que estava a centímetros de seu rosto e, após tentar escutar algo, deixou-me naquela sala de treinos e correu porta à fora.

Demorei alguns segundos para entender que acima de nós, alguém parecia mexer-se hiperativo. Após mais alguns segundos, lembrei-me de que com toda  certeza era Taehyung tendo alguma reação sobre a mordida que havia recebido.

Corri atrás do outro e quando cheguei ao quarto, Taehyung estava tendo uma convulsão deitado em sua cama. Jimin estava estático em frente a porta. Tentei correr até Taehyung mas, antes que eu encostasse no garoto, escutei seu coração parar e, automaticamente, seu corpo tornar-se imóvel. O cheiro irresistível não ocupava mais o quarto.

Demorei alguns segundos para entender. Olhei para os olhos arregalados de Jimin e constatei: Taehyung havia morrido.


 



Gostou da Fanfic? Compartilhe!

Gostou? Deixe seu Comentário!

Muitos usuários deixam de postar por falta de comentários, estimule o trabalho deles, deixando um comentário.

Para comentar e incentivar o autor, Cadastre-se ou Acesse sua Conta.


Carregando...